A Resolução de Budapeste

Georgi Mikhailovich Dimitrov

3 de Outubro de 1911


Primeira edição: «Rabotnitcheski Vestnik» N.° 60 de 3 de Outubro de 1911. Assinado: G. D.
Fonte:
Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
HTML:
Fernando A. S. Araújo
.
capa

A Conferência Internacional Sindical de Budapeste ficou memorável para os nossos operários, pelo facto de ter, como se sabe, desembaraçado definitivamente o caminho que conduzia a uma representação efectiva do proletariado Búlgaro no seio da Internacional Sindical e à sua fusão completa com a vida e as lutas dos operários dos outros países.

Durante sete anos, o representado na Internacional não foi o proletariado búlgaro, mas a central de sindicatos concorrentes, semi-existentes, e que como consequência da sua actividade anti-operária estiveram sempre fora dos carris do movimento operário internacional. Durante este longo período, os políticos e os arrivistas «obchtodeltsi»(1) abusaram sem vergonha, do prestígio e dos recursos materiais da Internacional Sindical, no interesse e com fins inteiramente estranhos ao proletariado, lançando a infâmia sobre a Internacional. Por apenas algumas greves conduzidas sob a sua direcção, subtraíram astuciosamente cerca de trinta e três mil leva ao proletariado internacional, tendo metade desaparecido sem deixar rastro, nos bolsos dos diversos políticos corrompidos.

Por outro lado, estas greves, para as quais se enviava uma ajuda internacional, foram utilizadas pelos políticos «obchtodeltsi» para os seus fins políticos e arrivismo grosseiro, como foi, mais particularmente, o caso da greve geral dos ferroviários em 1906 e da greve dos ferroviários do Este em 1908.

Como se sabe, a primeira greve torna-se uma alavanca nas mãos do bloco «patriótico» desta época, com vista a derrubar o governo de Stambolov. Bem entendido, o partido democrático que toma o poder lucra largamente com isso; também com isso ganhou um grande número de arrivistas «obchtodeltsi», que obtiveram abundantes prebendas e «missões especiais», sob a asa tutelar da «democracia»; os elementos burocráticos instalados nos caminhos de ferro subiram imenso — contudo, a massa operária dos ferroviários que trouxe sobre os ombros um fardo enorme e todas as privações da longa luta durante a greve, continuará covardemente enganada.

A heróica greve dos ferroviários do Este foi vendida pelos políticos «obchtodeltsi» ao governo democrata, o que lhe permite roubar a rede do Este e criar as condições formais para proclamar a «independência». E no momento em que toda a burguesia, e o seu monarca na frente, aliás munido do título de czar, jubilava quando os vendidos escreviam artigos quilométricos e se entregavam a discursos inflamados para provar que o embargo sobre os caminhos de ferro do Este pelo governo tinha sido realizado segundo os «princípios socialistas», quatrocentos ferroviários da rede do Este, juntamente com as suas famílias, foram lançados na rua, votados à fome e à miséria!

Face a estes vergonhosos factos, e a toda uma série de outros, indiscutivelmente provados, expostos pela nossa delegação à Conferência Internacional de Budapeste, esta não podia tomar medida mais natural e indispensável do que expulsar do seio da Internacional Sindical a central sindical dos «obchtodeltsi». A Conferência não teria podido agir de outro modo. Tinha de fazê-lo. Tratava-se de salvar a honra da Internacional, de pôr cobro ao uso abusivo e grosseiro do seu prestígio e dos seus recursos materiais, abusos perpetrados por um grupo de políticos a coberto da «central sindical»; era necessário que as portas se abrissem à verdadeira central sindical do proletariado búlgaro, impulsionar o seu movimento de libertação e dar um golpe mortal nas tendências separatistas, de formar e sustentar sindicatos concorrentes, dos quais unicamente a burguesia búlgara saberia aproveitar.

Para honra da Internacional e para a felicidade dos operários búlgaros, a Conferência Internacional de Budapeste fê-lo — e somos obrigados a sublinhá-lo — por unanimidade e sem a menor hesitação.

Tal é o sentido verdadeiro e profundo da resolução votada em Budapeste acerca da «questão búlgara». Ainda que esta resolução esteja cheia de grande tacto e cortesia internacional e tenha um estilo extremamente amável, permanece marcada na sua essência pelo facto indiscutível de que a central sindical dos «obchtodeltsi» foi expulsa da Internacional, como indigna de figurar nas suas fileiras, e que o caminho ficou assim livre à admissão definitiva da nossa União Sindical a que absolutamente todos os delegados da Conferência, conhecendo o que se faz na Bulgária, consideraram como o único representante do proletariado búlgaro.

Os esforços vãos dos políticos ligados à «R. B.» o dos super-homens de «Napred», de dar uma outra interpretação à resolução de Budapeste, agarrando-se apenas à sua forma flexível e a observações isoladas da Imprensa estrangeira a seu propósito, permanecerão estéreis. Os seus actuais raciocínios de que a central dos «obchtodeltsi» não teria sido expulsa da Internacional, mas apenas temporariamente afastada, para que a União das duas centrais sindicais na Bulgária se pudesse efectuar mais facilmente, podem apenas servir de consolo ao pequeno número de ingénuos incorrigíveis dos sindicatos concorrentes. Não saberão, contudo, enganar nenhum operário sério, porque, na realidade, o assunto é absolutamente claro.

Não é necessária muita inteligência para compreender que se a Conferência encarava a situação na Bulgária tal como o fazem os políticos e os super-homens, se desejava uma tal «união» pela qual choramingavam sem cessar, não havia absolutamente nenhuma necessidade de «afastar» a central sindical dos «obchtodeltsi» da Internacional. Pelo contrário: uma tal «união» teria muito mais oportunidade se a central dos «obchtadeltsi» permanecesse no seio da Internacional e a Conferência nos dissesse: Vocês querem entrar na Internacional Sindical — está perfeito! Nenhuma objecção. Realizem a união com a central sindical da Bulgária, filiada já há sete anos e, por essa mesma razão, estarão também no seio da Internacional. Se o não quiserem fazer então ficarão fora da família internacional do proletariado!

Sabe-se que é assim que a Conferência tem agido no que respeita à América. À nova central sindical americana declararam sem rodeios e categoricamente, que se desejava estar no seio da Internacional era necessário que se unisse à antiga central americana (a denominada Federação do Trabalho de Gompers) que, depois da Conferência de Paris, de 1909, faz parte do secretariado da Internacional Sindical. Porque razão a Conferência de Budapeste não «afastou temporariamente» também a antiga central americana, para facilitar e apressar a «união» das duas federações na América?

Os militantes sindicais experimentados e os sociais-democratas que estavam em Budapeste não sabiam o que faziam? Ainda que mil vezes mais modestos que os fanfarrões ligados à «R. B.» e à «Napred», tinham a inteligência e a competência necessárias para compreender que não há absolutamente nenhuma contradição e nenhuma inconsequência nas duas decisões diferentes, atendendo às diferenças existentes na Bulgária e na América.

Por outro lado, assim que Jouheaux, secretário da Confederação Francesa do Trabalho, que alimentava algumas simpatias para com a nova central americana, depois do voto de resolução sobre a «questão búlgara», exprimiu os seus pesares pela Conferência não ter tomado a mesma decisão para com o caso americano, fizeram-lhe calmamente notar que existia uma grande diferença entre os dois casos e que por essa mesma razão tinham sido tomadas duas decisões inteiramente diferentes.

E, com efeito, enquanto a Conferência considerava a antiga federação americana como representante efectivo do proletariado americano e que devia estar na Internacional, no que diz respeito à união sindical dos «obchtodeltsi» tinha todas as razões para a considerar como uma central sindical fictícia, que apenas faz sombra à Internacional, abusa do seu prestígio, pilha os seus recursos e, pelas suas relações internacionais, entrava a união efectiva do proletariado búlgaro.

Portanto, com o fim de facilitar a unidade do movimento sindical na América, a Conferência Internacional de Budapeste rejeitou a nova central americana deixando no seio da Internacional a antiga Federação. Para chegar à mesma unidade, na Bulgária, expulsou da Internacional a central sindical dos «obchtodeltsi» e abriu as suas portas à nossa União Sindical.

Temos hoje possibilidade de verificar com satisfação, que a resolução de Budapeste sobre a «questão búlgara», dá já entre nós resultados muito favoráveis para a unidade do proletariado e para a desagregação completa dos sindicatos concorrentes rejeitados pela Internacional.

Falaremos disso no próximo número.


Notas de rodapé:

(1) Partidários da acção comum. (retornar ao texto)

Inclusão 28/12/2014