Stálin e as Crises do Sistema Capitalista da Economia Mundial

A. Schneerson


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 31- Nov-Dez de 1950.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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O problema das duas crises do sistema capitalista da economia mundial, que constitui uma parte importante da doutrina leninista-stalinista do imperialismo e da crise geral do capitalismo, foi apresentado pela primeira vez em forma desenvolvida no discurso do camarada Stálin à assembléia pré-eleitoral dos eleitores da circunscrição Stálin, de Moscou a 9 de fevereiro de 1946. O camarada Stálin indicou que:

«... como resultado da primeira crise do sistema capitalista de economia mundial, surgiu a primeira guerra mundial, e como resultado da segunda crise, surgiu a segunda guerra mundial».(1)

Lênin e Stálin frisaram em muitas ocasiões que o capitalismo só pode se desenvolver através de crises no domínio econômico e de guerras no domínio político. O camarada Stálin dizia que:

«... o desenvolvimento do capitalismo mundial em nossa época se produz, não sob o aspecto de uma progressão uniforme e sem choques, mas por meio de crises e de catástrofes guerreiras».(2)

Nos «Cadernos sobre o imperialismo» de Lênin encontra-se uma nota muito interessante, em que Lênin relaciona às crises internacionais, conflitos armados como a guerra russo-turca de 1877-78, a guerra russo-japonesa, etc... Contudo, naquele período, não havia ainda guerra mundial e não se podia ainda falar de crises do sistema capitalista da economia mundial, pois foi somente o imperialismo que criou o sistema universal de dominação financeira e de opressão colonial, e que acentuou ao máximo as contradições entre os países capitalistas.

As crises do sistema capitalista da economia mundial só puderam surgir na fase monopolista do desenvolvimento do capitalismo. Os conflitos armados em escala mundial, as guerras pela nova partilha de um mundo já repartido, que são precisamente a consequência dessas crises, só puderam surgir quando o sistema capitalista da economia mundial se tornou um sistema universal de dominação financeira e de opressão colonial por um punhado de governos imperialistas, da imensa maioria da população da terra, e quando as contradições entre os Estados imperialistas na luta pelo domínio do mundo chegaram a seu ponto culminante.

Indicando as causas da segunda guerra mundial, o camarada Stálin dizia que:

«ela surgiu como resultado inevitável do desenvolvimento das forças econômicas e políticas mundiais na base do capitalismo monopolista contemporâneo».(3)

As crises do sistema capitalista da economia mundial são provocadas pela ação da lei do desenvolvimento econômico e político desigual do capitalismo na época do imperialismo. Essa lei, descoberta por Lênin, foi analizada em detalhe e desenvolvida cientificamente por Stálin:

«... O fato é que a desigualdade de desenvolvimento dos países capitalistas conduz habitualmente, com o tempo, a uma brusca ruptura do equilíbrio no interior do sistema mundial do capitalismo e, nessa ocasião, o grupo de países capitalistas que se considera menos provido em matérias primas e em mercados tenta habitualmente modificar a situação e proceder, pelo emprego da força armada, a uma nova partilha das «esferas de influência» em seu proveito. O mundo capitalista se divide então em dois campos inimigos entre os quais estoura a guerra».(4)

O restabelecimento do equilíbrio rompido no interior do sistema capitalista da economia mundial não pode ser obtido por via pacífica. A guerra mundial é afinal de contas o único meio de resolver temporariamente as contradições imperialistas. Assim pois, as relações entre as crises do sistema capitalista da economia mundial e as guerras mundiais são relações de causa e efeito.

O camarada Stálin, numa série de intervenções, esclareceu de modo exaustivo o conteúdo das crises do sistema capitalista da economia mundial, que acarretam as guerras mundiais. Em março de 1939, no seu informe ao XVIII congresso do Partido Comunista (Bolchevique), Stálin dizia:

«O mapa da Europa, da África, da Ásia é refeito por meios violentos. Todo o sistema do regime do após-guerra, chamado de regime de paz, é abalado até os alicerces».(5)

Quando o sistema do regime de paz é abalado em seus alicerces, os países capitalistas ficam reduzidos a resolver os problemas em litígio por meio de guerras. A questão na ordem do dia é a de uma nova partilha do mundo pela força armada. Desenvolvendo essa idéia, o camarada Stálin indicava ainda:

«A guerra criou uma nova situação nas relações entre os países. Ela faz reinar nos mesmos uma atmosfera de inquietação e incerteza. Depois de ter abalado os fundamentos do regime de paz do após-guerra e transtornando as noções elementares do direito internacional, a guerra pôs em cheque o valor dos tratados e dos compromissos internacionais. O pacifismo e os projetos de desarmamento foram enterrados, cederam lugar à febre armamentista».(6)

Ao mesmo tempo, o camarada Stálin mostrava que as crises do sistema capitalista da economia mundial, resolvendo as contradições internacionais pela força e pelas armas, acarretava modificações tanto na política externa como na política interna do capitalismo monopolista. No seu informe ao XVII Congresso do Partido, o camarada Stálin fez uma análise brilhante da política imperialista no momento em que amadurecia a segunda crise do sistema capitalista da economia mundial, política que atesta a incapacidade da burguesia imperialista de encontrar outra saída para as contradições imperialistas que não seja por meio da violência aberta.

«O chovinismo e a preparação da guerra, dizia o camarada Stálin, como elementos principais da política externa, a repressão exercida sobre a classe operária e o terror em política interna, como meio indispensável para reforçar a retaguarda das futuras frentes de guerra, eis o que hoje preocupa sobretudo os políticos imperialistas».(7)

O fascismo é menos o indício da força do que da fraqueza da burguesia. A passagem da burguesia imperialista ao fascismo mostra que ela não tem mais a capacidade de exercer seu poder pelos antigos métodos do parlamentarismo e da democracia burguesa; por isso ela é obrigada a recorrer na política interna aos métodos terroristas de governo, ao estabelecimento da ditadura aberta dos elementos mais chovinistas e mais imperialistas do capitalismo. Em política externa, como a burguesia não é mais capaz de encontrar uma saída na base de uma política externa pacífica, é obrigada a recorrer a uma política de guerra. Isso também não é um sinal da força, mas da fraqueza da burguesia, reflexo da crise geral do capitalismo.

Ao mesmo tempo, as guerras abalam ainda mais o sistema capitalista da economia mundial:

«É evidente que não há razão para supor, dizia o camarada Stálin em janeiro de 1934, que a guerra possa conduzir a uma verdadeira saída. Ao contrário, a guerra complicará ainda mais a situação. Mais ainda, ela desencadeará seguramente a revolução e porá em perigo a própria existência do capitalismo numa série de países como ocorreu durante a primeira guerra imperialista. E se, apesar da experiência da primeira guerra imperialista, os políticos burgueses se aferram à guerra, como o naufrago a uma tábua, significa que perderam a cabeça definitimavente que se encurralaram num impasse e que estão dispostos a se precipitar no abismo».(8)

A realidade confirmou brilhantemente esta previsão científica do camarada Stálin. Em consequência da segunda guerra mundial produziu-se o fortalecimento do poderio econômico, político e militar do primeiro Estado socialista do mundo, a URSS, que obteve uma vitória de importância histórica mundial sobre o bloco dos países imperialistas fascistas. Em consequência da vitória da URSS na guerra, uma série de países do centro e do sudeste da Europa separaram-se do sistema capitalista por meios revolucionários; estabeleceram, com a ajuda fraternal da União Soviética, um regime de democracia popular que realiza as funções da ditadura da classe operária e entraram solidamente no caminho da edificação do socialismo; foi por uma grande vitória que terminou a revolução democrática na China, onde foi criado um estado de democracia popular; foi fundada uma república alemã democrática; a luta de libertação nacional dos povos coloniais, semi-coloniais e dependentes atingiu uma amplitude inigualada. Atualmente, já cerca de 800 milhões de homens, na Europa e na Ásia, estão livres do jugo imperialista. Os imperialistas perderam além disso sua força de choque, os agressores fascistas, a Alemanha, a Itália e o Japão, que foram aniquilados pelas forças armadas da URSS; a Inglaterra, a França e muitos outros países capitalistas se enfraqueceram; agravaram-se as contradições do capitalismo americano. Assim, enquanto as forças do campo da paz, da democracia e do socialismo cresceram e se consolidaram infinitamente, o sistema capitalista enfraqueceu-se de modo sensível.

A Crise Geral do Capitalismo Agravada Pela Existência e o Progresso do Socialismo

As crises do sistema capitalista da economia mundial não são as únicas crises que o capitalismo conhece. Desde 1825, o capitalismo padece de crises econômicas periódicas. Durante a primeira guerra mundial, o capitalismo atingiu a época da crise geral do capitalismo. Uma questão se coloca: a das relações entre as crises do sistema capitalista da economia mundial, de um lado, e a crise geral do capitalismo e as crises econômicas cíclicas, do outro.

As crises do sistema capitalista da economia mundial são uma das formas de manifestação da crise geral do capitalismo. A crise geral, aliás, desempenha em relação a elas um papel determinante: a primeira crise do sistema capitalista da economia mundial e a primeira guerra mundial que ela engendrou foram expressão da crise geral crescente do capitalismo, e a segunda crise do sistema capitalista da economia mundial e a segunda guerra mundial que ela engedrou são expressões da brusca agravação da crise geral do capitalismo.

A crise geral do capitalismo é um período de falência do sistema capitalista, um período de guerras e de revoluções, um período de agravação máxima de todas as contradições do capitalismo. A característica principal da crise geral do capitalismo é a divisão do mundo após a Grande Revolução Socialista de Outubro em dois sistemas, o sistema capitalista e o sistema socialista, e a luta entre eles. A crise geral do capitalismo caracteriza-se cada vez mais pela crise do sistema colonial do imperialismo, pelo auge sem precendentes da luta de libertação nacional dos povos submetidos, bem como pela impossibilidade crônica da plena utilização do aparelho de produção, o constante desemprego em massa, a agravação do problema dos mercados, o reforçamento da agudeza e o aumento da duração das crises crônicas periódicas, a deformação do ciclo da economia capitalista e pelos outros sinais da acentuação de sua putrefação.

A crise geral do capitalismo começou durante a primeira guerra mundial imperialista. A primeira guerra mundial era ao mesmo tempo a manifestação do começo da crise geral do capitalismo.

«A guerra, que era um efeito da crise geral do capitalismo, agravou essa crise e enfraqueceu o capitalismo mundial».(9)

As crises do sistema capitalista da economia mundial têm uma relação estreita com a divisão do mundo em dois sistemas, com a luta desses dois sistemas, com o crescimento e a consolidação do socialismo, com o enfraquecimento e a queda do capitalismo, que é o essencial do conteúdo da crise geral do capitalismo. Se a primeira crise do sistema capitalista da economia mundial acarretou a divisão do mundo em dois sistemas, a formação do sistema socialista soviético de economia, a segunda, que provocou a segunda guerra mundial, teve por resultado aprofundar a crise geral do capitalismo, modificar radicalmente a correlação de força entre os dois sistemas, a favor do socialismo e em detrimento do capitalismo.

A primeira crise do sistema capitalista da economia mundial começou quando o capitalismo era ainda o sistema único e geral da economia nacional. A segunda crise do sistema capitalista da economia mundial estalou em condições diferentes, quando o capitalismo deixara de ser o sistema único e geral da economia mundial, quando ao lado do capitalismo existia um novo sistema, o sistema socialista, que cresce e prospera, demonstrando todos os dias sua superioridade e suas vantagens sobre o sistema moribundo do capitalismo.

As crises do sistema capitalista da economia mundial se manifestam na esfera das relações internacionais dos Estados imperialistas. O resultado direto dessas crises, são as guerras mundiais imperialitas que acarretam uma nova recomposição, pela força, do mapa do mundo. Manifestações da crise geral do capitalismo, essas crises, por sua vez, enfraquecem sensivelmente o sistema capitalista. Desde a divisão do mundo em dois sistemas, as crises do sistema capitalista da economia mundial não podem mais se produzir independentemente da luta entre os dois sistemas, porque a luta entre os dois sistemas é a contradição central do mundo de hoje. O camarada Stálin ensina que cada vez que as contradições capitalistas começam a se agravar, a burguesia volta seus olhos para a URSS. Não seria possível resolver essas contradições em detrimento da União Soviética?

Já em 1927, o camarada Stálin previra a formação de uma nova crise, a segunda crise do sistema capitalista da economia mundial. Em seu artigo «Comentários sobre Temas Atuais», que foi publicado na «Pravda» há mais de 22 anos, o camarada Stálin, depois de indicar que a nova partilha do mundo e das esferas de influência realizada após a primeira guerra imperialista já tinha terminado de «envelhecer», revelou com força o crescimento das contradições imperialistas, da luta de classes, das manifestações revolucionárias do proletariado nos países capitalistas bem como dos avanços revolucionários nos países coloniais. O camarada Stálin escrevia:

«Mas o aumento de todas essas contradições significa o aumento da crise do capitalismo mundial, apesar de uma estabilização certa — crise incomparavelmente mais profunda que a crise anterior à última guerra imperialista».(10)

A existência da União Soviética, o crescimento da força do poderio socialista, aprofundam e agravam as crises do sistema capitalista da economia mundial. Isso se produz não somente porque a esfera de dominação do capitalismo diminuiu consideravelmente e continua a diminuir, em consequência do afastamento do sistema capitalista de países sempre novos nas diversas regiões do mundo, mas também porque a própria existência da União Soviética, que está à frente do poderoso campo da paz, da democracia e do socialismo, e que une em torno de sí as forças democráticas do mundo inteiro, impede os imperialistas de desencadear uma nova guerra por uma nova divisão do mundo.

«Daí a tendência «natural» de certos grupos imperialistas, de afastar para o segundo plano as contradições em seu próprio campo, encobri-las temporariamente, criar a frente única dos imperialistas e partir em guerra contra a URSS, com o fim de resolver, pelo menos parcialmente, pelo menos temporariamente, à custa da URSS, a crise do capitalismo que se aprofunda».(11)

A crise geral do capitalismo se caracteriza pelo agravamento colossal de todas as contradições próprias ao imperialismo, pelo aumento do desenvolvimento desigual do capitalismo. Por conseguinte, o desenvolvimento da crise geral do capitalismo, o reforço do desenvolvimento desigual dos países capitalistas, e o aprofundamento das contradições imperialistas numa certa fase complicam extremamente a solução pacífica dos conflitos imperialistas e acarretam crises do sistema capitalista da economia mundial, que têm um caráter cada vez mais devastador.

Qual é a ação recíproca das crises do sistema capitalista da economia mundial e das crises econômicas periódicas?

As crises econômicas periódicas de superprodução que se produzem nos países capitalistas a partir dos últimos 125 anos a razão, em média, de uma cada 10 anos (e, aliás, nas condições do imperialismo e da crise geral do capitalismo o intervalo entre as crises cíclicas torna-se cada vez menor), são provocadas pela contradição fundamental do capitalismo, contradição entre o caráter social da produção e a forma capitalista de apropriação dos resultados da produção. As crises econômicas de superprodução significam que as forcas produtivas do capitalismo entram em choque com as relações de produção, com a propriedade capitalista privada dos meios de produção, com as relações de exploração capitalista. A renovação do capital de base que se realiza periodicamente depois de cada crise, é a base material do movimento do ciclo. As crises econômicas acarretam a bancarrota em massa das empresas, o aumento gigantesco do desemprego, a pauperização absoluta do proletariado e das massas trabalhadoras. Os capitalistas procuram uma solução para a crise pela diminuição dos salários, pela agravação da situação da classe operária e das massas trabalhadoras, e além disso pela diminuição do preço do custo da produção, pelo aumento do rendimento e a intensificação do trabalho, pela renovação do equipamento. As crises econômicas, resolvendo temporariamente as contradições do capitalismo à custa de uma destruição colossal das forças produtivas, criam, ao mesmo tempo, as premissas de novas crises ainda mais devastadoras.

As crises econômicas periódicas na época do imperialismo, com o nascimento das crises do sistema capitalista da economia mundial que são períodos de agravação da crise geral do capitalismo na esfera das relações entre os Estados imperialistas, desenvolvem-se na base da crise geral do capitalismo e em relação estreita com uma de suas manifestações, as crises do sistema capitalista da economia mundial. Depois da primeira guerra mundial, as crises econômicas de superprodução desenvolveram-se nas condições da crise geral do capitalismo. A crise geral do capitalismo condiciona a profundidade, a agudeza e a duração particulares das crises econômicas.

As crises econômicas, por sua vez, aceleram o desencadeamento das crises do sistema capitalista da economia mundial e as agravam.

A primeira guerra mundial estourou nas condições do início da crise Econômica. Essa crise agravou a luta pelos mercados, aproximou o começo da primeira crise do sistema capitalista da economia mundial e por isso mesmo apressou o desencadeamento da guerra de 1914-1918.

A crise econômica de 1929-1933 — crise econômica clássica da época da crise geral do capitalismo, que reforçou brutalmente as contradições imperialistas internacionais — exerceu uma influência muito grande sobre o desenvolvimento da segunda crise do sistema capitalista da economia mundial. A burguesia pôs-se a procurar uma saída para a crise na guerra por uma nova divisão do mundo.

A segunda guerra mundial estourou exatamente durante a crise iniciada em 1937 nos países economicamente mais poderosos. Essa crise ocasionou o agravamento das contradições imperialistas e apressou a chegada da segunda crise do sistema capitalista da economia mundial e o desencadeamento da segunda guerra mundial.

As crises do sistema capitalista da economia mundial, por sua vez agravam as crises econômicas de superprodução.

A burguesia procura uma solução para essas crises na guerra, no militarismo, no estabelecimento de uma conjuntura de inflação guerreira na passagem ainda durante a paz para uma economia de guerra, como se deu por exemplo na Alemanha hitlerista às vésperas da segunda guerra mundial e como acontece atualmente nos Estados Unidos da América e em outros países imperialistas. Mas a passagem para a economia de guerra provoca uma ruptura ainda maior da produção capitalista com o mercado cujo volume é determinado em última instância pelo poder de compra das massas trabalhadoras. As despesas militares dos imperialistas são financiadas graças aos impostos, isto é, pela diminuição do salário real dos operários e das rendas dos outros trabalhadores. Os lucros dos capitalistas aumentam e as rendas das amplas massas da população diminuem; os monopólios capitalistas obtêm vantajosas encomendas de material militar, recebem subsídios, etc, graças aos impostos que constituem um pesado fardo sobre os ombros dos trabalhadores. Lançar a economia de um país na economia de guerra, ensina o camarada Stálin:

«... significa imprimir à indústria uma direção unilateral, de guerra; significa ampliar por todos os meios a produção de artigos necessários à guerra, produção que não está ligada ao consumo nacional; significa restringir por todos os meios a produção e sobretudo o fornecimento ao mercado de artigos de consumo; significa, portanto, restringir o consumo da população e expor o país a uma crise econômica».(12)

O desenvolvimento unilateral da produção na economia de guerra tem por consequência o fato de que o aparelho de produção, que aumentou para satisfazer às necessidades militares, no fim da guerra não é, em grande parte, utilizado a plena capacidade. O camarada Stálin, no XVI Congresso do Partido, dizia que a primeira guerra mundial deixou uma pesada herança para a maioria dos países capitalistas, sob a forma de impossibilidade crônica de plena utilização das empresas e de um desemprego em massa permanente.

Em consequência da segunda guerra mundial aumentaram ainda mais a impossibilidade crônica de utilização do capital de base de indústria e os milhões de desempregados permanentes, que são manifestações da crise geral do capitalismo.

A impossibilidade crônica de plena utilização do aparelho produtivo e o desemprego em massa permanente, nos países capitalistas, fazem com que as crises econômicas periódicas se tornem ainda mais devastadoras, mais longas e mais agudas que antes, ainda mais duras e mais penosas para a classe operária e para todos os trabalhadores. No período de crise geral do capitalismo torna-se extremamente difícil conseguir sair da crise pela renovação do capital de base, devida à super-abundância crônica do aparelho de produção. Os meios de sair da crise econômica que são colocados no primeiro plano são a ofensiva contra o nível de vida dos trabalhadores, a militarização da economia e as guerras imperialistas, o que provoca o agravamento das contradições de classes, o reforço da luta da classe operária e das massas trabalhadoras por uma solução revolucionária da crise.

A Segunda Crise do Sitema Capitalista e Suas Consequências

Seria incorreto pensar que a segunda crise do sistema capitalista da economia mundial foi uma simples repetição da precedente. O camarada Stálin indicava no seu discurso histórico de 9 de fevereiro de 1946 que a segunda guerra mundial não era uma cópia da primeira:

«Ao contrário, a segunda guerra mundial difere substancialmente da primeira pelo seu caráter».(13)

Quais são os traços característicos da primeira crise do sistema capitalista da economia mundial e da primeira guerra mundial?

A primeira crise do sistema capitalista da economia mundial, como foi indicado acima, começou quando o capitalismo era ainda o sistema único e geral da economia mundial, se bem que ao mesmo tempo a guerra tenha mostrado com energia que no seio do sistema capitalista da economia, no seio do imperialismo tinham amadurecido as premissas da revolução socialista que triunfou na Rússia e lançou os fundamentos da divisão do mundo em dois sistemas: o socialismo e o capitalismo. A segunda crise do sistema capitalista da economia mundial amadureceu e explodiu nas condições da divisão do mundo em dois sistemas. Portanto, de um lado, a nova guerra imperialista continha em sí a possibilidade de um alargamento do sistema socialista de economia. De outro lado, o desenvolvimento e aprofundamento da crise geral do sistema capitalista agravou seriamente todas as contradições internas do sistema capitalista.

A particularidade da primeira crise do sistema capitalista da economia mundial foi além disso o fato de que os Estados imperialistas se dividiram em dois campos agressivos igualmente responsáveis pelo desencadeamento da guerra.

«A guerra de 1914 foi uma guerra por uma nova partilha do mundo e das zonas de influência. Esta guerra fora longamente preparada pelos Estados imperialistas. Os imperialistas cie todos os países foram culpados dela».(14)

Em particular essa guerra foi preparada por duas alianças imperialistas: a Alemanha e a Áustria de um lado, a França, a Inglaterra e a Rússia — que dependia delas —, do outro. Em 1907 formou-se a Tríplice Aliança ou Entente: aliança da Inglaterra, da França e da Rússia, que se opunha a uma outra aliança concluída pela Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália. No começo da guerra, a Itália se retirou dessa última aliança e reuniu-se em seguida à Entente. A Alemanha e a Áustria-Hungria foram apoiadas na guerra pela Bulgária e a Turquia. Esses dois blocos imperialistas visavam na guerra fins de conquista, e ambos escondiam esses fins apresentando a guerra imperialista como uma guerra «defensiva», como uma guerra «pela liberdade e a democracia».

A primeira guerra mundial foi uma guerra de pilhagem por uma nova divisão do mundo; ela envolvia os interesses de todos os países imperialistas e por essa razão ela arrastou com o tempo o Japão, os Estados Unidos e uma série de outros Estados. A Alemanha queria tomar pela força as colônias da Inglaterra e da França, da Rússia, a Ucrânia, a Polónia e os países Bálticos; ela ameaçava o domínio da Inglaterra no Oriente Próximo construindo a estrada de ferro de Bagdad. A Rússia Tzarista, por seu lado, queria a partilha da Turquia, sonhava com a conquista dos Dardanelos, com a tomada de Constantinopla. Os planos do governo tzarista compreendiam também a conquista da Galícia que fazia parte da Austria-Hungria. A Inglaterra se propunha liquidar um concorrente perigoso, a Alemanha. O crescimento das forças navais da Alemanha ameaçava a Inglaterra, antes da guerra suas mercadorias eliminavam cada vez mais as mercadorias inglesas do mercado mundial. Além disso, a Inglaterra queria tomar da Turquia a Mesopotâmia, a Palestina, e instalar-se solidamente no Egito. A França queria tomar da Alemanha a bacia do Sarre e a Alsácia-Lorena. Os Estados imperialistas queriam, portanto, arrebatar-se reciprocamente uma parte de seus próprios territórios e de suas colônias, queriam fazer uma nova divisão de um mundo já dividido.

Quais foram as particularidades características do resultado da primeira crise do sistema capitalista da economia mundial?

No fim da primeira guerra mundial, o mundo capitalista que tinha perdido um sexto do globo devido à vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro da Rússia, procurou estabilizar a situação: na política interna por uma repressão selvagem do movimento operário, na qual os sociais-democratas de direita foram o esteio principal dos imperialistas; no domínio das relações internacionais pela conclusão do tratado de Versalhes e dos outros tratados sobre a ordem de após-guerra na Europa e no Oriente Próximo. Entre estes tratados, temos inicialmente o tratado de Washington de 1922 que formava uma aliança dos imperialistas para a divisão das esferas de influência nas colônias, bem como o plano Dawes, o tratado de Locarno e certas outras transações que marcaram a estabilização temporária, relativa e parcial do capitalismo no domínio das relações internacionais.

«Depois da primeira guerra imperialista, os Estados vencedores, principalmente a Inglaterra, a França e os Estados Unidos, tinham criado um novo regime de relações entre os países, o regime de paz do após-guerra. Este regime tinha por bases principais: no Extremo Oriente, o pacto das nove potências, e, na Europa, o tratado de Versalhes e toda uma série de outros tratados».(15)

Contudo, contrariamente à firme e sólida estabilização socialista na União Soviética, a estabilização capitalista, tanto no domínio da economia e da política interna, como no domínio da política externa, só podia ser relativa, instável e apodrecida, pois ela se produzia nas condições do aprofundamento da crise geral do capitalismo, da agravação de todas as contradições imperialistas e da luta de classes nos países capitalistas, sob a influência da competição entre o sistema socialista em pleno crescimento e do capitalismo em decomposição, competição que provava inequivocamente as vantagens do sistema socialista da economia sobre o sistema capitalista. A estabilização capitalista criava inevitavelmente as premissas de uma nova e cruel crise econômica e de um novo surto revolucionário das massas. O próprio caráter da estabilização do capitalismo determinava a necessidade e a inelutabilidade de uma nova crise do sistema capitalista da economia mundial, de uma nova guerra mundial imperialista. O caráter da saída da primeira crise do sistema capitalista da economia mundial determinava antecipadamente a aparição de uma crise nova, ainda mais aguda e devastadora, do sistema capitalista da economia mundial.

Como o camarada Stálin predisse de modo genial, a estabilização capitalista logo abriu falência. Ela foi definitivamente quebrada pela crise econômica mundial de 1929-33, que apressou o aparecimento de uma nova, de uma segunda crise do sistema capitalista da economia mundial. A crise de 1929-33 estourou nas condições da crise geral do capitalismo e foi especialmente dura e prolongada. Ela atingiu todos os países capitalistas e, tornando difíceis as manobras de certos países às expensas de outros, exerceu uma grande influência sobre as relações econômicas internacionais. A crise golpeou o sistema internacional do crédito, provocou a guerra das divisas; os Estados capitalistas deixaram de pagar suas dívidas. Acarretou um novo surto do protecionismo, um aumento sensível dos direitos alfandegários, bem como a introdução de uma série de limitações protecionistas que só eram aplicadas antes em tempo de guerra (por exemplo, a proibição da exportação de capitais, o sistema de licenças, o contingenciamento das importações, etc....). Tudo isso agravou as relações comerciais e financeiras internacionais e provocou no fundo uma guerra econômica geral no mundo capitalista.

A crise econômica mundial acarretou não somente uma agravação violenta da guerra de concorrência dos imperialismos, não somente fez recuar de várias décadas a economia dos Estados capitalistas, mas teve por consequência inevitável o reforço da luta de classes, uma agravação nunca vista da situação política nos países do capitalismo e conflitos agudos entre eles.

«A intensificação da luta pelos mercados externos, a supressão dos últimos vestígios do comércio livre, as tarifas alfandegárias proibitivas, a guerra comercial, a guerra dos câmbios, o dumping e muitas outras medidas análogas, que demonstram o nacionalismo exarcebado na política econômica, agravaram ao extremo as relações entre os países, criaram um terreno propício, aos conflitos militares e puzeram a guerra na ordem do dia, como meio para uma nova partilha do mundo e das esferas de influência em proveito dos Estados mais fortes».(16)

Os Estados imperialistas procuraram uma solução para a crise às expensas dos outros Estados. O Japão se apoderou da Mandchúria e da China do Norte. Durante o mesmo período se preparou a criação de um bloco fascista agressivo da Alemanha, da Itália e do Japão que tinha por objetivo uma nova partilha do mundo em seu proveito.

Sob a influência da crise de 1929-33, a idéia de uma nova guerra anti-soviética se formou de modo cada vez mais preciso no espírito dos políticos imperialistas. Os imperialistas procuraram resolver suas contradições às expensas da União Soviética. O processo do «Partido Industrial», realizado em 1930, mostrou que os dirigentes da França e da Inglaterra pensavam então encontrar uma saída para as contradições imperialistas às custas da União Soviética, organizando uma nova intervenção anti-soviética. Ficaram provadas igualmente outras tentativas de organizar uma «cruzada» contra a União Soviética, nas quais o Vaticano se envolveu e atrás das quais se escondiam os meios imperialistas dos principais países capitalistas; o conflito armado provocado pelos Estados imperialistas na estrada de ferro do Oriente chinês, etc...

Contudo, todas essas tentativas de formar uma frente única contra a União Soviética e de organizar uma intervenção anti-soviética sofreram finalmente uma derrota. Isso foi a consequência, antes de tudo, da sábia e clarividente política exterior stalinista da URSS, o resultado dos êxitos da União Soviética e do apoio que lhe deram os trabalhadores dos países do capitalismo, o resultado da luta de duas tendências na política dos países imperialistas, a tendência à luta armada contra a URSS e a tendência a desenvolver relações comerciais com a URSS graças ao desenvolvimento das contradições internas do capitalismo.

A crise econômica de 1929-33 acarretou a criação de focos de uma segunda guerra mundial na Europa e na Asia, apressou a formação das premissas da segunda crise do sistema capitalista da economia mundial.

A crise de 1937-38, que surgiu depois de uma depressão de um gênero particular, como o indicou o camarada Stálin, se distingue da crise de 1929-33 não a favor, mas contra o capitalismo. Esta crise começou nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e em outros países da democracia burguesa não depois de um período de auge do indústria como aconteceu em 1929, mas somente depois da depressão e de uma certa reanimação que não se converteu todavia em florescimento. A crise de 1937-38 não se desencadeou num período de paz, mas num período em que a guerra mundial já tinha começado. Nos Estados Unidos, na França e numa série de outros países, o nível da produção não tinha nem mesmo atingido o de 1929. A queda da produção se processava num ritmo ainda mais rápido que durante as crises precedentes e, em particular, do que durante a crise de 1929-33.

Os Estados fascistas agressivos, na base da conjuntura de inflação militar, aumentaram um pouco sua produção em 1937, e a Alemanha e o Japão superaram o nível de 1929. Mas, uma tal reanimação não poderia durar muito tempo. No XVIII Congresso do Partido, o camarada Stálin observou que, no Japão e na Itália onde tinham sido feitos preparativos de guerra antes da Alemanha, desde 1938, a indústria começou a entrar em baixa e indicou que:

«a menos que aconteça algo de imprevisto, na indústria da Alemanha deverá iniciar-se o mesmo movimento descendente que já começou no Japão e na Itália».(17)

A reorganização da economia dos países agressores e a organização de uma economia de guerra não criaram as condições para livrá-los da crise. Ao contrário, colocaram estes países ante uma crise nova ainda mais terrível e, no fundo, tornaram mais difíceis a saída normal da crise. Tudo isso significava, como indicava o camarada Stálin que:

«... para sair normalmente da crise atual o capitalismo disporá de muito menos recursos que durante a crise precedente».(18)

A crise de 1937 que ameaçava de ser ainda mais dura e mais longa do que a crise de 1929 reforçou a guerra econômica dos Estados Unidos imperialistas e criou premissas ainda mais numerosas para uma solução pela violência dos problemas internacionais, apressou a formação da segunda crise do sistema capitalista da economia mundial. O camarada Stálin escrevia:

«Assim, antes mesmo de se terem refeito dos golpes da recente crise econômica, os países capitalistas se viram diante de uma nova crise econômica».(19)

Esta circunstância teve como consequência que as contradições entre os países imperialistas, do mesmo modo que entre a burguesia e o proletariado agravaram-se ainda mais:

«... Além disso os Estados agressores multiplicam suas tentativas de recuperar, às expensas dos outros países mal defendidos, as perdas internas causadas pela crise econômica».(20)

Os dois grupos de Estados imperialistas, o que estava descontente com a velha divisão do mundo e queria fazer uma nova, do mesmo modo que o que não queria permitir uma nova partilha do mundo em proveito da Alemanha, do Japão e da Itália, marchavam para uma nova guerra mundial. A segunda guerra mundial desencadeada pelo bloco dos Estados fascistas com a cumplicidade e a conivência da reação franco-anglo-americana, interrompeu a crise de 1937-38 que já tinha começado numa série de países capitalistas.

A segunda crise do sistema capitalista da economia mundial, que desencadeou a segunda guerra mundial era o reflexo da agravação da crise geral do capitalismo, do reforço do desenvolvimento desigual do capitalismo, da acentuação violenta das contradições imperialistas. Ela era a consequência da falência da estabilização capitalista, da acentuação violenta da luta pelos mercados que, como já notamos, se transformara numa guerra econômica geral dos Estados imperialistas. A tensão das relações internacionais tornou-se tão grave que se criaram as premissas da segunda guerra mundial.

A segunda guerra mundial estourou após numerosas e vãs tentativas dos imperialistas para criar uma frente única contra a União Soviética, em particulai tentativas para reunir em torno da Alemanha fascista uma frente única anti-soviética, ou para «localizar» a guerra dirigindo-a contra a União Soviética e enfraquecendo por isso mesmo menos a Alemanha como concorrente imperialista dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, do que o país do socialismo.

O pacto de traição de Munique, concluído em setembro de 1938 pelos imperialistas ingleses e franceses com os imperialistas alemães e italianos, com a concordância completa e a aprovação dos meios dirigentes dos Estados Unidos, refletiu do modo mais claro a vontade dos imperialistas mundiais de chegar a um acordo numa base anti-soviética. Entregou-se a Tchecoeslováquia aos fascistas alemães, com a condição de que a Alemanha começasse a guerra contra a União Soviética. A conspiração de Munique dos imperialistas havia sido precedida pelo tratado de Locarno, o Pacto dos Quatro concluido em Roma em 1933, pelo pacto germano-polonês, pela declaração de não-agresão anglo-alemã e franco-alemã, etc...

«Na política de não-intervenção — dizia o camarada Stálin em 1939.— transparece a vontade, o desejo de não prejudicar os agressores em sua obra funesta, de não impedir, por exemplo, que o Japão se enrede numa guerra com a China e, melhor ainda, com a União Soviética; de não impedir, por exemplo, que a Alemanha se atole nos assuntos europeus, se enrede numa guerra contra a União Soviética; de deixar os países beligerantes se atolarem profundamente no lodaçal da guerra, encorajá-los por baixo da mesa, de deixar que se debilitem e se esgotem entre sí, e depois, quando estiverem suficientemente enfraquecidos, entrar na liça com forças frescas, intervir, é claro que «no interesse da paz», e ditar aos países beligerantes já debilitados as condições de paz».(21)

Os imperialistas anglo-franco-americanos continuaram a aplicar a «política de não-intervenção» mesmo durante a segunda guerra mundial. A «guerra bizarra» na frente ocidental em 1939-40, antes da invasão da Bélgica, da Holanda e da França pela Alemanha, não era «a espera passiva do desenvolvimento dos fatos», ou ainda uma «incúria criminosa» do bloco anglo-francês, como poderia parecer à primeira vista. Ao contrário, era o reflexo de uma política reacionária ativa das potências imperialistas ocidentais tendente à sabotagem da guerra, declarada de modo puramente formal à Alemanha, e à transformação desta guerra numa «cruzada» contra a União Soviética. Ao mesmo tempo, os imperialistas dos dois campos forneciam ajuda militar aos guardas-brancos finlandeses na sua luta contra a URSS A «guerra bizarra» era a realização da política anti-soviética, o prolongamento da política de Munique.

A política dos círculos dirigentes dos Estados Unidos e da Inglaterra depois do pérfido ataque da Alemanha hitlerista contra a URSS, manifestou-se nos criminosos adiamentos, deliberadamente repetidos da abertura da segunda frente, nas conversações de bastidores dos governos americanos e inglês com os hitleristas pela conclusão de uma paz em separado.

Já durante a segunda guerra mundial, os imperialistas anglo-americanos se puzeram a preparar a nova guerra que lhes daria a possibilidade de realizar os planos arquitetados em «Munique» mas que não tinham tido êxito. Durante a guerra, os imperialistas anglo-americanos economizaram suas forças a fim de conservá-las para a terceira guerra mundial que preparavam, a guerra contra o campo da democracia e do socialismo, pelo estabelecimento pela força de sua dominação mundial.

Assim pois, os políticos imperialistas procuraram, durante toda a duração do período de formação e de desenvolvimento da segunda crise do sistema capitalista da economia mundial, encontrar uma saída para as contradições imperialistas na organização de uma frente única contra a União Soviética. Mas estas tentativas fracassaram graças à política externa da União Soviética o ao reforço da ação da lei do desenvolvimento desigual do capitalismo. O fascismo alemão se fixara como objetivo a dominação mundial, a submissão ou a exterminação dos povos, a liquidação da independência não somente da União Soviética mas também da Inglaterra, da França e de outros países. A genial política exterior stalinista da União Soviética permitiu prever e desmantelar os planos dos imperialistas. Apesar das intenções da reação anglo-franco-americana a guerra contra a Alemanha hitlerista tomou desde o início um caráter anti-fascista e de libertação. A guerra nacional da União Soviética contra a Alemanha hitlerista, que coincidiu com a segunda guerra mundial, deu a esta um caráter anti-fascista.

Sob a pressão das circunstâncias, os círculos dirigentes dos Estados Unidos e da Inglaterra foram obrigados a esconder temporariamente seus verdadeiros objetivos e suas verdadeiras intenções. Estes Estados imperialistas foram forçados a entrar na coalisão anti-fascista que tinha à sua frente a União Soviética. Para a URSS a participação na segunda guerra mundial era a continuação lógica da política de segurança coletiva e de repressão dos agressores fascistas que ela realizara infatigavelmente antes da guerra. Mas, para os círculos dirigentes dos Estados Unidos e da Inglaterra, a participação numa guerra anti-fascista não significava a renúncia a seus fins imperialistas, mas a camuflagem temporária e forçada destes objetivos.

No seu informe por motivo do 31.º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro, o camarada Molotov dizia:

«Quando se desencadeou a segunda guerra mundial, a União Soviética não teve que mudar sua política para entrar na coalisão anti-hitlerista com a Inglaterra e os Estados Unidos da América. Isso era a continuação natural da política externa que o governo Soviético vinha realizando antes da segunda guerra mundial.

O terrível perigo que pesava sobre a Europa, e não somente sobre a Europa, e que provinha da Alemanha fascista e do Japão agressivo com seus absurdos planos de hegemonia mundial e de esmagamento de todos os Estados que a isso se opunham, obrigou os círculos dirigentes da Inglaterra e dos Estados Unidos a se aliarem com a União Soviética contra as forças de agressão e do fascismo».(22)

O papel decisivo da União Soviética na guerra determinou o conteúdo da guerra contra a Alemanha hitlerista, a Itália e o Japão. Foi uma guerra dos povos por sua existência, contra os escravizadores hitleristas.

Ela espedaçou os Estados fascistas e assinalou também a falência total dos planos dos imperialistas para enfraquecer a União Soviética. O fato essencial da segunda guerra mundial é a vitória do Exército Soviético, a vitória da forma soviética da sociedade e do Estado — regime autenticamente popular, o mais cheio de vida e o mais sólido do mundo — o reforçamento da União Soviética, a modificação radical da correlação de forças entre os dois sistemas sociais e econômicos, a favor do socialismo.

A Nova Crise Mundial e o Perigo de Guerra

A segunda guerra mundial trouxe um aprofundamento da divisão do mundo em dois campos: o campo da democracia e do socialismo, com a URSS à frente, e o campo do imperialismo, da reação e da guerra, tendo à frente os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, reforçaram-se as contradições no interior do campo imperialista. Isso se explica antes de tudo pelo fato de que o capitalismo se estreitou, pois a esfera de sua dominação se restringiu sensívelvente de novo em consequência do afastamento do sistema imperialista de uma série de países da Europa e da Ásia que estabeleceram um regime de democracia popular e que marcham para o socialismo. Ao mesmo tempo o problema do mercado para o imperialismo se agravou ainda mais em consequência do aumento da pauperização das massas populares dos países capitalistas durante e depois da guerra. O período atual de após-guerra é essencialmente diferente do período que se seguiu à primeira guerra mundial. As diferenças essenciais entre os dois consistem em que atualmente a correlação de forças entre os dois sistemas se modificou de tal modo a favor do socialismo e em detrimento do capitalismo que, nas circunstâncias históricas presentes, o capitalismo não tem mais perspectiva de um auge geral nem possibilidade real de uma nova estabilização, mesmo temporária, relativa e instável. No domínio econômico, o mundo capitalista é cada vez mais arrastado para uma nova e devastadora crise econômica.

O processo de enfraquecimento do sistema capitalista, consequência direta da segunda guerra mundial e da vitória de importância histórica universal da URSS, não somente não se deteve mas continuou a se desenvolver. Depois dos países de democracia popular, a China se afastou do sistema capitalista, o que representa um novo e tremendo golpe no sistema do imperialismo. Nesse grande país povoado por 475 milhões de habitantes, formou-se uma república popular, foi instaurada a ditadura da democracia popular. Sob a direção da classe operária e de seu Partido Comunista, a China começou sua marcha para o socialismo. Os povos dos países coloniais, do Viet-Nam, da Indonésia, da Malásia e da Birmânia, de armas na mão, lutam por sua independência e sua liberdade contra os imperialistas. Na Alemanha, foi criada uma república democrática.

O êxito da execução antes do prazo do plano quinquenal stalinista de após-guerra na U.R.S.S , os primeiros êxitos da edificação socialista nos países europeus de democracia popular, o poderoso movimento internacional de luta pela paz contribuem também para o aprofundamento da crise geral do capitalismo.

A segunda guerra não tinha ainda terminado quando os imperialistas anglo-americanos se puzeram a se preparar ativamente para uma nova guerra, para uma terceira guerra mundial. Isso demonstra a ausência de condições favoráveis à estabilização capitalista nas relações internacionais, bem como os verdadeiros objetivos dos imperialistas anglo-americanos na segunda guerra mundial. Para eles, a guerra era um instrumento para uma nova partilha do mundo em seu proveito, para a supressão dos concorrentes imperialistas, da Alemanha, do Japão e da Itália, nos mercados mundiais. Mas, ao mesmo tempo, os magnatas do capital americano e inglês quizeram manter nestes países focos do fascismo, focos de luta contra as forças da democracia. Ao mesmo tempo, procuraram esgotar a União Soviética na guerra. Como é sabido, fracassaram os cálculos dos imperialistas anglo-americanos que esperavam que a guerra lhes trouxesse a dominação mundial. Os capitalistas anglo-americanos não somente não conseguiram se tornar senhores do mundo mas, ao contrário, perderam muitas de suas antigas posições.

Na conjuntura atual, os agressores anglo-americanos procuram ressuscitar sob uma nova forma, sob a égide dos Estados Unidos, a frente única anti-soviética criada em Munique e que desmoronou em seguida, procuram conquistar a hegemonia mundial. Os imperialistas procuram de novo resolver suas contradições às expensas do sistema socialista, às expensas da União Soviética e dos países de democracia popular, preparando a guerra contra o campo da paz, da democracia e do socialismo. É esta a característica essencial da política dos Estados Unidos e da Inglaterra na etapa atual.

O problema dos mercados se colocou com uma agudeza redobrada para os países capitalistas, em consequência da agravação da crise geral do capitalismo e do crescimento da desigualdade de desenvolvimento dos países capitalistas. O capitalismo americano procura conservar e ampliar mais ainda os mercados que conquistou durante a segunda guerra mundial. Beneficiando-se da fraqueza econômica dos outros países capitalistas, os Estados Unidos, graças ao «Plano Marshall» e aos programas exnansionistas do mesmo gênero, aos acordos que imnõem e aos blocos militares, açambarcam os mercados, submetem à sua hegemonia os países dominados pela burguesia. Aumentando exageradamente o orçamento de guerra e organizando alianças militares, o capitalismo monopolista americano espera resolver em parte o problema dos mercados, graças a enormes encomendas militares para seu próprio país e para o exterior.

Os imperialistas americanos, procurando amenizar a crise econômica que cresce nos Estados Unidos por meio da corrida armamentista, ampliam por isso mesmo, afinal, as bases da crise econômica e apressam seu desenvolvimento tanto nos Estados Unidos como nos países capitalistas que são um vasto mercado de escoamento dos produtos americanos.

As despesas militares dos imperialistas se fazem às expensas dos contribuintes, aumentam a pauperização da classe operária, diminuem o poder de compra das massas. As tentativas dos imperialistas americanos para estabelecer seu monopólio nos mercados mundiais e para fazer dos outros Estados, Estados-vassalos, se chocam com a resistência de todo o campo democrático encabeçado pela URSS. O campo da paz, da democracia e do socialismo luta pela derrota definitiva do fascismo e da reação, para afastar a ameaça de uma nova guerra. Além disso, a orientação expansionista do imperialismo americano que visa à dominação mundial é, antes de tudo, anti-soviética, dirigida contra a URSS, contra os países de democracia popular, contra o movimento operário e democrático em todos os países.

Como os hitleristas, os imperialistas trombeteiam pela criação de um «baluarte» contra o bolchevismo. Isso quer dizer que o imperialismo americano tem medo do crescimento das forças da democracia e do socialismo. Por outro lado, os gritos sobre a «defesa» contra o comunismo são dados para esconder a luta dos Estados Unidos pela dominação mundial. Os gritos sobre a «ameaça do bolchevismo» serviram para mascarar a agresão dos invasores hitleristas. Agora, por meio de discursos sobro a «ameaça bolchevique», os imperialistas americanos procuram mascarar os verdadeiros objetivos de sua política de agressão e de preparação de uma nova guerra imperialista. O «Plano Marshall» e o pacto do Atlântico Norte são a expressão mais clara da política de conquista do imperialismo americano na etapa atual.

A segunda guerra mundial não somente não resolveu as contradições imperialistas, mas, ao contrário, as agravou. Aumentam as contradições no interior do campo imperialista, e a principal delas é a oposição entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Desenrola-se uma luta no interior dos blocos imperialistas e que é acentuada pela vontade dos Estados Unidos de fazer outros países capitalistas satélites seus e Estados tributários obedientes. A acentuação das contradições imperialistas leva finalmente a uma nova crise do sistema capitalista da economia mundial e por conseguinte a uma nova guerra.

Uma terceira guerra mundial, se os imperialistas a desencadearem, será o túmulo do capitalismo mundial.

«Criou-se uma tal situação — indicava o camarada Molotov — que se os imperialistas desencadearem uma nova guerra mundial, provocarão, da parte dos povos amigos da paz e de todo o campo democrático, uma resistência que acarretará não somente a derrota desta ou daquela potência agressora, como aconteceu até agora, mas a liquidação de todo o sistema do imperialismo mundial».(23)

Mas, se bem que a guerra seja o companheiro inseparável do capitalismo, ela não é o resultado fatal de uma força elementar inevitável. O problema da guerra não é somente expressão do desenvolvimento espontâneo da economia capitalista, inclui também a questão da correlação de forças entre o campo da paz e da democracia e o campo da reação e da guerra. Não se pode esquecer o papel ativo e eficaz da luta política, organizadora e ideológica dos trabalhadores pela paz. O campo da paz e da democracia que reúne as forças poderosas do progresso é infinitamente mais poderoso que o campo dos imperialistas e dos fautores de guerra. Se estas forças forem empregadas para a luta ativa pela paz, a guerra poderá ser evitada.

O camarada Stálin insurgiu-se nos seus discursos contra o caráter fatal da guerra e mostrou que os povos podem evitar a guerra. Os povos do mundo lutam contra esse perigo, e as tentativas de Churchill e dos outros fautores de guerra para desencadear uma nova guerra não podem terminar senão por um vergonhoso fracasso. O camarada Stálin nos ensina:

«Os horrores da guerra recente ainda estão muito vivos na memória dos povos e as forças sociais pela paz são muito grandes, para que os discípulos de Churchill em matéria de agresão possam derrotá-las e desviá-las no sentido de uma nova guerra».(24)

As forças da democracia, do socialismo e da paz cresceram tanto que a solução da tarefa central dos Partidos Comunistas e Operários, de todo o campo democrático, de unir as massas populares mais amplas na luta contra os provocadores de guerra imperialistas anglo-americanos, na luta pela paz, é algo perfeitamente realizável. Mas, o crescimento do campo da democracia e do socialismo não deve provocar o espírito de presunção entre os combatentes da paz dirigidos pela classe operária e sua vanguarda comunista.

«Seria um erro profundo e imperdoável — diz a resolução do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas, — o se acreditar que a ameaça de guerra diminuiu. A experiência da história mostra que quanto mais desesperada é a causa da reação imperialista, mais ela se torna furiosa e mais cresce o perigo de aventuras militares.

Somente a maior vigilância dos povos, sua firme decisão de lutar ativamente com todas as suas forças e por todos os meios pela paz, conduzirão à falência os projetos criminosos dos fautores de uma nova guerra».(25)


Notas:

(1) J. Stálin — «Discurso aos Eleitores», pg. 4, Edições Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)

(2) J. Stálin — «Discurso aos Eleitores», pg. 4, Edições Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)

(3) J. Stálin — «Discurso aos Eleitores», pg. 3, Edições Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)

(4) J. Stálin — «Discurso aos Eleitores», pg. 4, Edições Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)

(5) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 677, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(6) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 677, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(7) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pg 515 idem, idem. (retornar ao texto)

(8) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pgs. 515 e 516, idem, idem. (retornar ao texto)

(9) J. Stálin — «História do PC (b) da URSS», pg. 73, Edições Horizonte, Rio. (retornar ao texto)

(10) J. Stálin — «Comentários sobre Temas Atuais» — «Problemas» — N.» 25, pg. 12, Rio. (retornar ao texto)

(11) J. Stálin, idem, pg. 13. (retornar ao texto)

(12) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 671, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(13) J. Stálin — «Discurso aos Eleitores», pg. 4, Edições Horizonte, 946, Rio. (retornar ao texto)

(14) J. Stálin — «História do PC (b) da URSS», pg. 66, Edições Horizonte, Rio. (retornar ao texto)

(15) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 672, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(16) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 513-514, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(17) J. Stálin, — «Cuestiones del Leninismo», pg. 670. idem, idem. (retornar ao texto)

(18) J. Stálin, «Cuestiones del Leninismo», pg. 669, idem, idem. (retornar ao texto)

(19) J. Stálin, «Cuestiones del Leninismo», pg. 668, idem idem. (retornar ao texto)

(20) J. Stálin, «História do PC (b) da URSS», pg. 133, Edições Horizonte, Rio. (retornar ao texto)

(21) J. Stálin — «Cuestiones del Leninismo», pag. 675, Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(22) V. Molotov — «A União Soviética à frente dos povos pelo Progresso, a Democracia e a Paz», «Problemas» N.º 15, pg. 51, Rio. (retornar ao texto)

(23) V. Molotov — «O Bolchevique» nº 24, pg. 21, Moscou (retornar ao texto)

(24) J. Stálin — Resposta ao Questionário da «Pravda» de Moscou, outubro de 1948 (retornar ao texto)

(25) «Problemas» n.º 24, pg. 62, Rio. (retornar ao texto)

 

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Inclusão 02/04/2011