O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a  Repressom

Victor Serge

Introduçom


A vitória da revoluçom na Rússia pujo em maos dos revolucionários todo o mecanismo da polícia política mais moderna, mais poderosa e experimentada, forjada em mais de cinqüenta anos de luita contra as elites de um grande povo.

Conhecer os métodos e os procedimentos desta polícia interessa para já a todo militante: a defesa capitalista emprega em toda a parte os mesmos meios; todas as polícias, de resto solidárias, se assemelham.

Essa ciência da luita revolucionária, que os russos adquirírom em mais de meio século de esforços e sacrifícios imensos, os militantes dos países onde actualmente se desenvolve a acçom deverám assimilá-la um lapso muito mais curto, dadas as circunstáncias criadas pola guerra, polas vitóricas do proletariado russo e polas derrotas do proletariado internacional: crises do capitalismo mundial, nascimento da Internacional Comunista, desenvolvimento repentino da consciência de classe na burguesia; fascismo, ditaduras militares, terror branco, leis iníquas. Isto cumpre desde já. Se se tiver um bom conhecimento dos meios de que dispom o inimigo, as perdas poderám ser menores. Resulta portanto preciso, para um fim prático, estudar bem o instrumento principal de toda reacçom e de toda repressom: essa máquina de afogar revoltas chamada polícia. Nós atingimo-lo, porque a arma aperfeiçoada que forjou a autocracia para defender a sua existência - a Okhrana (a Defensiva), ou Segurança Geral do Império Russo -, caiu nas nossas maos.

Este estudo, para ser realizado a fundo, o qual seria muito útil, exigiria um tempo de que o autor nom dispom. As páginas que se seguem nom pretendem supri-lo. Bastarám, espero, para pôr sobre aviso os camaradas e para fazer-lhes evidente umha importante verdade que me comoveu desde a primeira visita aos arquivos da polícia russa: a de que nom há força no mundo capaz de conter a maré revolucionária quando esta ascende, e que todas as polícias, nom importa o seu maquiavelismo, a sua ciência e os seus crimes, som quase totalmente impotentes.

O presente trabalho, publicado pola primeira vez no Boletim comunista de Novembro de 1921, foi completado cuidadosamente. Os problemas teóricos e práticos que o estudo do mecanismo de um polícia nom deixam de suscitar na mente do leitor operário, qualquer que for a sua formaçom política, som examinados em dous novos ensaios: Os conselhos ao militante, de cuja utilidade, nom obstante o seu evidente simplismo, a experiência nom permite duvidar, gizam as regras primordiais da defesa operária contra a vigiláncia, a delaçom e a provocaçom.

Desde a guerra e a Revoluçom de Outubro, a classe operária nom pode conformar-se com realizar umha tarefa apenas negativa, destrutora. Abriu-se a era das guerras civis. Seja a sua actualidade algo quotidiano, ou esteja adiada "por anos", nom é menos certo que na maioria dos partidos comunistas se apresentam desde agora as múltiplas questons da tomada do poder. A princípios de 1923, a ordem capitalista da Europa semelhava gozar de umha estabilidade capaz de descoroçoar os impacientes. No entanto, a ocupaçom "pacifista" do Ruhr, a fins de ano, fazia pairar sobre a Alemanha, tremendamente real, o espectro da revoluçom.

De outra parte, toda a acçom tendente para a destruiçom das instituiçons capitalista necessita ser complementada com umha preparaçom, embora seja teórica, da obra criadora do amanhá. "O espírito destrutor - dizia Bakunine - é ao mesmo tempo espírito criador". Este grande pensamento, cuja interpretaçom literal, infelizmente, alucionou alguns revoltosos, acaba de se converter numha verdade prática. O mesmo espírito da luita classista leva hoje os comunistas a destruírem e a criarem simultaneamente. De igual jeito que o antimilitarismo actual precisa de ser complementado pola preparaçom do Exército Vermelho, o problema da repressom colocado pola polícia e a justiça burguesas tem um aspecto positivo de grande importáncia. Julguei conveniente defini-lo em traços grossos. Devemos conhecer os meios do inimigo; devemos conhecer também a nossa tarefa em toda a sua extensom.

Victor Serge, Março de 1925


Inclusão 24/12/2005