O Primeiro Tomo das Obras de J. V. Stálin

Maio de 1948


Primeira Edição: Publicado no "Bolchevique" de maio de 1948 após a publicação da primeira edição russa do tomo I das Obras de J. V. Stálin.
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 40 - Mai-Jun de 1952.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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desenho Stalin

Por decisão do Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, publicou-se a primeira edição das obras de J. V. Stálin.

A publicação dessas obras é um grande acontecimento na vida ideológica de nosso Partido.

Nas obras do camarada Stálin generaliza-se uma enorme experiência histórica da luta do Partido Bolchevique pela vitória da revolução socialista e pela construção da sociedade socialista em nosso país, pela criação e fortalecimento do Estado Soviético. Nos trabalhos do camarada Stálin é desenvolvida e enriquecida a nova experiência da teoria marxista-leninista. As obras do camarada Stálin significam uma grande ajuda aos quadros do Partido e da intelectualidade no estudo da história e da teoria do Partido Bolchevique, no domínio da ciência marxista-leninista das leis do desenvolvimento da vida social e do caminho da construção da sociedade comunista.

O primeiro tomo das Obras de Stálin que ora se publica, contém os trabalhos escritos no período de 1901 até abril de 1907. A maior parte dos trabalhos que compõem o primeiro tomo foram publicados na imprensa legal ou ilegal revolucionária georgiana. Agora aparecem pela primeira vez no idioma russo.

O primeiro tomo da presente edição não esgota plenamente todas as obras de J. V. Stálin, escritas nos anos de 1901 a abril de 1907. Como é indicado no prefácio ao primeiro volume,

"até hoje não puderam ser encontrados: o arquivo do Comitê da União Caucásica do P.O.S.D.R. e as diversas publicações das organizações bolcheviques da Transcaucásia, nas quais haviam sido publicados artigos de Stálin. Em particular, não foram encontrados, até o momento os trabalhos: Programa das atividades dos círculos operários marxistas (1898) e O Credo (1904)."

Alguns dos trabalhos publicados no primeiro tomo das Obras do camarada Stálin são conhecidos dos leitores, em parte, já que foram incluídos no livro de L. P. Béria, intitulado "Questões da história das organizações bolcheviques do Cáucaso", e outros, em geral, são desconhecidos. Agora nossos quadros obtiveram a possibilidade de relacionar-se diretamente com esses trabalhos do camarada Stálin, dominar sua riqueza em conteúdo ideológico, ampliar seus conhecimentos da teoria e da história de nosso Partido.

No prefácio ao primeiro volume, escrito pelo camarada Stálin em janeiro de 1946, se oferece uma caracterização do período com o qual se relacionam os trabalhos que entram neste tomo, ilumina-se a significação da teoria leninista da revolução socialista.

O camarada Stálin assinala no prefácio que a tese que estipula ser uma das condições principais para a vitória da revolução a transformação do proletariado na maioria da população, foi geralmente aceita em seu tempo pelos marxistas russos, e entre eles, pelos bolcheviques, do mesmo modo que pelos partidos social-democratas de outros países.

"Mas o ulterior desenvolvimento do capitalismo na Europa e na América, a passagem do capitalismo pré-imperialista ao capitalismo imperialista, em suma, a lei, descoberta por Lênin, da desigualdade do desenvolvimento econômico e político dos diversos países, demonstraram que essa tese já não corresponde às novas condições de desenvolvimento, que a vitória do socialismo é plenamente possível em cada país onde o capitalismo ainda não atingiu o ponto culminante de seu desenvolvimento e onde o proletariado não constitui a maioria da população, mas onde a frente do capitalismo é assaz débil para ser derrubada pelo proletariado. Assim nasceu a teoria leninista da revolução socialista nos anos de 1915 e 1916. Como é sabido, a teoria leninista da revolução socialista parte da premissa de que a revolução socialista vencerá não necessariamente nos países onde o capitalismo é mais desenvolvido, mas sim nos países onde, antes de mais nada, a frente do capitalismo é débil, onde o proletariado consegue mais facilmente romper essa frente e onde existe um nível, embora médio, de desenvolvimento do capitalismo".

Os trabalhos que entram no primeiro tomo das Obras do camarada Stálin iluminam claramente aquele período histórico no qual, sob a direção de Lênin, se lançaram os fundamentos do partido marxista-leninista, do Partido Bolchevique, nos proporcionam uma profunda compreensão da unidade da prática e da teoria revolucionária como uma das condições essenciais de nosso Partido e de suas grandes vitórias.

As obras do camarada Stálin dão-nos um exemplo vivo da relação entre a teoria e a prática, na qual a teoria se coloca a serviço da prática, é chamada a resolver as tarefas vitais apresentadas pelo movimento prático. Cada um dos trabalhos de Stálin foi produzido em relação com tal ou qual questão da prática revolucionária e deu resposta às referidas questões. As obras do camarada Stálin são um exemplo de como o pensamento criidor revolucionário está em constante ebulição, escuta atentamente o movimento prático lançando um raio de luz a cada um de seus passos, introduzindo nesse movimento a força da concepção cientifica, teórica.

Desde que surgiu o marxismo, o qual foi a expressão teórica do movimento operário, apresentou-se a tarefa da união do movimento operário com a teoria revolucionária do marxismo, com o socialismo científico.

O marxismo desenvolveu-se como a continuação do mais progressista e valioso daquilo que foi criado pelo desenvolvimento procedente do pensamento humano. Marx e Engels, com senso critico reelaboraram e impeliram para a frente as melhores conquistas da cultura, dirigindo seus esforços no sentido do conhecimento profundo da história da sociedade e particularmente do regime capitalista e do movimento operário pelo mesmo engendrado, fizeram uma série de descobertas geniais. Essas descobertas mostraram a missão histórica do proletariado, demonstraram que a marcha objetiva do processo histórico conduz à transformação revolucionária do regime capitalista num regime socialista e que o proletariado está destinado a ser o impulsionador moral e intelectual, o executor físico dessa transformação. Desse modo, encarnada no marxismo, a ciência marchou ao encontro do movimento operário, descobrindo seu sentido historio, suas perspectivas e diretrizes. Criou-se a possibilidade da união da prática do movimento operário com a teoria científica revolucionária. Tal união foi indispensável, uma vez que ela abriu à classe operária as amplas perspectivas de sua libertação pelo caminho menos doloroso e no prazo mais curto possível.

Marx e Engels trabalharam não só na criação da teoria revolucionária do proletariado, como também na união do movimento operário com a teoria revolucionária, na criação do partido marxista do proletariado.

Depois de uma luta prolongada que travaram Marx e Engels em defesa do socialismo científico criado por eles, sua doutrina triunfou e expandiu-se rapidamente. Mas, como Lênin assinala, a vitória teórica do marxismo incitou seus inimigos a disfarçarem-se de marxistas.

O oportunismo internacional constituiu um instrumento nas mãos da burguesia, com auxílio do qual tratou de impedir a união do movimento operário com a teoria e a tática revolucionárias, com o socialismo científico.

Lênin e Stálin, os continuadores das doutrinas de Marx e Engels, tiveram que colocar sobre seus ombros a responsabilidade de conduzir a luta contra o oportunismo internacional, contra os economistas e mencheviques que se manifestaram como inimigos declarados da união do movimento operário com a teoria revolucionária.

A luta contra esses inimigos do socialismo se fez tanto mais necessária, já que a tarefa que se apresentava diante do movimento operário na Rússia era particularmente grande e importante. Esse movimento desenvolveu-se em novas condições, nas quais, como previu genialmente Lênin, a classe operária russa estava destinada a representar o papel de uma força política independente, de hegemonia na revolução democrático-burguesa que avançava e se criaram as bases para a transformação da revolução democrático-burguesa em socialista.

Nessas condições, adquiriu uma significação de primeira ordem e decisiva a questão da criação do partido da classe operária, mas não de um partido como os que existiam, e sim um partido de novo tipo, um partido combativo, realmente revolucionário, que soubesse como e aonde conduzir a classe operária, que fosse unido e disciplinado, com uma disciplina férrea em suas fileiras, que fosse capaz de atuar valente e decididamente, que mantivesse uma ligação estreita e permanente com o proletariado, com toda a massa de trabalhadores não proletários. A criação de tal partido exigia uma preparação profunda e completa, e tal preparação foi realizada por Lênin e Stálin.

Como assinala o camarada Stálin na História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS

"jamais houve, na história, um grupo político tão conscientemente preparado para converter-se num partido, como o grupo dos bolcheviques"(1).

No curso de uma série de anos, Lênin preparou com firmeza o partido dos bolcheviques. Com seus grandes trabalhos: Que fazer?, Um passo adiante, dois passos atrás, Duas táticas da Social-democracia na Revolução Democrática, Materialismo e Empirio-criticismo, Lênin criou os fundamentos ideológicos e orgânicos do partido dos bolcheviques, realizou sua preparação política e teórica.

O mais próximo colaborador de Lênin na criação do Partido bolchevique, na elaboração de sua ideologia e de sua tática, de seus fundamentos orgânicos e teóricos, foi o camarada Stálin. Junto com Lênin, o camarada Stálin criou o grande partido dos bolcheviques.

Os trabalhos do camarada Stálin incluídos no primeiro tomo foram escritos no período, como bem o aponta o autor no prefácio ao primeiro volume,

"quando a elaboração da ideologia e da política leninista ainda não estava concluída".

Nesse período, o camarada Stálin, na luta contra as diversas correntes antimarxistas e oportunistas, cria a organização bolchevique leninista-iskrista do Cáucaso e dirige sua atividade. Em suas obras ele fundamenta e defende os princípios básicos da doutrina marxista-leninista.

Com seus trabalhos teóricos, o camarada Stálin, juntamente com o camarada Lênin, forjou a arma ideológica do grande partido do leninismo.

I

Na Rússia, a união do movimento operário com o socialismo começou a realizar-se pela primeira vez sob a direção de Lênin O passo mais importante nesse sentido foi a passagem da propaganda de círculos de marxismo à agitação política entre as amplas massas objetivando a fusão da luta econômica dos operárics com a luta política contra o tzarismo.

Essa passagem realizou-se por meio da "União pela libertação da classe operária", criada por Lênin em Petersbuigo. No Cáucaso a luta pela união do movimento operário com o socialismo foi dirigida pelo camarada Stálin. Nessa luta representou um grande papel o jornal ilegal criado por Stálin, chamado Brdzola, que foi, depois da Iskra o melhor jornal marxista da Rússia.

No primeiro tomo das obras de Stálin inclui-se o editorial por ele escrito do primeiro número de Brdzola (setembro de 1901) e os artigos dos números 2 e 3 do mesmo jornal (novembro-dezembro de 1901), sob o título de "O Partido Social-Democrata da Rússia e suas tarefas imediatas".

Nesses dois trabalhos o camarada Stálin defende a unidade da teoria revolucionária e da prática, indispensável no interesse da união do movimento operário com o socialismo. No editorial do primeiro número do jornal Brdzola, põe em evidência a significação da imprensa ilegal como instrumento na luta revolucionária do proletariado. Nesse artigo Stálin, caracterizando o conteúdo e orientação do periódico, apresentou ao mesmo a exigência de que

"se interesse primordialmente pelos operários em luta",

declarou que sua primeira obrigação é

"conservar-se tão próximo quanto possível da massa operária, ter a possibilidade de influir continuamente sobre ela, tornando-se o seu centro consciente e dirigente".

O jornal, indicava o camarada Stálin, deve

"dar uma resposta clara a todas as questões relacionadas com o movimento operário, explicar as questões de princípio, explicar teoricamente a função da classe operária na luta e iluminar com a luz do socialismo científico todos os fatos relativos ao operário".(2)

A idéia da união do movimento operário com o socialismo foi particularmente aprofundada e desenvolvida peto camarada Stálin no artigo intitulado "O Partido Social-Democrata da Rússia e suas tarefas imediatas", que se assemelha, por seu conteúdo, ao artigo de Lênin "Por onde começar", que é o fundamento da genial obra leninista Que fazer? No artigo mencionado, Stálin demonstra a inconsistência do socialismo utópico, submete a uma severa crítica os reformistas bernsteinianos europeus e seus sequazes na Rússia: os economistas, e fundamenta a necessidade de um partido revolucionário marxista, forte e estreitamente unido.

No artigo são assinaladas as tarefas imediatas do partido na direção da luta política do proletariado contra a autocracia tzarista. O camarada Stálin dá em seu artigo um magnífico resumo do desenvolvimento da idéia do socialismo na Rússia, demonstrando que na própria marcha do desenvolvimento histórico amadureceu a necessidade da união da teoria com a prática revolucionária. Na Rússia como na Europa Ocidental, os socialistas e o movimento operário durante muito tempo marcharam independentemente uns do outro os socialistas não tinham uma teoria científica e revolucionária e inclinavam-se para os sonhos utópicos (Zemliá, Vólia Naródnaia e Vólia) e o movimento operário para os motins espontâneos.

"Os socialistas não tinham uma base na população trabalhadora e, portanto, sua atividade era abstrata, suspensa no ar. Os operários não tinham dirigentes, organizadores e, assim, seu movimento resultava em revoltas desordenadas" (pg. 30).

Somente em princípios da década de 90 os socialistas russos aproximaram-se da massa operária. Nos primeiros tempos os socialistas russos não podiam estender sua atividade entre a massa operária, pelo que se conformavam com o trabalho nos círculos de agitação e propaganda que se constituíam com os operários adiantados.

"Mas o período dos círculos foi rapidamente superado. A social-democracia depressa sentiu a necessidade de sair dos restritos limites do círculo e de estender sua influência à grande massa operária" (pg. 31).

Isso possibilitou o crescente movimento espontâneo dos operários, que se expressava numa greve após outra nas fábricas e empresas. Mas ao mesmo tempo que uma parte da social-democracia considerava seu dever levar ao movimento operário suas idéias socialistas, outra parte dela, representada pelos "economistas", se propôs impedí-lo. Essa parte dos social-democratas russos — escreve Stálin — que propagava a

"teoria daninha e a prática dos "economistas" seguia a mesma doutrina de seus mestres da Europa ocidental (Bernstein e companhia) até o ponto de afirmar despudoradamente: a liberdade política (liberdade de greve, de organização sindical, de palavra, etc.) é compatível com o tzarismo, e, portanto, uma luta propriamente política, uma luta pela derrubada da autocracia, é totalmente supérflua..." (pg. 34).

Mas a luta dos operários, a cada dia, adotava um caráter mais definidamente político. Ao velho ambiente de sua luta — as greves — o operário russo ajuntou um novo e poderoso meio: a demonstração política, provado pela primeira vez durante a grandiosa demonstração de maio de 1900, em Khárkov.

O camarada Stálin indicou que o período que se aproximava seria principalmente um período de lutas políticas; escreveu que seriam suficientes dois ou três anos para que diante do tzarismo se levantasse a revolução popular.

O camarada Stálin formula a tarefa fundamental da social-democracia, indicando que

"a social-democracia necessita de uma organização forte e coesa, e precisamente uma organização de partido, unida não apenas pelo nome, mas pelos princípios fundamenteis, pela orientação tática" (pg. 42).

A 5 de abril de 1902 o camarada Stálin foi preso, permanecendo primeiro no cárcere de Batum e depois — desde 19 de abril de 1903 — num cárcere de Kutais, regressando após ao de Batum.

Em fins de novembro de 1903 foi deportado por três anos para a Sibéria Oriental, na aldeia de Nóvaia Udá, distrito de Balagan, província de Irkutsk, de onde fugiu em 5 de janeiro de 1904. Na prisão e no exílio, o camarada Stálin não interrompeu seu trabalho revolucionário. Conhecendo as sérias divergências entre bolcheviques e mencheviques, manifestadas no II Congresso do Partido o camarada Stálin colocou-se decididamente ao lado de Lênin. No exílio, o camarada Stálin recebeu uma carta de Lênin. Foi esse o primeiro encontro indireto entre Lênin e Stálin. Lembrando mais tarde essa carta, o camarada Stálin falou em seu discurso por ocasião recepção de estudantes oferecida a 28 de janeiro de 1924, no Krêmlin, o seguinte:

"A carta de Lênin era relativamente curta, mas continha uma crítica audaz e corajosa da atividade prática de nosso Partido, assim como uma exposição magnificamente clara e concisa de todo o plano de trabalho do Partido para o futuro próximo"(3).

Depois da fuga do exílio, o camarada Stálin desenvolveu de novo uma atividade incansável no Cáucaso, inicialmente em Batum e depois em Tíflis. O trabalho de Stálin nesse período transcorreu numa intensa luta com os mencheviques. Dirigiu o Comitê do Partido no Cáucaso, do qual era membro, viajava sistematicamente para as várias regiões da Transcaucásia (Batum, Tchiaturi, Kutais, Tiflis, Baku, às regiões camponesas da Geórgia ocidental), defendeu energicamente as posições bolcheviques, desmascarando os mencheviques e os conciliadores.

Sob a direção do camarada Stálin foi realizada a grandiosa greve dos operários de Baku em dezembro de 1904, que serviu de sinal para as gloriosas demonstrações de janeiro-fevereiro em toda a Rússia (1905). Mantendo uma estreita ligação com Lênin, o camarada Stálin encabeçou no Cáucaso a luta ideológico-política com os mencheviques, contra os chamados social-revolucionários, os nacionalistas e os anarquistas. O camarada Stálin foi o iniciador e o organizador de numerosas publicações no Cáucaso. Redigido por ele, apareceu o jornal Proletariatis Brdzola (A Luta do Proletariado).

Apesar do grande trabalho prático e de organização que o assoberbava, o camarada Stálin desenvolveu uma intensa atividade literária. Muitos artigos importantes do jornal Proletariatis Brdzola foram escritos por ele. Em seus artigos e folhetos o camarada Stálin elabora uma série de questões teóricas e políticas. Lênin manifestou-se com admiração a respeito de A Luta do Proletariado e sua firmeza marxista.

* * *

ENTRE os trabalhos daquele período ocupa lugar de destaque um sobre os fundamentos ideológicos do partido marxista, que Stálin escrevera. A elaboração genial dos fundamentos ideológicos do Partido bolchevique nos foi dada por Lênin em seu livro Que fazer? Nesse trabalho, Lênin desenvolveu o conceito cardial do marxismo sobre a unidade da teoria e da prática, demonstrando a uma nova luz o papel da teoria revolucionária no movimento revolucionário. Como é assinalado na História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS. Lênin em Que fazer? elevou bem alto a significação da teoria, da consciência, do Partido como força revolucionária e organizadora do movimento operário espontâneo; pela primeira vez na história o pensamento marxista demonstrou que na prosternação, diante do espontaneísmo se encerram as fontes ideológicas do oportunismo, e brilhantemente fundamentou o conceito marxista fundamental, segundo o qual o partido marxista é a união do movimento operário com o socialismo.

A defesa e ao desenvolvimento do conceito leninista, exposto e formulado no livro Que fazer?, à descoberta de seu profundo conteúdo e significação são dedicadas duas cartas de Stálin, que se incluem no primeiro tomo de suas obras, escritas em Kutais, que se equiparam por seu conteúdo e significado ao folheto "Algumas palavras sobre as divergências no Partido" e o magnífico artigo Resposta ao "Sotzial-Demokrat". Nesses trabalhos, o camarada Stálin realiza brilhantemente a demolição ideológica do menchevismo, submete a uma crítica implacável a teoria oportunista do espontaneísmo, oferece uma análise profundamente científica do papel da consciência socialista nos êxitos do movimento operário e fundamenta a significação do partido revolucionário e da teoria revolucionária para a classe operária.

Em contraposição a Plekhánov, que se limita à repetição do conhecido conceito de que "a vida determina a consciência" e se afastou da nova situação e das questões por ela apresentadas, Lênin em Que fazer? parte precisamente das novas condições da luta e em correspondência com ela faz progredir a teoria marxista.

Marx e Engels travaram a luta contra os idealistas que afirmavam que a consciência determina a vida. A tarefa de Marx e Engels consistia em estender o materialismo ao campo dos fenômenos sociais, na base de que a consciência é determinada pela forma de vida, tarefa que cumpriram genialmente. Diante dos marxistas havia agora um novo inimigo representado pelos "economistas" e pelos mencheviques, que não reconheciam o papel mobilizador e organizador da teoria de vanguarda, das idéias avançadas e caíam no materialismo vulgar, reduzindo o papel da teoria de vanguarda a pouco menos de zero. Agora se apresentava a tarefa de descobrir, de expor na base do materialismo histórico o papel ativo da consciência. Isso era exigido pelos interesses do movimento operário.

E Lênin elaborou esses problemas, fundamentando o papel da teoria revolucionária no movimento operário.

Na elaboração desses problemas e na nova formulação da questão sobre a relação entre a consciência e o ser, insiste Stálin em suas cartas de Kutais, escritas em setembro-outubro de 1904 e publicadas neste tomo pela primeira vez.

O camarada Stálin escreve numa dessas cartas:

"Penso que Plekhánov está atrasado em relação aos novos problemas. Parece-lhe estar vendo os velhos adversários, e afirma repetidamente, à velha maneira: "A consciência social é determinada pelo ser social", "as idéias não caem do céu". Como se Lênin dissesse que o socialismo de Marx era possível na época, da escravidão e da servidão. Hoje em dia, até mesmo os estudantes do ginásio sabem que as idéias não caem do céu. Mas o fato é que hoje se trata de coisa muito diversa. Digerimos, há muito tempo, esta fórmula geral; chegou o momento de descer aos pormenores dessa questão geral. Interessa-nos saber hoje, como, de idéias isoladas se elabora um sistema de idéias (a teoria do socialismo), como idéias isoladas, grandes e pequenas, se ligam num sistema orgânico, a teoria do socialismo, e por quem são elaboradas e ligadas" (pgs. 66 e 67).

Na outra carta de Kutais, o camarada Stálin indica que na luta dos bolcheviques contra os economistas e os mencheviques trata-se do importante problema da teoria (problema da relação entre o ser e a consciência) e da tática (relação entre quem é dirigido e quem dirige)" (pg.70).

Em seus trabalhos "Algumas palavras sobre as divergências no Partido" e "Resposta ao Sotzial-Demokrat", o camarada Stálin concretiza essas questões. Lênin assinalou que no artigo "Resposta ao Sotzial-Demokrat" se faz uma extraordinária formulação da questão "sobre trazer a consciência de fora". Essa questão — escreve Lênin — está dividida no artigo em quatro partes independentes:

  1. — a questão filosófica sobre a relação entre a consciência e o ser;
  2. — Quem pode elaborar e quem elabora a consciência socialista — o socialismo científico;
  3. — Como penetra essa consciência no proletariado; e
  4. — Que encontra a social-democracia no próprio proletariado indo até ele com a pregação do socialismo?

Elaborando essas questões, o camarada Stálin dá uma analise científica do advento da teoria marxista do socialismo, demonstrando que para isso contribuiu o movimento operário, de um lado, e o desenvolvimento das ciências, por outro; considera a questão sobre se poderia surgir a teoria do socialismo do movimento espontâneo da classe operária, sem o concurso da ciência; se poderia o movimento por si só criar a teoria do socialismo ou se esta se cria, a margem do movimento operário espontâneo e se pode o movimento espontneo levar por si só à revolução social; por que é necessária e que significação tem a união do movimento operário com o socialismo; quais são os caminhos e meios para essa união.

"O socialismo científico, por enquanto, não aparece em parte alguma Em parte alguma existe o mínimo traço do socialismo científico quando já os operários lutavam..." — escreve o camarada Stálin (pg. 104).

O socialismo científico era impossível sem o aparecimento do movimento operário. Mas, como surgiu a teoria do socialismo? O movimento operário desenvolvia-se; por essa época também se desenvolviam as ciências. O movimento operário, cedo ou tarde, devia atrair a atenção dos sábios, dos pensadores. A ciência não captou de golpe o pensamento histórico do movimento operário, suas raízes e sua orientação. Alguns sábios consideravam-no

"como uma revolta de desordeiros que conviria reconduzir a razão por meio do chicote" (pg. 105);

outros viram nele o movimento dos miseráveis, cujo objetivo era receber alguma dádiva. Mas apareceram os pensadores geniais: Marx e Engels, que abordaram cientificamente o movimento operário, que estudaram profundamente as causas que engendram e mantêm, e no curso das suas investigações científicas, sobre os fundamentos das leis por eles descobertas, que regem o desenvolvimento social, as leis do desenvolvimento da sociedade capitalista e suas tendências congênitas, demonstraram que o capitalismo é um regime transitório, como o feudalismo, e que após o capitalismo deve inevitavelmente seguir-se o regime socialista, que pode ser estabelecido somente pelo proletariado mediante a revolução social.

"Compreende-se que, se não existissem o capitalismo e a luta de classe, não teria havido também o socialismo científico. Mas também é verdade que aqueles poucos — refirimo-nos a Marx e Engels — não teriam elaborado o socialismo científico se não tivessem possuído conhecimentos científicos" (idem).

Por que a massa e seu movimento espontâneo não podem elaborar a teoria do socialismo? Pelo motivo de que o proletariado, enquanto permanecer como proletariado, não tem nem tempo nem meios, para munir-se dos conhecimentos científicos indispensáveis, assimilar a ciência e elaborá-la. Pois sem a ciência é impossível o socialismo científico.

Significa isso que o movimento espontâneo está condenado a não obter nunca a vitória por si mesmo? Não o significa.

No folheto "Algumas palavras sobre as divergências no Partido", o camarada Stálin, pulverizando a teoria menchevique do espontaneísmo, manifesta-se ao mesmo tempo contra a afirmativa, segundo a qual o movimento espontâneo por si só nunca pode chegar à revolução social.

"Alguns sustentam que, segundo a opinião de Lênin e da "maioria", o movimento operário, se não se ligar à ideologia socialista, caminhará para a ruína e não chegará à revolução social. Mas isso é uma fantasia, uma fantasia de ociosos, que só pode ter nascido na cabeça de marxistas de fancaria do gênero de An (vide Que é o Partido?, Mogzauri, n.° 6).

Lênin afirma com precisão que "a classe operária vai espontaneamente para o socialismo", e se não insiste demoradamente sobre isso, é apenas porque considera supérfluo demonstrar o' que ja esta demonstrado de sobra. Além disso, Lênin em absoluto não se traçou a tarefa de pesquisar o movimento espontâneo, mas quis somente demonstrar aos organizadores do partido aquilo que devem fazer conscientemente" (pg. 106).

O camarada Stálin escreve que

"segundo Lênin, mesmo as lutas de classes e os conflitos de classe, que não podem ser chamados social-democráticos, conduzem entretanto, inevitavelmente, a classe operária à revolução social".

A afirmativa segundo a qual o movimento operário espontâneo nunca é capaz de chegar à revolução social, é incompatível com o materialismo histórico. O camarada Stálin, assinalando que o movimento operário espontâneo sem socialismo desvia-se inevitavelmente e assume uma forma tradeunionista, escreve:

"Daí se pode deduzir que o socialismo é tudo e o movimento operário nada? Não, por certo! Assim falam somente os idealistas" (pg. 107).

Mas, se o movimento espontâneo pode, afinal de contas, conduzir à vitória, qual é em si a significação do socialismo científico e de sua união com o movimento operário?

"Um dia, dentro de muito, muito tempo — escreve o camarada Stálin — o desenvolvimento econômica levará inevitavelmente a classe operária à revolução social e por conseguinte a obrigará a romper todos os laços com a ideologia burguesa. O que acontece, porém, é que esse caminho será muito longo e penoso" (idem), a classe operária pode chegar espontâneamente ao socialismo somente depois de muitas idas e vindas nas trevas que de modo inevitável lhe custarão muitos sacrifícios inúteis. Mas, "será acaso indiferente para os operários — escreve o camarada Stálin — entrar na "terra prometida" num prazo breve ou após um longo espaço de tempo, por uma estrada fácil ou difícil?" (pg 100)

Para diminuir as dores do parto, para que a classe operária possa conseguir sua libertação o mais rapidamente possível, com os menores sacrifícios possíveis, é necessário unir o movimento operário com o socialismo.

"Que é — escreve o camarada Stálin — o socialismo científico sem o movimento operário? É uma bússola que, deixada sem funcionar, só pode enferrujar-se e deve então ser jogada fora.

Que é o movimento operário sem o socialismo? É uma nau sem bússola, que mesmo assim pode aportar na outra margem, mas que, se tivesse uma bússola, chegaria lá muito mais depressa e sem enfrentar tantos perigos.

Uni essas duas coisas, e tereis uma nau magnífica, que singrará diretamente para a outra margem e chegará ao porto sem avarias.

Uni o movimento operário ao socialismo, e tereis o movimento, social-democrático, que por via direta atingirá a "terra prometida" (pgs. 105-106).

Porém, quais são as vias e meios dessa união? Como penetra a consciência socialista no proletariado e que encontra a social-democracia no proletariado indo até o mesmo com a pregação do socialismo?

No proletariado, em vista da posição que ocupa na sociedade, engendra-se a tendência ao socialismo. Devido a essa tendência instintiva para o socialismo, o proletariado assimila facilmente as idéias do socialismo. Mas, uma vez que por suas próprias forças nao pode elaborar o socialismo científico, a união do movimento operário com o socialismo é possível somente por via da introdução da consciência socialista no proletariado, de fora. E a realização dessa introdução da consciência pela vanguarda da classe operaria: seu Partido, os mencheviques, que defendiam a teoria do culto ao espontaneísmo, utilizaram em sua luta contra os bolcheviques uma demagogia mentirosa, acusando os bolcheviques de "uma atitude de desprezo para com o operário", do "exagero da intelectualidade", apresentando as coisas como se a opinião dos bolcheviques sobre a introdução da consciência do exterior, significasse que essa tarefa constitui unicamente obra dos intelectuais. Em sua "Resposta ao Sotzial-Demokrat , o camarada Stálin pôs a nú a mentira dos mencheviques, que confunde a questão da elaboração da consciência (teoria) com a questão de sua introdução no movimento operário, a elaboração da consciência socialista não pode ser obra dos próprios operários, que não dominam os meios e não dispõem do tempo necessário para isso. Mas os bolcheviques nunca afirmaram que a introdução da consciência não pode ser obra dos próprios operários ou que seja assunto somente dos intelectuais social-democratas. O camarada Stálin escreveu em "Resposta ao Sotzial-Demokrat":

"Como não conseguis compreender que segundo nos, segundo os bolcheviques, é a social-democracia que leva a consciência, socialista ao movimento operário e não apenas os intelectuais social-democráticos? Por que pensais que no Partido Social-Democrata existem somente intelectuais? Será possível que ignoreis que nas fileiras da socialdemocracia são muitíssimo mais numerosos os operários de vanguarda do que os intelectuais? Será que os operários social-democráticos não podem levar a consciência socialista ao movimento operário?" (pgs. 157-158).

Lênin e Stálin ensinam que o Partido é a parte mais avançada, mais consciente da classe, que leva ao movimento operário a consciência socialista e dirige a luta da classe operária. A luta de Lênin e Stálin contra a teoria oportunista do culto ao espontaneísmo foi a luta pela criação do partido da classe operária, armado da teoria marxista, a luta pela preparação ideológica de tal partido. Os fundamentos dessa preparação ideológica foram expostos por Lênin em seu monumental livro Que fazer?

O camarada Stálin defendeu e enriqueceu em seus trabalhos o conceito leninista sobre o papel e a significação da teoria revolucionaria. Na análise da questão sobre a origem da consciência socialista e sua significação para a prática do movimento operário, o camarada Stálin concretizou o conceito marxista sobre a origem das idéias das condições materiais da vida e sobre o papel ativo da idéia demonstrando em que reside seu papel ativo no movimento social. O camarada Stálin demonstrou que o papel ativo das idéias consiste em que

"unem os homens, os organizam e imprimem sua marca à vida social que as gerou..." (pg. 119).

O desenvolvimento que o camarada Stálin deu ao conceito sobre o papel ativo da idéia, sobre o papel da consciência socialista, foi uma grande contribuição à fundamentação do partido de novo tipo, do Partido Bolchevique.

II

A fim de que o Partido pudesse conseguir a unificação do movimento operário com o socialismo, devia, em sua atividade, plasmar a unidade da teoria e da prática revolucionária. Foi necessário criar uma base orgânica do Partido que eliminasse a separação entre a teoria e a prática entre as palavras e os fatos, presente nos partidos da Segunda Internacional e que tornasse o Partido capaz de encarnar na vida sua teoria e seu programa. Porque, como ensina o camarada Stálin:

"O Partido não é somente uma união de pessoas que pensam de igual modo, é, além disso, uma união de pessoas que agem do mesmo modo, uma união combativa de pessoas ativas, que pitam na base de uma ideologia comum (programa, tática)."(4).

A elaboração, por Lênin e Stálin, dos princípios de organização do Partido Bolchevique serviu ao propósito da criação do Partido como uma união combatente de pessoas que agem unidas.

Lênin, em seu magnífico livro Um passo adiante, dois passos atrás, elaborou genialmente a doutrina sobre o Partido como a organização dirigente do proletariado. O Partido não é um simples destacamento da classe operária, e sim seu destacamento de vanguarda, consciente, armado do conhecimento das leis que regem o desenvolvimento social, das leis da luta política e graças a isso é capaz de dirigir a classe operária. O Partido não é somente o destacamento de vanguarda, consciente, da classe operária, mas, além disso, seu destacamento organizado, que tem sua disciplina, obrigatória para todos seus membros. O Partido, porém, não é simplesmente um destacamento organizado, mas a forma mais elevada de organização entre todas as outras organizações da classe operária, destinada a dirigir todas as outras organições de classe do proletariado. O Partido dá forma à ligação do destacamento de vanguarda da classe operária com os milhões de integrantes da classe operária. O Partido, para conservar a unidade de suas fileiras, deve aplicar uma disciplina única proletária, igualmente obrigatória para todos os seus membros.

Em suas declarações e trabalhos escritos, o camarada Stálin fez uma defesa fundamentada desses conceitos expendidos por Lênin.

Como se sabe, no II Congresso do Partido surgiram graves divergências em torno da formulação do artigo primeiro dos Estatutos: sobre a qualidade de membro do Partido. Tratava-se, nesse caso, da questão de se o Partido devia ser um todo organizado, um partido combativo e monolítico, capaz de resolver as tarefas revolucionárias do proletariado, ou se o Partido devia ser algo amorfo, privado de capacidade de luta.

Na luta entre duas formulações do primeiro artigo dos Estatutos, apresentadas por Lênin, de um lado, e por Mártov, de outro, encerravam-se dois pontos de vista de princípio e contrapostos na questão dos fundamentos da estrutura do Partido.

Nas condições da Rússia, com uma população multinacional, as divergências sobre as questões orgânicas concentraram-se na luta em torno de uma questão: criar um partido social-democrata operário único, ou dividir os operários nas organizações do Partido na base de suas características nacionais, renunciando a uma organização territorial única da classe operária.

Os portadores do nacionalismo e do separatismo no movimento operário agruparam-se no "Bund". A criação do Partido na base da nacionalidade de seus membros era exigida pelos federalistas armênios e georgianos.

O trabalho do camarada Stálin "A classe dos proletários e o Partido dos proletários" fundamenta as bases orgânicas do Partido bolchevique. Nesse artigo o camarada Stálin defende brilhantemente a formulação leninista do artigo primeiro dos Estatutos do Partido, o princípio leninista da estruturação do Partido.

Condenando o oportunismo dos mencheviques nas questões orgânicas, o camarada Stálin defendeu nesse artigo os interesses vitais da classe operária e de seu Partido, destinado a ser a organização militante do proletariado em luta. A profunda fundamentação teórica e política dos conceitos orgânicos do bolchevismo que contém esse artigo foi uma contribuição valiosa ao tesouro doutrinário do Partido.

O camarada Stálin demonstra no artigo mencionado que as questões de organização não são algo isolado, que a forma de organização se depreende das tarefas com que o Partido se defronta, da luta que ele próprio trava.

"Nosso Partido é social-democrático — escreve Stálin. Isto significa que tem um programa (objetivos imediatos e finais do movimento), uma tática própria (métodos de luta) e seu próprio princípio de organização (forma de união). A unidade das idéias programáticas, táticas e orgânicas constitui o terreno no qual se baseia nosso Partido. Só a unidade destas idéias pode unir tos membros do Partido num partido centralizado único" (pg 74).

Partindo da posição de defesa desses princípios, o camarada Stálin aponta a falsidade da formulação de Mártov, indicando que não há nenhuma garantia de que um "membro do Partido'' que aceitou o programa do mesmo, mas que milita numa de suas organizações (como exige a fórmula de Mártov), suas opiniões sobre a tática e a organização serão as do Partido e não outras, (pg. 80).

Mas, se alguém aceita o programa do Partido e também sua tática e seus pontos de vista orgânicos, isso ainda é insuficiente para que possa ser chamado membro do Partido. Porque — assinala o camarada Stálin

— "existem, neste mundo, muitos tagarelas que "aceitam" com prazer o programa, a tática e as concepções orgânicas do Partido, mas que não servem para nada, senão para tagarelar.

Seria uma profanação do Sancta Santorum do Partido chamar a um tagarela desse gênero membro do Partido (isto é, dirigente do exército dos proletários!). Além disso, nosso Partido não é nem uma escola filosófica, nem uma seita religiosa. Pois não é o nosso Partido uma organização de luta? E se é este o estado de coisas, não se torna evidente que nosso Partido não se satisfará com uma aceitação platônica do seu programa, da sua tática e dos seus princípios de organização, e exigirá indubitavelmente de um seu membro a realização das idéias por ele aceitas? Isto significa que quem quer ser membro do Partido não pode contentar-se em aceitar suas idéias progamáticas, táticas e de organização, e deve empenhar-se em praticar estes princípios, em aplicá-los à vida" (pgs. 74-75).

Os princípios leninistas de organização decorreram da própria natureza do leninismo, como a unidade da teoria e da prática revolucionária, como a unidade entre a palavra e a ação — ao passo que a fórmula de Mártov era o reflexo da separação entre a teoria e a prática própria do oportunismo, a discordância entre as palavras, e os fatos. O camarada Stálin fundamentou a idéia sobre o Partido como a parte mais consciente e combativa do proletariado, a qual, em primeiro lugar,

"deve estar armado de seu próprio programa, de uma tática e de princípios orgânicos e, em segundo lugar, deve constituir uma organização coesa" (pg. 81).

No artigo "Como a social-democracia considera a questão nacional?" (1904) encontra-se uma exposição teórica e uma explicação do programa do partido marxista sobre á questão nacional, desmascara-se o nacionalismo burguês dos federalistas georgianos, dos social-democratas e de outros grupos nacionalistas do Cáucaso.

Nesse artigo, o camarada Stálin desenvolveu uma crítica arrasadora das posições dos social-democratas federalistas georgianos. Ao mesmo tempo, o camarada Stálin dirigiu sua crítica contra a "Organização dos operários social-democratas armênios", a qual Lênin chamou de "criatura do Bund". O camarada Stálin derrotou plenamente os federalistas, demonstrando que estavam a serviço da burguesia.

No artigo mencionado, o camarada Stálin fundamenta a necessidade de uma social-democracia centralizada e única na Rússia e, juntamente com isso, elaborou a teoria marxista da questão nacional.

O trabalho do camarada Stálin "Como a social-democracia considera a questão nacional?", foi um marco importante na elaboração da teoria marxista sobre a questão nacional: as idéias nele expostas receberam seu desenvolvimento ulterior em seu trabalho intitulado "O marxismo e o problema nacional". Esse artigo representa um exemplo da aplicação magistral da dialética marxista à consideração de uma questão tão complexa como a questão nacional, que foi freqüentemente confundida pelos teóricos e políticos burgueses. O camarada Stálin desenvolve nesse artigo o extraordinariamente importante conceito de que a questão nacional não pode ser considerada abstratamente, em geral, à margem do ponto de vista de classe e separada das condições históricas concretas que concorrem num momento dado.

"Tudo se transforma... — escreve o camarada Stálin — transforma-se a vida social e com ela também se transforma a "questão nacional". Em tempos diversos, classes diferentes entram no campo da luta, e cada classe tem uma concepção particular da "questão nacional". Por conseguinte, a "questão nacional", em tempos diversos, serve interesses diversos, toma aspectos diversos, segundo a classe que a apresenta e quando a apresenta."

Existiu em certa época o assim chamado problema nacional da nobreza, cujo conteúdo correspondia ao nacionalismo monárquico-feudal, a vida social apresentou o problema nacional da burguesia, cujo pensamento se define como nacionalismo burguês. Existe também a questão nacional do proletariado.

"Assim como o operariado se distingue da nobreza e da burguesia, — escreve o camarada Stálin — da mesma forma a "questão nacional" levantada pelo proletariado se distingue da "questão nacional" da nobreza e da burguesia" (pg, 49).

Ainda mais, o camarada Stálin define a essência do problema nacional do proletariado. Para a vitória do proletariado em sua luta — escreve o camarada Stálin — é indispensável a união de todos os operários, sem distinção de nacionalidade. É claro que a condição essencial para a vitória do proletariado é a derrubada das barreiras nacionais e a união estreita dos proletários russos, georgianos, armênios, poloneses, judeus, etc. O tzarismo realizou uma política no sentido de estimular as divergências nacionais, da desunião entre os proletários de diferentes nacionalidades, para impedir sua união de classe. A tarefa dos social-democratas russos consistia em aproximar mais os proletários russos, uni-los estreitamente, para destruir as barreiras nacionais. Os proletários russos de diferentes nacionalidades tinham que lutar em idênticas condições, tinham um só inimigo comum. Para obter a vitória precisavam unir-se num partido único de toda a Rússia, com um só centro à testa.

O marxismo baseia seus pontos de vista sobre a questão nacional, não em concepções idealistas do espírito nacional, e sim numa concepção científica da nação e na avaliação histórica de seus verdadeiros interesses vitais. Os federalistas, que desejavam a divisão do Partido Operário Social-Democrata da Rússia em diversos partidos nacionais e a criação por eles "de uma união livre", afirmavam que existia supostamente uma contradição entre diferentes artigos do programa do Partido sobre a questão nacional. Os federalistas perguntavam:

"Que lógica há em dizer a uma nação: concedo-te a autonomia regional, e, ao mesmo tempo, recordar-lhe que tem o direito de regular, de acordo com o próprio critério, todos os seus assuntos nacionais?" (pg. 58).

Eles pediam uma resposta "decidida" e "direta" à interrogação: É conveniente ou não ao proletariado a "independência nacional"?

Repelindo os federalistas, o camarada Stálin demonstra a limitação metafísica de seu pensamento, sua incapacidade de compreender a dialética da apresentação da questão nacional, sua incompreensão de que a justa solução dessa questão é impossível sem a consideração das condições históricas concretas.

O camarada Stálin explica que quando o Partido Operário Social-Democrata da Rússia introduziu em seu programa a exigência de "ampla autonomia local", o fazia guiando-se por sua interpretação da chamada solução "definitiva" da "questão nacional" isto é, a "libertação" das nacionalidades "estrangeiras" da Rússia, falando de um modo geral, é impossível enquanto a dominação política se encontrar nas mãos da burguesia.

"Tal opinião — escreve Stálin —, porém, não exclui a possibilidade da criação de condições econômicas e políticas tais que façam os grupos adiantados da burguesia das nacionalidades "estrangeiras" desejar a "libertação nacional" (pg. 60).

Pode ainda acontecer que esse movimento se mostre útil ao desenvolvimento da consciência de classe do proletariado. Precisamente circunstâncias possíveis são incluídas no programa, nos artigos que falam em oferecer às nacionalidades o direito de organizarem seus próprios assuntos de acordo com seus desejos (por exemplo, "libertar-se", de um modo geral, separar-se).

"Nosso Partido — escrevia o camarada Stálin — que se propõe a dirigir a luta do proletariado de toda a Rússia, deve estar preparado para semelhantes casos, que são possíveis na vida do proletariado, e, justamente por isso, teve de introduzir tal artigo em seu programa" (pg. 61).

Ao mesmo tempo o camarada Stálin indica a necessidade de que ao resolver o problema nacional em tal ou qual momento, se leve em conta em que grau de desenvolvimento se encontra a consciência de classe do proletariado, em que medida esse movimento é útil ou prejudicial ao proletariado. As próprias nacionalidades decidirão, quando se exigir isso delas, se é útil ou prejudicial a elas â "independência nacional" e se é útil, de que forma deve ser realizada? Mas os social-democratas são obrigados a esforçar-se para que

"as aspirações dessas nacionalidades sejam autênticas aspirações social-democráticas que derivem dos interesses de classe do proletariado, para o que é necessário educar os proletários dessas nacionalidades no espírito social-democrático" (pg. 63).

Falando sobre as tarefas que se apresentavam diante dos proletários de todas as nacionalidades da Rússia, o camarada Stálin passou a explicar-lhes que a atenção principal devia ser dedicada às condições gerais dos proletários, à unidade de seus interesses, para construírem um partido operário centralizado de toda a Rússia, na base desses interesses gerais e comuns.

Com seus trabalhos "Como a social-democracia considera a questão nacional?" e "A Classe dos proletários e o partido dos proletários", o camarada Stálin deu uma grande contribuição à preparação orgânica do partido de novo tipo, do partido do leninismo.

III

A tarefa de unir o movimento com o socialismo exigia não: só o reconhecimento do papel da teoria e dà necessidade de sua introdução na classe operária; exigia, além disso, não só uma estrutura orgânica do partido que assegurasse, em sua atividade, a inseparabilidade dos princípios teóricos e da ação prática. Para que a teoria e a prática não caminhassem em linhas divergentes, para que a teoria correspondesse às novas exigências históricas, era necessário fazer progredir a própria teoria.

Uma grande contribuição para o desenvolvimento do marxismo, uma revolução na teoria marxista, veio a significar a idéia genial da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista, idéia exposta por Lênin no umbral da primeira revolução russa. Em sua obra famosa Duas táticas da Social-democracia na Revolução Democrática, Lênin apresentou uma nova formulação da questão da correlação entre a revolução burguesa e a revolução socialista, uma nova teoria do reagrupamento das forças em redor do proletariado no fim da revolução burguesa para a passagem direta à revolução socialista: teoria da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista. Essa teoria foi a base da estratégia e da tática do bolchevismo na revolução dos anos de 1905-1907.

O período de 1904-1914 caracterizou-se, em seu primeiro estádio, pelo crescente ascenso do movimento revolucionário na Rússia, quando a onda revolucionária atingia o auge e levantava o movimento das greves revolucionárias gerais políticas de outubro de 1905, à insurreição armada em dezembro do mesmo ano.

O crescente ascenso da revolução exigia da parte dos social-democratas a elaboração da tática correspondente.

"Assim o exigiam — como se assinala na História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS — as questões práticas inadiáveis que se apresentavam ante o proletariado: organização da insurreição armada, derrubada do governo tzarista, instauração de um governo provisório revolucionário, participação da social-democracia nesse governo, posição diante do campesinato, posição diante da burguesia liberal, etc, etc. Era necessário elaborar uma tática marxista única para a social-democracia"(5).

Em resposta a essas questões foi escrita em junho-julho de 1905 a obra de Lênin Duas táticas da Social-democracia na Revolução Democrática. Nessa obra, Lênin deu um grande exemplo de desenvolvimento criador do marxismo, aplicando-o às novas condições da luta de classe do proletariado.

Lênin argumentou em seu trabalho mencionado, com o novo preceito, segundo o qual, o proletariado pode e deve ser o chefe da revolução democrático-burguesa e que o proletariado tem a possibilidade de deixar de atüár como colaborador da burguesia e de converter-se no dirigente da revolução democrático-burguesa. Lênin fundamentou, mais adiante, o conceito que diz que o campesinato é o aliado do proletariado na revolução e explicou a política de aliança do proletariado com o campesinato, mediante o isolamento da burguesia liberal.

"Com isso, o Partido marxista se situava em um ponto de vista novo diante dos problemas da tática na revolução democrático-bruguesa, ponto de vista que se distinguia substancialmente das posições táticas que até então figuravam no arsenal maxista"(6).

O camarada Stálin, desde os primeiros passos da revolução russa defendeu decididamente e aplicou praticamente a estratégia e a tática leninista da revolução.

O camarada Stálin, numa série de intervenções e manifestos (Operários do Cáucaso, chegou a hora de nos vingarmos!, Viva a fraternidade internacional!, Aos cidadãos. Viva a bandeira vermelha!, Fortalece-se a reação, Tífilis... 20 de novembro de 1905, A todos os operários, A burguesia prepara a armadilha) conclamou as massas à derrubada do tzarismo. No manifesto "Operários do Cáucaso, chegou a hora de nos vingarmos", ele escreveu o seguinte:

"A força principal desta revolução é o proletariado urbano e rural e seu porta-bandeira é o Partido Operário Social-Democrata, e não vós, senhores liberais!" (pgs. 85-86).

No artigo "O governo revolucionário provisório e a social-democracia", o camarada Stálin, explicando a peculiaridade da revolução democrático-burguesa, ao contrário da revolução burguesa na França de fins do século XVIII, escreveu:

"Na França, à testa da revolução estava a burguesia, enquanto na Rússia está o proletariado. Lá, era a primeira quem dirigia a sorte da revolução, aqui, é o segundo" (pg. 146).

No mesmo artigo o camarada Stálin assinalava que

"quem vai fazer a revolução é o povo; e o povo é constituído pelos operários e pelos camponeses" (pg. 137); que "os camponeses estão interessados em unir-se firmemente ao proletariado, forca de vanguarda da revolução" (pg. 138).

Stálin, como Lênin, considerava que o meio mais eficaz e importante para derrubar o tzarismo era a insurreição armada. Nos artigos "A insurreição armada e a nossa tática", "Fortalece-se a reação", "Marx e Engels sobre a insurreição", o camarada Stálin fundamenta a necessidade da insurreição armada, defende a tese de sua organização.

Em contraposição aos mencheviques, que negavam a necessidade da preparação e da organização da insurreição armada, o camarada Stálin sustenta o conceito que diz que

"a direção técnica e a preparação orgânica da insurreição em toda a Rússia constituem exatamente a nova tarefa que a vida colocou perante o proletariado" (pg. 132);

que é necessário dedicar-se à

"elaboração de um plano para a tomada dos depósitos de armas e arsenais privados e do governo" (idem);

que é indispensável a elaboração de um

"plano de insurreição para cada distrito e sua coordenação com o plano elaborado pelo centro do Partido para toda a Rússia" (pg. 134);

que o Partido deve

"concentrar nas próprias mãos a direção, quer técnica, quer política, da insurreição" (pg. 135).

Em seu artigo "Marx e Engels sobre a insurreição", o camarada Stálin desenvolve o conceito leninista sobre a necessidade de aproveitar a experiência da insurreição, estender essa experiência, preparar tenaz e pacientemente as novas forças combatentes, educá-las e temperá-las nas fileiras das guerrilhas em ação; comentando uma expressão de Marx e Engels, o camarada Stálin indica:

"Quem toma o caminho da ofensiva deve possuir não só armamentos como também conhecimentos militares e destacamentos adestrados: sem isso a ofensiva é impossível" (pg. 224).

O camarada Stálin pôs em destaque como uma tarefa do verdadeiro partido militante da classe operária a aprendizagem da realização da direção política e militar da insurreição e dominar os conhecimentos militares, a ciência e a arte militares.

Stálin desenvolve importantes conceitos táticos no mencionado artigo "O governo revolucionário provisório e a social-democracia". Destruindo os argumentos dos mencheviques, que se manifestavam contra a participação dos social-democratas no governo provisório, tomando como base de sua argumentação as decisões do Congresso de Amsterdam, segundo as quais os socialistas não devem participar dos governos burgueses, o camarada Stálin escreveu o seguinte:

"No que diz respeito ao Congresso de Amsterdam, este se referia ao governo permanente francês, e não a um governo revolucionário, provisório. O governo francês é reacionário e conservador, defende o que é velho e luta contra o que é novo: é evidente que um verdadeiro social-democrata não fará parte de semelhante governo; o governo provisório, ao contrário, é revolucionário e progressista, luta contra o que é velho, abre caminho ao que é novo, serve aos interesses da revolução: é evidente que um verdadeiro social-democrata nele ingressará e tomará parte ativa no coroamento da obra da revolução" (pg. 140).

Demonstrando a necessidade do Governo Provisório como a ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato, o camarada Stálin frisou que esse governo provisório deve realizar uma transformação democrática o mais profunda possível e realizar o programa mínimo, sem esperar a Assembléia Constituinte. Na segunda parte do artigo "O governo revolucionário provisório e a social-democracia", o camarada Stálin, em luta com os mencheviques, que afirmavam que o governo provisório não tinha direito de anular as velhas leis e instituir novas, escreveu:

"Não tem esse raciocínio a marca de um liberalismo vulgar?... Que vem a ser um conselho de ministros? É o resultado da existência de um governo permanente. E que vem a ser um governo revolucionário provisório? É o resultado da destruição do governo permanente. O primeiro executa as leis existentes, com o auxílio do exército permanente. O segundo suprime as leis existentes e em seu lugar legaliza a vontade da revolução com o auxílio do povo insurreto" (pgs. 150 e 151).

Os discursos do camarada Stálin, que demoliram a política dos mencheviques e constituiram uma brilhante defesa dos conceitos táticos do bolchevismo, desempenharam um enorme papel no recrutamento e unidade das forças para a luta decisiva contra o tzarismo. O camarada Stálin realizou naquela época um grandioso trabalho revolucionário na Transcaucásia. Sob sua direção, a IV Conferência bolchevique da organização transcaucásica do P.O.S.D.R. (novembro de 1905) adotou a decisão de fortalecer a luta pela preparação e realização da insurreição armada, pelo boicote da Duma tzarista, pelo desenvolvimento e fortalecimento das organizações revolucionárias dos operários e camponeses, dos soviets de deputados operários, dos comitês de greve, dos comitês revolucionários do campesinato. A conflagração revolucionária estendia-se por toda a Transcaucásia. O III Congresso do Partido, numa resolução proposta por Lênin, mencionou a atividade das organizações bolcheviques da Transcaucásia "como as mais combativas organizações de nosso Partido".

Em dezembro de 1905 o camarada Stálin compareceu como delegado dos bolcheviques da Transcaucásia à Primeira Conferência dos bolcheviques de toda a Rússia, celebrada em Tammerfors, na qual, pela primeira vez se encontrou pessoalmente com Lênin e teve uma participação ativa nos trabalhos da Conferência.

Após a derrota da insurreição de dezembro, o camarada Stálin manifesta-se acrimoniosamente contra as declarações claudicantes dos mencheviques, segundo os quais, "não se devia ter pegado em armas". No magnífico artigo intitulado "Dois choques", o camarada Stálin analisa profundamente as causas da derrota da insurreição de dezembro e na base do mesmo tira as respectivas conclusões revolucionárias. Faz uma comparação entre os acontecimentos do 9 de janeiro de 1905 e o conflito generalizado de dezembro, demonstrando as profundas viradas revolucionárias que se haviam operado na consciência dos trabalhadores e do movimento operário no curso de um ano. Nos choques de janeiro o povo estava desarmado; nos combates de dezembro a palavra de ordem foi "Armas, conseguir armas". Em janeiro os operários estavam dispersos e desorganizados; a insurreição de dezembro deu um passo à frente nesse sentido. Em janeiro os operários foram "dirigidos" principalmente por Gapon; em dezembro à testa da insurreição encontravam-se os social-democratas. O choque de janeiro não possuía nenhum plano, diante dele não se havia colocado a questão da ofensiva ou da defensiva.

"O choque de dezembro só teve a vantagem de haver colocado de modo claro essa questão mas isso somente no desenrolar da luta e não desde o seu início" (pg. 190).

Analisando as causas da derrota da insurreição de dezembro o camarada Stálin formulou em seu artigo a conclusão fundamental seguinte:

"Um Partido sólido, a insurreição organizada pelo Partido e uma política de ofensiva, eis o que nos é necessário hoje para a vitória da insurreição" (pg. 191).

Com a derrota da insurreição armada de dezembro

"a revolução, contudo, ainda não estava esmagada. Os operários e os camponeses revolucionários recuavam pouco a pouco, mas lutando. Novas camadas de operários eram arrastados à luta... A agitação dentro do exército e da marinha continuava"(7).

Naquela época o governo tzarista, a fim de afastar as massas da revolução, promulgou uma lei para a convocação de uma nova Duma. Surguiu o problema da atitude que devia assumir-se com relação à Duma. Os bolcheviques, lutando contra o engodo do povo pelas falsas promessas tzaristas, adotaram e aplicaram a tática do boicote da I Duma. O camarada Stálin deu uma brilhante fundamentação dessa tática em seu artigo intitulado "A Duma de Estado e a tática da social-democracia", escreveu:

"Duas condições são necessárias a uma boa tática social-democrática: a primeira é que não deve estar em contradição com o curso da vida social e a segunda é que deve elevar cada vez mais o espírito revolucionário das massas.

A tática da participação nas eleições está em contradição com o curso da vida social, uma vez que a vida mina os alicerces da Duma e a participação nas eleições reforça-a e portanto se contrapõe à vida.

A tática do boicote emana naturalmente do curso da revolução, uma vez que, de acordo com a revolução, desacredita e mina, desde o princípio, os alicerces da Duma policialesca" (pg. 195).

Em abril de 1906 reuniu-se em Estocolmo o IV Congresso do P.O.S.D.R., chamado de unificação. Nesse Congresso; o camarada Stálin, juntamente com Lênin, defendeu contra os mencheviques a linha bolchevique da revolução. Em seu discurso "Sobre o momento atual", o camarada Stálin assinalou que se traçaram dois caminhos para o desenvolvimento da vida política-social da Rússia: o caminho das falsas reformas e o caminho da revolução; por este segundo caminho querem marchar o campesinato revolucionário e a pequena burguesia, encabeçados pelo proletariado. Stálin terminou seu discurso com estas palavras:

"Ou hegemonia do proletariado, ou hegemonia da burguesia democrática, eis como se coloca a questão no Partido, eis em que consistem nossas divergências" (pg. 221).

Entre as questões discutidas no Congresso ocupou um lugar proeminente a questão agrária. O camarada Stálin em seu discurso pronunciado no "Congresso Sobre a revisão do programa agrário" e também nos artigos "A questão agrária" e "Sobre a questão agrária" lutou contra o programa menchevique da municipalização da terra!

Em seu prefácio ao primeiro volume, o camarada Stálin escreve o seguinte com relação às divergências surgidas sobre a questão agrária no Congresso de Unificação:

"Como se verifica pelo primeiro volume (vejam-se os artigos sobre a "Questão agrária"), o autor sustentava, então, o ponto de vista da divisão das terras da nobreza fundiária, para dá-las em propriedade aos camponeses. No Congresso de Unificação do Partido, em que foi discutida a questão agrária, a maioria dos delegados bolcheviques "práticos" aderiu ao ponto de vista da repartição, a maioria dos mencheviques era pela municipalização e Lênin, com os restantes delegados bolcheviques, era pela nacionalização da terra, mas no decorrer da luta entre os três projetos, quando se verificou que não se podia contar com a aprovação do projeto de nacionalização, Lênin e os outros favoráveis à nacionalização uniram seus votos aos dos defensores da repartição" (pgs. 15 e 16).

Mais adiante, nesse prefácio, o camarada Stálin assinala:

"Só algum tempo mais tarde, quando a teoria leninista da transformação da revolução burguesa na Rússia em revolução socialista se tornou a linha diretriz do Partido bolchevique, é que desapareceram do Partido as divergências sobre a questão agrária, porque ficou evidenciado que num país como a Rússia, onde as condições particulares de desenvolvimento criavam o terreno para a transformação da revolução burguesa em revolução socialista, o partido marxista não podia ter nenhum programa agrário que não fosse o programa da nacionalização da terra" (pg. 17).

Logo após o término do IV Congresso o camarada Stálin escreveu o folheto intitulado "O momento atual e o Congresso de Unificação do Partido Operário".

Nesse folheto o camarada Stálin faz um balanço dos trabalhos do Congresso, apontando as profundas raízes de luta entre bolcheviques e mencheviques. O folheto termina com as seguintes palavras.

"Chegamos assim à conclusão principal, à conclusão de que, no Partido, a questão se apresenta desta maneira: deve o proletariado consciente ser o dirigente na revolução atual ou deve arrastar-se a reboque dos democratas burgueses?

"Vimos que de uma ou de outra solução dessa questão depende também a solução de todas as outras questões. Justamente por isso os companheiros devem apreciar com mais atenção a essência dessas duas posições".

A esse período pertencem outros artigos escritos pelo camarada Stálin: "A luta de classes" (novembro de 1906) e "A legislação "sobre as fábricas" e a luta proletária" (comentário sobre duas leis adotadas em 15 de novembro), nos quais se explica o papel do partido e dos sindicatos na luta de classe do proletariado. No artigo "A luta de classes" o camarada Stálin assinala que a vida social é todo um mosaico de grupos e classes diversos, mas à medida que se desenvolve vão se delineando nitidamente dois campos hostis: o dos capitalistas e o dos proletários. A luta entre eles acentua-se dia a dia. Pondo em destaque o crescimento do movimento sindical na Rússia naquele tempo, o camarada Stálin assinala que o proletariado não pode prescindir da luta política e da direção ideológico-política e conclama o proletariado a

"consolidar e fortalecer por todos os meios o Partido que exercer a direção ideológica e política da sua luta de classe" (pg. 259).

No artigo intitulado "A "legislação sobre as fábricas" e a luta proletária" , o camarada Stálin expõe a política do governo tzarista hostil ao proletariado, calculada para utilizar a legislação fabril como um meio de conquistar a confiança dos núcleos atrasados das operários e com isso cavar a fossa para enterrar a unidade de classe do proletariado. Ao mesmo tempo, o camarada Stálin ensina os operários a utilizarem-se da legislação fabril para fortalecerem suas posições na luta contra os exploradores.

IV

No primeiro tomo está incluído o trabalho intitulado "Anarquismo ou socialismo?" (1906-1907), no qual se explicam os fundamentos teóricos do partido marxista: o materialismo histórico e dialético, as questões da revolução socialista e da ditadura do proletariado, a significação do partido como dirigente político da classe operária. O motivo que impeliu o camarada Stálin a essa obra demonstra quão estreitamente o camarada Stálin ligava a atividade teórica do partido às necessidades da vida social. Quando no Cáucaso apareceram os anarquistas e começaram a realizar sua propaganda, alguns social-democratas afirmavam que não valia a pena ocupar-se deles, já que "não contam com massa e, portanto, não são tão perigosos". Mas o camarada Stálin destruiu tal ponto de vista.

"A questão não está em saber a quem segue hoje — escreve o camarada Stálin — maior ou menor "massa": trata-se da essência da doutrina. Se a "doutrina" dos anarquistas expressa a verdade, então está por si mesmo claro que ela romperá o caminho e reunirá em torno de si a massa. Se, porém, tal doutrina é inconsistente e se encontra edificada sobre uma base falsa, não subsistirá por muito tempo e acabará suspensa no ar; A inconsistência do anarquismo, entretanto, deve ser demonstrada" (pg. 268).

A obra de Stálin "Anarquismo ou socialismo?" foi publicada em alguns artigos separados a princípio no jornal Akhali Tskhovreba, onde, em junho-julho de 1906 foram inseridos os quatro primeiros artigos. (Essa variante dos artigos de "Anarquismo ou socialismo?" foi incluída no apêndice desse primeiro tomo). A publicação dos artigos seguintes foi interrompida devido ao fechamento do jornal. Os artigos aparecidos em Akhali Tskhovreba foram publicados mais tarde no jornal Akhali Droeba. A continuação desses trabalhos foi publicada no jornal Tchveni Tskhovreba em fevereiro de 1907 e no jornal Dro em abril de 1907. A conclusão desses trabalhos não foi publicada por que em meados de 1907 o camarada Stálin foi enviado pelo Comitê Central do Partido para realizar atividade do Partido em Baku, onde passados alguns meses foi preso e os apontamentos do último capitulo da obra citada perderam-se durante a busca que realizaram as autoridades.

O trabalho que agora se inclui no primeiro tomo de suas obras sob o título "Anarquismo ou socialismo?" consta de uma breve introdução e das seguintes partes: O método dialético; a teoria materialista; o socialismo proletário.

Na introdução o camarada Stálin assinala que o socialismo divide-se em três grandes correntes: reformismo, anarquismo e marxismo. O reformismo nega de fato a revolução social e prega a renúncia à luta de classes, ao passo que os anarquistas põem em si o rótulo de revolucionários. Mas os anarquistas não são verdadeiros revolucionários porque negam a ditadura do proletariado, nem verdadeiros socialistas, uma vez que propugnam pelo socialismo das pequenas comunidades. O marxismo e o anarquismo são edifícios sobre princípios totalmente diferentes. A pedra angular do anarquismo é o indivíduo e sua palavra de ordem: "Tudo para o indivíduo". A pedra angular do marxismo é a massa, cuja libertação, a seu ver, é a condição principal para a libertação do indivíduo. Isso significa que, segundo o marxismo, a libertação do indivíduo é impossível, enquanto não se liberte a massa; consequentemente, sua palavra de ordem é: "Tudo para a massa" (pg. 269).

Em seu trabalho "Anarquismo ou socialismo?", o camarada Stálin submete a uma crítica arrasadora todas as concepções dos anarquistas, sem deixar delas pedra sobre pedra. Ao fazê-lo, o camarada Stálin dá uma explicação magistral dos fundamentos e do desenvolvimento ulterior dos conceitos do marxismo.

O camarada Stálin começa a caracterização do marxismo com o seguinte conceito:

"O marxismo não é apenas a teoria do socialismo, é uma concepção integral do mundo, um sistema filosófico do qual decorre, logicamente, o socialismo proletário de Marx, Esse sistema filosófico se chama materialismo dialético" (pg. 270).

Esse conceito exposto por Stálin sobre a unidade e a indivisibilidade do socialismo proletário e do sistema do materialismo dialético, foi fundamentado basicamente por Stálin em sua obra mencionada acima. O camarada Stálin desenvolve o conceito da unidade entre a teoria e a prática; demonstrando que a prática revolucionária deve encontrar-se em ligação indestrutível não só com as questões que afetam diretamente os procedimentos referentes ao programa e à tática, mas também de maneira profunda com a teoria revolucionária, com os fundamentos da concepção. Na parte sobre O método dialético, Stálin demonstra que dos conceitos da dialética surgem logicamente determinados conceitos do socialismo científico. Na parte A teoria materialista se explica a ligação interna entre o materialismo marxista e o socialismo científico. Na parte O socialismo proletário é apresentada de forma desenvolvida a ligação entre o materialismo dialético e o socialismo proletário.

A própria colocação da questão sobre a ligação indissolúvel da filosofia do marxismo com o socialismo proletário teve uma grande significação, tanto na luta contra o revisionismo internacional, que e afastava da filosofia do marxismo, que se rebelou contra a dialética de Marx e de seu materialismo, que tratava de voltar a Kant, como contra os renegados no campo da teoria do marxismo na Rússia, que falazmente chamavam-se a si mesmos marxistas, socialistas, porém que na realidade manifestavam-se contra o materialismo histórico e pretendiam ligar o socialismo à filosofia reacionária do empírio-criticismo "dos buscadores" e dos "construtores" de Deus".

O trabalho do camarada Stálin "Anarquismo ou socialismo?", que foi dirigido diretamente contra os anarquistas, isto é, contra inimigos declarados do marxismo, golpeou ao mesmo tempo os renegados e hipócritas que intentavam separar o socialismo proletário de seus fundamentos científico-históricos, isto é, do materialismo histórico e dialético.

A fundamentação pelo camarada Stálin da unidade e indivisibilidade da filosofia do marxismo e do socialismo proletário serviu para a preparação teórica do Partido Bolchevique, para a educação dos quadros do partido no espírito dos conceitos marxistas do partido e para a compreensão de que não se pode permanecer nas posições do socialismo se se despreza ou se abandona a filosofia do marxismo, da qual surge o socialismo proletário.

Na parte sobre O método dialético, o camarada Stálin fundamenta o conceito segundo o qual a vida é um contínuo movimento e mudança, que nela sempre existe

"o novo e o velho, o que cresce e o que morre, o revolucionário e o contra-revolucionário" (pg. 270). E "que na vida o que nasce e dia a dia cresce, é invencível; deter seu movimento para a frente é impossível".

Essa lei da vida é levada em conta pelo socialismo proletário, que se orienta no sentido do proletariado como forca principal do movimento atual. Por que

"o proletariado é a única classe que cresce e se fortalece sem cessar, que impulsiona a vida social e agrupa em torno de si todos os elementos revolucionários" (pg. 272).

O camarada Stálin demonstra que o movimento e a unidade de duas formas: as mudanças quantitativas e as mudanças qualitativas, evolução e revolução.

"A evolução — escreve o camarada Stálin — prepara a revolução e cria o terreno para ela; e a revolução coroa a evolução e contribui para prosseguir a obra desta" (pg. 273).

E esse conceito da dialética fundamenta teoricamente o socialismo proletário, sua afirmativa sobre a inevitabilidatíe da revolução socialista. O movimento evolutivo, durante o qual os elementos progressistas introduzem mudanças de quantidade na velha ordem, prepara as mudanças revolucionárias,

"quando esses elementos se reúnem, se penetram da idéia única e se lançam contra o campo inimigo, para destruir radicalmente a velha ordem e trazer à vida mudanças qualitativas, estabelecer uma nova ordem"...

O camarada Stálin combate decididamente os anarquistas, que criticando a dialética marxista identificaram-na com a teoria dos cataclismos de Cuvier, por um lado, e por outro, com a teoria evolucionista do darwinismo. Refutando essa falsificação dos anarquistas, o camarada Stálin demonstra que entre o método dialético de Marx e os cataclismos de Cuvier não há nada de comum e que a teoria marxista do desenvolvimento não pode ser confundida com a teoria darwinista da evolução. A teoria marxista repele não somente os cataclismos de Cuvier, como também o conceito dialético do desenvolvimento que exclui a revolução. Do ponto de vista do método dialético marxista, assinala Stálin, a evolução e a revolução, as mudanças quantitativas e qualitativas são duas formas indispensáveis de um mesmo movimento.

Argumentando com esse conceito da dialética marxista, o camarada Stálin escreve:

"Vejamos os fatos. Diz Marx: "Ao chegarem a uma determinada fase de seu desenvolvimento, as forças produtivas matérias da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que não é mais do que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade. E abre-se, assim, uma época de revolução social". Mas "nenhuma formação social perece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela pode comportar..." (vide Marx, Contribuição à Crítica da Economia Política, Prólogo).

Se se aplicar essa tese de Marx à vida. social contemporânea, verificar-se-á que entre as forças produtivas modernas, que têm um caráter social, e a forma de apropriação dos produtos, que tem um caráter privado, existe um conflito radical que deve culminar na revolução socialista. (Vide F. Engels, Anti-Dühring, capítulo segundo da terceira parte).

Como se vê, na opinião de Marx e Engels, a revolução só se leva a cabo quando amadurecem sufientemente as forças produtivas, e não inesperadamente, como pensava Cuvier" (pg. 279).

Com maestria exemplar o camarada Stálin rebate os ataques dos anarquistas sobre o conhecido conceito da dialética, segundo o qual todos os fenômenos possuem contradições internas próprias.

O camarada Stálin demonstra que a dialética da vida consiste em que cada fenômeno contém em si o positivo e o negativo, o "bom" e o "mau".

"Podemos dizer — escreve o camarada Stálin — que a República democrática é boa em todos os sentidos ou que é má em todos os sentidos? Não, não podemos dizê-lo. Por que? Porque a República Democrática é boa somente num aspecto, quando destrói a ordem feudal, mas em troca é má noutro especto, quando fortalece a ordem burguesa. Por isso, precisamente, afirmamos: no que a República Democrática destrói a ordem feudal, é boa e lutamos por ela; mas no que fortalece a ordem burguesa, é má e lutamos contra ela" (pg. 277).

Na parte sobre A teoria materialista, fundamenta a significação dessa teoria como base científica do socialismo proletário.

O camarada Stálin frisa particularmente o monismo da teoria marxista, denunciajado a falsidade do dualismo e do ecletismo em geral. O marxismo — ensinava Lênin — é uma unidade, um todo, uma concepção completa, indissolúvel em suas partes constitutivas.

É claro que o socialismo verdadeiro, o socialismo proletário, está indissolüvelmente ligado à teoria proletária, ao materialismo dialético.

O monismo da teoria marxista consiste em que todos os fenômenos da natureza e da vida social se consideram em suas condições materiais.

"Uma natureza, una e indivisível, expressa em duas formas distintas: na material e na ideal; uma vida social, una e indivisível, expressa em duas formas distintas: na material e na ideal; eis como devemos considerar o desenvolvimento da natureza e da vida social. Tal é o monismo da teoria materialista" (pg. 283).

Nessa unidade das duas formas da existência e do desenvolvimento da natureza e da sociedade, o lado material precede o lado ideal. Não havia substâncias vivas, mas já existia a natureza "não viva".

"O primeiro ser vivo não possuía consciência alguma, possuía somente a propriedade da irritabilidade e os primeiros rudimentos da sensação. Depois se foi desenvolvendo, gradativamente, nos animais, a capacidade da sensação, passando lentamente a ser consciência, em consonância com o desenvolvimento da estrutura de seu organismo e do sistema nervoso" (pg. 283).

Assim sucedeu na história da natureza, assim sucedeu na história da sociedade, onde antes modificaram-se as condições materiais da vida e depois, em correspondência com elas, mudaram os conceitos e idéias das pessoas, mudaram os gostos e os costumes.

"No que se refere ao modo como se engrenaram no momento presente em nossa cabeça as diferentes representações e idéias, devemos observar que aqui se repete em forma redimida o que ocorre na história da natureza e da sociedade" (pg. 288).

Quando olhamos uma árvore e a vemos, a imagem da árvore aparece depois em nosso cérebro, quando nos convencemos de que a árvore existia anteriormente, existia antes de nossa concepção.

O camarada Stálin lutou decididamente contra os anarquistas, que, criticando o marxismo. desfiguraram o materialismo filosófico marxista, confundiram-no com o materialismo vulgar, adjudicando-lhe o dualismo, o paralelismo.

Refutando a afirmativa dos anaquistas, o camarada Stálin demonstra que o materialismo monista de Marx nada tem em comum com o dualismo, com o paralelismo.

O paralelismo declara que nem o lado material, nem o lado ideal, precedem um ao outro, que sempre se desenvolvem juntos, paralelos. Do ponto de vista do materialismo monista o lado material, o conteúdo, necessariamente precede o lado ideal a forma. Os dualistas conferem igual significação ao lado matérial, como ao lado ideal: o materialismo monista parte de um só princípio: a natureza, ou o ser que tem uma forma material e ideal, ao passo que o dualismo parte de dois princípios: material e ideal, que, segundo o dualismo, se negam um ao outro.

O camarada Stálin não deixou de pé nem um só pilar da falsa afirmativa dos anarquistas, segundo a qual, o materialismo de Marx é a "teoria do estômago" e que, segundo a opinião de Marx e Engels, tudo se reduz ao desenvolvimento econômico e "que a vontade e as aspirações humanas não têm significação alguma".

"É certo que, na opinião da Marx, "a vontade e as aspirações" das pessoas extraem seu conteúdo da situação econômica, mas acaso isso significa aue elas mesmas não exercem nenhuma influência no desenvolvimento das relações econômicas? É acaso tão difícil para os anarquistas compreender uma idéia tão simples?" (pg 298).

No conceito, fundamentado por Stálin, segundo o qual a matéria existe primeiro e a consciência depois, manifesta-se claramente a ligação entre o socialismo proletário e o materialismo filosófico marxista.

"Se primeiramente mudam as condições econômicas, e depois, de modo correspondente muda a consciência dos homens, é claro que o fundamento deste ou daquele ideal devemos buscá-lo não no cérebro dos homens, não em sua fantasia, mas no desenvolvimento de suas condições econômicas. É bem e aceitável tão somente o ideal que foi criado sobre a base do estudo das condições econômicas. São inúteis e inaceitáveis todos aqueles ideais que não têm em conta as condições econômicas, que não se apoiam no desenvolvimento destas" (pgs. 288, e 239).

Há mais: se a consciência se determina pela vida

"é claro que devemos contribuir para a transformação radical das relações econômicas, a fim de que juntamente com elas mudem pela base os usos e costumes do povo e sua ordem política" (pg. 289).

Tais são as conclusões práticas que se inferem da teoria do materialismo marxista para a atividade prática dos combatentes pelo socialismo.

Na parte sobre "O socialismo proletário", o camarada Stálin, colocando a questão: Qual é a relação entre o materialismo dialético e o socialismo proletário?, demonstra que a primeira conclusão tirada das doutrinas teóricas de Marx é o reconhecimento de que

"a única classe que cresce incessantemente, avança sempre e luta pelo futuro, é o proletariado da cidade e do campo. Por conseguinte, devemos servir o proletariado e depositar nele nossas esperanças" (pg. 297).

Mais adiante Stálin assinala de que maneira é necessário servir o proletariado, como devem atuar os social-democratas para que seu trabalho redunde em benefício do proletariado. Ao fazê-lo, o camarada Stálin focaliza a luta contra os inimigos do marxismo revolucionário, contra os revisionistas, contra a doutrina reformista de Bernstein, que propõe esquecer o socialismo e contra as doutrinas anarquistas de Kropotkin que encerram o futuro do socialismo nos limites estreitos das cidades e comunidades. Ao explicar e fundamentar as tarefas do partido da classe operária, o camarada Stálin parte da análise das leis do desenvolvimento econômico do capitalismo.

"O desenvolvimento econômico do regime capitalista — escreve o camarada Stálin — mostra que a produção moderna adquire um caráter social, que o caráter social da produção nega definitivamente a propriedade capitalista existente e, portanto, nossa principal tarefa reside em contribuir para a derrocada da propriedade capitalista e para a instauração da propriedade socialista. Isso significa, porém, que a doutrina de Bernstein, que exorta a esquecer o socialismo, se acha em contradição radical com as exigências do desenvolvimento econômico: tal doutrina acarretará danos ao proletariado.

O desenvolvimento econômico da ordem capitalista mostra, ademais, que a produção moderna se amplia cada dia mais, não cabe nos limites de cidades e governos isolados, derruba sem cessar essas barreiras e abarca o território de todo o Estado; por conseguinte, devemos saudar a ampliação da produção e reconhecer como base do futuro socialismo, não cidades e comunas isoladas, mas o território uno e indivisível de todo o Estado, território que, no futuro, naturalmente, há de ampliar-se mais e mais. E isso significa que a doutrina de Kropótkin, que encerra o futuro socialismo nos limites das cidades e comunas isoladas, contradiz os interesses de uma poderosa ampliação da produção: tal doutrina acarretará danos ao proletariado.

Lutar por uma ampla vida socialista, como objetivo principal, eis como devemos servir ao proletariado.

Tal é a segunda conclusão prática da doutrina teórica de Marx" (pg. 298).

Nessa mesma parte o camarada Stálin, aplicando o método dialético marxista e a teoria materialista ao iminente crack do capitalismo e ao desenvolvimento da sociedade futura, fundamenta cientificamente a necessidade da revolução socialista, que deve começar com a tomada do Poder pelo proletariado e o estabelecimento da ditadura socialista do proletariado. O camarada Stálin assinala que para tudo isso é necessário a organização do proletariado, sua unidade e agrupamento, a criação de uma forte organização e seu constante crescimento.

Que formas deve assumir a organização do proletariado?

As organizações mais extensas e mais de massas são os sindicatos e as cooperativas (principalmente de produção e de consumo). Tanto as cooperativas como os sindicatos são indispensáveis ao proletariado como meio para organizar a massa do proletariado.

"Os sindicatos e as cooperativas, porém, — escreve o camarada Stálin — por si só não podem satisfazer às necessidades de organização do proletariado em luta. E isso porque as mencionadas organizações não podem ultrapassar os limites do capitalismo, pois seu objetivo é o melhoramento da situação dos operários nos limites do capitalismo. Mas os operários desejam libertar-se por completo da escravidão capitalista, desejam romper esses mesmos limites, e não somente mover-se dentro dos limites do capitalismo. Consequentemente, falta, além disso, uma organização que reúna em torno de si os elementos conscientes dentre os operários de todas as profissões, converta o proletariado em uma classe consciente e se proponha como principal objetivo destruir o regime capitalista, preparar a revolução socialista.

Tal organização é o Partido Social-Democrata do proletariado. Esse Partido deve ser um partido de classe, completamente independente dos demais partidos, e isso porque é o Partido da classe dos proletários, cuja emancipação pode ser somente alcançada por seus próprios esforços.

Esse Partido deve ser um partido revolucionário, e isso porque a emancipação dos operários só é possível pelo caminho revolucionário, por meio da revolução socialista.

Esse Partido deve ser um partido internacional, as portas do Partido devem estar abertas a todo proletário consciente, e isso porque a emancipação dos operários não é um problema nacional, mas um problema social, que tem a mesma importância tanto para um proletário georgiano como para um proletário russo e para os proletários das demais nações" (pgs. 312-313).

O camarada Stálin põe de manifesto toda a profundeza dos fundamentos teóricos do marxismo, demonstrando que, em contraposição, aos utopistas, Marx viu no desenvolvimento das forças produtivas e na luta de classes a premissa para a libertação da humanidade.

Stálin escreve:

"A base teórica do socialismo científico é a teoria materialista de Marx e Engels. Do ponto de vista dessa teoria, o desenvolvimento da vida social é determinado inteiramente pelo desenvolvimento das forças produtivas. Se ao regime feudal da nobreza fundiária seguiu-sé o regime burguês, a "culpa" disso foi que o desenvolvimento das forças produtivas tornou inevitável a aparição do regime burguês. Ou, ainda, se ao regime burguês contemporâneo há de seguir-se inevitavelmente a ordem socialista, é porque o exige o desenvolvimento das modernas forças produtivas. Daí emana a necessidade histórica da destruição do capitalismo e da instauração do socialismo. Daí emana também a tese marxista que diz que devemos buscar nossos ideais na história do desenvolvimento das forcas produtivas e não nas cabeças dos homens.

Tal é a base teórica do Manifesto Comunista de Marx e Engels"(vide o Manifesto Comunista, capítulos I e II), (pgs. 316-317).

E mais adiante:

"A base tática do socialismo científico é a doutrina sobre a luta inconciliável de classes, pois ela é a melhor arma nas mãos do proletariado. A luta de classe do proletariado é a arma por meio da qual este conquistará o Poder político e expropriará depois a burguesia, para instaurar o socialismo.

Tal é a base tática do socialismo científico, como é ele exposto no Manifesto de Marx e Engels" (pg. 317).

O camarada Stálin aplica o método e a teoria materialista ao

"desenvolvimento da futura sociedade comunista, caracteriza os traços fundamentais da primeira e da mais alta fase do comunismo, assinalando que a condição para a passagem à fase superior é "um suficiente desenvolvimento das forças produtivas e da consciência socialista dos homens, sua educação socialista" (pg. 304).

"O desenvolvimento das forças produtivas é dificultado — escreve, o camarada Stálin— pela atual propriedade capitalista, mas se. se levar, em conta que na futura sociedade não existirá essa propriedade, é evidente que as forças produtivas se decupliçarão. Não se há de esquecer tampouco a circunstância de que na futura sociedade centenas de milhares dos atuais parasitas, assim como os sem-emprêgo, se incorporarão à produção e engrossarão as fileiras dos trabalhadores, o que impulsionará de modo notável o desenvolvimento das forças produtivas. No que se refere aos sentimentos e critérios "bárbaros" dos homens, não são eles tão eternos como alguns o imaginam: houve em tempo, a época do comunismo primitivo, em que o homem não reconhecia a propriedade privada; chegou outra época, a época da produção individual, em que a propriedade privada se assenhoreou dos sentimentos e da razão dos homens; chega uma nova época, a época da produção socialista, e que haverá de surpreendente se os sentimentos e a razão dos homens se penetrem de aspirações socialistas? Acaso o ser não determina os "sentimentos" e os critérios dos homens?".

O camarada Stálin, fazendo um resumo do que ele disse sobre a relação entre o socialismo proletário e a teoria marxista, escreve:

"O socialismo proletário se edifica não sobre reações sentimentais, nem sobre a "justiça" abstrata, nem sobre o amor ao proletariado, mas sobre os fundamentos científicos acima aduzidos" (pg. 307).

O trabalho de Stálin "Anarquismo ou socialismo?" é uma valiosa contribuição à teoria do marxismo leninismo, à tarefa de elaborar os fundamentos teóricos do Partido Bolchevique.

* * *

Desde que o camarada Stálin realizou os trabalhos que entram no primeiro tomo de suas Obras, a classe operária da Rússia e o Partido dos bolcheviques percorreram um enorme trecho de seu desenvolvimento.

Hoje a classe operária de nosso país é a força dirigente que orienta o desenvolvimento da sociedade e realiza tal trabalho criador, tal trabalho construtivo do qual não é capaz nem uma das chamadas "classes superiores" em toda a história da sociedade.

Juntamente com a classe operária e dirigindo-a, seu Partido, o Partido de Lênin e Stálin, percorreu um caminho glorioso em movimento de avanço.

Então, nos anos de 1901-1907, nosso Partido lançou as bases de sua organização e formulou sua ideologia e sua política. Agora nosso Partido, obtendo uma completa vitória sobre os inimigos do povo, conduziu a classe operária e todos os trabalhadores de nosso país à vitória do socialismo e goza de uma merecida confiança e do amor sem limites de todo o povo soviético.

Durante os anos que transcorreram, desde aqueles tempos, quando sob a direção de Lênin se lançavam as bases do partido bolchevique, a teoria e a ideologia do leninismo também percorreram um caminho glorioso e edificante. Continuando a elaboração da teoria e da ideologia do bolchevismo, o genial Lênin criou uma nova teoria, definitiva, da revolução socialista, desenvolveu a doutrina da ditadura do proletariado é assinalou os traços fundamentais da construção do socialismo em nosso país.

Continuando a causa e as doutrinas de Lênin, o grande Stálin promoveu progressivamente as doutrinas marxistas-leninistas, enriquecendo-as com suas geniais idéias sobre as vias e os métodos próprios para a criação do regime oficial soviético, para o desenvolvimento e fortalecimento do regime estatal dos soviets. Hoje as doutrinas marxistas-leninistas foram enriquecidas com novos conhecimentos, com o conhecimento das leis da construção do socialismo e do estado socialista, da continuação do comunismo.

A história da classe operária da Rússia e de seu Partido Bolchevique nos demonstra o desenvolvimento vitorioso da prática revolucionária, seu enriquecimento com novas aquisições e conquistas da teoria marxista-leninista.

Tal desenvolvimento, ombro a ombro, da prática e da teoria não pode ser considerado como casual. Essa paridade reflete as particularidades do partido do proletariado e de seus grandes chefes Lênin e Stálin.

O camarada Stálin assinalou em seu artigo sobre o cinqüentenário do nascimento de Lênin que a história não conheceu tal tipo de Chefe. Conheceu chefes práticos, mas muito fracos em teoria. Esses chefes se confundem rapidamente.

"Mas — escrevia o camarada Stálin — o movimento em seu conjunto não pode viver de recordações; é necessário que possua um objetivo definido (programa) e uma linha firme (tática). Há outro tipo de chefes, chefes de tempos de paz, fortes em teoria, mas fracos no trabalho de organização e no trabalho prático. Tais chefes são populares somente nas camadas elevadas do proletariado e isso só por um tempo determinado; com o aparecimento da época revolucionária, quando se exige dos chefes o lançamento das palavras de ordem prático-revolucionárias, os teóricos desaparecem da cena, deixando seu lugar a novos homens. Tal é o exemplo da Plekhánov na Rússia, de Kautsky na Alemanha. Para manter-se no posto de chefe da revolução proletária e do partido proletário, é indispensável combinar em si mesmo a potência teórica com a experiência prática na organização do movimento proletário"(8).

Tal chefe foi Lênin. Tal chefe é Stálin. Combinando em si mesmo o gênio de organização e o gênio teórico, de grande pensador, o grande Stálin alumia o caminho de nosso povo e o alenta em sua luta pelo ulterior florescimento de nossa pátria.


Notas de rodapé:

(1) J. V. Stálin - História do P. C. (b) da URSS, pg. 58, Ed. Horizonte, 1946, Rio.

(2) J. V. Stálin - Obras - I. pág. 25. Ed. Vitória, 1952 - Rio. As demais citaçoes dessa obra serão mencionadas no próprio texto, figurando o número da página em que se encontram entre parênteses. As demais obras serão mencionadas em notas ao pé da página. (retornar ao texto)

(3) Problemas - Nº 32, pág. 122, 1951 - Rio. (retornar ao texto)

(4) J. V. Stálin — "Sobre a Oposição" (retornar ao texto)

(5) J. V. Stálin — "História do P. C. (b) da URSS", pg. 28, Ed. Horizonte, 1948, Rio. (6) idem, pg. 30. (retornar ao texto)

(6) Idem, pg. 30 (retornar ao texto)

(7) J. V. Stálin — História do P. C. (b) da URSS, pg. 36, Ed. Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)

(8) V. I. Lênin — "Obras Escogidas". tomo I, pg. XXXII, Ed. Problemas. (retornar ao texto)

 

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Inclusão 30/12/2010
Última alteração 24/09/2011