Na Véspera da Semana Internacional Sindical Vermelha

Georgi Mikhailovich Dimitrov

27 de Novembro de 1921


Primeira edição: (Extractos do discurso pronunciado numa reunião no teatro «Renascença», dia 27 de Novembro de 1921). «Rabotnitcheski Vestnik», N.° 124, de 28 de Novembro de 1921.
Fonte:
Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
HTML:
Fernando A. S. Araújo
.
capa

O acolhimento reservado à chegada do chefe bem amado do movimento operário é de um entusiasmo impetuoso. Os operários trazem-no em triunfo até ao palco. A assistência composta por diversos milhares de homens, levanta-se e aclama-o longamente. A multidão entusiástica entoa a marcha do Exército Vermelho. O teatro troa com o canto de milhares de vozes.

Camaradas! Os sindicatos operários nos grandes Estados capitalistas, que tinham nascido e se tinham desenvolvido como organizações para a defesa dos interesses profissionais imediatos dos operários, foram transformados durante a guerra imperialista, pelos social-patriotas e pelos burocratas sindicais, em instrumentos para a continuação da guerra fratricida. A «paz civil» foi proclamada e quis-se fazer crer ao proletariado que a vitória da «sua pátria» lhe ofereceria também perspectivas de bem-estar.

A guerra imperialista acabou, mas o proletariado encontrou-se em todos os países diante de um marasmo económico sem precedentes, com todas as suas consequências: uma elevação constante do custo de vida, uma desvalorização catastrófica da moeda e um desemprego crescente. O pânico que se apoderou do mundo capitalista, em 1917 e 1918, depois do triunfo da revolução operária e camponesa russa, é compreensível. Toda a Europa tremia pelas consequências da guerra, frente à força ameaçadora e à influência da Rússia Soviética. Nesse momento, a vitória da classe proletária seria possível com poucos esforços e sacrifícios. Na Alemanha e na Áustria, o poder encontrava-se, de facto, nas mãos do proletariado. Mas a burguesia salvou-se à custa dos social-traidores e dos burocratas sindicais que fizeram dos poderosos sindicatos operários, com milhões de membros, instrumentos do restabelecimento do capitalismo decadente.

A burguesia refez o ânimo e apressou-se a resistir aos ataques do proletariado revolucionário, depois, a caminhar contra o movimento operário revolucionário e contra a Rússia Soviética, depositária da revolução internacional. Hoje, em todo o lado, o capital passou à ofensiva. Trabalha para diminuir os salários operários, para aumentar a duração do trabalho, para atacar todas as conquistas operárias do passado e as organizações operárias que queria destruir, assassinando os dirigentes e os militantes operários e interditando as organizações operárias. Ora, hoje ainda, os social-patriotas e os burocratas sindicais, reunidos na Federação Sindical de Amesterdão, continuam a colaborar, ainda mais servilmente, com a burguesia.

Nestas condições, o entusiasmo com que os operários revolucionários de todos os países acolheram a iniciativa dos sindicatos russos para a criação da Internacional Sindical Vermelha é compreensível, tal como se compreende por que esta última obteve sucesso em apenas um ano, ao juntar às suas fileiras perto de vinte milhões de operários sindicalizados de todas as raças e de todas as partes do mundo em que o capitalismo existe.

A luta entre Amesterdão e Moscovo(1) é, no movimento operário do mundo inteiro, o facto mais significativo do ano de 1921. Em cada dia, Amesterdão perde os seus aderentes, como resultado da traição e da vergonha com que a federação está marcada, enquanto que Moscovo em cada dia ganha novos, como centro da revolução proletária internacional.

O Primeiro Congresso da Internacional Sindical Vermelha estabeleceu o programa de acção dos militantes sindicais revolucionários de todos os países. Declarou-se firme partidário da adesão dos antigos sindicatos e do trabalho dos revolucionários nesses sindicatos, revelou-se contra o separatismo nacionalista no seio do movimento sindical, contra a colaboração de classes e contra a reconciliação com a burguesia.

Lançou igualmente a palavra de ordem da internacionalização da própria luta dos sindicatos, para não permitir que o proletariado seja batido separadamente; lançou ainda a palavra de ordem para a criação de uma frente do proletariado de todos os países, para a defesa dos interesses operários e para a luta contra o capitalismo. Hoje, quando a burguesia uniu todas as suas forças diante do perigo que a ameaça, são ainda os traidores da Federação de Amesterdão e da II Internacional que rompem a frente do proletariado, excluindo secções e uniões inteiras unicamente por serem a favor de Moscovo. A criação da Frente Única do Proletariado em todos os países e no mundo inteiro é o imperativo supremo do momento. Em 1918, a revolução russa não pôde tomar a amplitude de uma revolução europeia, mas ainda podemos afirmar hoje que a Revolução incuba na Europa, que é a única saída para a situação que o capitalismo criou no mundo inteiro. Hoje, o mundo capitalista é o caos. Assim, por exemplo, a desvalorização do marco alemão, a mão-de-obra barata e a exploração impiedosa do operário alemão fizeram da Alemanha um mercado onde se vende a preço vil tudo o que representava o futuro da economia alemã. A crise intensifica-se igualmente nos países vencedores. A oferta das mercadorias alemãs a tão baixo preço aumenta o desemprego em Inglaterra, na América e nos outros países. Os países de moeda fraca encontram-se na impossibilidade de fornecer matérias-primas à sua indústria, de comprar o que têm necessidade noutros países; quanto aos países fortes em divisas, sufocam por falta de saídas por onde escoar os seus produtos demasiado caros. A necessidade sempre mais premente de assegurar as saídas leva os Estados imperialistas para novos conflitos. Todos vocês vêem hoje pretextos para novas guerras. Os grandes e vorazes imperialistas estão de- novo prontos a levantar cabeça. O mundo está a todo o instante ameaçado por uma catástrofe ainda mais terrível.

Mas, por desunida que esteja nos seus interesses, a burguesia está unida contra o proletariado revolucionário desses países e contra a Rússia Soviética, centro e apoio da revolução internacional. E observamos actualmente o facto de que aqueles que foram tomados de pavor diante das forças ascendentes da revolução repetem com todas as forças que o bolchevismo e a sua política económica falharam completamente. A Rússia Soviética foi efectivamente constrangida a modificar a sua política económica sob a pressão do isolamento em que o povo russo se encontra depois da revolução, por causa do atraso da revolução nos países capitalistas desenvolvidos, de que são responsáveis os social-patriotas. Ora, na Rússia, não é a burguesia que governa, mas sim os operários e os camponeses sob a direcção do poderoso, sábio e perspicaz Partido Comunista.

Lá estabeleceu-se a ditadura do proletariado.

O poder soviético dos operários e dos camponeses pobres controla os transportes, o comércio externo, a grande indústria e, finalmente, a poderosa força armada do povo russo, o Exército Vermelho vitorioso. E chega-se assim a um facto à primeira vista estranho na história: o proletariado que tomou o poder nas mãos e exerce a sua ditadura, é constrangido, durante um período transitório, a atrelar a burguesia ao serviço do proletariado — por oposição ao passado, em que o proletariado sofreu durante séculos por causa da burguesia!

É verdade que o povo russo sofre hoje, que sofre muito. O proletariado russo obteve a liberdade, mas é obrigado, no actual período transitório, a apertar o cinto, a sacrificar tudo pelo futuro do comunismo. É preciso ver os operários sindicalizados russos que efectivamente não matam a fome, mas que, senhores orgulhosos do seu país e do seu trabalho, esperam firmemente a vitória do proletariado nos outros países; é preciso ver o Partido Comunista Russo onde todos, até ao último operário e operária, tomam posição sem fraquejar quando as dificuldades abundam; é preciso ver, enfim, o Exército Vermelho Russo, que não tem igual na história, para vos persuadir que a República Soviética Russa se mantem firmemente sobre os seus pilares, para vos convencer igualmente que é sobre a consciência do proletariado dos outros países, mais particularmente dos países desenvolvidos, que pesa a terrível responsabilidade dos grandes sofrimentos do proletariado russo.

Hoje, perante o proletariado põe-se o problema supremo da criação de uma Frente Unida Revolucionária, para que possa, não apenas repelir os ataques do capital, mas passar vitoriosamente para a ofensiva.

É este justamente o trabalho da Semana Internacional Sindical Vermelha.

Enquanto os grandes sindicatos dos países capitalistas não tiverem reunido as bandeiras da revolução, o triunfo da revolução socialista e a criação de uma economia socialista nestes países são impensáveis. Sob este ponto estamos mais felizes. Na sua parte mais consciente, o proletariado búlgaro caminha sob a bandeira da revolução e do comunismo. Mas as nossas uniões sindicais não englobam ainda as grandes massas de trabalhadores búlgaros, necessárias para representar a poderosa força indispensável ao triunfo da revolução na Bulgária. Levemos a todo o lado, onde bate um coração operário, o vivo apelo da união de todos os operários nas fileiras dos sindica-

tos revolucionários, para a defesa dos interesses operários, para a saúde da humanidade ameaçada pelo pesado fardo do capitalismo, para o triunfo do comunismo e para a felicidade de toda a humanidade laboriosa.— Tal é o nosso dever supremo na hora actual.


Notas de rodapé:

(1) É importante chamar a atenção para a defesa que Dimitrov faz da cisão do movimento operário. Numa análise superficial, pode parecer que o dirigente búlgaro defende a divisão do movimento operário, dos seus interesses de classe, o que provocaria uma grande debilidade das forças proletárias. No entanto, não é isso que se passa. O que Dimitrov coloca, de facto, é que o oportunismo de direita e o revisionismo da II Internacional influenciavam todo o trabalho sindical e, portanto, não era pela conciliação com os elementos revisionistas que se chegaria à definição de um sindicalismo de características revolucionárias, mas pela derrota total desses elementos degenerados. Os revisionistas da II Internacional, tal como os revisionistas modernos, clamavam, como estes clamam, contra as chamadas «divisões do movimento operário», procurando deixar na sombra a sua condução ao serviço da burguesia. Era, como é, um brado no deserto, que não se pode opor à justa condução de uma política proletária, de classe, para os sindicatos. (N. P.) (retornar ao texto)

Inclusão 07/01/2015