MIA: História: História soviética: 100º aniversário da Revolução Russa: De fevereiro a outubro


De fevereiro a outubro

por Lars T. Lih

(Traduçâo: Daniela Mussi)

Eu seu livro  Inside the Russian Revolution  [Por dentro da Revoluçâo Russa], Rheta Childe Dorr descreveu sua primeira impressâo na Rússia:

“A primeira coisa que eu vi na manhâ em que cheguei em Petrogrado (…) foi um grupo de jovens rapazes, mais ou menos uns vinte, marchando pela rua em frente ao meu hotel, carregando uma bandeira escarlate com uma inscriçâo em grandes letras brancas.

‘O que quer dizer’, perguntei ao comissàrio do hotel que estava ao meu lado.

‘Diz ‘Todo poder ao Soviete’, ele respondeu.

‘O que é ‘o soviete’’, perguntei, e ele me respondeu prontamente:

‘É o único governo que temos na Rússia neste momento’”

Ao julgar por esta passagem, a maioria de nós poderia achar que Dorr desembarcou na Rússia depois da Revoluçâo de Outubro, jà que apenas depois dela os sovietes derrubaram o governo provisório. No entanto, Dorr chegou à Rússia no fim de maio de 1917 e deixou o país no final de agosto. Seu livro foi impresso antes da Revoluçâo de Outubro e por isso oferece um olhar inestimàvel do que acontecia em 1917, livre do argumento retrospectivo.

A abordagem de Dorr revela um fato essencial: “Os sovietes, ou conselhos de delegados de soldados e operàrios [workers], que se espalharam feito fogo pelo país, sâo a coisa mais próxima de um governo que a Rússia conheceu desde os primeiríssimos dias da revoluçâo”. Apesar de socialista, Dorr era fervorosamente comprometida com a guerra contra a Alemanha e por isso fortemente hostil ao que via como o governo de uma multidâo tiránica. Ela via o governo do soviete como nâo melhor e, em certos aspectos pior, que o dos czares. No que diz respeito à censura da imprensa, por exemplo: “Mesmo se [o viajante norte-americano médio] pudesse ler todos os jornais diàrios ele nâo seria capaz de obter muitas informações. A censura à imprensa, hoje, é rígida e tiránica como no auge da autocracia, só que um tipo diferente de notícia é suprimido”. Para oferecer aos seus leitores norte-americanos uma ideia da “mania de comitê” que havia se difundido na Rússia, ela usava esta analogia:

“Tentem imaginar como seria em Washington, digamos, no escritório do secretàrio do tesouro, se um comitê da Federaçâo Americana do Trabalho (AFL) começasse a declarar: ‘Nós temos controle sobre você. Escreva seus livros e todos os seus papeis confidenciais’. É isso o que acontece com ministros do gabinete na Rússia, e vai continuar assim até que eles possam formar um governo que responda apenas ao eleitorado, e nâo um escravo do Conselho de Delegados dos Operàrios [Workers] e Soldados.”

O relato de Dorr é unilateral: o poder soviético foi fortemente contestado durante todo o ano de 1917 e o Governo Provisório possuía uma agenda ambiciosa. Apesar disso, ela relata realidades que nâo surpreendem a maioria dos historiadores mas que iluminam de maneira inesperada o slogan “Todo poder aos sovietes!”. Vale a pena explorar esta nova perspectiva, inicialmente para demonstrar a continuidade entre Fevereiro e Outubro, em seguida questionar o tipo de revoluçâo em curso e, finalmente, lançar o olhar sobre a liderança dos Bolcheviques e Lenin em particular.

“Todo poder aos sovietes” é um dos mais famosos slogans na história das revoluções. Ele està ao lado de “Igualdade, liberdade, fraternidade”, como símbolo de toda uma época revolucionària. E é composto de três palavras: “вся власть советам” ou “vsya vlast’ sovetam.” “Vsya” = “todo,” “vlast’” = “poder,” e “sovetam” = “aos sovietes”. A palavra russa “sovet” significa simplesmente “aconselhamento” e, desta, “conselho”.

Outra palavra russa, “vlast”, possui significado mais desafiador. “Poder” nâo é uma traduçâo totalmente adequada por muitos motivos. Vlast possui uma referência mais específica que a palavra “power” em inglês [ou “poder” em português] e significa autoridade soberana em um determinado país. Para possuir o vlast, é preciso possuir o direito à decisâo final, ser capaz de tomar decisões e de verificar que estas estâo sendo levadas adiante. Com frequência, em inglês, em uma tentativa de apreender estas nuances vlast é traduzida como “the power” [o poder]. Neste artigo, “poder” e vlast serâo usados de maneira intercambiàvel.
 

O vlast embrionàrio

>Faz parte do senso comum a respeito de 1917 o contraste entre “Fevereiro” e “Outubro”. O público letrado é alimentado por uma versâo liberal deste contraste: Fevereiro teria sido a boa revoluçâo, da liberdade política e da democracia, e Outubro a mà, a revoluçâo ilegítima, da tirania e da utopia extremista. É comum encontrar nas organizações de esquerda um contraste similar onde o sinal é invertido: “revoluçâo democràtico-burguesa” versus “revoluçâo socialista”.

A continuidade entre Fevereiro e Outubro, portanto, é negligenciada. Desde seu início, em fevereiro, o levante de 1917 deveria ser visto como uma revoluçâo democràtica antiburguesa. O poder do soviete foi proclamado em fevereiro – o papel de outubro foi confirmar que este nâo deixaria a cena pacificamente.

A força bàsica por tràs deste novo poder ou autoridade soberana – a base eleitoral do soviete – era o povo, o narod, os operàrios, soldados, camponeses, a multidâo; em oposiçâo às elites, os tsenzoviki (o “povo censitàrio”, as classes proprietàrias), a sociedade educada. O objetivo central da revoluçâo do soviete era de levar adiante um programa vasto de reformas logo conhecidas por “revoluçâo democràtica” – antes de tudo, terra aos camponeses e liquidaçâo dos pomeshchiki (nobres proprietàrios rurais) como classe, além do fim da guerra mortífera e inútil.

Ao mesmo tempo, a revoluçâo foi intensamente antiburguesa, mesmo se este sentimento nâo foi traduzido em uma demanda programàtica pela instalaçâo do socialismo no curto ou médio prazo. O fato surpreendente nâo é a base social da revoluçâo nem os seus valores antiburgueses, mas a criaçâo praticamente simultánea, depois da queda do czar, de um candidato viàvel para a autoridade soberana, apoiado em uma ampla base eleitoral popular.

Em fevereiro, a longa dinastia Romanov – comumente chamada “o vlast histórico” – foi dissolvida e abandonou a Rússia essencialmente sem um vlast capaz de funcionar, ou seja, sem uma autoridade soberana geral reconhecida. As linhas de força fundamentais ao longo de todo o ano se estabeleceram quase imediatamente durante os acontecimentos de 27 de fevereiro de 1917. Neste dia:

  1. O vlast czarista que governou a Rússia por séculos entrou em colapso na capital Petrogrado. Até entâo, o czarismo havia sido o vlast no sentido pleno da palavra: controlava as forças armadas, possuía um sentido forte de legitimidade e missâo, além de uma base social.
     
  2. O soviete de Petrogrado foi criado por intelectuais socialistas que chamaram representantes das fàbricas e, rapidamente, dos soldados. Logo, a famosa Ordem Número Um lançada pelo soviete conferiu a ele a qualidade mais indispensàvel de vlast: controle sobre as forças armadas. Ao clamar pela democratizaçâo e formaçâo de comitês de soldados, o soviete de Petrogrado ganhou a lealdade e a confiança dos soldados.
     
  3. O Governo Provisório foi formado por uma elite de políticos liberais. Apesar deste governo ter tentando exigir para si um tipo de legitimidade para continuidade e transmissâo legal do poder, ele representava essencialmente uma reaçâo à criaçâo do soviete. Além disso, desde o início as classes da elite foram desequilibradas, confrontadas com um obstàculo inesperado na forma de um ativo vlast soviético. Para sua sorte, o Governo Provisório encontrou aliados nas lideranças socialistas moderadas do soviete, que sentiam ser imperativo manter os elementos mais progressistas da elite ao lado da revoluçâo.

Assim, o soviete de Petrogrado assumiu o papel de fonte última do vlast, a autoridade soberana – ainda que neste estàgio fosse prudente nâo assumir este nome. O soviete era a representaçâo eleita de operàrios e soldados: uma diferença essencial relaçâo a sua encarnaçâo em 1905. Dois momentos foram marcantes nesta imposiçâo de autoridade. Primeiro, o Governo Provisório foi forçado a comprometer-se com questões-chave do programa do soviete para alcançar legitimidade elementar e, na verdade, para existir. Segundo, a Ordem Número Um permitiu ao soviete (quase sem querer) alcançar um atributo essencial de qualquer vlast, nomeadamente, controle sobre os meios últimos de coerçâo, o exército. Estes dois fatos – comprometimento de governo em levar adiante aspectos fundamentais do programa soviético e a lealdade última das forças armadas ao soviete e nâo ao Governo Provisório – determinaram o curso da política para todo o resto do ano.

Na superfície, as vicissitudes do poder do soviete ao longo de de 1917 encontrou expressâo em uma série de crises políticas democràticas. Por baixo, um processo mais molecular se desdobrava e revestia o soviete de atributos essenciais de um genuíno vlast. Vejamos mais de perto este processo.

De acordo com alguns observadores bolcheviques da época, em fevereiro o soviete era um “vlast embrionàrio”. Esta é uma excelente metàfora que leva à seguinte questâo: o que seria preciso para que este se erguesse em toda sua força, como um vlast independente, capaz de se defender sozinho? Um vlast efetivo precisaria ao menos de:

  1. Um senso de missâo – que poderíamos chamar de legitimidade
     
  2. Uma exigência plausível de legitimidade e indutora de lealdade, uma legitimidade.
     
  3. Um monopólio dos meios legítimos de coerçâo.
     
  4. Habilidade para eliminar rivais.
     
  5. Um programa de longo alcance para captar os problemas nacionais essenciais da ordem do dia.
     
  6. Uma classe política ampla para cumprir o papel que a dvorianstvo (nobreza) cumpria no czarismo.
     
  7. Um aparato administrativo capaz de transmitir a vontade do vlast central por todo o país.

Estas sâo características-chave de um vlast atuante. O vlast soviético embrionàrio estabelecido em fevereiro começou com algumas destas características de maneira virtual, e entâo estas e as outras características progressivamente adquiriram mais substáncia, primeiro em 1917 e em seguida durante a guerra civil. O soviete, por exemplo, ganhou uma forma institucional nacional ao longo da conferência de “Toda Rússia”, realizada no final de março e os dois congressos dos sovietes (em junho e outubro). Em contraste, o Governo Provisório perdeu progressivamente estas mesmas características fundamentais com as quais iniciara, e passou a ser mais e mais espectral. No outono de 1917, este havia perdido o apoio mesmo dos líderes moderados do soviete e era nâo mais que um vlast fantasma.

Olhemos agora para a série de crises políticas nâo resolvidas que marcaram as relações dos sovietes e os reformadores das elites no Governo Provisório. A luta política em 1917 era conduzida dentro de uma Constituiçâo nâo-escrita que estabelecia que a maioria do soviete era a palavra final em matéria de programa e pessoal. Desde o início, Alexander Kerensky foi inserido no governo como um representante do soviete. Por esta e outra razões, o contraste frequentemente feito entre o período inicial do “poder dual” e a coalizâo do momento posterior nâo é essencial.

No início de maio, o Governo Provisório propôs e o soviete encaminhou – aceitando o pedido do governo – o envio de mais representantes para sua composiçâo. Independente de quantos representantes individualmente foram enviados ao governo, isso nâo alterava o fato que nenhuma iniciativa política importante foi levada à cabo contra a vontade explícita da maioria do soviete. Assim, todas as diversas crises políticas emergentes ao longo do ano foram resolvidas quando a autoridade do soviete se fez conhecer, jà que este detinha o controle decisivo da força coercitiva. Isto era verdade em março, abril, julho e agosto, assim como em outubro.

Certamente o poder soviético foi mais fortemente contestado no início: a contrarrevoluçâo também se originou em fevereiro. A fonte-chave do conflito se dera sobre o que era chamado na época de krizis vlasti, a crise do poder. O problema era normalmente enquadrado da seguinte maneira: dvoevlastie, poder dual, soberania dual, é uma contradiçâo em termos – se os recursos se dividem entre aqui e là, entâo quem toma a decisâo final, aquela que realmente conta? Neste sentido, “poder dual” é equivalente a “múltiplos poderes” que é equivalente a nenhum vlast: uma receita para disfunçâo governamental. A Rússia precisava de um vlast indiscutível, reconhecido e obstinado (tverdaia vlast).

Neste ponto as opiniões começavam a divergir. O partido liberal dos Cadetes, o primeiro a levantar esta linha de raciocínio, declarou que os sovietes deveriam sair de cena. Os Bolcheviques, que rapidamente se apropriaram deste argumento para seus propósitos, declararam que de agora em diante todo poder deveria se concentrar nos sovietes!

A questâo existencial com a qual a base eleitoral do soviete se defrontava era: poderia o programa do soviete ser realizado por meio da aliança de boa fé com os reformadores das elites – ou a distáncia entre elites e narod [povo] em questões fundamentais como a guerra, a questâo agrària e a regulaçâo econômica, era muito grande para ser mitigada? Os bolcheviques rotularam a tentativa desta parceria interclasses de soglashatelstvo – um termo muitas vezes erroneamente traduzido como “conciliaçâo”, mas que que pode ser traduzido para o inglês (e para o português) de maneira mais correta como “agreementism” ou “compromissismo”. Entâo a questâo diante da qual estava a base eleitoral do soviete era: o compromissismo é viàvel? Sim, pode ser conveniente trabalhar com a elite ao invés de confronta-la, desde que isso nâo signifique abandonar os objetivos da revoluçâo.

Do ponto de vista da incipiente contrarrevoluçâo, existiam duas possíveis estratégias para eliminar o sistema do soviete: um golpe duro ou um golpe macio. Uma tentativa de golpe duro foi a realizada pelo General Kornilov no final de agosto – mas esta foi uma aventura mal planejada desde o início e que rapidamente se chocou com um fato importante da grande política de 1917, a lealdade última das forças armadas aos sovietes. O golpe macio se apoiou em uma estratégia distinta de criaçâo, por vàrios meios, de uma alternativa de vlast de longo alcance com algum apoio nacional, ao mesmo tempo em que solicitava aos sovietes que voluntariamente se dissolvessem. Nesta categoria se encontram os experimentos de outono, como a Conferência Democràtica e o Pré-Parlamento. Mais e mais, a Assembleia Constituinte se converteu em protagonista das tentativas de golpe macio, ou seja, de induzir o poder do soviete a se desfazer graciosamente.

Para a base do soviete, a questâo estava decidida no início de setembro, quando as novas maiorias dos sovietes eleitas em Moscou e Sâo Petersburgo mostraram seu apoio a um governo de todos os sovietes e ao anticompromissismo. Ficou evidente que o II Congresso dos Sovietes, a ser realizado em outubro, decidiria no mesmo sentido. A questâo passou a ser: a Constituiçâo nâo-escrita poderia suportar? A nova maioria soviética poderia exercer o mesmo controle decisivo sobre as polícias e os funcionàrios de governo que a velha maioria exercia? Na linguagem do senso comum, outubro foi o momento em que os sovietes derrubaram o Governo Provisório. Aqui, propõe-se que foi o momento em que o Governo Provisório falhou em derrubar os sovietes.

Ao mesmo tempo, os sovietes delegaram liderança política para o Partido Bolchevique. Esta escolha foi uma implicaçâo inevitàvel de uma decisâo mais fundamental de manter a existência do poder do soviete, jà que os bolcheviques eram a única força política organizada dispostas e capazes de fazer isso. (Os Socialistas-Revolucionàrios de esquerda [SRs] eram dispostos, mas parcamente organizados). A dissoluçâo da Assembleia Constituinte no início de janeiro encerrara a última chance cancelar o poder do soviete pacificamente, ou seja, por meio de uma autodissoluçâo voluntària. Depois disso, a questâo se deslocou para os campos de batalha.
 

O II Congresso: o sentido de Outubro em outubro

De acordo com a Constituiçâo nâo-escrita, um Congresso regularmente eleito de sovietes representando sovietes de todo o país teria o direito e dever de determinar tanto o pessoal administrativo quanto as políticas do governo revolucionàrio. O II Congresso que se reuniu em 25 e 26 de outubro se tornou este corpo. Existe um fascínio comum pelos debates dramàticos entre os bolcheviques, e pelo “levante armado” organizado pelo Comitê Revolucionàrio Militar do Soviete de Petrogrado, que tende a esquecer de um fato político bàsico do outono de 1917: a nova maioria que se formou em todo o país na base eleitoral do soviete.

O levante assume um novo significado à luz deste fato: podemos imaginar o II Congresso sem o levante, mas nâo podemos imaginar o levante sem o II Congresso. Como disse Trotsky no congresso: “A fórmula política para este levante: Todo poder aos sovietes por meio do Congresso dos Sovietes. Alguns nos dizem: vocês nâo esperaram o congresso. Nós, como partido, consideramos nosso dever criar a possibilidade genuína para o Congresso dos Sovietes tomar o vlast em suas próprias mâos”.

No mesmo sentido, um olhar sobre os procedimentos do II Congresso pode oferecer alguma ideia do significado de Outubro em outubro – ou seja, o que o II Congresso como um todo, incluindo sua maioria e minoria, pensava estar fazendo. De acordo com a Constituiçâo nâo-escrita, um Congresso de Sovietes propriamente constituído teria o direito a determinar as políticas e o pessoal administrativo do governo. Este era o coraçâo da questâo e ninguém do Congresso discordou, nem mesmo os inimigos mais determinados dos bolcheviques.

Ao contràrio, estes tentaram minimizar o status de legitimidade do Congresso de outras formas: primeiro, promovendo esvaziamentos para privar o Congresso de seu quórum mínimo necessàrio e transforma-lo em uma “conferência privada”. Segundo, declarando que conflito armado e “guerra civil” nas ruas tornava o trabalho do Congresso impossível. Note-se: os socialistas antibolcheviques nâo protestaram a respeito da prisâo do Governo Provisório, mas ao tratamento dado para os ministros socialistas – e mesmo aqui o repúdio nâo se deu por seu status de ministros, mas porque eram camaradas de partido em uma missâo partidària. Finalmente, mesmo que o Congresso tivesse direito a criar um novo governo e mesmo um governo que excluísse partidos nâo soviéticos, ele insistiu que o novo vlast representasse todos os partidos soviéticos e mesmo todas as forças democràticas – portanto a ala Martov dos mencheviques e os SRs de esquerda – mesmo que a criaçâo de uma coalizâo tâo ampla fosse um sonho irreal. Ninguém no Congresso, portanto, contestava a constituiçâo nâo-escrita.

Que programa o Congresso ofereceu ao novo governo? Três coisas foram realizadas durante os dois dias de sessões: uma proposta oficial de governo para uma “paz democràtica”, terra aos camponeses e a concomitante aboliçâo das propriedades nobiliàrias, e a criaçâo de um “governo operàrio-camponês” [workers-peasant government]. Todas estas medidas eram essencialmente “democràticas”, para usar o linguajar da época, e esta qualidade democràtica foi fortemente enfatizada pela retórica oficial e pelo porta-voz bolchevique. Uma famosa declaraçâo de Lenin – talvez o primeiro pronunciamento do novo vlast – foi a seguinte: “A causa pela qual o narod lutou – a proposta imediata de uma paz democràtica, a aboliçâo da propriedade nobiliària da terra, o controle dos operàrios sobre a produçâo, a criaçâo de um governo soviético – esta causa està agora assegurada”.

No esboço original, Lenin havia escrito “Vida longa ao socialismo!”, mas ele riscou esta frase. Isso aponta para uma outra característica dos debates do Congresso: o perfil rebaixado do “socialismo”, tanto como palavra como conceito. A mençâo ao socialismo é feita como objetivo final, é verdade. Mas os bolcheviques nunca defenderam o programa efetivo deliberado no Congresso como “socialista” – tampouco, o que é ainda mais relevante, os que atacaram os bolcheviques fizeram qualquer mençâo a tentativas irreais de instalar o socialismo na Rússia. “Socialismo” simplesmente nâo era uma questâo no II Congresso.

O significado histórico do II Congresso, portanto, foi da afirmaçâo aberta da Constituiçâo nâo-escrita como a lei definitiva do território. O vlast embrionàrio criado em fevereiro – um vlast baseado solidamente nos operàrios e camponeses, e dedicado ao programa da revoluçâo – anunciou ao mundo sua firme intençâo de sobreviver e prosperar.
 

Que tipo de revoluçâo?

O olhar sobre o II Congresso e seu programa torna inevitàvel a questâo: que tipo de revoluçâo foi a Revoluçâo Russa de 1917? Em alguns aspectos, uma revoluçâo operàrio-camponesa na Rússia seria inevitavelmente “socialista”, ou seja, dirigida por socialistas comprometidos com um projeto de sociedade. Os partidos socialistas possuíam um monopólio absoluto da lealdade política do narod e ninguém além deles havia sido representante antes no sistema soviético. Os bolcheviques, portanto, localizavam seu projeto no contexto de uma revoluçâo socialista de alcance europeu que acreditavam estar em curso. Por outro lado, quando olhamos para o programa efetivo para a Rússia adotado pelo poder soviético em 1917, e também para a mensagem concreta enviada pelos bolcheviques diariamente para a base do soviete, é possível ver que as demandas “democràticas” evocavam as “socialistas” quase completamente.

O contraste binàrio entre “revoluçâo democràtico-burguesa” e “revoluçâo socialista” possui longa tradiçâo no marxismo, mas no início do século XX este mostrava claros sinais de esgotamento. Em 1906, Karl Kautsky escreveu um artigo seminal intitulado Driving Forces and Prospects of the Russian Revolution [Forças dirigentes e perspectivas para a Revoluçâo Russa ]. Este artigo foi apreciado por Lenin, Trotsky e Stalin, sendo que todos escreveram comentàrios a seu respeito. Mesmo depois da revoluçâo de 1917, o artigo de Kautsky ainda era endossado por Lenin, Trotsky e mesmo Karl Radek como uma exposiçâo clàssica da lógica subjacente à estratégia revolucionària bolchevique.

Neste, Kautsky argumentou que a Rússia nâo passava “nem por uma revoluçâo burguesa no sentido tradicional, nem por uma revoluçâo socialista, mas por um processo único que se realiza na fronteira entre a sociedade burguesa e a socialista”. Para Kautsky, esta e a futura revoluçâo na Rússia nâo seria burguesa, porque era dirigida por socialistas, mas também nâo seria socialista, porque camponeses, aliados do proletariado, nâo estavam prontos para o socialismo. Todos os socialdemocratas russos (incluindo Trotsky) concordavam que a maioria camponesa da Rússia era uma barreira para a transformaçâo socialista, fora da mudança em jogo na revoluçâo europeia.

Isso dado, parece mais provàvel entender a revoluçâo de 1917 como uma revoluçâo democràtica antiburguesa. A revoluçâo que criou e defendeu o poder do soviete era democràtica tanto em termos de seu conteúdo de classe como em seu programa. O Soviete de Petrogrado fora criado pelos operàrios e soldados da capital – ou seja, o poder soviético era um vlast operàrio-camponês desde o início e nunca perdeu este caràter. Pelas regras do discurso marxista aceito por todos em 1917, uma revoluçâo que incorporasse os interesses do campesinato seria considerada democràtica.

Como visto, a revoluçâo dos sovietes era também democràtica em seu programa em 1917. Existe a ideia, comum entre muitos marxistas hoje em dia, que proclamar “o caràter socialista da revoluçâo” era uma necessidade lógica para o projeto de poder soviético fazer sentido. Esta ideia se desfaz quando investigada – e foi forçosamente refutada em 1917 pelos próprios Lenin e Trotsky. Existe, talvez, a tendência entre alguns marxistas hoje de subestimar a “mera” revoluçâo democràtica como restrita a reformas insignificantes e a um “programa mínimo” miseràvel. Os bolcheviques agiam diferente. Eles viam a transformaçâo democràtica da Rússia – criaçâo de democracia radical, terra aos camponeses, liquidaçâo dos grandes proprietàrios de terra como classe e modernizaçâo de todas as esferas da vida – como uma missâo altamente ambiciosa e gratificante. Por este motivo, apenas os socialistas comprometidos foram capazes de leva-la adiante.

Isto nos leva a segunda parte da definiçâo: em contraste com as “revoluções democràtico-burguesas” clàssicas, a Revoluçâo Russa foi antiburguesa desde seu início. Primeiro, pelo motivo observado por Kautsky: era liderada por socialistas e nâo por liberais ou “burgueses” de qualquer estirpe. Segundo, ambas as alas da base do soviete – operàrios e camponeses – eram hostis ao burzhui e aos valores burgueses. Terceiro, a Revoluçâo Russa se deu no meio de uma acelerada decomposiçâo dos sistemas de mercado de trabalho.

Desde o início – ou seja, a partir de fevereiro – a base do soviete foi hostil ao burzhui tanto no seu significado restrito de proprietàrios industriais como no seu significado mais amplo de tsenzoviki (uma palavra abusiva para identificar as elites educadas que derivavam da propriedade os requisitos, ou “census”, que restringiam o número de votantes), de beloruchki (aqueles com as mâos brancas), e outros termos nâo amistosos para a elite educada. Mesmo nos primeiros dias, quando as esperanças eram altas a respeito de uma parceria, os burzhui eram vistos com suspeita e, de fato, com um automàtico sentimento de insinceridade. O compromisso em um sentido positivo com as instituições socialistas era muito menos poderoso que uma atitude negativa em relaçâo aos burgueses como indivíduos e também aos valores burgueses. A orientaçâo antiburguesa emergiu organicamente do poder do soviete, e nâo apenas os sonhos dos intelectuais socialistas.

Qualquer coisa como uma classe burguesa, instituições de mercado e valores de classe média foram destruídos pelo “tempo problemàtico” russo que se iniciou em 1914, e nâo havia qualquer vontade social ou política de reconstitui-los. Assim, socialismo na Uniâo Soviética adquiriu um conteúdo orientado para a construçâo de um grande país moderno sem uma burguesia, um mercado autônomo ou o pluralismo burguês. Tanto a dinámica social de curto prazo como o resultado econômico de longo prazo da revoluçâo eram determinados em primeiro lugar pelo sentido antiburguês da base soviética.
 

“Hegemonia” bolchevique: socialistas dirigindo camponeses

Para entender porque foram os Bolcheviques e nâo outro partido a conquistar a liderança do poder soviético, é preciso ampliar o olhar para a chamada estratégica de hegemonia definida por estes antes de 1917. “Hegemonia” é uma palavra com significados variados em diferentes contextos. Quando os bolcheviques a usaram para resumir sua visâo da dinámica de classes na Rússia, eles queriam significar antes de mais nada que o proletariado socialista poderia atuar como liderança (hegemon) para os camponeses. Em uma elaboraçâo mais completa: o proletariado socialista poderia levar a revoluçâo “a termo” ao criar um vlast revolucionàrio baseado no interesse comum dos operàrios e camponeses e ao rejeitar qualquer tendência reformadora liberal que pudesse retroceder a revoluçâo.

A estratégia de hegemonia no pré-guerra ofereceu aos bolcheviques uma vantagem inicial – um plano que levaria eventualmente à conquista do apoio majoritàrio no II Congresso. Os bolcheviques em Petrogrado nâo precisaram de Lenin para lidar com a situaçâo e para almejar a vitória da base soviética – formada por soldados operàrios e soldados camponeses –, projetar o poder soviético pleno e persuadir esta base a rejeitar qualquer compromisso com os reformadores das elites. Líderes bolcheviques como Stàlin e Kamenev estavam confiantes que o Governo Provisório seria incapaz de realizar o programa revolucionàrio e deveria rapidamente revelar sua essência contrarrevolucionària.

Em tudo isso, o papel do camponês esteve no coraçâo da questâo. A maior parte das discussões entre os bolcheviques em abril, depois do retorno de Lenin, foi devotada a garantir que todos estivem a par do papel crucial dos camponeses na revoluçâo. É por isso que alguns bolcheviques insistiram que “a revoluçâo democràtica-burguesa nâo està concluída” – uma outra forma de dizer “o camponês é ainda um aliado revolucionàrio”. Lenin respondeu destacando que qualquer “passo rumo ao socialismo” (a nacionalizaçâo dos bancos, por exemplo) só seria dado com o entendimento e apoio dos camponeses.

Esta aposta fundamental na liderança socialista do campesinato explica nâo apenas a vitória bolchevique em 1917, mas a vitória bolchevique da guerra civil. Em 1920 (antes da Nova Política Econômica), Evgenii Preobrazhensky descreveu o “camponês médio” como “figura central da revoluçâo”:

“Durante toda a guerra civil, o campesinato médio nâo acompanhou o proletariado a passos firmes. Ele oscilou mais de uma vez, especialmente quando enfrentou as novas condições e fardos; mais de uma vez ele se moveu em direçâo às classes inimigas. [Mas] o Estado operàrio/camponês, construído sobre a o estabelecimento de uma aliança do proletariado com 80% do campesinato, apenas por este fato nâo possui competidor possível ao vlast no interior das fronteiras russas.”

O Exército Vermelho era a corporificaçâo da hegemonia: soldados camponeses, liderança política dos socialistas revolucionàrios, oficiais oferecendo expertise, mas desprovidos de influência política, todos lutando juntos para defender a existência do vlast operàrio-camponês. Tanto que isto foi reconhecido até mesmo pelo menchevique Fyodor Dan. Escrevendo em 1922, Dan observou que a derrota do Exército Vermelho de base camponesa na Polônia, em 1920, nâo havia sido apenas uma derrota militar:

“Para defender o território ele se colocou contra um possível retorno do dono de terras, o homem do Exército Vermelho camponês luta com grande heroísmo e o maior entusiasmo. Ele avança de mâos vazias contra canhões, tanques, e seu ardor revolucionàrio invade e desorganiza mesmo as tropas mais esplêndidas e disciplinadas, como visto com os alemâes, ingleses e franceses em igual medida (…)

Mas a ideia do comunismo bolchevique é tâo externa e mesmo hostil à mentalidade do Exército Vermelho camponês, que nâo é capaz de internaliza-la, nem mesmo afetar outros com ela. Ele nâo pode ser atraído pela ideia da guerra para converter a sociedade capitalista em uma sociedade comunista, e este é o limite do potencial do Exército Vermelho para os bolcheviques.”

Dan possuía uma estranha compreensâo da “ideia bolchevique de comunismo”. Apesar disso, sua observaçâo revela dois pontos centrais sobre a Revoluçâo Russa. Primeiro, esta era forte quando compatível com os interesses camponeses, e fraca quando se desviava para além destes limites. Segundo (um ponto obscurecido por Dan), os camponeses dificilmente poderiam ter constituído uma força efetiva de luta, a menos que fossem liderados politicamente por um partido político baseado no setor urbano do narod.

Os bolcheviques estavam completamente comprometidos com uma aliança operàrio-camponês e ipso facto a uma revoluçâo essencialmente “democràtica”. Apenas em seus últimos artigos Lenin avançou explicitamente a ideia de que o proletariado poderia liderar a maioria camponesa para o socialismo. Em alguma medida, esta elaboraçâo era uma ruptura com a versâo original da hegemonia, mas mais profundamente, era uma extensâo da ideia seminal dos socialistas liderando os camponeses.
 

Lenin como líder bolchevique

Em outubro, a liderança do poder soviético foi confiada ao Partido Bolchevique. Olhar para os acontecimentos deste ponto de vista permite um novo olhar sobre a liderança de Lenin no interior do partido, um olhar que permite perceber aspectos inesperados. É preciso começar com o fato de que Lenin foi responsàvel principalmente pela elaboraçâo e defesa da estratégia de hegemonia antes e depois da revoluçâo de 1905. Em outubro de 1915, ele afiou sua perspectiva sugerindo que um vlast operàrio-camponês poderia tomar o poder durante o segundo estàgio da revoluçâo, substituindo os anticzaristas defensores de um regime defensista. Ele ofereceu ao partido, portanto, uma orientaçâo estratégica bàsica.

Quando Lenin retornou à Rússia em abril de 1917, depois de uma década de exílio, havia um grande potencial para discordáncia e desmoralizaçâo. O que é impressionante sobre Lenin em abril – quando olhamos detalhadamente para as disputas entre os bolcheviques – é sua habilidade em ouvir seus companheiros de partido, de separar o que é primordial do que é secundàrio, e ajudar a esclarecer mal entendidos, tanto de sua parte como da parte dos bolcheviques de Petrogrado. Vejamos um pequeno, mas revelador exemplo do aprendizado de Lenin a partir dos locais. Em sua Letter from Afar [ Carta de longe], enviada da Suíça antes do retorno, Lenin continuamente se referiu ao “Soviete dos Deputados Operàrios”. Quando seu artigo foi publicado no Pravda , os editores silenciosamente mudaram as ocorrências deste termo com o título correto de “Soviete de Deputados Operàrios e Soldados”. No texto original das Teses de Abril, enviado imediatamente antes de seu retorno, Lenin ainda usava o termo incorreto. Alertado por seus companheiros para este problema, ele imediatamente mudou para o termo que se tornou um importante símbolo da aliança fundacional de operàrios e camponeses.

Lenin também merece crédito pela adoçâo do famoso slogan de três palavras “Todo poder aos sovietes!”, mas de uma maneira inesperada. O slogan nâo aparece nas Teses de Abril ou nas resoluções da conferência do partido que se encerrou em 29 de abril. O primeiro registro de seu uso parece ser o que as ruas usaram nas manifestações de 21 de abril contra o governo. Lenin percebeu seu aparecimento e citou este fato em um artigo publicado no Pravda em 2 de maio. O primeiro uso do slogan, nâo apenas como uma faixa anônima ou um artigo assinado por um indivíduo, mas como documento com autoridade partidària, ocorreu no Pravda em 7 de maio. Assim, Lenin foi suficientemente perspicaz para observar o slogan e notar suas possibilidades. De fato, foi Lenin quem levantou este slogan do anonimato e fez dele algo central para a agitaçâo bolchevique.

Depois das jornadas de julho, Lenin pensava que a Constituiçâo nâo-escrita havia sido abortada e que o sistema soviético nâo era mais capaz de exercer poder. Neste sentido, pensou em corrigir o slogan “Todo poder aos sovietes!”. Como mais tarde admitiria, este foi um desvio esquerdista. Por sorte, outros líderes partidàrios conseguiram manter o slogan intacto e este serviu aos bolcheviques muito bem no outono, quando o sistema de sovietes adquiriu novo vigor. Como este episódio evidencia, Lenin era um líder efetivo porque era membro de uma equipe que corrigia as incompreensões individuais.

Ao olhar para o drama de Lenin confrontando seus camaradas bolcheviques em outubro para levar adiante um levante, é preciso atentar para um argumento central: a base soviética nacional, camponesa e operària, havia rejeitado qualquer forma de compromissismo e por isso havia de facto declarado poder pleno ao soviete. O levante armado foi sem dúvida uma boa ideia, mas este nâo criou o poder soviético – na verdade, ele protegeu o II Congresso e sua capacidade de transformar a Constituiçâo nâo-escrita em uma Constituiçâo escrita.

Lenin foi um forte líder de um partido unido. Mas o partido nâo era unido porque ele era um líder forte – ao contràrio, ele era um líder forte porque o partido estava unido ao redor da estratégia bàsica da liderança socialista para estabelecer um vlast operàrio-camponês.
 

Esclarecendo 1917

Ao olhar para o curso dos acontecimentos de fevereiro à outubro, somos confrontados com a improbabilidade e, ao mesmo tempo, inevitabilidade do poder soviético. Outubro só foi possível devido a confluência de três circunstancias inusitadas: o colapso iminente do vlast anterior, a criaçâo de uma instituiçâo baseada nos operàrios e nos soldados camponeses que venceu a lealdade efetiva do exército e na existência de um partido clandestino com uma estrutura nacional e um programa ready-to-go que respondeu às primeiras duas circunstáncias.

Todas estas características ficaram evidentes no momento em que o governo czarista desmoronou. Depois disso, outubro parecia inevitàvel. O compromissismo nâo era uma alternativa, dado o profundo cisma entre as aspirações do povo russo e aquelas das elites sociais. Quando isso se tornou aparente, os bolcheviques e seu programa de poder soviético pleno se tornaram a única alternativa restante para a base soviética. Mesmo a contrarrevoluçâo deixara de ser uma alternativa real, jà que esta nâo estava pronta para tomar o poder e reprimir os sovietes.

O ano de 1917 foi de clarificaçâo sobre o que estava em jogo na luta. O vlast operàrio-camponês criado em 1917 sobreviveu à guerra civil que sucedeu, mas pagou um alto preço.

Uma das baixas foi a aboliçâo da liberdade política, mesmo esta sendo um objetivo central dos bolcheviques antes da guerra. Apesar disso, a jovem Rússia soviética poderia precisamente ser descrita como “vlast operàrio-camponês” em muitos aspectos. O estrato social dos proprietàrios de terra foi liquidado como classe, as antigas elites educadas varridas do poder, as novas instituições de governo progressivamente ocupadas por operàrios e camponeses, muitas das políticas do novo governo voltadas para fortalecer o apoio destas classes (a campanha de alfabetizaçâo em massa, por exemplo), e os operàrios e camponeses passaram a ser celebrados continuamente nas canções e lendas. Mesmo a intoleráncia política massiva era, em certa medida, uma característica “democràtica”, pois refletia valores populares difundidos.

O poder soviético foi criado em fevereiro de 1917 e preservado em outubro pela aceitaçâo da liderança bolchevique, estabelecida como força poderosa no mundo, para o bem e para o mal.



Última atualização em 2 de Junho 2017