Por Um 1° de Maio de Luta e de Unidade

Luiz Carlos Prestes

Abril de 1954


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 57 - Mai de 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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As comemorações do 1º de Maio do corrente ano terão, no Brasil, excepcional significação, pois, constituirão uma etapa importante no desenvolvimento das lutas da classe operária e das massas populares pela satisfação de suas reivindicações imediatas, em defesa das liberdades democráticas, da paz e da independência nacional.

As lutas da classe operária estão em ascenso no Brasil. Em todos os setores da produção, os trabalhadores manifestam sob formas as mais diversas, conforme o grau de organização a de unidade já alcançado, conforme o nível já atingido pela sua consciência de classe, um crescente descontentamento e afirmam também que não estão dispostos nem a morrer de fome ou a permitir que seus filhos e dependentes morram de fome, nem a submeterem-se às medidas repressivas dos governantes. Cada dia manifestam sua inequívoca vontade de paz. Ao mesmo tempo que se voltam com gratidão e esperanças crescentes para a grande União Soviética em que vêem o mundo do socialismo, sentem maior ódio pelos opressores norte-americanos que assaltam nossas riquezas naturais, mandam nos governantes brasileiros, oprimem e exploram a maioria esmagadora da nação.

As lutas pelas reivindicações mais imediatas ligam-se por isso, com frequência cada vez maior, à luta contra o governo de Vargas e contra os governantes estaduais. A classe operária começa a compreender que a causa da miséria crescente não está unicamente na exploração patronal, mas igualmente na política do governo do sr. Getúlio Vargas, que é o principal culpado do encarecimento do custo da vida, que atinge no Brasil a níveis jamais conhecidos.

É a desvalorização acelerada do cruzeiro o encarecimento verdadeiramente astronômico dos preços de todos os artigos de consumo popular, particularmente dos gêneros de primeira necessidade, assim como dos aluguéis de casa, do transporte urbano e dos medicamentos. Dá-se, assim, uma queda brusca do salário real, enquanto os lucros dos fazendeiros e grandes industriais e comerciantes continuam crescendo e atingem somas fabulosas, especialmente os lucros das grandes firmas e companhias norte-americanas.

A distribuição da renda nacional torna-se no Brasil cada dia mais injusta, desumana, iníqua e revoltante. Apenas 5% da população do país absorva metade da renda nacional. Nessa base, supõe-se que 2.600.000 de seus habitantes se beneficiam com cerca de 150 bilhões de cruzeiros, cabendo-lhes em média, por pessoa, 57.000 cruzeiros anuais, ao passo que a renda média de cada um dos restantes 49.000.000 de habitantes (95% da população) do país não excede de 3.060 cruzeiros anuais, importância que, ao câmbio atual, não passa de 60 dólares americanos, ou sejam 5 dólares por mês! Nos três anos de duração que já tem o governo de Vargas, todos os produtos indispensáveis à alimentação do povo tiveram seus preços quase triplicados ou pelo menos dobrados: o arroz passou de 7 para 18 cruzeiros o quilo; o feijão, de 6,30 para 9,00; a farinha de mandioca, de 2,50 para 6,50; a batata, de 4,50 para 8,00; o café, de 30 para 66; a carne, de 12 para 25; a manteiga, de 32 para 60; o sabão, de 9 para 18. Apesar dos sucessivos aumentos de salários, conquistados sempre através de lutas importantes dos trabalhadores, o salário real baixa aceleradamente: segundo dados oficiais, sempre inferiores à realidade, enquanto o custo da vida subiu, de 100 em 1946 para 232 em outubro de 1953, os salários para a indústria no Distrito Federal, no mesmo período, subiram apenas de 100 para 185. Isto explica a elevadíssima mortalidade infantil em todo o Brasil, onde a vida média, na Capital do país, mal chega a 42 anos e em cidades como Recife não chega nem mesma a 30 anos.

Para que se possa ter uma idéia da situação verdadeiramente insuportável que atravessam os trabalhadores do Brasil, é necessário assinalar as inúmeras formas de super-exploração de que são vítimas. As condições de trabalho são em geral as mais duras; a lei que estabelece a jornada de 8 horas diárias é sistematicamente violada; contratos de experiência, renovados mensalmente, tiram do emprego o caráter de estabilidade e, consequentemente, perde o trabalhador o direito a férias remuneradas ou a qualquer indenização; a chamada «assiduidade integral» é imposta como condição para o pagamento do repouso semanal e de qualquer aumento de salário, constituindo por vezes desconto de 30 a 40% do salário total, verdadeira punição arbitrária e brutal por um pequeno atraso de minutos à entrada no trabalho. Sempre com o objetivo de aumentar a produtividade do trabalho, outros diferentes tipos de multas, sob os mais diversos pretextos e com as mais variadas formas, são aplica-dos com frequência cada vez maior. A assistência social, que pesa fortemente no salário operário, é cada vez mais precária, sendo que só a dívida do governo e dos patrões aos Institutos de Previdência ultrapassa a soma de 13 bilhões de cruzeiros. Nos últimos tempos, levanta-se como terrível ameaça para os trabalhadores dos principais centros industriais do Brasil, a crescente falta de energia elétrica. As grandes empresas norte-americanas e canadenses, que monopolizam o fornecimento de 90% de toda a energia elétrica produzida no país, com o objetivo de conseguir novas vantagens do governo e interessadas na liquidação da indústria nacional, racionam o fornecimento de energia, obrigam as fábricas a interromperem por horas seguidas a jornada de trabalho e determinam, assim, o desemprêgo crescente e uma exploração ainda maior dos trabalhadores, que ganham por oito horas, mas permanecem à disposição do patrão por 12 e até 16 horas.

Nessas condições, os lucros dos grandes industriais e particularmente dos monopólios norte-americanos chegam a cifras cada vez mais altas. Os lucros da Light and Power continuam crescendo, passando de 635 milhões de cruzeiros em 1950, para 780 milhões, em 1952. Na indústria de borracha, seis fábricas com um cm pitai realizado de 665 milhões de cruzeiros, obtiveram em 1952 mais de 400 milhões de lucro líquido, ou sejam 60% sobre o capital. Bem maiores são os lucros da General Motors, da Ford, da Standard Oil, etc.

A causa fundamental de semelhante situação está na dependência crescente em que o Brasil se encontra em relação aos imperialistas norte-americanos e nos restos feudais que impedem a expansão e o desenvolvimento da economia nacional. Dia a dia, acentua-se o processo de colonização do país pelos Estados Unidos, que ditam ao governo de Vargas a política a realizar em todos os terrenos. Os reflexos da economia de guerra dos Estados Unidos são cada vez mais graves para a economia brasileira e particularmente para o comércio externo brasileiro, que já atravessa uma crise verdadeiramente catastrófica. Ao mesmo tempo que sobem os preços dos produtos importados, a produção nacional acumula-se nos portos e tem um preço de custo superior aos preços médios impostos pelos trustes norte-americanos no mercado mundial capitalista. O déficit.na balança internacional de pagamentos do país aumenta, crescem seus débitos no exterior, a indústria nacional luta com dificuldades cada dia maiores na aquisição de matérias primas indispensáveis.

A classe operária, assim como as grandes massas populares e outras camadas da população, inclusive a burguesia nacional, começa a compreender que a política econômica e financeira de Vargas não é senão uma consequência mais imediata de toda a sua orientação, de sua total subserviência ao odiado opressor norte-americano.

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O governo Vargas não vacila no emprego de todos os recursos da violência para impor à nação sua infame política de traição nacional, de preparação para a guerra e de fome para os trabalhadores e as grandes massas populares. Além de uma nova «Lei de Segurança do Estado», de janeiro de 1953, o governo de Vargas tenta liquidar os direitos dos trabalhadores através de nova legislação reacionária. Sob o pretexto de regulamentar o direito de greve, manda elaborar lei que praticamente transforma qualquer movimento reivindicatório dos trabalhadores em ato ilegal e sujeito a graves penalidades. Encaminha ao Parlamento outro projeto de Lei que visa legalizar a perseguição aos trabalhadores que lutem pela paz, particularmente aos funcionários públicos civis e militares, verdadeira cópia da legislação fascista norte-americana e à qual dá o título de «Lei de Fidelidade à Pátria».

A liberdade sindical é constantemente ameaçada e as intervenções nos Sindicatos e Federações são realizadas pelo Ministério do Trabalho a qualquer pretexto e sempre que convenha aos interesses do governo e dos patrões. As eleições das diretorias sindicais são arbitrariamente anuladas e, frequentemente, diretorias eleitas são impedidas pelo governo, durante meses, de assumir seu posto. As leis em vigor proíbem aos Sindicatos a filiação às organizações internacionais, mas o governo pede ao Congresso lei que faculte a filiação das Federações e Confederações, sem qualquer consulta aos trabalhadores, a organizações tão conhecidamente reacionárias como a ORIT e a CISL, procurando dessa forma afastar os sindicatos brasileiros da CTAL e da FSM. E, diante da crescente influência dos comunistas no movimento sindical, acaba o ministro do Trabalho, com a Portaria 20, de determinar o restabelecimento do odiado atestado de ideologia, que a classe operária já obrigou o governo de Vargas a revogar.

Na esperança de conseguir intimidar a classe operária e as grandes massas trabalhadoras, com o objetivo de criar obstáculos ao desenvolvimento do movimento popular em defesa da paz, das liberdades democráticas, contra a sua política antinacional, de miséria e fome para o povo, o governo de Vargas utiliza todos os recursos da violência policial e busca apoio na legislação mais reacionária e inconstitucional para mandar «legalmente» para os cárceres a milhares de patriotas e democratas. Os movimentos grevistas são sistematicamente reprimidos pela polícia com a maior violência, como aconteceu, por exemplo, em outubro de 1953, com a greve dos marítimos. Em nome da perseguição ao comunismo são presas, espancadas e torturadas, pelos processos mais bárbaros, quaisquer pessoas que, a critério da polícia, sejam consideradas perigosas à ordem pública, porque lutam pela paz, contra o opressor norte-americano ou, mesmo, contra a miséria e a crescente exploração patronal.

Nos três anos de governo de Vargas já foram assassinados pela polícia diversos trabalhadores e já passaram pelos cárceres para mais de dez mil pessoas, desde operários e camponeses, até jornalistas e intelectuais, assim como numerosos oficiais das forças armadas, acusados todos de «atividades comunistas», por lutarem contra a guerra, em defesa das liberdades democráticas e da soberania nacional. Destes, mais de cinco mil estão sujeitos a processos judiciários e ameaçados de condenação e mais de uma centena cumpre sentenças iníquas Os membros do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil continuam sujeitos a um demorado processo judiciário e ameaçados de condenação a longos anos de prisão. Com a publicação do projeto de Programa do Partido, resolveu a polícia instaurar novo processo judiciário, com base na Lei de Segurança, que pune qualquer tentativa de «reorganização» do Partido Comunista do Brasil.

Essa política de crescente repressão, e que tem por objetivo principal intimidar a classe operária e as grandes massas trabalhadoras, choca-se porém com uma resistência cada vez mais organizada, que obriga o governo frequentemente a recuar e que exerce poderosa influência sobre os juízes e tribunais, obrigando-os a tomar em consideração a opinião pública, a reduzir penalidades iníquas e a absolver os réus, apesar das «terríveis» acusações policiais e da letra da lei, capaz de facultar todas as injustiças e iniquidades. Não por acaso, o novo ministro da Guerra do sr. Vargas vem de declarar que a «democracia» americana imposta ao povo brasileiro há de ser defendida com «baionetas e canhões».

O sr. Getúlio Vargas subiu ao poder com a pretensão de conseguir enganar a classe operária e as grandes massas populares, a fim de melhor servir aos amos norte-americanos. Com o emprego simultâneo da violência policial e da mais cínica demagogia social, pretendia realizar a sua proclamada política de «paz social», quer dizer, assegurar aos exploradores estrangeiros e nacionais a possibilidade de uma maior exploração dos trabalhadores e amortecer a vigilância das grandes massas populares até conseguir fazer do povo brasileiro carne de canhão para as aventuras guerreiras dos chacais que constituem os círculos dirigentes dos Estados Unidos. Foram, sem dúvida, as grandes lutas da classe operária que puseram por terra esses planos sinistros e que criaram condições favoráveis para mobilizar contra a política do governo todas as forças democráticas e patrióticas da nação.

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As grandes greves de São Paulo, em março e abril de 1953, constituíram a maior manifestação de força, até agora já realizada, do proletariado brasileiro. Tecelões, metalúrgicos, marceneiros, gráficos e vidreiros, não só na capital do Estado como também em mais de seis cidades do interior, totalizando trezentos mil trabalhadores, levantaram-se contra os salários de fome, contra as duras condições de trabalho, contra a carestia da vida, e uniram suas forças, obrigando os patrões e o governo a atenderem à maior parte de suas reivindicações. Com as greves de São Paulo, a classe operária deu um grande passo para a frente no sentido da unidade e abriu uma nova etapa na luta do povo brasileiro contra a política de traição nacional e de preparação para a guerra do governo de Vargas. Os grevistas se manifestaram contra o «Acordo Militar» entre o Brasil e os Estados Unidos, contra o envio de tropas para a Coréia, contra a projetada «Lei de Defesa do Estado» e a favor da paz no mundo inteiro. Os sindicatos foram consideravelmente reforçados com a entrada de novos associados e numerosas comissões de empresa foram organizadas.

A repercussão das grandes greves de S. Paulo já é evidente no país inteiro. Elas marcaram um passo considerável no sentido do desmascaramento da demagogia social de Vargas, fizeram em pedaços a sua política de «paz social», levaram o pânico à minoria reacionária que governa o país e mostraram aos trabalhadores da cidade e do campo qual a maneira de impor sua vontade aos patrões e ao governo. Já no próprio período da luta de S. Paulo, quando o governo e os patrões tudo faziam no sentido de impedir a extensão do movimento a outras regiões do país, foram rapidamente atendidas as reivindicações de diversas corporações operárias, inclusive de outros Estados, com o simples aceno de ameaça de greve.

Às grandes greves de S. Paulo, seguiu-se a greve nacional dos marítimos, movimento de grande envergadura que durante dez dias abalou o país inteiro, obrigando o governo e os patrões a satisfazerem sem maiores delongas as reivindicações dos grevistas. Os cem mil marítimos, vencendo as dificuldades de uma organização sindical dividida em 13 sindicatos nacionais e 30 sindicatos regionais, conseguiram unificar nacionalmente suas forças, realizaram a unidade de ação em torno de um programa reivindicatório que incluía os interesses de todos os setores de trabalho e venceram, assim, os esforços divisionistas do Ministério do Trabalho e de seus agentes nas direções sindicais e particularmente na Federação dos Marítimos. Vitorioso o movimento, a direção da greve permaneceu em atividade e vigilância, a fim de exigir o cumprimento dos compromissos firmados pelo governo e pelos patrões, continuou determinando a paralisação do trabalho num ou noutro setor sempre que julgou necessário e quando, passados quatro meses, deixou o governo de cumprir seus compromissos, nova greve foi desencadeada.

As ações da classe operária estendem-se, assim, ao país inteiro e ganham, pouco a pouco, um vulto e importância cada dia maiores. A resistência patronal e as brutalidades da polícia só conseguem aguçar ainda mais a luta de classes e dar duração ainda maior às paralisações do trabalho. O número de grevistas cresce no país de ano para ano, passando de 264 mil em 1951, para 411 mil em 1952 e a cerca de um milhão em 1953. Segundo dados fornecidos pela Confederação dos Trabalhadores do Brasil, filiada à CTAL e à FSM, o número de horas-homem de greve subiu de 23 milhões para cerca de 100 milhões, de 1952 para 1953. Só na Capital do país, mais de 200 mil operários exigem aumento de salários e aguardam, neste momento, a decisão da Justiça do Trabalho antes de dar forma mais elevada à luta pelas suas reivindicações.

Teve importância decisiva nesse crescente desenvolvimento das ações operárias a justa orientação adotada pelo Partido Comunista no sentido da unidade de ação. Desde que, em junho de 1952, o Comitê Central do Partido chamou a atenção dos comunistas para os erros sectários de sua orientação no trabalho entre as massas operárias e indicou o justo caminho da luta pela unidade do movimento sindical, da participação ativa dos comunistas nos sindicatos dirigidos pelo Ministério do Trabalho, da unidade de ação em torno das reivindicações imediatas das massas, as ações operárias ganharam novo impulso e o grande desejo de unidade existente entre as massas da classe operária vai tomando formas práticas e permitindo aos trabalhadores lutar com maior sucesso pelas suas reivindicações econômicas, assim como manifestar com maior vigor seu desejo de paz, lutar contra a política de guerra do governo de Vargas, em defesa das liberdades e da independência nacional.

Com a bandeira da unidade de ação, a CTB, apesar de perseguida pelo governo e proibida por lei de funcionar, participa de todas as ações operárias, organiza a solidariedade aos trabalhadores em greve, é ouvida e acatada pelos trabalhadores, orienta e dirige praticamente as mais importantes ações do proletariado. A campanha contra a chamada «assiduidade integral» penetrou nas empresas, ganhou as assembléias sindicais onde foram eleitos delegados à Conferência Nacional, de que participaram uma centena de sindicatos e da qual surgiu a «Comissão Inter-Sindical Contra a Assiduidade Integral». Graças ainda aos esforços unitários da CTB foi realizado com sucesso o Primeiro Congresso Brasileiro de Seguro e Previdência Social, com a participação de mais de mil delegados; foi organizado e realizado com igual sucesso o Congresso Nacional de Funcionários Públicos, de que participaram 750 delegados e no qual foi fundada a União Nacional dos Servidores Públicos; foi ainda realizada a Conferência Nacional dos Trabalhadores Agrícolas, de grande repercussão no país inteiro, mas especialmente no Estado de S. Paulo, onde com o apoio direto dos operários industriais e de seus sindicatos ganhou um novo impulso a sindicalização dos assalariados agrícolas.

As ações operárias revelam nitidamente a vontade de unidade que anima a um número cada vez maior de operários. Elevam-se também a compreensão e a consciência dos trabalhadores que, em escala agora crescente, procuram os sindicatos e dão nova vida às suas assembléias. Após as greves de S. Paulo, sindicatos como o dos tecelões e o dos metalúrgicos, a que estavam filiados apenas uns 4 mil operários, passaram em poucos meses a ter cerca de 40 mil associados cada um. Tanto a preparação do Congresso da CTAL, como do III Congresso Sindical Mundial, contou com a participação ativa e entusiástica de grandes efetivos operários, sendo designados pelas grandes empresas e pelas assembléias sindicais delegados efetivamente representativos, que constituíram numerosa delegação, de importância e proporções como jamais havia acontecido no pais.

O exemplo mais recente da corrente de unidade que se desenvolve nas fileiras da classe operária está nas proporções que vai assumindo a luta pela elevação em cem por cento do salário mínimo legal. Em torno dessa reivindicação, unem-se em cada cidade e região do país numerosos sindicatos que, por meio de seus delegados, elegem comissões centrais que orientam e dirigem a luta com o apoio de grandes massas. A luta pelo novo salário mínimo, que já se liga à luta pela elevação de 50% nos salários superiores ao mínimo, eleva assim, a um novo nível a unidade de ação da classe operária e constitui, na verdade, uma importante etapa no sentido da unidade orgânica de todo o proletariado. Como os operários lutam simultaneamente pelo imediato congelamento dos preços doa gêneros de primeira necessidade, torna-se possível a unidade em torno da classe operária das mais amplas massas da população do país. A classe operária participa ativamente na luta pela independência nacional. Foi decisiva a atuação dos trabalhadores, através de delegados dos sindicatos e das empresas, na Convenção da Emancipação Nacional, assembléia convocada e realizada pelos combatentes anti-imperialistas, que tomou importantes resoluções sobre a luta em defesa da soberania nacional.

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A situação da Classe Operária permite prever o desenvolvimento de poderosas ações em defesa de suas reivindicações econômicas e políticas. Os trabalhadores podem e devem alcançar grandes vitórias. E, efetivamente, as alcançarão, se não perderem de vista que a arma fundamental em seu combate ulterior é também a unidade, unidade para a ação e que não pode ser conseguida senão mediante uma denúncia implacável dos inimigos da unidade, de todos os divisionistas, assim como da organização cada vez mais vigorosa dos trabalhadores nos locais de trabalho.

É esta justamente a política dos comunistas, que são os mais ativos lutadores pelos interesses da classe operária e que não poupam esforços no sentido de unir efetivamente a todos os trabalhadores acima de partidos políticos, de crenças religiosas e posições ideológicas e que por isso gozam de crescente prestígio entre as grandes massas operárias e populares e exercem influência política crescente entre as grandes forças patrióticas e democráticas do povo brasileiro.
A corrente de unidade que agora se desenvolve nas fileiras da classe operária constitui fator básico e de importância excepcional para que se possa avançar mais rapidamente no sentido de agrupar em torno da classe operária, aos camponeses, aos intelectuais progressistas, aos demais elementos das camadas médias e à burguesia nacional.

Fator político de importância e que muito poderá concorrer para acelerar o processo de unificação das amplas forças patrióticas e democráticas em torno da classe operária são as próximas eleições de 3 de outubro. Se bem que o Partido Comunista do Brasil ainda esteja privado de registro eleitoral e, portanto, do direito departicipação direta no pleito, já anunciou que participará ativamente na campanha eleitoral e que tudo fará para unir brasileiros de todas as classes e camadas sociais, independentemente de crenças e opiniões políticas e sejam quais forem os partidos a que pertençam, visando defender a paz e a democracia e lutar pela emancipação nacional e contra a miséria e a fome que atormentam o povo.

Em face das próximas eleições, a classe operária, mais profundamente ainda do que na luta de cada dia por suas reivindicações, compreende a necessidade de unir suas forças. A isto só se opõem os que, no seio da classe operário, fazem o jogo da reação. Por sua vez, todos os reacionários e demagogos a serviço dos imperialistas norte-americanos sentem que sérias modificações se processam no estado de espírito das massas trabalhadoras e mostram-se por isso inquietos e cada vez mais receosos dos possíveis resultados das eleições de 3 de outubro próximo. A própria campanha eleitoral já os alarma, porque temem com razão que os comunistas a utilizem para realizar o esclarecimento das massas e conseguir entre os operários um novo progresso da idéia da unidade de ação.

Daí, a crescente ameaça de golpes de Estado e de golpes militares. A minoria reacionária que domina o país não vê, evidentemente, outra saída para as dificuldades que enfrenta. Com Vargas, sem Vargas ou contra Vargas, os generais e políticos da reação, asquerosos serviçais todos dos monopólios norte-americanos, querem a implantação do terror policial e um regime fascista, na esperança de poderem assim mais facilmente impor ao país a política de traição nacional, de preparação para a guerra e de crescente esfomeamento das grandes massas populares. Enquanto o próprio Vargas tenta defender sua «democracia» com as baionetas e canhões do general Zenobio, outro bando da reação, que se diz contra Vargas mas apóia de fato sua política de total submissão do Brasil ao governo de Washington e aos monopólios norte-americanos, utiliza todos os recursos e não vacila nem mesmo no crime de tentar jogar brasileiros contra argentinos, na esperança de tomar o poder e implantar a ditadura que reclamam seus amos norte-americanos.

Diante de tão graves ameaças à vida, às liberdades e à segurança da maioria esmagadora da nação, ganha enorme significação e importância cada dia maior a saída que apresenta o Partido Comunista, que com seu Programa dirige-se às mais amplas camadas de toda a população e a todos indica o caminho da salvação nacional. O povo brasileiro pode impedir a transformação do Brasil em colônia dos Estados Unidos, tem forças suficientes para pôr abaixo o regime dos latifundiários e grandes capitalistas ligados ao imperialismo americano, o governo de Vargas, governo de traição nacional, de preparação para a guerra, de fome e reação para os trabalhadores e substituí-lo por um verdadeiro governo do povo, um governo democrático de libertação nacional. É para avançar por esse caminho que o Partido Comunista propõe a formação de uma vasta frente democrática de libertação nacional, capaz de incluir desde operários e camponeses até a burguesia nacional, todos enfim que compreendam a necessidade de libertar o Brasil do jugo dos imperialistas norte-americanos, de liquidar o latifúndio e os restos feudais, de melhorar radicalmente as condições de vida da classe operária, de garantir o desenvolvimento independente da economia nacional e que queiram lutar por esses objetivos.

Tudo indica que o movimento operário brasileiro fará do 1º de maio de 1954 um novo marco em sua marcha para a frente no sentido da emancipação nacional e social do povo brasileiro. Consciente de seu poderio, o proletariado brasileiro passara em revista suas forças animado de profundo sentimento de solidariedade internacional. Junto com todos os patriotas e democratas, os trabalhadores brasileiros saúdam neste 1º de Maio as grandes vitórias alcançadas pelos povos soviéticos no sentido de salvaguardar a paz no mundo inteiro e de fazer triunfar a política que assegura a coexistência pacífica dos sistemas socialista e capitalista. Saúdam o glorioso povo coreano, a grande China Popular e os povos europeus que marcham pelo caminho da construção do socialismo. Saúdam ainda o bravo povo vietnamita e os demais povos que lutam contra a opressão imperialista.

Os trabalhadores brasileiros compreendem cada dia melhoria importância da luta que sustentam contra a política de preparação para a guerra dos imperialistas norte-americanos e de seus agentes no Brasil. Dirigidos pelos comunistas, estão cada dia mais conscientes da importância de seu setor na grande batalha dos povos contra a guerra e farão do 1º de Maio uma jornada de afirmação de sua inquebrantável vontade de paz. O 1º de Maio de 1954 será para o proletariado brasileiro um dia de luta, em que manifestará com novo vigor sua vontade de prosseguir com decisão pelo caminho da unificação de suas forças, na luta e para a luta, em prol de suas reivindicações imediatas, das liberdades democráticas, da independência nacional e pela salvaguarda da paz no mundo inteiro.


«Precisamente porque não é um dogma morto, não é uma doutrina acabada, preparada, imutável, mas um guia vivo para a ação, o marxismo tem que necessariamente refletir em si a mudança assombrosamente brusca das condições da vida social.»
V. I. Lênin

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Inclusão 14/08/2011