Discurso na Festa dos Emigrantes

Vasco Gonçalves

11 de Agosto de 1974


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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Pouco me resta dizer depois de tudo que aqui foi proferido, e em particular, como militar, depois das palavras de Sua Excelência o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

A vossa presença aqui é um testemunho bem vivo de que confiais no Movimento das Forças Armadas, no Movimento do 25 de Abril.

A vossa presença aqui é um testemunho bem vivo de que continuais a ser portugueses onde quer que trabalheis, e vós trabalhais no duro.

Nós herdámos uma pesada herança do fascismo. As condições em que viemos encontrar Portugal eram mesmo piores do que aquelas que supunhamos.

À nossa frente temos um árduo período de trabalho. Temos um período de sacrifícios que deve ser de todos os portugueses, sem distinção de classes, de fortuna, de credos políticos. O sacrifício que o país necessita para arrancar dos lugares atrasados da Europa é muito, e muito grande. E sem o trabalho de todos, não será possível Portugal deixar de ser um dos países mais atrasados da Europa.

Para este arranque do estado em que nos encontramos também é preciso a ajuda, o trabalho dos nossos emigrantes. Os nossos emigrantes devem ter confiança, que o País não está entregue ao desbarato, não está entregue à desordem, mas antes pelo contrário.

Qual é o país do mundo que se pode orgulhar de ter feito uma revolução tão profunda sem um único tiro?

Qual é o país do mundo que se pode orgulhar que três meses depois duma revolução que derrubou um regime opressivo de cinquenta anos, não haja desordens nem desacatos nas ruas, haja o maior civismo?

Isto só é possível porque o Governo tem atrás de si o povo de Portugal, todo o povo de Portugal!

Esta é que é a nossa verdadeira garantia de paz e tranquilidade ao contrário do que dizem os nossos inimigos.

O Movimento das Forças Armadas, o nosso Programa, respeita o direito de todos os cidadãos. Nós fizemos o Movimento para restituir aos cidadãos os direitos inerentes à pessoa humana, ao facto de sermos homens.

Um Governo que é produto dum movimento destes só pode desejar a tranquilidade, a paz, a ordem nas ruas, a ordem nos espíritos. É a ordem dos espíritos para que exista a ordem nas ruas.

Vós vindes à vossa terra e podereis contar ao mundo com orgulho o que vistes em Portugal.

Esta é uma grande contribuição que podereis dar ao reforço da nossa unidade, à consolidação das liberdades democráticas — é contardes a verdade e só a verdade!

Muitos dos nossos compatriotas, tal era o sofrimento e a opressão a que estavam submetidos há tantos anos, julgaram que de um dia para o outro, como se o Messias tivesse vindo à Terra, poderíamos passar a ser um formidável país, de nível económico e social elevado, como os países em que viveis. Mas isso não é possível. Nós temos de trabalhar muito para podermos conseguir esses níveis de vida.

Isso dava a medida das nossas esperanças, dava a medida do calor com que abraçámos o «25 de Abril». Mas nós temos de ser realistas. Não é de um dia para o outro que o país passa da cauda da Europa aos níveis mais avançados dos países em que viveis.

Isso tem de ser obra de todos os portugueses, e alguns sacrifícios teremos de ter para que possamos passar esta fase difícil da nossa História, uma fase que não fomos nós que a criámos, mas uma fase que nos criou problemas que temos que resolver.

Por isso eu exorto os portugueses a que não sejam impacientes, a que sejam conscientes, a que se debrucem sobre os problemas da sua Pátria, que os analisem.

Por isso eu exorto os partidos políticos a uma ampla acção pedagógica de unidade e que neste momento seja, sobretudo, a unidade que defendam, a unidade no esclarecimento dos graves problemas que temos a resolver. Lá chegaremos ao período eleitoral.

Todas as lutas em que nos possamos meter, lutas de carácter partidário, e dentro do melhor espírito e intenção, nós temos que ter presente que hoje a luta principal é a reconstrução dum País que nos foi entregue arruinado.

Se nós queremos desenvolver e consolidar a democracia em Portugal temos, acima de tudo, de ser unidos, porque um povo unido jamais será vencido!

Nós não fazemos promessas demagógicas. Nós só prometemos à nossa Pátria, trabalho, trabalho e mais trabalho!

Prometemos e já estamos a caminho de fazer justiça social no nosso País. Mas para que essa justiça social possa ser feita é preciso de facto que haja trabalho, que produza, que produza rendimento que possa ser distribuído mais equitativamente entre todos os portugueses.

Exortámo-vos pois a que não estejais impacientes. Nós estamos procurando condições para que amanhã os vossos filhos e os vossos netos não tenham necessidade de emigrar para o estrangeiro.

Neste momento estas condições não estão realizadas. Nós só prometemos da nossa parte que tudo faremos e nele empenharemos, nessa realização, o nosso trabalho e a nossa obra, para que mais tarde isso possa acontecer.

Viva a unidade do Povo Português e das Forças Armadas!

Viva a unidade de todos os portugueses!

Viva Portugal!

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Abriu o arquivo 05/05/2014