Prefácio a Crítica do Programa de Gotha[N2]

Friedrich Engels

6 de Janeiro de 1891

Transcrição autorizada
Hiper Link para Editora Avante

Primeira Edição: Publicado na revista Die Neue Zeit, Bd. 1. n.º 18. 1890-1891. Publicado segundo o texto da revista. Traduzido do alemão.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial"Avante!"
Tradução: José BARATA-MOURA.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, março 2009.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.


capa

O manuscrito aqui reproduzido — a carta de envio a Bracke, assim como a crítica do projecto de programa — foi expedido para Bracke em 1875, pouco antes do Congresso de união [Einigungskongress] de Gotha[N3] para participação a Geib, Auer, Bebel e Liebknecht e ulterior reenvio a Marx. Uma vez que o congresso do Partido de Halle[N4] tinha posto na ordem do dia do Partido a discussão do programa de Gotha, parecer-me-ia cometer um desvio se escondesse ainda durante mais tempo da publicidade este importante — talvez o mais importante — documento referente a esta discussão.

Mas o manuscrito ainda tem uma outra significação e de maior alcance. Pela primeira vez, a posição de Marx para com a orientação tomada por Lassalle desde a sua entrada na agitação é aqui clara e firmemente exposta, e isto tanto no que diz respeito aos princípios económicos como à táctica de Lassalle.

A impiedosa severidade com que o projecto de programa é aqui dissecado, a inflexibilidade com que os resultados obtidos são enunciados [e] os pontos fracos do projecto são mostrados, tudo isto, hoje, quinze anos passados, não pode já ofender. Lassallianos específicos já só existem no estrangeiro como ruínas isoladas e o programa de Gotha, em Halle, foi abandonado mesmo pelos seus criadores como inteiramente insuficiente.

Apesar disso, onde a coisa era indiferente, omiti algumas expressões e juízos pessoais severos e substituí-os por pontos. O próprio Marx faria isso, se publicasse hoje o manuscrito. A linguagem veemente do mesmo, em certas passagens, foi provocada por duas circunstâncias: em primeiro lugar, Marx e eu estávamos mais intimamente ligados ao movimento alemão do que a qualquer outro; o decidido passo atrás manifestado neste projecto de programa tinha, portanto, particularmente, que nos irritar, com veemência. Em segundo lugar, porém, estávamos, então, dois anos apenas após o Congresso da Haia da Internacional[N5], na luta mais veemente com Bakúnine e os seus anarquistas, que faziam de nós responsáveis de tudo o que acontecia na Alemanha no movimento operário; era de esperar, portanto, que nos fosse atribuída a secreta paternidade deste programa. Estas considerações estão hoje caducadas e, com elas, a necessidade das passagens em questão.

Por razões decorrentes da Lei de Imprensa, algumas frases são indicadas também apenas por pontos. Onde tive que escolher uma expressão mais atenuada, ela está posta entre parênteses rectos. Quanto ao resto, a reprodução é literal(1*).

Londres, 6 de Janeiro de 1891.

Fr. Engels


Notas de rodapé:

(1*) No presente tomo as passagens omitidas e substituídas por pontos na edição de 1891 figuram entre < > e as principais diferenças entre o manuscrito e a edição de 1891 são assinaladas em nota de pé de página. (Nota da edição portuguesa)

Notas de fim de tomo:

[N2] Este prefácio foi escrito por Engels em ligação com a publicação da Crítica do Programa de Gotha, de Marx, em 1891. Com a publicação deste importantíssimo documento político, Engels pretendia vibrar um golpe nos elementos oportunistas que se tornaram activos na social-democracia alemã, quando o partido se preparava para discutir e adoptar, no Congresso de Erfurt, um novo programa, em substituição do de Gotha. Ao publicar a Crítica do Programa de Gotha, Engels deparou com uma certa oposição da parte de dirigentes da social-democracia alemã, e também do editor da revista Die Neue Zeit e do chefe de redacção K. Kautsky, e teve que fazer algumas alterações e cortes no texto. O trabalho de Marx foi recebido com satisfação pela grande maioria dos membros do partido alemão e pelos socialistas de outros países, que o consideraram como um documento programático de todo o movimento socialista internacional. Juntamente com a Crítica do Programa de Gotha, Engels publicou também uma carta de Marx a Bracke de 5 de Maio de 1875, que estava directamente ligada com a obra.
Em vida de Engels houve apenas uma edição da Crítica do Programa de Gotha com o seu prefácio. O texto completo da Crítica do Programa de Gotha foi publicado pela primeira vez em 1932, na União Soviética.(retornar ao texto)

[N3] No Congresso de Gotha, que se reuniu entre 22 e 27 de Maio de 1875, uniram-se as duas correntes do movimento operário alemão — o Sozialdemokratische Arbeiterpartei (Partido Operário Social-Democrata, eisenachianos), dirigido por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, e a Allgemeiner Deutscher Arbeiterverein (União Geral Operária Alemã, lassalliana). O partido unificado adoptou o nome de Sozialistischen Arbeiterpartei Deutschlands (Partido Operário Socialista da Alemanha). Isto pôs fim à divisão nas fileiras da classe operária alemã. O projecto de programa do partido unificado, que Marx e Engels submeteram a uma aguda crítica, foi no entanto aprovado pelo Congresso, apenas com correcções insignificantes. (retornar ao texto)

[N4] O Congresso da social-democracia alemã em Halle reuniu-se entre 12 e 18 de Outubro de 1890. Aprovou a decisão de elaborar, para o congresso seguinte do partido, em Erfurt, um projecto de novo programa e de o publicar três meses antes do congresso, a fim de o discutir primeiro nas organizações locais do Partido e na imprensa. (retornar ao texto)

[N5] O Congresso da Haia da Associação Internacional dos Trabalhadores teve lugar entre 2 e 7 de Setembro de 1872. Participaram nele 65 delegados de 15 organizações nacionais. Marx e Engels dirigiram os trabalhos do Congresso. O Congresso constituiu o culminar da luta que Marx, Engels e os seus seguidores vinham travando há muitos anos contra todas as formas de sectarismo pequeno-burguês no movimento operário. A actividade cisionista dos anarquistas foi condenada e os seus dirigentes foram expulsos da Internacional. As resoluções do Congresso da Haia lançaram as bases da criação de partidos políticos da classe operária, independentes, em vários países. (retornar ao texto)

Inclusão 19/11/2004
Alteração 14/03/2009