O Imperialismo e a Revolução
Enver Hoxha

A Estratégia do Social-Imperialismo Soviético


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Assim que usurparam o poder na União Soviética, os kruschovistas colocaram-se como objetivo principal a destruição da ditadura do proletariado, a restauração do capitalismo e a transformação do país numa superpotência imperialista.

Depois de consolidarem posições, após a morte de Stálin, Kruschov e seu grupo investiram em primeiro lugar contra a ideologia marxista-leninista e empreenderam a luta para destronar o leninismo, atacando Stálin e fazendo recair sobre ele todas as calúnias fabricadas há tempos pela propaganda imunda da burguesia capitalista mundial. Dessa forma, os kruschovistas converteram-se em porta-vozes e executores dos desejos do capital, contra a ideologia marxista leninista e a revolução na União Soviética. Empreenderam a liquidação sistemática de toda a estrutura socialista da União Soviética, lutaram pela liberalização do sistema soviético, pela conversão do Estado de ditadura do proletariado num Estado burguês, pela transformação capitalista da economia e da cultura socialistas.

Transformada num país revisionista, num Estado social-imperialista, a União Soviética construiu uma estratégia e uma tática próprias. Os kruschovistas elaboraram uma política que lhes permitisse escamotear com fraseologia leninista toda a sua atividade. Edificaram sua ideologia revisionista de forma a fazê-la passar perante o proletariado e os povos por um "marxismo-leninismo do novo período", de forma a dizer aos comunistas, dentro e fora do país, que "a revolução continua na União Soviética, nas novas condições políticas, ideológicas e econômicas da evolução mundial" e que, além da revolução prosseguir, o país havia passado á fase da construção de uma sociedade comunista sem classes, onde o Partido e o Estado se extinguiriam.

O Partido foi privado de suas atribuições enquanto vanguarda da classe operária, única força política dirigente do Estado e da sociedade, transformou-se num partido dominado pelos aparatchikes e agentes da KGB. Os revisionistas soviéticos denominaram seu partido de "partido de todo o povo" e o reduziram a um tal estado que ele deixou de pertencer à classe operária, passou a ser da nova burguesia soviética.

Por outro lado, os revisionistas soviéticos pregaram a coexistência pacífica kruschovista como linha geral do movimento comunista internacional e proclamaram a "competição pacífica com o imperialismo norte-americano" como o caminho para a vitória do socialismo na União Soviética e nos demais países. Declararam também que a revolução proletária ingressara numa nova fase, podia triunfar também por outras vias que não a da tomada violenta do poder por parte do proletariado. Segundo eles, poder-se-ía tomar o poder pelo caminho pacífico, parlamentar e democrático, através de reformas.

Especulando com o nome de Lênin e do Partido Bolchevique, os revisionistas kruschovianos esforçaram-se ao máximo para impor a todos os partidos comunistas do mundo essa sua linha antimarxista, essa revisão da teoria marxista-leninista em todos os campos. Desejavam que os partidos comunistas e operários do mundo se enquadrassem nessa linha revisionista e se transformassem em partidos contra-revolucionários, em cegos instrumentos da ditadura burguesa, a serviço do capitalismo.

Mas isso não foi plenamente alcançado, conforme seus desejos, em primeiro lugar porque o Partido do Trabalho da Albânia permaneceu inabalável na aplicação conseqüente do marxismo-leninismo e na salvaguarda de sua pureza. Naquele momento houve também partidos que, por motivos não propriamente marxista-leninistas, oscilaram, não aceitaram plenamente as orientações kruschovistas; alguns as aceitaram a meias, mas em seguida se submeteram. O Partido Comunista da China também contestou os kruschovistas naquele momento, mas, como mostram os fatos, tinha objetivos totalmente opostos aos que impulsionavam o Partido do Trabalho da Albânia no combate ao revisionismo kruschovista.

Com sua chegada ao poder, os kruschovistas prepararam também a plataforma de sua política externa. Assim como o imperialismo norte-americano, o social- imperialismo soviético baseou sua política externa na expansão e no hegemonismo, através da corrida armamentista, das pressões e chantagens, da agressão militar, econômica e ideológica. O objetivo dessa política era instaurar o domínio social-imperialista em todo o mundo.

A União Soviética aplica uma política tipicamente neocolonialista nos países do Comecon. A economia desses países transformou-se em apêndice da economia soviética. Para mantê-los subjugados, a União Soviética se serve do Tratado de Varsóvia, que lhe permite acantonar ali grandes contingentes militares, que em nada se distinguem dos exércitos de ocupação. O Tratado de Varsóvia é um pacto militar agressivo a serviço da política de pressões, chantagens e das intervenções armadas do social-imperialismo soviético. As "teorias" revisionistas e imperialistas da "comunidade socialista", da "divisão socialista do trabalho", da "soberania limitada", da "integração econômica socialista" e outras servem igualmente a essa política neocolonialista.

Mas o social-imperialismo soviético não se contenta com o domínio de seus Estados satélites. Tal como os demais Estados imperialistas, a União Soviética combate agora por novos mercados, por esferas de influência, para investir seus capitais em diferentes países, açambarcar as fontes de matérias primas, estender seu neocolonialismo na África, na Ásia, na América Latina e em outras áreas.

O social-imperialismo soviético possui todo um plano estratégico para expandir-se e ampliar seu hegemonismo, que inclui uma série de ações econômicas, políticas, ideológicas e militares.

Ao mesmo tempo, os revisionistas soviéticos atuam no sentido de minar as revoluções e as lutas de libertação dos povos com os mesmos meios e métodos dos imperialistas norte-americanos. Usualmente os social-imperialistas atuam por meio dos partidos revisionistas, seus instrumentos, mas de acordo com as ocasiões e circunstâncias procuram também corromper e comprar as camarilhas dominantes em países não desenvolvidos, oferecem "ajuda" econômica escravizante para depois introduzir-se nesses países, instigam conflitos armados entre distintas camarilhas, tomando o partido de uma ou de outra, organizam complôs e putschs para levar regimes pró-soviéticos ao poder, empregam a intervenção militar direta, tal como fizeram juntamente com os cubanos em Angola, na Etiópia e em outros lugares.

Os social-imperialistas soviéticos realizam suas intervenções e atos de hegemonia e neocolonialismo sob o disfarce da ajuda e do apoio às forças revolucionárias, à revolução, à construção do socialismo. Na verdade, ajudam a contra-revolução.

A União Soviética revisionista procura abrir caminho à realização de seus planos expansionistas, neocolonialistas, apresentando-se como seguidora de uma política leninista e internacionalista, como aliada, amiga e defensora dos jovens Estados nacionais, dos países não desenvolvidos, etc. Os revisionistas soviéticos pretendem que tais países, ao vincular-se à União Soviética e à chamada comunidade socialista, considerada como "a principal força motriz da atual evolução mundial", podem avançar com êxito no caminho da liberdade, da independência e até do socialismo. Inventaram para isso inclusive teorias sobre a "via não capitalista de desenvolvimento", de "orientação socialista", etc.

A estratégia dos social-imperialistas soviéticos nada tem em comum com o socialismo e o leninismo, ao contrário do que eles pretendem. É a estratégia de um Estado imperialista rapace, que busca alastrar sua hegemonia e seu domínio por todos os continentes e países.

Essa política hegemonista e neocolonialista da União Soviética revisionista choca-se, e não poderia ser de outra forma, com a política que os Estados Unidos seguem e que a China também começou a seguir. Trata-se de uma confrontação de interesses dos imperialistas em sua luta pela redivisão do mundo. São precisamente esses interesses e essa luta que lançam as superpotências uma contra a outra, que levam cada uma delas a empregar todas as forças e meios ao seu dispor para debilitar seu rival ou rivais, até que esses confrontos cheguem a um nível de acirramento que os transforme em choques armados.


Inclusão 03/11/2005