Carta ao Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética

Comitê Central do Partido Comunista da China

9 de Março de 1963


Fonte: As Divergências no Movimento Comunista Mundial, Editorial Vitória, 1963.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Queridos camaradas:

O Comitê Central do Partido Comunista da China recebeu a carta do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética datada de 21 de fevereiro de 1963.

Quando o camarada Mao Tsé-tung recebeu, em 23 de fevereiro, o camarada S. V. Chervonenko, embaixador da União Soviética na China, expôs-lhe, nessa ocasião, nossa opinião sobre essa carta. Damos as boas-vindas a essa carta. Saudamos os votos de unidade nela expressados; saudamos a correta atitude de igualdade em relação aos partidos irmãos nela demonstrada; saudamos a aprovação favorável relativa à proposta de convocar-se uma conferência de representantes de todos os partidos comunistas e operários. A posição invariável do Partido Comunista da China tem sido a de defender a unidade do campo socialista, defender a unidade do movimento comunista internacional e defender a unidade entre os nossos dois partidos e os nossos dois países. Nunca poupamos esforços no interesse da unidade. Sempre nos entristece e sempre nos opomos a tudo quanto seja desfavorável à unidade. Sempre nos alegra e sempre apoiamos tudo quanto seja favorável à unidade. Devemos encarar o fato de que são graves as divergências sobre uma série de questões de princípio existente, atualmente, no movimento comunista internacional. A respeito das causas dessas divergências, além do que foi assinalado na carta dos camaradas de que "podem explicar-se pelas diferentes condições em que atua este ou aquele destacamento do movimento comunista internacional", um fator mais importante, a nosso ver, é como se compreende o marxismo-leninismo e as duas declarações de Moscou, e que atitude se adota diante deles.

O Partido Comunista da China é sempre de opinião que, quando surjam divergências sobre questões de princípio entre os partidos irmãos, eles devem partir do desejo de unidade, realizar discussões críticas mútuas como camaradas, distinguir o justo do errôneo e, à base do marxismo-leninismo, alcançar o objetivo da unidade. Isto significa que as divergências entre os partidos irmãos devem ser resolvidas no seio do movimento comunista internacional, de acordo com os princípios e métodos estabelecidos nas duas declarações de Moscou, e por meio de consultas em pé de igualdade, em reuniões bilaterais ou multilaterais ou numa conferência dos partidos irmãos. O Partido Comunista da China sempre se opôs a revelar ante o inimigo as divergências existentes entre partidos irmãos. Mais ainda, opomo-nos ao procedimento de inflamar a discussão e de complicar as coisas convocando-se congressos de partido, publicando-se resoluções ou declarações de comitês centrais de partidos, ou artigos e discursos de dirigentes de partido e de Estado. Compreendemos muito bem e mais de uma vez o dissemos que semelhante prática somente alegraria aos nossos inimigos e criaria dificuldades para nossas próprias fileiras, particularmente para os partidos irmãos nos países capitalistas. O desenrolar dos acontecimentos demonstrou que nossas preocupações não foram inúteis. Atualmente, um número crescente de partidos irmãos expressou sua esperança de que cessasse a polêmica pública. Esse é um fenômeno positivo. Desejamos, ardentemente, que, no mais curto prazo possível, cesse a polêmica pública entre os partidos irmãos.

O movimento comunista internacional se encontra, efetivamente, num momento crucial. As divergências entre os partidos irmãos atingiram, realmente, um ponto em que devem ser resolvidas. Encontramo-nos diante de uma excelente situação internacional, muito favorável à revolução no mundo. Não existem razões para não se aplainarem as divergências e se fortalecer a unidade. Na correlação de forças no mundo, a superioridade está do lado do socialismo e dos povos revolucionários, e não do lado do imperialismo e seus lacaios.

As duas grandes correntes históricas de nosso tempo, ou seja, as forças do socialismo e as da revolução democrática nacional na Ásia, na África e na América Latina, estão arremetendo contra o dique da dominação reacionária do imperialismo encabeçado pelos EUA.

Aprofundam-se e tornam-se cada vez mais agudas as contradições entre os imperialistas, especialmente entre os imperialistas norte-americanos e os demais imperialistas; novos conflitos estão-se desenvolvendo entre eles.

Nesta situação, têm para toda a causa internacional do proletariado um significado decisivo a luta contra o imperialismo encabeçado pelos EUA e o apoio à luta revolucionária das nações e povos oprimidos da Ásia, África e América Latina.

Nesta situação, o contínuo crescimento da força dos países socialistas, do movimento de libertação nacional, da luta revolucionária dos povos oprimidos e do movimento em defesa da paz mundial e, ao mesmo tempo, a plena utilização das contradições no seio do campo imperialista, oferecem possibilidades ainda maiores de impedir uma nova guerra mundial e de defender a paz mundial.

Nesta situação, é necessário, antes de tudo, reforçar a unidade do campo socialista, reforçar a unidade do movimento comunista internacional. A garantia do triunfo de nossa causa comum reside em fortalecer, com a unidade dos marxistas-leninistas como núcleo, a unidade do proletariado mundial, a unidade deste com todas as nações e povos oprimidos do mundo e a grande unidade de todos os povos que são favoráveis à luta contra o imperialismo.

As duas Declarações de Moscou traçaram a linha, a orientação e a política comuns a nossa luta comum. Nesses dois documentos encontram-se conclusões formuladas com toda a clareza sobre o caráter de nossa época, sobre o campo socialista, sobre as leis comuns da revolução socialista e da construção socialista, sobre a luta contra o imperialismo, sobre a guerra e a paz, sobre a coexistência pacífica entre países de regime social diferente, sobre o movimento de libertação nacional, sobre as tarefas e a tática do movimento operário dos países capitalistas, sobre a luta contra o revisionismo como o principal perigo, na atualidade, e a luta contra o dogmatismo, sobre o prosseguimento da luta contra os revisionistas iugoslavos traidores do marxismo-leninismo, sobre as normas que regem as relações entre os partidos irmãos, isto é, independência, igualdade e a conquista da unanimidade por meio de consultas, etc. Em nossos pronunciamentos e atuação, os comunistas chineses aplicamos e defendemos, persistente e invariavelmente, esta linha, esta orientação e esta política acertadas. Agrada-nos que os camaradas soviéticos, em sua carta, expressem sua fidelidade a esses dois documentos programáticos.

Aplainar as divergências e reforçar a unidade, à base do marxismo-leninismo e das Declarações de Moscou, corresponde aos interesses dos povos do mundo inteiro, aos interesses dos comunistas de todos os países, aos interesses dos povos do campo socialista e aos interesses dos povos da China e da União Soviética. Contrariamente, se se continua agravando as divergências e minando a unidade, não nos perdoarão, não só as futuras gerações mas, também, as massas populares de nosso tempo.

Com o propósito de aplainar as divergências e fortalecer a unidade, o Comitê Central do Partido Comunista da China escreveu uma carta ao Comitê Central do PCUS, em 7 de abril de 1962. Nela o CC do PCC expressou seu apoio às proposições sobre a convocação de uma conferência dos partidos irmãos apresentadas pelo Partido Comunista da Indonésia, pelo Partido dos Trabalhadores do Vietnã, pelo Partido Comunista da Suécia, pelo Partido Comunista da Grã-Bretanha e pelo Partido Comunista da Nova Zelândia, e formulou, com toda a clareza, seu propósito de convocar uma conferência dos representantes dos partidos comunistas e operários de todos os países, para discutir os problemas de interesse comum. Vemos com grande satisfação que o CC do PCUS, em sua última carta, também está a favor da convocação de uma conferência dos representantes dos partidos comunistas e operários.

Em nossa carta datada de 7 de abril de 1962, advertíamos que a realização da conferência dos partidos irmãos e os êxitos da mesma dependeriam da prévia superação de toda uma série de obstáculos, e da realização de grandes trabalhos preparatórios. Naquela oportunidade, formulamos os seguintes pontos:

Primeiro, os partidos irmãos e países irmãos, entre os quais existem controvérsias, deveriam dar passos, por insignificantes que fossem, que contribuíssem para o alívio da tensão nas relações e para o restabelecimento da unidade, a fim de melhorar o ambiente e preparar as condições para a convocação da conferência dos partidos irmãos e para lograr êxitos.

Segundo, apoiamos a proposta formulada pelo Partido dos Trabalhadores do Vietnã, no sentido de cessarem os ataques públicos.

Terceiro, que certos partidos irmãos, de acordo com as necessidades, deveriam efetuar conversações bilaterais ou multilaterais entre si para a troca de opiniões.

Quarto, esperamos, sinceramente, que, tanto os camaradas soviéticos quanto os camaradas albaneses, adotassem medidas positivas para aplainar as divergências e restaurar as relações normais entre ambos os partidos e países. Nesse sentido, afigura-se-nos necessário que os camaradas soviéticos tomem a iniciativa.

Quinto, conforme a resolução adotada na conferência de 1957 dos partidos irmãos, o PCUS é responsável pela convocação da conferência dos representantes dos partidos comunistas e operários, após consulta aos partidos irmãos.

Atualmente, ainda sustentamos o ponto de vista de que as proposições acima mencionadas têm uma grande importância para o êxito da conferência dos partidos irmãos.

Estamos muito contentes com o fato de que, em sua última carta, o Comitê Central do PCUS tenha feito valiosas propostas relacionadas com a realização proveitosa da conferência dos partidos irmãos.

Estamos de acordo com a opinião dos camaradas no sentido de que

"é especialmente importante tomar, com urgência, medidas concretas e práticas destinadas a assegurar nossa unidade e a melhorar a atmosfera nas relações recíprocas entre todos os partidos irmãos".

A fim de criar um clima favorável à convocação da conferência dos partidos irmãos, decidimos que, salvo os artigos que publicamos como respostas, de agora em diante, suspendemos, temporariamente, a réplica pública na imprensa, aos ataques abertos contra o Partido Comunista, da China por parte de camaradas do PCUS e de outros partidos irmãos. Resta dizer que, segundo o princípio de igualdade e reciprocidade entre os partidos irmãos, reservamo-nos o direito de responder, abertamente, a todas as manifestações de qualquer partido atacando abertamente o Partido Comunista da China. Quanto à suspensão da polêmica pública, é necessário que nossos dois Partidos e os partidos irmãos interessados realizem discussões, a fim de se chegar a um acordo justo, aceitável para todos.

Damos as boas-vindas à proposição contida na carta dos camaradas sobre a realização de uma reunião entre os Partidos chinês e soviético. Consideramos que tal reunião constitui uma das medidas preparatórias necessárias à convocação da conferência de representantes dos partidos comunistas e operários de todos os países. Em sua entrevista com o camarada S. V. Chervonenko, o camarada Mao Tsé-tung manifestou a esperança de que o camarada Kruschiov, em sua viagem ao Camboja, pudesse passar por Pequim para entabular conversações entre nossos dois Partidos e trocar opiniões. Caso isto seja inconveniente para os camaradas, o CC do PCUS poderia enviar a Pequim uma delegação presidida por outro camarada responsável, ou poderíamos nós enviar uma delegação a Moscou.

Concordamos com os camaradas em que

"nas conversações podem ser discutidos, ponto por ponto, todos os problemas mais importantes que interessem a ambos os Partidos, sobretudo os problemas concernentes às tarefas comuns de nossa luta".

Sustentamos que os problemas que devem ser discutidos entre os Partidos chinês e soviético são os mesmos que devem ser discutidos na conferência de representantes dos partidos comunistas e operários de todos os países, entre os quais estão, principalmente, os problemas da estratégia e da tática da revolução no mundo contemporâneo, da luta contra o imperialismo e em defesa da paz mundial, da luta das nações e povos oprimidos por sua libertação, do fortalecimento da força e da unidade do campo socialista, do fortalecimento da unidade do movimento comunista internacional e outros problemas de interesse comum. Todos estes problemas devem ser discutidos, ponto por ponto, de modo suficientemente detalhado, e com espírito fraternal, e as consultas não devem ser mera formalidade, mas sim conduzidas em pé de verdadeira igualdade, à base das teses fundamentais do marxismo-leninismo e dos princípios revolucionários das duas Declarações de Moscou. Nas conversações poderiam ser resolvidos todos os problemas, a respeito dos quais ambas as partes têm a mesma opinião, e chegar a um acordo; quanto aos problemas sobre os quais existam divergências e que não possam ser resolvidos, poderiam ficar de lado no momento, à espera de uma solução futura. Propomos que, se não pudermos terminar nossas discussões numa só sessão, se realizem, então, várias sessões ou que nossos Partidos realizem ainda mais conversações bilaterais.

O fortalecimento da unidade do movimento comunista internacional, da unidade do campo socialista, particularmente da unidade de nossos dois Partidos e de nossos dois países, é a aspiração comum dos povos chinês e soviético, de todos os povos do campo socialista, dos comunistas de todos os países e dos povos e nações oprimidos do mundo inteiro. Compreendemos a responsabilidade que recai sobre nossos dois Partidos e não devemos frustrar sua esperança. Unamo-nos à base do marxismo-leninismo, do internacionalismo proletário e das duas Declarações de Moscou.

Recebam as saudações comunistas do
Comitê Central do Partido Comunista da China


capa
Inclusão 11/04/2012