Dicionário político

Ferdinand Lassalle

Retrato Ferdinand Lassalle

(1825-1864): Orador dos mais brilhantes, agitador apaixonado, lutador intrépido, inteiramente devotado ao comunismo. Dotado de agudo espírito analítico, mas de tendência idealista. Faltou-lhe a bússola segura do marxismo e, em consequência, seguiu caminho falso e acabou por cair num socialismo nacional e num reformismo social. Em 1848, tomou parte no movimento revolucionário do Reno colaborou na Nova Gazeta do Reno, marxista. Partindo da teoria falsa da “lei de bronze”, não deu importância à luta econômica e à organização sindical do proletariado e dedicou sua atividade, sobretudo, para a conquista do sufrágio universal, que devia dar aos operários influência sobre o governo. Mediante essa influência, deviam os operários conseguir créditos públicos para associações produtivas livres, por meio das quais se devia realizar a transição paulatina para a ordem social socialista. Com esse fim, Lassalle, apesar do protesto enérgico de Marx e Engels, tratou com Bismarck. A 20 de maio de 1863 fundou a Associação Geral dos Operários Alemães, e, a esse respeito, disse Marx (1868): “Após quinze anos de sono, Lassalle despertou de novo os operários alemães; isso será um mérito eterno". Após curta e ardente atividade socialista, em 1848-1849, com Marx, Engels, J. Ph. Becker, Freiligrath, Schapper, Wolf, Liebknecht, Lassalle voltou-se inteiramente para o estrondoso processo de Mme. de Hatzelfd, que ele ganhou. Retornou porém, aos deuses de sua juventude, com estrondo, em 1861, com a publicação de sua importante obra; System der erwobenen Rechte (Sistema dos direitos adquiridos), seguido de duas brochuras; Ueber verfassungswesen (Essência de uma constituição) e Macht und Recht (Força e direito): Enfim, em 1862, achou oportuno intervir e entrou na linha pelo Programa dos trabalhadores. "Desde então, diz Emile de Laveleye, entregou-se, com uma atividade devorante, à propaganda das ideias socialistas. Durante os três últimos anos que durou seu apostolado ativo, consagrou seus dias e suas noites a organizar meetings, a pronunciar discursos, a escrever brochuras. Num tempo tão curto conseguiu fazer do socialismo, vagamente espalhado pelas massas, um partido politico militante, tendo seu lugar marcado na arena eleitoral. Fez, na Alemanha, sozinho, aquilo que a Revolução de fevereiro havia feito na França” (Emile de Laveleye, O socialismo contemporâneo): Convém acrescentar que Lassalle, inspirando-se sempre nos dados fundamentais de Marx, que não soube compreender convenientemente, tentou “rever” a doutrina toda de Marx. Em todo o Programa dos trabalhadores, por exemplo, corre uma seiva de humanismo entusiasta e de otimismo valoroso. Essas reminiscencias idealistas exerceram alguma influência sobre os resultados da memorável campanha a que pôs fim, em maio de 1864, um duelo mortal trazido por motivos fúteis, se não lamentáveis. Lassalle foi, durante sua vida partidário de uma filosofia de tendência idealista, continuou velho-hegeliano e nunca pôde, como Marx, desenvolver-se até o materialismo dialético. Combateu o Partido Operário Social-Democrático fundado por Bebel e Liebknecht, com o qual a Associação Geral dos Operários Alemães se juntou, finalmente, em 1875, formando um só Partido Operário Socialista da Alemanha, o qual, posteriormente, teve o nome de Partido Social-Democrático da Alemanha. Marx e Engels criticaram as ideias de Lassalle na sua obra Crítica do Programa de Ghota. Denominavam-se lassallianos os seus partidários, que se reuniram na Associação Geral dos Operários Alemães, fundada por Lassalle. A correspondência entre Lassalle e Bismarck, encontrada em 1927, confirmou a suspeita de Marx e Engels sobre as relações entre Lassalle e a reação prussiana. Seus trabalhos filosóficos foram reunidos em suas Obras Completas, editadas por Eduard Bernstein, Berlim, 1919-1920, vols. VI a VIII.