Extracto do Discurso Proferido na Posse dos Novos Secretários de Estado do V Governo em Resposta ao Discurso do Presidente da República

Vasco Gonçalves

20 de Agosto de 1975


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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É com orgulho de patriota que assisto à tomada de posse dos novos membros do Governo na hora grave que a nossa Revolução atravessa. Este Governo — o V Governo Provisório — é um Governo constituído por patriotas honrados que põem acima de qualquer interesse partidário ou pessoal os supremos interesses da Pátria. Não é um Governo de carreiristas, de políticos profissionais, é um Governo identificado com a Revolução e disposto a consolidar a todo o custo as conquistas alcançadas com o 25 de Abril. É um Governo disposto a tomar as medidas necessárias à salvaguarda da nossa Revolução mesmo que sejam impopulares.

O gesto destes homens, com os quais me sinto completamente identificado e que considero meus camaradas, é um gesto que pela sua grandeza moral se impõe a todos. É um gesto que serve de exemplo às nossas Forças Armadas, que contribui para o seu empenhamento revolucionário e para a sua unidade hoje tão posta em causa pelos inimigos da nossa Revolução.

É um Governo à altura do momento que vivemos, é um Governo de socialistas nos actos e não só nas palavras, é, enfim, um Governo de patriotas.

Ninguém aqui, senhor Presidente da República, está agarrado ao lugar, mas todos estamos ligados a uma Revolução que não queremos ver recuar e muito menos perder. Daí que não tenha sentido, e que cada vez o vá tendo menos o centrar-se a presente crise à volta da figura do Primeiro Ministro. Não é a figura do Primeiro Ministro que se pretende abater, mas sim as ideias que ele defende. Com este ou outro Primeiro Ministro empenhado na Revolução, os nossos adversários não cessariam de mover os seus ataques à Revolução e à Democracia. Repito: não é uma questão de nomes que está em causa. O problema é outro e a sua compreensão, bem como a compreensão geral da crise que atravessamos, terá de ir buscar-se à intensa luta de classes hoje vivida neste País.

Por isso, senhor Presidente, nem que fosse por um minuto apenas que este Governo tomasse posse, nem por isso os seus membros deixariam de o fazer, porque sabem e sentem que é essa a sua responsabilidade histórica. Responsabilidade que este Governo não enjeita, como se tem visto e como no futuro se verá. Nunca teve o Povo Português um Governo tão revolucionário e tão coeso como este V Governo Provisório. Nunca o Povo Português teve um Governo que, como este, estivesse tão empenhado na Revolução e nos altos ideais que esta procura servir e atingir.

O Governo sentiu, depois da sua reunião com o Directório, que era urgente ultimar a sua constituição que esta tomada de posse hoje consagra, para melhor se poder dedicar às grandes tarefas que o aguardam, e que a nossa Pátria espera, a curto prazo, ver concretizadas.

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