A Greve Política de Toda a Rússia

V. I. Lênin

13 (26) de Outubro de 1905


Primeira Edição: Proleíari, n.° 23, 31 (18) de outubro de 1905. Encontra-se in Obras, t. IX, págs. 32/33.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, novembro de 1961. Traduzido por Armênio Guedes, Zuleika Alambert e Luís Fernando Cardoso, da versão em espanhol de Acerca de los Sindicatos, das Ediciones em Lenguas Extranjeras, Moscou, 1958. Os trabalhos coligidos na edição soviética foram traduzidos da 4.ª edição em russo das Obras de V. I. Lênin, publicadas em Moscou pelo Instituto de Marxismo-Leninismo, anexo ao CC do PCUS. As notas ao pé da página sem indicação são de Lênin e as assinaladas com Nota da Redação foram redigidas pelos organizadores da edição do Instituto de Marxismo-Leninismo. Capa e planejamento gráfico de Mauro Vinhas de Queiroz. Pág: 176-179.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Genebra, 26 (13) de outubro.

O barômetro indica tempestade! Assim se manifestam os jornais estrangeiros de hoje ao incluir as notícias telegráficas que chegam sobre o poderoso crescimento da greve política em toda a Rússia.

E não é só o fato de o barômetro marcar tempestade, mas, antes, o de que foi tudo varrido pelo gigantesco vendaval da solidariedade do proletariado. A revolução avança com assombrosa rapidez, e prodigiosa quantidade de acontecimentos; e se quiséssemos expor aos nossos leitores minuciosamente a história dos últimos três ou quatro dias, teríamos que escrever um livro inteiro. Mas deixamos às gerações futuras a tarefa de escrever os detalhes da história. Temos diante de nós as cenas impressionantes de uma das maiores guerras civis pela liberdade, como jamais foram vistas pelos homens, e é preciso apressar-se a viver para empregar todas as energias nesta guerra.

Desencadeou-se a tempestade como agora parecem mesquinhos os discursos de liberais e democratas, as suposições, os vaticínios e os planos sobre a Duma! Como já envelheceram — em alguns dias, em algumas horas — todas as nossas discussões sobre a Duma! Alguns dentre nós duvidavam que o proletariado revolucionário fosse capaz de pôr fim a essa odiosa comédia dos ministros policialescos, alguns de nós tinham medo de falar francamente de boicote às eleições. Mas, mesmo antes de começarem em toda parte as eleições, um simples soco fez vacilar o castelo de cartas. Um simples soco fez com que não apenas os liberais e os covardes elementos de Osvobojdenie, mas inclusive o. sr. Witte, chefe do novo governo “liberal” tzarista (é verdade que, até agora, se limitam a falar), falassem de reformas que jogam por terra todas as sutilezas de toda a farsa de Buliguin.

A mão que ao movimentar-se alterou o problema da Duma é a mão do proletariado da Rússia. “Todas as rodas se deterão — diz uma canção socialista alemã — quando assim quiser a tua mão forte”. Essa mão forte ergueu-se agora. Foram brilhantemente confirmadas as nossas indicações e conjecturas sobre a grande importância da greve política de massas para a insurreição armada. A greve política de toda a Rússia desta vez abarcou realmente todo o país, agrupando a todos os povos do maldito “Império” russo no impulso heroico da classe mais oprimida e avançada. Os proletários de todos os povos que formam este império de opressão e violência agrupam-se agora para formar o grande exército único da liberdade e do socialismo. Moscou e Petersburgo compartilharam a honra da iniciativa proletária revolucionária. As capitais declararam-se em greve. A Finlândia está em greve. As províncias do Báltico, tendo Riga à frente, aderiram ao movimento. A heroica Polônia já se incorporou novamente às fileiras dos grevistas, como que zombando da fúria impotente dos inimigos, os quais imaginavam poder destroçá-la a golpes e que com isso não faziam senão infundir mais energia ainda às suas forças revolucionárias. Levantam-se a Crimeia (Simferopol) e o Sul. Em Ekaterinoslav constroem-se barricadas e corre o sangue. Está em greve a região do Volga Médio (Sarátov, Simbirsk, Nijni-Novgórod), a paralisação estende-se às províncias agrícolas centrais (Vorônej) e à zona industrial do Centro (Iaroslavl).

E à frente deste exército multinacional de milhões de operários colocou-se a modesta delegação do sindicato ferroviário. No palco em que os senhores liberais representavam as comédias políticas, com discursos tonitroantes e medrosos ao tzar e com caretas a Witte, entrou o operário e apresentou seu ultimato ao novo chefe do novo governo “liberal” tzarista, o senhor Witte. A delegação dos operários ferroviários não quis esperar a ascensão da “direção pequeno-burguesa” na Duma de Estado. A delegação dos operários não quis perder um tempo tão precioso em “criticar” essa comédia de marionetes. A delegação dos operários preparou primeiramente a crítica com fatos — a greve política — e então foi quando disse ao ministro-palhaço que a solução só pode ser uma: convocatória da Assembleia Constituinte eleita à base do sufrágio universal e direto.

O ministro-palhaço falou, segundo a justa expressão dos próprios operários ferroviários, “como um verdadeiro burocrata com os rodeios de sempre e sem nada dizer de concreto”. Promete decretos implantando a liberdade de imprensa e rejeita o sufrágio universal; a Assembleia Constituinte “é agora impossível”, disse, segundo os telegramas que chegam ao estrangeiro.

E a delegação dos operários declarou a greve geral. Da residência do ministro, a delegação dos operários encaminhou-se para a Universidade, onde se efetuam reuniões políticas em que se reúnem até dez mil pessoas. O proletariado soube aproveitar a tribuna que lhe ofereciam os estudantes revolucionários. E nas primeiras reuniões políticas de massas, sistemáticas e livres havidas na Rússia, em todas as cidades, nas escolas, nas fábricas e nas ruas, discute-se a resposta do ministro-palhaço, fala-se que é preciso empreender uma luta armada enérgica que torne “possível” e necessária a convocatória da Assembleia Constituinte. A imprensa burguesa do estrangeiro, mesmo a mais liberal, balbucia horrorizada a respeito das palavras de ordem “terroristas e sediciosas” proclamadas pelos oradores das assembleias populares livres, como se o governo do tzar, com toda sua política de opressão, não houvesse convertido a insurreição em algo necessário e inevitável.

A insurreição aproxima-se, a greve política de toda a Rússia vai transformando-se, diante de nossos olhos, em insurreição. A nomeação do ministro-palhaço, que afirma aos operários ser “agora” impossível a convocação da Assembleia Constituinte eleita por todo o povo, proporciona uma demonstração clara da ascensão das forças revolucionárias e do enfraquecimento das forças do governo tzarista. A autocracia não tem força para agir abertamente contra a revolução. A revolução não tem ainda forças para assestar um golpe resoluto no inimigo. Esta flutuação de forças que quase se equilibram, traz inevitavelmente o desconcerto das autoridades, origina as alternativas que vão da repressão e das concessões às leis de liberdade de imprensa e liberdade de reunião.

Adiante pois, para uma luta ainda mais ampla e renhida, para evitar que o inimigo se recomponha! O proletariado já fez milagres em prol do triunfo da revolução. A greve política de toda a Rússia aproximou formidavelmente esse triunfo, semeando a confusão entre o inimigo, que se encontra presa do pavor da agonia. Mas estamos longe, muito longe de haver feito tudo quanto podemos e devemos fazer para o triunfo definitivo. A luta aproxima-se, mas não chegou ainda ao seu verdadeiro termo. A classe operária levanta-se, mobiliza-se, arma-se atualmente em proporções jamais vistas, e no final das contas varrerá por completo a odiosa autocracia, expulsará todos os ministros-palaços, instaurará o seu governo provisório revolucionário e fará com que todos os povos da Rússia vejam a “possibilidade” e a necessidade de convocar, justamente “agora”, uma Assembleia verdadeiramente constituinte e que represente de verdade a todo o povo.


Inclusão 24/03/2013