Extractos do Discurso à Chegada de Bruxelas, Perante a Manifestação Unitária, no Aeroporto de Lisboa

Vasco Gonçalves

1 de Junho de 1975


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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Sobre a permanência de Portugal na NATO

Penso que a nossa missão foi cumprida. Ela foi caracterizada, substancialmente, por dois factos: primeiro, uma afirmação clara, franca e firme da nossa posição na NATO, e das nossas relações com os nossos parceiros na NATO. O segundo aspecto fundamental foi de uma verdadeira batalha da informação, que eu e o sr. almirante Rosa Coutinho travámos, no sentido de esclarecer bem os nossos interlocutores e a opinião pública internacional sobre as verdadeiras realidades da Revolução Portuguesa. No que respeita à nossa posição na NATO, ela foi expressa com toda a franqueza e toda a sinceridade.

E porque é que nós entendemos que devemos continuar na NATO? Primeiro, porque não ignoramos o contexto geopolítico em que estamos inseridos. Depois, porque pensamos que não deve ser alterado o equilíbrio de forças na Europa. Se nós, por exemplo, abandonássemos a NATO, criaríamos forçosamente complicações no que respeita ao equilíbrio de forças na Europa, no que respeito ao ambiente de desanuviamento em que a NATO está hoje empenhada, tal como as forças dos países do Leste. Nós pensamos que isso é fundamental para o desanuviamento internacional, desde que ele seja feito de uma maneira equilibrada, que não seja provocado pelo enfraquecimento de uma parte em relação à outra, mas sim que corresponda a um lúcido entendimento dos deveres dos Governos perante os povos, no sentido de lutarem firmemente e de firmemente alcançarem o que constitui uma velha ambição da humanidade, a paz, uma paz duradoura.

Ora nós pensamos que, estando dentro da NATO, poderemos contribuir para o estabelecimento de uma paz duradoura na Europa e no Mundo. Pensamos que a substituição de um Estado fascista por um Estado democrático dentro da NATO só lhe dá uma melhor imagem e mais crédito no sentido de prosseguir ideias verdadeiramente democráticas.

Quando fizemos o 25 de Abril assumimos no nosso programa esse compromisso e, até agora, temos correspondido aos compromissos assumidos e não pode haver ninguém que duvide da nossa palavra, nem do cumprimento de todos os compromissos assumidos. Aliás, tudo isso foi afirmado aos nossos interlocutores, porque o MFA tem só uma cara.

Sobre a distorção da Informação na estrangeiro

O Movimento das Forças Armadas tem só uma cara. No que respeita à batalha da Informação, nós notamos uma grande distorção de informação no estrangeiro e, em particular, nas conversas que tivemos com certos dos nossos interlocutores. Um dos casos que avultou foi o caso do jornal República. Se esse caso, entre nós, foi exagerado, com fins de que viesse a ter repercussões num momento destes, em que íamos à cimeira da NATO, e que daí viesse distorção dos acontecimentos que se passam em Portugal, se assim se terá passado, esses objectivos foram conseguidos, porque nós tivemos que nos esforçar por explicar claramente aos nossos interlocutores, e a toda a gente, numa Conferência de Imprensa e aos nossos emigrantes que as liberdades não estão em perigo em Portugal.

Por outro lado, verificámos que era necessária uma acção intensa do Movimento das Forças Armadas no sentido do esclarecimento da nossa Revolução. A nossa Revolução, dadas as suas características, é de facto complexa e quem não seja capaz ou não tenha possibilidades de inserir as suas raízes na própria História do nosso povo, quem, pelo menos, não vá até à revolução burguesa, até 1820, e depois procure acompanhar o processo histórico que se tem desenvolvido; quem não saiba caracterizar as condições em que vivíamos nas vésperas do 25 de Abril e, depois, o complexo processo que se desenrolou daí até cá, tem muitas dificuldades em compreender a nossa situação. E eu verifiquei que assim era.

Sobre o papel do COPCON na Revolução

Manifestou, em seguida, o seu desacordo por uma caluniosa notícia publicada ontem mesmo pelo «France-Soir» que classificava o COPCON de polícia política portuguesa.

O COPCON não é a polícia política portuguesa. O COPCON é o braço armado da Revolução. Ele foi de facto uma invenção da Revolução, para ser o seu braço armado, para nos defender da reacção. E esta, sentindo o que é para ela a existência de uma força armada como o COPCON, calunia-a, chama-lhe polícia política. Ela é a força que nos defendeu no 28 de Setembro e no 11 de Março e está preparada para defender as conquistas da Revolução. Vejam onde pode chegar a ignomínia e a calúnia.

Ainda sobre a NATO

Esperamos ter contribuído para que não haja dúvidas sobre os nossos propósitos e quando dissermos que não somos um cavalo de Tróia dentro da OTAN é porque não somos mesmo, porque as nossas caras, a minha, a do Presidente da República e a do almirante Rosa Coutinho estão à frente de todos e sois vós que nos haveis de julgar.


Abriu o arquivo 05/05/2014