Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China

Mao Tsetung


Capítulo V — Secção 3. A Retirada Estratégica


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A retirada estratégica é uma medida estratégica adoptada segundo um plano por um exército que deve fazer face a um adversário de força superior, cuja ofensiva o primeiro não se julga capaz de romper no imediato, e que tem como fim preservar as próprias forças e esperar o momento oportuno para derrotar o inimigo. Os defensores da aventura no plano militar, porém, pronunciam-se resolutamente contra a adopção duma tal medida, recomendando que "se detenha o inimigo para lá das nossas portas".

Todos sabemos que num combate de boxe, geralmente, o jogador mais avisado recua um passo, enquanto o seu estúpido adversário investe furiosamente e usa, desde o início, todos os recursos, de tal maneira que, por fim, é o que recua quem acaba por vencer.

No romance Chuei Hu Tchuan(19), o mestre de boxe Horn, que vive em casa de Tchai Tzin, lança o "venha, venha!" de desafio a Lin Tchum. Este último começa por recuar e, depois, ao primeiro descuido de Horn, atira-o por terra com um pontapé.

Na época de Tchuentsiu, rebentou uma guerra entre os principados de Lu e de Tsi(20). O duque Tchuam, que reinava em Lu, quis atacar sem esperar que o exército de Tsi se fatigasse, no que foi retido por Tsao Cuei. O duque aplicou então o princípio seguinte: "O inimigo esgota-se nós golpeamos", e esmagou o exército de Tsi. Na história militar da China, esse facto tornou-se um modelo clássico de vitória ganha por um exercito fraco sobre um exército forte. Eis a descrição do historiador Tsuotchio Mim(21):

Na Primavera, o exército de Tsi invadiu-nos. O duque ia dar batalha quando Tsao Cuei lhe pediu audiência. Os conterrâneos de Tsao disse- ram-lhe: "A guerra é negócio de dignatários, porque te metes pois tu nisso?", ao que Tsao lhes respondeu: "Os dignatários são gente medíocre, não podem ver longe". Apresentando-se ao duque, Tsao perguntou-lhe: "Em que te apoias, oh príncipe?", ao que este lhe respondeu: "Eu nunca gozei sozinho das roupas e alimentos, sempre os partilhei com os outros". Tsao replicou: "Tu não distribuíste por todos esses pequenos favores, o povo não te seguirá, oh príncipe!". Este disse-lhe: "Eu ofereci sempre aos deuses tantos animais, jade e seda quanto havia prometido; sempre actuei com fidelidade". Tsao Cuei replicou: "Com essa reduzida fidelidade não obterás a sua confiança; os deuses não te abençoarão". O duque disse-lhe: "Ainda que esteja para lá do meu alcance ocupar-me pessoalmente dos detalhes de todos os processos, quer grandes quer pequenos, julgo sempre de maneira equitativa". Então Tsao Cuei respondeu-lhe: "Isso demonstra o cumprimento fiel do teu dever, podes ir dar batalha! Quando partires, oh príncipe, permite-me que te acompanhe". O duque levou-o no seu carro e deu batalha em Tchanchao. Ia o duque tocar o tambor para o ataque quando Tsao Cuei lhe disse: "Ainda não!". Por três vezes os tambores de Tsi tocaram. Tsao Cuei declarou então: "O momento chegou!". As tropas de Tsi cederam e o duque preparou-se para perseguí-las. Tsao Cuei disse-lhe: "Ainda não!". Tsao desceu do carro, examinou o traçado dos carros inimigos e, depois, voltando a subir para a balaustrada, olhou ao longe e disse: "Chegou o momento!". Começou então a perseguição das tropas de Tsi. Após a vitória, o duque interrogou Tsao Cuei sobre as razões do seu comportamento, ao que este respondeu: "A guerra e questão de coragem.

Ao primeiro rufar do tambor levanta-se o moral; ao segundo rufar, baixa; com o terceiro, cai. O inimigo já não tinha mais coragem, enquanto que nós estávamos cheios dela. Foi por isso que ganhamos. Todavia, ao travar-se combate contra um grande principado, é difícil conhecerem-se-lhe as forças. Eu receei uma emboscada, por isso observei o traçado dos carros inimigos e vi que se entrecruzava confusamente; observei os seus estandartes e vi que eles estavam caídos, nós podíamos começar a perseguição".

Foi um caso em que um Estado fraco resistiu a um Estado forte. No relato fala-se da preparação política para a guerra — assegurar-se da confiança do povo; campo de batalha propício à passagem à contra-ofensiva (Tchanchao); momento favorável ao desencadeamento da contra-ofensiva — quando o inimigo já não tinha mais coragem e nós estávamos cheios dela; momento em que foi desencadeada a perseguição — quando o traçado dos carros inimigos se entrecruzava confusamente e os estandartes estavam caídos. Muito embora não se tivesse tratado duma grande batalha, nessa descrição estão expostos os princípios da defensiva estratégica. A história militar da China abunda em exemplos de vitórias obtidas graças à aplicação de tais princípios: A batalha de Tchengao, entre os Tchu e os Han(22), a batalha de Cuen-iam, entre os Sin e os Han(23), a batalha de Cuantu, entre Iuan Chao e Tsao Tsao(24), a batalha de Tchipi, entre os Vu e os Vei(25), a batalha de Ilim, entre os Vu e os Chu(26), a batalha da ribeira Fei, entre os Tchin e os Tzin(27), etc. Em todas essas batalhas célebres, empenhando dois exércitos desiguais, vê-se o mais fraco começar por recuar, para só golpear e vencer depois de o mais forte ter golpeado.

A nossa guerra começou no Outono de 1927. Nessa época não tínhamos a menor experiência. A Insurreição de Nantcham(28) e a Insurreição de Cantão(29) tinham falhado. O Exercito Vermelho na região fronteiriça Hunan-Hupei-Quiansi, no momento da Insurreição da Colheita de Outono(30), tinha sofrido igualmente várias derrotas e passara às montanhas Tchincam, na fronteira do Hunan com o Quiansi. No mês de Abril seguinte, as unidades que sobreviveram ao fracasso da Insurreição de Nantcham chegaram igualmente às montanhas Tchincam, passando pelo sul do Hunan. Desde Maio de 1928, porém, os princípios fundamentais da guerra de guerrilhas, princípios rudimentares mas que correspondiam à situação da época, estavam já elaborados. Eles exprimiam-se nesta fórmula em dezasseis caracteres:

"O inimigo avança, nós recuamos; o inimigo imobiliza-se, nós flagelamos; o inimigo esgota-se, nós golpeamos; o inimigo retira-se, nós perseguimos".

Esses princípios militares foram aprovados pelo Comité Central antes que surgisse a linha Li-san. Posteriormente, os nossos princípios de condução da guerra receberam um novo desenvolvimento. Quando da nossa primeira contra-campanha na base revolucionária de Quiansi, o princípio de "levar o inimigo a penetrar profundamente no nosso território" foi formulado e aplicado com sucesso. Quando a terceira campanha de "cerco e aniquilamento" do inimigo foi rompida pelo Exército Vermelho, já tinham sido elaborados os princípios que regem a nossa acção. Era uma nova fase na evolução dos nossos princípios militares. Eles encontravam-se consideravelmente enriquecidos quanto ao conteúdo e notavelmente modificados na forma; traço essencial: eles tinham quebrado os quadros da sua formulação anterior que se revestia dum carácter rudimentar. Contudo, os princípios fundamentais permaneciam os mesmos, tal como na fórmula que acaba de ser enunciada. Esta engloba os princípios fundamentais das contra-campanhas e as duas fases — a defensiva estratégica e a ofensiva estratégica. Na defensiva, ela indicava igualmente duas fases: a retirada estratégica e a contra-ofensiva estratégica. O que se seguiu depois não foi mais do que o desenvolvimento desses princípios.

Contudo, a partir de Janeiro de 1932, assim que foi publicada a "Resolução para a vitória da revolução, primeiro que tudo em uma ou em várias províncias, após o esmagamento da terceira campanha de 'cerco e aniquilamento', resolução do Partido que continha graves erros de princípio, os oportunistas de "esquerda" empreenderam uma luta contra os princípios justos, os quais acabaram por ser rejeitados e substituídos por toda uma série de princípios contrários, por eles chamados "novos princípios" ou "princípios regulares". Desde aí, deixaram de considerar-se os velhos princípios como princípios regulares; era a expressão do "espírito de guerrilhas" que se impunha rejeitar. Durante três anos completos reinou uma atmosfera de luta contra o "espírito de guerrilhas". A primeira fase da luta desenrolou-se sob o signo do espírito de aventura militar; a segunda orientou-se pelo conservantismo militar; finalmente, na terceira, foi o "salve-se quem puder". A justeza da velha linha só foi reafirmada quando o Comité- Central realizou a reunião alargada do seu Birô Político, em Tsuen-yi, província de Cueidjou, em Janeiro de 1935, onde se proclamou a falência daquela linha errada. Mas que preço tudo isso nos custou!

A argumentação dos camaradas que se tinham encarniçado contra o "espírito de guerrilhas" era a seguinte: é um erro levar o inimigo a penetrar profundamente nas nossas bases, pois, assim, abandonamos-lhe um vasto território. É verdade que, aplicando esse método, alcançámos anteriormente vitórias, mas acaso a situação actual não é bem diferente da do passado? Além disso, não é melhor vencer o inimigo sem abandonar-lhe territórios? Não é melhor vencê-lo no seu próprio campo, ou nas regiões limítrofes do nosso e do seu território? Os velhos princípios não tinham nada de regular. Eram métodos de acção para destacamentos de guerrilhas. Actualmente, criámos o nosso próprio Estado, e o nosso Exército Vermelho já se tornou num exército regular. A guerra que Tchiang Kai-chek nos faz é uma guerra entre dois Estados, entre dois grandes exércitos. A História não deve repetir-se, é preciso rejeitar completamente o "espírito de guerrilhas". Os novos princípios são "absolutamente marxistas", ao passo que os velhos nasceram entre os destacamentos de guerrilhas nas montanhas, e nas montanhas não há Marxismo. Os novos princípios eram o oposto dos velhos. Ei-los:

"Um contra dez, dez contra cem, agir com audácia e resolução, explorar a vitória perseguindo o inimigo até ao fim", "atacar em toda a frente", "apoderar-se das cidades-chave", "golpear simultaneamente com os dois punhos e em duas direcções".

Quando o inimigo atacava, os métodos utilizados contra ele eram os seguintes:

"Deter o inimigo para lá das nossas portas", "vencer o inimigo golpeando antes dele", "não permitir que se venha quebrar a louça no nosso campo", "não perder um palmo de terreno", "dividir as nossas forças em seis colunas".

A guerra transformava-se numa "batalha decisiva entre a via revolucionária e a via colonial", uma guerra feita de ataques breves e súbitos, guerra de blocausses, guerra de desgaste, uma "guerra prolongada", a que se juntava a política de manutenção duma retaguarda enorme, e uma centralização absoluta do comando — tudo se terminando como se sabe, por uma vasta "mudança". E aqueles que não reconhecessem esses novos princípios eram punidos, tratados de "oportunistas", etc.

Claro que todas, essas teorias e práticas eram erradas. Era subjectivismo. Nas circunstâncias favoráveis, esse subjectivismo manifestava-se sob a forma de fanatismo e impetuosidade revolucionária pequeno-burguesa; nas circunstâncias difíceis, porém, e à medida que a situação piorava, ele passava sucessivamente à atitude do arrisca-tudo, depois ao conservantismo e ao "salve-se quem puder". São as teorias e as práticas dos impulsivos e dos ignorantes, em nada respiram Marxismo, na realidade são anti-marxistas.

Falemos apenas da retirada estratégica. No Quiansi, chamava-se a isso "levar o inimigo a penetrar profundamente no nosso território", e, no Sctchuan, "encurtar a linha de frente". Todos os teóricos e práticos militares do passado admitem igualmente que esse constitui um princípio que deve ser aplicado na fase inicial da guerra por um exército fraco em luta contra um exército forte. Um perito militar estrangeiro dizia:

"Quando se passa à defensiva estratégica, começa-se, em geral, por evitar a decisão em condições desfavoráveis, para só a procurarmos quando a situação se nos tenha tornado favorável",

o que é perfeitamente justo, e nada temos a acrescentar.

O fim da retirada estratégica é conservar as forças do exército e preparar a contra-ofensiva. A retirada é necessária face a ofensiva dum adversário poderoso, pois, se não se recua, colocam-se inevitavelmente em perigo as próprias forças. No passado, porém, muitos estavam obstinadamente contra a retirada, considerada por eles como uma "linha oportunista puramente defensiva". Ora, a nossa História mostrou que as suas objecções eram inteiramente erradas.

Durante a preparação da contra-ofensiva, é indispensável escolher e criar condições que nos sejam favoráveis e desfavoráveis ao adversário, a fim de obter uma modificação da relação de forças existente entre nós e o inimigo. Isso feito, pode passar-se à contra-ofensiva.

Como mostra a nossa experiência anterior, no decorrer da etapa da retirada, geralmente, devemos assegurar-nos, pelo menos, de duas das condições abaixo indicadas, para podermos considerar como adquirida a vantagem sobre o inimigo e passarmos à contra-ofensiva:

  1. A população civil ajuda activamente o Exército Vermelho;
  2. O terreno é favorável ao desenrolar da acção militar;
  3. Foram concentradas as forças principais do Exército Vermelho;
  4. Foram descobertos os pontos fracos do adversário ;
  5. O inimigo foi reduzido a um estado de cansaço moral e físico;
  6. O inimigo foi induzido em erro.

Para o Exército Vermelho, a primeira condição é a mais importante de todas. Ora, uma base de apoio oferece justamente essa condição. Uma vez satisfeita tal condição, é fácil criar ou encontrar o que preenche a quarta, a quinta e a sexta condições. Eis porque, quando o adversário desencadeia uma grande ofensiva contra o Exército Vermelho, geralmente este retira-se das regiões brancas para o território das bases, onde as populações civis se entregam o mais activamente a ajudar o Exército Vermelho a combater o exército branco. No próprio interior das bases existe uma diferença entre regiões periféricas e regiões centrais. Para impedir que as informações cheguem ao inimigo, como para as missões de reconhecimento, transportes e participação nos combates, a população das regiões centrais convém mais do que a das regiões periféricas. Assim é que, quando nos foi necessário determinar o "termo da retirada" no Quiansi, por ocasião das lutas contra as três primeiras campanhas de "cerco e aniquilamento" lançadas pelo inimigo, escolhemos sempre as regiões em que, do ponto de vista da primeira condição, a situação era a melhor ou, pelo menos, relativamente boa. Em razão dessa característica, isto é, pelo facto de possuir bases de apoio, o Exército Vermelho opera segundo métodos que diferem consideravelmente dos métodos habituais. Essa é, aliás, a razão essencial por que o inimigo teve de recorrer depois à guerra de blocausses.

Um exército em retirada pode escolher posições favoráveis e impor a sua vontade ao atacante; aí está uma das vantagens da acção realizada no interior das linhas. Para vencer um inimigo poderoso, um exército fraco não pode deixar de interessar-se pela escolha de posições. Essa condição, porém, por si só é insuficiente. Ela deve acompanhar-se doutras. A mais importante é a do apoio das populações. Além disso, convém determinar que destacamento inimigo é mais fácil de golpear, por exemplo, um destacamento que esteja cansado, que tenha cometido uma falta, ou então um destacamento que, progredindo numa direcção dada, apresente uma combatividade relativamente fraca. Se essas condições não se verificam, vale mais abandonar as posições vantajosas e continuar a retirada, a fim de se assegurarem as condições desejadas. Nas regiões brancas também se podem encontrar posições vantajosas, mas falta a condição favorável que é o apoio das populações. E se outras condições não estão ainda dadas, ou descobertas, o Exército Vermelho deve retirar-se para as bases de apoio. As mesmas observações são válidas, em geral, para a distinção a fazer entre as regiões periféricas e as regiões centrais das bases de apoio.

Em princípio, todas as nossas forças de choque devem ser concentradas, à excepção dos destacamentos locais e das forças destinadas a reter o inimigo. Todavia, quando o Exército Vermelho ataca um adversário que teve de passar à defensiva no plano estratégico, ele opera, geralmente, em ordem dispersa. Pelo contrário, em caso de grande ofensiva do adversário, o Exército Vermelho executa uma "retirada convergente". Em regra, para termo dessa retirada é escolhido o centro da base de apoio, sendo, por vezes, também escolhida a sua frente ou ainda a retaguarda, tudo isso em função da situação concreta. A retirada convergente permite a concentração completa de todas as forças principais do Exército Vermelho.

Uma outra condição indispensável, que deve ser observada por um exército fraco em luta contra um inimigo poderoso, é a de golpear os pontos em que o adversário é vulnerável. Ora, acontece frequentemente que, no momento em que o adversário lança a sua ofensiva, nós ignoramos qual, dentre as suas colunas que progridem em diversas direcções, é a mais forte, um pouco menos forte, a mais fraca ou precisamente um pouco menos fraca, o que nos obriga a um processo de reconhecimento que, ao ser feito, leva geralmente muito tempo. Eis uma razão mais em favor da necessidade da retirada estratégica.

Se o adversário que ataca é muito superior, tanto em efectivos como em potência, só existe um meio para modificar a relação de forças: esperar o momento em que ele tenha penetrado profundamente nas bases de apoio e esteja esmagado sob o fardo de todas as dificuldades que o esperam nessas regiões. Foi assim que, na terceira campanha de "cerco e aniquilamento", o chefe de Estado Maior duma das brigadas de Tchiang Kai-chek, teve de declarar:

"Dos gordos eles fizeram magros, e dos magros eles fizeram cadáveres";

e o comandante em chefe do exército de "cerco e aniquilamento" do Kuomintang, no sector oeste, Tchen Mim-chu, afirmou:

"O Exército Nacional tacteia no escuro por toda a parte, enquanto que o Exército Vermelho marcha continuamente em plena luz".

Em tal situação, mesmo que o adversário seja possante, as suas forças enfraquecem consideravelmente, as suas tropas cansam-se, o seu moral baixa e o volume dos seus pontos fracos aparece, enfim, em toda a claridade. Em contrapartida, embora, fraco, o Exército Vermelho vai acumulando energias, aprestando-se calmamente a fazer face a um inimigo esgotado. Nesse momento, chega-se geralmente a estabelecer um certo equilíbrio ou a reduzir a superioridade absoluta do adversário a uma superioridade relativa, enquanto que a nossa fraqueza absoluta já não é mais do que fraqueza relativa, podendo mesmo acontecer que o adversário se torne mais fraco do que nós e o nosso exército passe a ser superior ao do inimigo. No Quiansi, no decurso da luta contra a terceira campanha de "cerco e aniquilamento", o Exército Vermelho recuou ao máximo (concentrando-se nos confins da retaguarda da base). Só assim é que pôde vencer um adversário que tinha lançado nessa campanha efectivos dez vezes e pouco superiores aos nossos. Suen Tse disse:

"Evita o combate quando o inimigo está cheio de alento; golpeia-o quando, enfraquecido, ele retira".

Com isso ele pretendia que era necessário esgotar moral e fisicamente o adversário, a fim de diminuir-lhe ou eliminar-lhe a superioridade.

O último objectivo da retirada é o de incitar o adversário a cometer faltas, ou descobri-las. Por muito hábil que seja um comandante inimigo, é-lhe impossível deixar de cometer faltas no decorrer dum longo período, pelo que existe sempre uma possibilidade de utilizarmos as faltas do adversário. Este último pode cometer um erro, da mesma maneira que nós podemos, por vezes, enganar-nos e dar-lhe ocasião para aproveitar-se disso. Ademais, podemos agir intencionalmente, de modo a provocar faltas do inimigo, por exemplo, fazendo o que Suen Tse chamava "criar aparências" (aparentar que se quer golpear a leste e lançar o ataque a oeste, dito de outra maneira, fazer demonstrações dum lado para atacar por outro): Por esse motivo, o termo da nossa retirada não deve limitar-se a uma região determinada. Por vezes, tendo-nos já retirado para a região escolhida, não nos é ainda possível encontrar a ocasião para tirar proveito das falhas do adversário, sendo por isso obrigados a retirar-nos um pouco mais, esperando que este as cometa.

Tais são, nas suas linhas gerais, as condições favoráveis que pode provocar a nossa retirada. Isso não significa, porém, que devemos esperar que todas essas condições se apresentem para passar então à contra-ofensiva. É impossível e desnecessário reunir, ao mesmo tempo, todas essas condições. De todas as maneiras, um exército fraco, que realize acções no interior das linhas contra um exército poderoso, deve procurar assegurar-se de certas condições indispensáveis, segundo a situação concreta das forças inimigas no momento dado. A esse respeito, toda a apreciação contrária seria errada.

Quando se pretende determinar o termo da retirada, importa examinar a situação no seu conjunto.

Séria um erro fixar a nossa escolha sobre um ponto que, embora favorecendo a passagem à nossa contra-ofensiva, relativamente apenas a uma parte da situação, não fosse igualmente favorável à situação geral. Efectivamente, no início da contra-ofensiva, há que ter em conta as modificações que, ulteriormente, podem intervir na situação. A nossa contra-ofensiva, aliás, começa sempre por contra-ofensivas parciais. Algumas vezes convém escolher, como termo de retirada, as posições situadas na frente da nossa base de apoio — foi, por exemplo, o caso das nossas segunda e quarta contra-campanhas no Quiansi, e da nossa terceira contra-campanha na região fronteiriça Xensi-Cansu; por vezes, vale mais escolher 0 centro — foi o caso da primeira contra-campanha no Quiansi; por vezes, enfim, é necessário fixar esse termo mesmo na retaguarda da base de apoio, como na terceira contra-campanha no Quiansi. Tudo isso depende da relação entre a situação particular e a situação geral. Durante a quinta contra-campanha no Quiansi, o nosso exército recusou-se categoricamente a retirar, não querendo ter em conta nem a situação particular nem a geral, o que foi uma pura imprudência. Uma situação é constituída por toda uma série de factores, daí que convém assegurar-se, ao serem examinados os laços entre a situação particular e a geral, de que os factores que condicionam no momento dado a nossa situação e a do inimigo, quer particular quer geral, favoreçam, em certa medida, a nossa passagem à contra-ofensiva.

Duma maneira geral, o termo da nossa retirada no interior da base de apoio pode situar-se em três sectores: à frente, ao centro e na retaguarda. Acaso isso significa que tenhamos renunciado completamente à acção nas regiões brancas? Não. Só renunciamos a isso quando temos de fazer face às grandes campanhas de "cerco e aniquilamento" do inimigo. Nesse caso existe unia grande desproporção de forças entre o inimigo e nós; e é com o fim de preservar as nossas forças e esperar o momento oportuno para derrotá-lo que nos pronunciamos pela retirada em direcção às nossas bases de apoio; pela acção que visa levar o inimigo a penetrar profundamente no nosso território. Com efeito, só assim podemos criar ou verificar as condições que favorecem a nossa contra-ofensiva. Se a situação não é tão grave ou se, pelo contrário, é tal que impede que o Exército Vermelho passe à contra-ofensiva mesmo no seu próprio território, ou ainda se a contra-ofensiva resulta num fracasso, sendo necessário prosseguir a retirada a fim de obter uma mudança na situação, então pode admitir-se, ao menos teoricamente, que o termo da retirada seja fixado nas regiões brancas, embora não tenhamos até hoje senão uma-pequena experiência a esse respeito.

No que respeita à localização do termo da nossa retirada nas regiões brancas, podem apresentar-se igualmente, em geral, três casos: (1) diante da nossa base de apoio, (2) sobre os seus flancos, (3) por detrás dela. Por exemplo, durante a nossa primeira contra-campariha no Quiansi, teria sido possível fixar-se o termo da nossa retirada diante da nossa base de apoio. Se naquela época não se tivesse registado uma divisão, no seio do Exército Vermelho e uma cisão nas organizações locais do Partido, noutros termos, se não tivéssemos que resolver dois problemas difíceis — a linha de Li-san e o grupo A-B(31) — seria permitido pensar que, concentradas no triângulo formado por Qui-an, Nanfom e Tchanchu, as nossas forças teriam podido desencadear a contra-ofensiva. Com efeito, o inimigo que então avançava por entre os rios Can e Fu não era muito mais forte que o Exército Vermelho (100.000 homens contra 40.000). Se bem que, do ponto de vista do apoio da população civil, as condições não fossem tão boas como nas nossas bases de apoio, tínhamos ainda assim posições vantajosas; teríamos podido, além disso, aproveitar-nos do avanço inimigo por colunas isoladas, para esmagá-las uma após outra. Teria sido possível, por exemplo, fixar o termo da nossa retirada sobre um dos flancos dá nossa base de apoio, durante a nossa terceira contra-campanha no Quiansi, nas condições seguintes: se a ofensiva do adversário não fosse duma tão considerável amplidão, se uma das colunas inimigas tivesse partido da região de Quíenim-Litchuan-Tainim; na fronteira do Fuquien com o Quiansi, e se a sua importância tivesse permitido que lhe vibrássemos um golpe, o Exército Vermelho teria podido concentrar-se na região branca do oeste de Fuquien, e esmagar em primeiro lugar essa coluna, sem ter de fazer um grande desvio de 1.000 lis para atingir Jueiquin e depois Sincuo. Tomemos, por último, um exemplo do terceiro caso, em que o termo da retirada é fixado na retaguarda da nossa base de apoio. Se na nossa terceira contra-campanha no Quiansi, as forças principais do adversário tivessem marchado, não em direcção do oeste, mas em direcção do sul, poderíamos ter sido constrangidos a recuar até à região de Hueitcham-Siunvu-An-íuam (em território branco), a fim de atrair o adversário para mais longe, em direcção do sul, e o Exército Vermelho teria podido golpear em seguida do sul para o norte, para o interior da nossa base de apoio, em cuja parte norte as forças do adversário não teriam sido nesse momento muito numerosas. Os exemplos que acabam de ser dados, porém, constituem simples hipóteses, pois não se baseiam na experiência; nós podemos considerá-los como casos excepcionais e não como princípios gerais. Quando o adversário lança uma grande campanha de "cerco e aniquilamento", para nós, a regra geral deve consistir em levá-lo a penetrar profundamente na nossa base de apoio, retirarmo-nos para o nosso território a fim de prosseguirmos aí o combate, pois esse é o método que nos oferece as melhores garantias para romper a ofensiva adversária.

Os que pensavam que era necessário "deter o inimigo, para lá das nossas portas", pronunciavam-se contra a retirada estratégica. Eles justificavam a sua oposição com o facto de a nossa retirada implicar uma perda de território, causar prejuízos à população (o que se chama: deixar o inimigo "quebrar a louça" na nossa própria casa), e ter repercussões desfavoráveis no exterior. Durante a nossa quinta contra-campanha, puseram-se a afirmar que a cada passo à retaguarda que fizéssemos, a linha de fortificações inimiga avançava outro tanto, que o território da nossa base de apoio diminuía dia a dia, sendo-nos impossível reconquistar o terreno perdido. Se outrora tínhamos tido vantagens em levar o adversário a penetrar profundamente no nosso território, essa táctica tornava-se inútil no decorrer da quinta contra-campanha de "cerco e aniquilamento", em que o inimigo se entregava a uma guerra de blocausses. Acrescentavam que não se podia lutar contra tal campanha a não ser por meio duma defesa com forças dispersas e ataques breves e súbitos.

É fácil responder a todas essas afirmações. Aliás, a nossa história já respondeu a tudo isso. A respeito da perda de território, acontece frequentemente o seguinte: não é possível evitar perdas sem nada perder. É o princípio de "dar para depois receber". Se abandonamos terreno mas conquistamos em seguida a vitória, recuperamos o que perdemos e aumentamos o nosso território, o negócio é daqueles que rendem. Nas operações comerciais, o comprador não pode adquirir uma mercadoria sem ceder o seu dinheiro; reciprocamente, o vendedor não pode ganhar dinheiro sem ceder a sua mercadoria. Na revolução, o que se cede é constituído pelas destruições, e o que se ganha, pela construção no sentido do progresso. Quando se dorme e se repousa, perde-se tempo, mas recupera-se energia para o trabalho do dia seguinte. Se o imbecil que não compreendesse isso se recusasse a dormir, sentir-se-ia fatigado no dia seguinte. Seria singularmente deficitário. Ora, foi justamente isso que provocou o nosso défice durante a quinta campanha de "cerco e aniquilamento" do inimigo. Porque não quisemos ceder uma porção do nosso território, perdemo-lo por inteiro. A Abissínia também perdeu todo o seu território porque se lançou de cabeça baixa na guerra, embora, entenda-se, isso esteja longe de ter sido a única razão da sua derrota.

O mesmo se passa com respeito aos prejuízos causados à população civil. Não aceitar que se venha quebrar a louça, durante pouco tempo, numa parte dos nossos lares, significa aceitar que se venha quebrar a louça de toda a população durante um longo período. Por medo de provocar repercussões políticas| desfavoráveis durante um tempo limitado, fica-se condenado a provocar essas mesmas repercussões durante um tempo ilimitado. Se os bolcheviques russos, após a Revolução de Outubro, se tivessem alinhado pelo ponto de vista dos "comunistas de esquerda", e tivessem repelido o Tratado de Paz com a Alemanha, o Poder dos Sovietes, que acabava justamente de nascer, teria perecido(32).

Essas concepções esquerdistas, aparentemente revolucionárias, decorrem da impetuosidade revolucionária própria dos intelectuais pequeno-burgueses e do conservantismo estreito dos pequenos produtores camponeses. Ao examinarem uma questão, só vêem uma parte, e são incapazes de compreendê-la no seu conjunto; eles não querem ligar os interesses de hoje aos de amanhã, os interesses particulares aos do conjunto. Aferrando-se ao que é parcial, temporário, não querem largá-lo a preço algum. Com certeza que não se devem abandonar os elementos parciais, temporários, que aparecem vantajosos nas circunstâncias concretas do momento, particularmente os que parecem revestir-se duma importância decisiva para o conjunto e para todo o período; se o fizéssemos, transformar-nos-íamos em partidários do deixa-andar, ou do deixa-fazer. Assim, a retirada deve ter um termo. Todavia, não devemos, em caso nenhum, deixar-nos conduzir pelas concepções míopes dos pequenos produtores, mas sim adquirir a sabedoria bolchevique. Quando os nossos olhos se afiguram insuficientes, é necessário recorrer ao binóculo e ao microscópio. O método marxista é, ao mesmo tempo, um binóculo e um microscópio quer no plano político quer no domínio militar.

Naturalmente, a retirada estratégica apresenta dificuldades. A escolha do momento inicial, do seu termo, o trabalho de explicação política entre os quadros e a população civil, para convencer uns e outros da necessidade da retirada, tudo isso são tarefas difíceis que precisam, porém, de ser levadas a bom fim.

A questão do momento em que deve iniciar-se a retirada é muito importante. Se durante a nossa primeira contra-campanha no Quiansi o começo da retirada não tivesse sido fixado no bom momento, quer dizer, se a retirada tivesse começado mais tarde, isso teria tido repercussões, pelo menos na grandeza da nossa vitória. É evidente que é prejudicial começar a retirada muito cedo, ou muito tarde. Todavia, duma maneira geral, uma retirada tardia provoca mais perdas do que uma retirada prematura. Uma retirada executada no momento oportuno permite assenhorear-se inteiramente da iniciativa, o que facilita consideravelmente a passagem à contra-ofensiva, quando, atingido o termo da retirada, se reconstituíram já as nossas forças e pode calmamente esperar-se que o adversário se fatigue por completo. Durante as operações que nos permitiram romper a primeira, segunda e quarta campanhas de "cerco e aniquilamento" do inimigo, no Quiansi, pudemos escolher tranquilamente o momento de enfrentar o adversário. Só no decurso da terceira campanha é que o Exército Vermelho foi obrigado a reagrupar-se à pressa, por meio de desvios, ficando esgotados os seus combatentes; isso deu-se porque não esperávamos de maneira alguma que o adversário, depois da sua pesada derrota na segunda campanha, conseguisse organizar tão depressa uma nova campanha (tínhamos terminado a segunda contra-campanha a 29 de Maio de 1931, e Tchiang Kai-chek desencadeou a sua terceira campanha em 1 de Julho). A escolha do momento da retirada é feita da mesma maneira que a escolha do início da fase preparatória duma contra-campanha, como referimos anteriormente, isto é, inteiramente na base das informações indispensáveis que foi possível recolher e da apreciação da situação geral, nossa e do inimigo.

Convencer os nossos quadros e a população civil da necessidade da retirada estratégica é tarefa das mais árduas, se eles não têm experiência dessa retirada, e se a direcção militar não atingiu um grau de autoridade tal que possa confiar a decisão da retirada estratégica a um pequeno número de pessoas, ou a uma só, e gozar, ao mesmo tempo, da confiança dos quadros. Foi porque os nossos quadros tinham falta de experiência e não acreditavam na retirada estratégica que encontrámos enormes dificuldades a esse respeito, no início da primeira e da quarta contra-campanhas e durante toda a quinta contra-campanha. Durante a nossa primeira contra-campanha, sob a influência da linha Li-san, certos quadros não eram pela retirada mas sim pelo ataque, até ao momento em que acabámos por convencê-los do contrário. No decorrer da nossa quarta contra-campanha, sob a influência do espírito de aventura militar, alguns dos nossos quadros pronunciaram-se contra a preparação da retirada estratégica. Na nossa quinta contra-campanha, a começo, certos quadros ainda permaneciam fiéis às concepções da aventura militar, erguendo-se contra a tentativa de levar o adversário a penetrar profundamente na nossa base de apoio, tornando-se depois partidários do conservantismo militar. Os partidários da linha de Tcham Cuo-tao não reconheciam a impossibilidade de criar bases de apoio nas regiões povoadas por tibetanos e por hueis(33), só se rendendo à evidência quando eles próprios bateram com a cabeça na parede. Isso é também um exemplo concreto. A experiência é indispensável aos quadros; a derrota é realmente a mãe do sucesso. Contudo, não se torna menos necessário aceitar, com modéstia, a experiência dos outros. Se, em todas as ocasiões, somos teimosos, recusamos aceitar a experiência alheia e baseamo-nos somente na nossa, chegamos à forma mais pura desse "empirismo estreito" que tanto mal nos causou no decorrer da guerra.

Por falta de experiência, nunca a população esteve tão pouco convencida da necessidade duma retirada estratégica como quando da nossa primeira contra-campanha no Quiansi. As organizações locais do Partido e as massas populares dos distritos de Qui-an, Sincuo e Ionfom, naquela altura, protestaram unanimemente contra a retirada do Exército Vermelho. Mas uma vez que elas adquiriram a experiência necessária na primeira contra-campanha, esse problema não voltou a surgir no decorrer das contra-campanhas seguintes. Todos compreenderam que as perdas de território e os sofrimentos do povo eram temporários, e todos se convenceram de que o Exército Vermelho era capaz de romper as campanhas de "cerco e aniquilamento". Contudo, a confiança do povo está estreitamente ligada à confiança que experimentam os nossos quadros. Por esse motivo, a nossa tarefa principal, primordial, é convencer os nossos próprios quadros.

A retirada estratégica é inteiramente orientada no sentido da passagem à contra-ofensiva; ela é apenas a primeira fase da defensiva estratégica. O problema decisivo de toda a estratégia é o de saber se a vitória pode ser obtida no decurso da fase seguinte, a da contra-ofensiva.


Notas:

(19) Chuei Hu Tchuan (À Borda d'Água), célebre romance chinês sobre a guerra camponesa, atribuído a Chi Nai-an, que viveu nos fins da dinastia dos Iuans e começos da dinastia Mim (séc. XIV). Lin Tchum e Tchai Tzin são dois grandes heróis desse romance. Horn é mestre de boxe junto de Tchai Tzin. (retornar ao texto)

(20) Principados da época de Tchuentsiu (722-481 A.C.). O grande principado de Tsi situava-se no centro da actual província de Xantum, e o principado de Lu, mais pequeno que o primeiro, encontrava-se no sul da mesma provinda. O duque Tchuam reinou em Lu, desde 693 a 662 A.C. (retornar ao texto)

(21) Tsuotchio Mim, autor do Tsuo Tchuan, célebre crónica da época dos Tchous. A passagem citada é extraída da secção intitulada "Ano X do Reinado do Duque Tchuam". (retornar ao texto)

(22) Tchengao, cidade antiga situada no noroeste do actual distrito dc Tchengao, no Honan. Na Antiguidade era um ponto estratégico importante. Foi ai que, em 203 A.C., se desenrolou uma batalha entre o rei de Han, Liu Pam, e o rei de Tchu, Siam Iu. Este último apoderou-se de Sim-iam e de Tchengao, derrotando quase todas as tropas de Liu Pam. Esperando pelo momento favorável, porém, Liu Pam vibrou um golpe terrível contra as tropas de Tchu, enquanto estas atravessavam o rio Se, e retomou a cidade de Tchengao. (retornar ao texto)

(23) Cuen-iam, cidade antiga que se situava no actual distrito de Iecien, no Honan. Foi aí que Liu Siu (imperador Cuanvu, fundador da dinastia dos Han de Leste) destruiu no ano 23 as tropas de Vam Mam. O desequilíbrio das forças em presença era particularmente sensível. Liu Siu não dispunha de mais de oito a nove mil homens, enquanto que Vam Mam controlava quatrocentos mil soldados. Aproveitando a negligência de Vam Siun e Vam Yi, generais de Vam Mam, que subestimavam as forças do adversário, Liu Siu lançou contra eles três mil homens das suas tropas de elite, derrotando assim o núcleo das forças de Vam Mam; de seguida, explorando o sucesso. Liu Siu passou ao ataque e esmagou completamente as tropas inimigas. (retornar ao texto)

(24). Cuantu situava-se no nordeste do actual distrito de Tchun-mou, na província do Honan. Foi aí que se travou, no ano 200, uma batalha entre as tropas de Tsao Tsao e de Iuan Chao. Este último dispunha dum exército de cem mil homens, enquanto que Tsao Tsao, com os viveres já esgotados, apenas dispunha de efectivos bastante reduzidos. Aproveitando, porém, a negligência de Iuan Chao que subestimava as forças do adversário, Tsao Tsao lançou com as suas tropas ligeiras um ataque de surpresa e incendiou-lhe as bagagens. As tropas de Iuan Chao foram tomadas de pânico. Tsao Tsao vibrou-lhes então um golpe violento e aniquilou-lhes as forças principais. (retornar ao texto)

(25) As tropas de Vu eram dirigidas por Suen Tchíuan e as de Vci, por Tsao Tsao. Tchipi está na margem sul do rio Yangtsé, no nordeste do actual distrito de Quiaiu, na província do Hupei. Foi aí que, em 208, dispondo dum exército de mais de quinhentos mil homens, que ele fez passar por oitocentos mil, Tsao Tsao atacou Suen Tchiuan. Este último, aliado a Liu Peí, um outro inimigo de Tsao Tsao, pôs em linha trinta mil homens. Tirando partido duma epidemia que assolava as tropas de Tsao Tsao e da sua incapacidade para combater em água, as forças aliadas de Suen Tchiuan e Liu Pei queimaram a frota de Tsao e esmagaram o seu exército. (retornar ao texto)

(26). Ilim encontra-se no leste do actual distrito de Itcham, província do Hupei. Foi aí que, em 222, Lu Siun, general do reino de Vu, infligiu uma severa derrota às tropas de Liu Pei, rei de Chu. A princípio, Liu Pei obteve vitória sobre vitória; ele chegou até Ilim, embrenhando-se 500 a 600 lis no interior do reino de Vu. Más Lu Siun, que defendia Ilim, recusou todo o combate durante uns sete a oito meses; tendo esperado o momento em que Liu Pei "já não sabia o que fazer, visto o esgotamento e a desmoralização completos das suas tropas". Lu Siun aproveitou-se do vento que se tinha levantado para incendiar o campo de Liu Pei, e destruiu-lhe as forças. (retornar ao texto)

(27) Em 383, Sie Siuan, general dos Tziri de Leste, infligiu sobre as margens da ribeira Pei (província do Anghuei) uma pesada derrota a Fu Quien, que reinava sobre os Tchin. Este último dispunha de mais de 600.000 peões, de 270.000 cavaleiros e duma guarda de mais de 30.000 homens, enquanto que as tropas dos Tzin de Leste (compreendida a frota) não excediam 80.000 homens. Os dois exércitos estavam separados pela ribeira Fei. Especulando sobre a arrogância e a suficiência do seu adversário, Sie Siuan pediu a Fu Quien que lhe concedesse um espaço sobre a margem norte, onde se encontrava o Exército de Tchin, para que as suas tropas pudessem desembarcar e dar a batalha decisiva. Fu Quien aceitou mas, desde que ele deu a ordem de retirar, as suas tropas foram tomadas de pânico e tornou-se impossível contê-las. Aproveitando a ocasião, as tropas de Sie Siuan atravessaram a ribeira e esmagaram o exército de Fu Quien. (retornar ao texto)

(28) A 1 de Agosto de 1927, a fim de combater as forças contra-revolucionárias de Tchiang Kai-chek e de Uam Tsim-vei, e prosseguir a Revolução de 1924-1927, o Partido Comunista da China desencadeou a célebre Insurreição de Nantcham, capital do Quiansi. Forças armadas totalizando mais de 30.O00 homens tomaram parte nessa insurreição, dirigidas pelos camaradas Chou En-lai, Tchu Te, Ho Lom, Ie Tim e outros. A 5 de Agosto, as tropas insurrectas, aplicando um plano elaborado de antemão, deixaram Nantcham e marcharam sobre Cuantum. Contudo, diante de Tchaodjou e Xantou, sofreram reveses. Uma parte dentre elas, sob o comando dos camaradas Tchu Te, Tchen Yi e outros, conseguiu em seguida abrir uma passagem para alcançar as montanhas Tchincam, onde se juntou à 1ª Divisão do I Corpo do Exército Revolucionário dos Operários e Camponeses conduzido pelo camarada Mao Tsetung. (retornar ao texto)

(29) Trata-se da resistência oposta em várias localidades pelas massas populares, sob a direcção do Partido Comunista, às forças contra-revolucionárias, no período que seguiu à traição de Tchiang Kai-chek, em 1927, e à traição ulterior de Uam Tsim-vei. A II de Dezembro de 1927, em Cantão, os operários é os soldados revolucionários sublevaram-sc, esta¬beleceram o poder popular e deram um combate encarniçado às forças contra-revolucionárias que beneficiavam do apoio directo dos imperialistas. Contudo, em resultado da enorme desproporção existente entre as forças em presença, o levan¬tamento popular acabou por sofrer uma derrota. Em 1923-1925, os camponeses dos distritos de Haifom e Lufom, no litoral oriental do Cuantum; desencadearam, sob a direcção dum comunista, o camarada Pom Pai, um possante movimento que proporcionou uma ajuda substancial ao Exército Nacional Revolucionário de Cantão, durante as duas campanhas vitoriosas que este realizou em direcção a leste, contra a camarilha contra-revoJucionária de Tchen Tchtom-mim. Após o golpe de Estado contra-revolucionário de Tchiang Kai-chek, a 12 de Abril de 1927, os camponeses dessa região sublevaram-se por três vezes, em Abril, em Setembro e em Outubro, e estabeleceram o poder revolucionário nos distritos de Haifom e Lufom, poder que se manteve até Abril de 1928. Os cam-poneses da parte oriental do Hunan, que se tinham suble¬vado em Setembro de 1927, apoderaram-se duma região que compreendia os distritos de Liuíam, de Pihquíam, de Lilím e de Tchudjou. Na mesma época, algumas dezenas de milhares de camponeses levantaram-se de armas na mão, nós distritos de Siaocan, Matchem e Huam-an no nordeste de Hupei, e ocuparam a sede do distrito de Huam-an durante mais de 30 dias. No sul do Hunan, os camponeses insurrectos dos distritos de Itchan, Tsendjou, Lei-iam, Ioncim e Tse-clm instauraram, em Janeiro de 1928, um poder revolucionário que durou três meses. (retornar ao texto)

(30) Em Setembro de 1927, sob a direcção do camarada Mao Tsetung, os destacamentos armados das populações da região situada na fronteira do Hunan com o Quiansi, isto é, dos distritos de Siouchuei, Pinsiam» Pinquiam e Liuiam, desencadearam a célebre Insurreição da Colheita de Outono e formaram a Ia Divisão do I Corpo do Exército Revolucionário dos Operários e Camponeses. O camarada Mao Tsetung conduziu essas forças para as montanhas Tchincam, onde criou a base revolucionária da região fronteiriça Hunan-Quiansi. (retornar ao texto)

(31) O grupo A-B, organização de espionagem contra-revolucionária do Kuomintang, operava clandestinamente nas regiões vermelhas. A-B são as iniciais da palavra "anti-bolchevique". (retornar ao texto)

(32) Ver V. I. Lenine, "Teses sobre a Conclusão Imediata duma Paz Separada e Anexionista", "Estranho e Monstruoso", "Lição Séria e Séria Responsabilidade", "Relatório sobre a Guerra e a Paz"; ver também Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, capítulo VII, secção 7. (retornar ao texto)

(33) Trata-se dos Tibetanos, que vivem no Sicam, e dos Hueis que vivem no Cansu, Tsinghai, Sinquiam e outras províncias. (retornar ao texto)

Inclusão 10/05/2010
Última alteração 08/08/2012