Anti-Dimitrov

Francisco Martins Rodrigues


Prefácio à 2.ª edição


Quando, em 1985, este trabalho foi pela primeira vez editado, ele procurava encontrar respostas para o fracasso sucessivo das revoluções russa e chinesa e a correspondente deriva oportunista que descaracterizou o movimento comunista ao ponto de transformar partidos que visavam a subversão do capitalismo em partidos do sistema de dominação burguês.

Surgido em contracorrente — o “comunismo” chinês já começara a promover o capitalismo abertamente; a corrente marxista-leninista, falida e em profunda crise de identidade, refugiava-se num dogmatismo serôdio e acéfalo; o “campo socialista” entrava em desagregação; por todo o lado se anunciava o fim do comunismo e da história e o triunfo da ordem capitalista e tornou-se moda os revolucionários em crise descobrirem encantados as “vantagens” da democracia burguesa, da liberdade de mercado e a abjurar as “utopias totalitárias” — este trabalho foi recebido com curiosidade. Conquistou uns e desiludiu outros, que esperavam a conversão do autor ao coro anticomunista e anti-estalinista. Mas, para a maioria dos que o leram, permanece incómodo, pelo que reclama de reflexão.

Esta segunda edição de Anti-Dimitrov - 1935-1985, meio século de derrotas da revolução vem acrescida de um texto posterior. Como Francisco Martins Rodrigues nunca considerou Anti-Dimitrov um trabalho definitivo, mas um ponto de partida necessariamente modesto e limitado para o debate sobre a regeneração do comunismo, foram evoluindo as suas opiniões sobre a marcha dos regimes, partidos e movimentos comunistas e o papel das personagens. A “questão Staline” foi uma daquelas sobre as quais o seu pensamento se aprofundou após a escrita do livro, e disso deu conta, entre outros, em texto publicado na revista Política Operária n.º 7. Com a publicação de Notas sobre Staline, pretendemos registar essa evolução.

Setembro de 2008