Primeiro de Maio de 1937

Andreu Nin


Primeira edição: em La Batalla de 1° de maio de 1937
Tradução do espanhol: Carlos Serrano Ferreira da versão eletrônica do sítio eletrônico da Fundación Andreu Nin (http://www.fundanin.org/nin8.htm). Esta fundação dedica-se à preservação da memória histórica do POUM.
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Fernando A. S. Araújo.
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Seis anos atrás, a classe trabalhadora espanhola celebrava o Primeiro de Maio em meio a um grande entusiasmo, com o coração repleto de esperança. Quinze dias antes havia caído o odiado regime monárquico. A República de 14 de abril vivia sua lua de mel. E, Alcalá Zamora, presidente do governo provisório, prometia à multidão operária o início de uma nova era, a era da justiça social.

Porém, o verdadeiro caráter da transformação política por que acabava de passar a Espanha não tardou em se manifestar. A burguesia, com o auxílio direto dos socialistas, se aproveitou do entusiasmo popular para empreender rápida e eficazmente a consolidação de suas posições, para assegurar, sob a máscara democrática, sua dominação, posta em perigo pelo movimento revolucionário das massas. Inspirada por seu certeiro espírito de classe, freou a própria revolução, conservando, essencialmente, as bases econômicas da monarquia e mantendo incólume o mecanismo estatal do regime derrubado.

O idílio de abril, como era de se esperar, foi breve. Contrariamente ao que pretendia a burguesia, a revolução não só não havia terminado, como entrava em uma nova fase, cheia de perigos mas também cheia de grandes possibilidades. "O período que se abre - dizíamos naquele momento - não é um período de paz, mas um período de luta em ebulição. E, nesta luta estarão em jogo os interesses fundamentais da classe trabalhadora e todo seu futuro. A classe operária será derrotada se no momento crítico não disponha dos elementos de combate necessários; triunfará, se contar com estes elementos, se si liberta de todo contato com a democracia burguesa, pratica uma política claramente de classe e sabe aproveitar o momento oportuno para dar o assalto ao poder".

De fato, a luta de classes recobrou todos seus direitos, com mais intensidade todavia, que durante a monarquia pois, no regime democrático os antagonismos de classe se manifestam em toda sua desnudez, e a experiência dos últimos seis anos veio a demonstrar que a democracia burguesa, incapaz de resolver os problemas fundamentais do país, preparava o terreno ao fascismo, e que a única saída da situação era a revolução proletária.

Na sublevação militar de 19 de julho, e na guerra civil e revolução subsequentes, se condensou, pode-se dizer assim, toda essa experiência. E, é neste momento crucial de nossa história "em que estão em jogo os interesses fundamentais da classe trabalhadora e todo seu futuro", quando partidos que pretendem ser operários e marxistas tentam estrangular a revolução, frustrar as imensas possibilidades que se oferecem ao proletariado espanhol, sacrificando seus interesses superiores - que coincidem com os da humanidade civilizada — em prol da República democrática parlamentar, melhor dizendo, da burguesia e seu regime de exploração.

O Primeiro de Maio deste ano coincide com a fase mais crítica deste momento histórico. A burguesia, amedrontada nos primeiros meses da revolução, levanta a cabeça e tenta consolidar suas posições. Especulando com a guerra e suas dificuldades, tenta arrebatar — com inegável êxito em alguns aspectos — as conquistas do proletariado. E, como em todos os períodos revolucionários, tem como seu auxiliar mais eficaz o reformismo. Porém, a relação de forças, ainda que modificada  nestes últimos tempos, segue sendo favorável ao proletariado. Para que esta relação de forças favorável seja decisiva, é preciso que a classe operária recupere a plena confiança em si mesma, rompa as amarras que a atam à democracia burguesa e empreenda resolutamente o caminho da conquista do poder. Hoje, todavia, ainda é tempo. Amanhã já será tarde.

E que não se deixe sugestionar pelos que sob pretexto de subordinar tudo às necessidades da guerra, pretendem estabelecer uma "união sagrada" à base de concessões constantes do proletariado aos seus inimigos de classe. A guerra tem uma importância imensa, porém está indissoluvelmente ligada à revolução. A burguesia preferirá a derrota militar ao triunfo da classe trabalhadora, para cujo aplastamento não vacilará, se as circunstâncias exigirem, em aliar-se com seus inimigos de hoje. Só um governo operário e camponês é capaz de organizar a vitória, de montar uma potente indústria bélica, de levar a guerra até o fim, de criar uma autêntica moral de guerra na retaguarda, de sacrificar todos os interesses particulares ao interesse geral.

Só um governo operário e camponês, que rompa todo contato com a burguesia nacional e com o imperialismo estrangeiro, e imprima um vigoroso impulso à revolução internacional, pode aplastar definitivamente ao fascismo, tanto na retaguarda, como na frente.

A consigna que arrastou as massas populares ao Primeiro de Maio de 1931 foi:

Viva a República do 14 de abril!

A consigna das massas trabalhadoras da Espanha, neste Primeiro de Maio trágico e glorioso, deve ser:

Viva a revolução social!
Viva o governo operário e camponês!

Só com o triunfo desta consigna não resultará estéril o generoso sacrifício do proletariado espanhol nem seu magnífico heroísmo, sem precedentes na História.


Inclusão 17/01/2014