O Colapso do Mercado Único e Universal, e a Formação do Mercado Democrático Mundial

N. Orlov


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 52 - Dez de 1953.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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No genial trabalho de J. V. Stálin "Problemas Econômicos do Socialismo na URSS” encontramos as importantíssimas teses da desagregação do mercado mundial único e universal e o aprofundamento da crise geral do capitalismo, da formação e do fortalecimento do novo mercado mundial paralelo que se opõe ao mercado capitalista mundial, e do contraste radical no desenvolvimento dos dois mercados mundiais paralelos.

No trabalho “Problemas Econômicos do Socialismo na URSS” o camarada Stálin apresenta e fundamenta o programa de cooperação fraternal entre os países que romperam com o capitalismo, e constituem o mercado democrático mundial; indica os meios de se construir um sistema de economia socialista mundial; revela de maneira profunda o caráter do desenvolvimento do mercado mundial do capitalismo e a inevitabilidade do aguçamento das contradições dentro do campo imperialista.

J. V. Stálin nos ensina que à base da crise geral do capitalismo — que abrange tanto a economia como a política — se encontra a decomposição, que se intensifica cada vez mais, do sistema econômico mundial do capitalismo, de um lado, e, de outro lado, o crescente poderio econômico dos países que se afastaram do capitalismo — a URSS, a China e os demais países de democracia popular.

J. V. Stálin estabeleceu duas etapas no desenvolvimento da crise geral do capitalismo. A primeira etapa começou no período da primeira guerra mundial, particularmente em conseqüência do afastamento da União Soviética do sistema capitalista. A segunda etapa da crise geral desenvolveu-se no período da segunda guerra mundial, principalmente depois que os países de democracia popular da Europa e da Ásia se afastaram do sistema capitalista.

"A primeira crise — no período da primeira guerra mundial — e a segunda — no período da segunda guerra mundial — não devem ser consideradas como duas crises isoladas, separadas uma da outra, como crises independentes, - mas como etapas do desenvolvimento da crise geral do sistema capitalista mundial.".(1)

O afastamento dos países de democracia popular do capitalismo em conseqüência da segunda guerra mundial é uma continuação da desagregação do sistema mundial do capitalismo, iniciada com a vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro, que rompeu a frente do imperialismo.

A vitória da revolução nos países de democracia popular da Europa e da Ásia ampliou a brecha na frente do imperialismo, solapou e enfraqueceu ainda mais o sistema capitalista e conduziu à formação de um único e poderoso campo socialista de povos livres e pacíficos.

Em conseqüência da crise geral do capitalismo, o sistema capitalista de economia ingressou em sua fase de colapso. Já a primeira guerra mundial acarretou conseqüências nefastas para os países capitalistas, como a paralisação parcial e crônica das empresas e o permanente desemprego em massa. A segunda etapa da crise geral do capitalismo, que se desenvolveu no período da segunda Guerra mundial, solapou ainda mais o sistema mundial do capitalismo. Os países capitalistas da Europa passam, no período de após guerra, por uma profunda desorganização econômica e não podem sobrepujar as conseqüências da guerra. No setor da produção econômica muitos desses países continuam a marcar passo em torno do nível alcançado em 1929 e não têm condições de avançar um pouco, de maneira perceptível. Nos Estados Unidos da América a produção industrial aumentou apenas por ocasião da guerra, mas caiu bruscamente quando a guerra terminou. Somente com o desenvolvimento da criminosa guerra contra o povo coreano e o aceleramento da corrida armamentista é que a produção industrial aumentou um pouco nos Estados Unidos. Constata-se, assim, que durante o último quarto de século os Estados Unidos conseguiram aumentar a produção graças tão somente à guerra e à preparação para a guerra.

A bancarrota do sistema capitalista de economia manifesta-se de maneira particular no fato de condenar os trabalhadores a um empobrecimento cada vez maior e de dar origem, à queda ininterrupta do nível de vida, ao desemprego em massa, à fome e às privações.

O fato de os imperialistas basearem suas esperanças na guerra comprova o aventurismo dos governantes do capital monopolista moderno. A guerra e a preparação para a guerra não podem retirar o mundo burguês do impasse em que se encontra. Ao enriquecer os monopolistas, a preparação para a guerra e a guerra representam um gasto improdutivo de imensos recursos materiais e de trabalho, significam o aniquilamento das forcas produtivas da sociedade, e acarretam a morte de milhões de trabalhadores que constituem a principal força produtiva da sociedade.

A economia de guerra provoca a redução da produção de paz e das obras civis. Os companheiros inevitáveis do militarismo — o fabuloso aumento dos impostos.e a inflação desenfreada — intensificam a exploração e aceleram o processo da pauperização absoluta do proletariado e a ruína do campesinato. Como os fatos demonstram, até mesmo com a ajuda de uma intensa hipertrofia da conjuntura militar e inflacionária os países do agressivo bloco do Atlântico não conseguem evitar a baixa do nível geral da produção industrial, porque a hipertrofia da produção bélica já não tem condições de cobrir a queda da produção civil.

A desagregação do mercado mundial único, que é o resultado econômico mais importante da segunda guerra mundial, predeterminou o aprofundamento da crise geral do capitalismo. O aprofundamento da crise geral do sistema mundial do capitalismo consiste em que a esfera de aplicação dos meios dos principais países capitalistas (Estados Unidos Inglaterra e Franca) aos recursos mundiais se reduziu e continuará a reduzir-se, as condições do mercado mundial de escoamento para esses países pioraram e continuarão a piorar, e a paralisação parcial das empresas aumentará.

Em contraste com o passado — e nisto está a particularidade fundamental da situação do capitalismo contemporâneo — seu desenvolvimento se verifica na base do mercado mundial do capitalismo, que não se amplia e, sim, se contrai. Antes da primeira guerra mundial, o desenvolvimento do mercado interno e externo apresentava dois aspectos de um processo histórico único de desenvolvimento do capitalismo, tanto em profundidade como horizontalmente. V. I. Lênin escreve:

"...o processo de formação do mercado para o capitalismo apresenta dois aspectos — isto é: o desenvolvimento do capitalismo em profundidade (quer dizer: aumento da agricultura capitalista e da indústria capitalista em um certo território fechado) e o desenvolvimento do capitalismo horizontalmente (quer dizer: a extensão da esfera de domínio do capitalismo a novo território).".(2)

O mercado interno desenvolveu-se à base do aumento da produção mercantil capitalista no país, através da subordinação de todos os aspectos da vida econômica ao capital. Ao mesmo tempo, o capital esforçava-se por estender seu domínio a outros países, apoderando-se dos que eram pouco desenvolvidos economicamente e incorporando-os, pela força, ao mercado mundial. Apesar de, em virtude das contradições inerentes ao modo de produção capitalista, as possibilidades de produção do capitalismo haverem aumentado mais rapidamente do que o mercado — o que se manifestou nas crises periódicas de superprodução —, o desenvolvimento do capitalismo com interrupções se verificou nas condições da ampliação da capacidade do mercado.

No período da crise geral do capitalismo o problema do mercado adquiriu significação particularmente importante em vista das transformações essenciais que se verificaram na economia capitalista. O novo consistia em que a ampliação do mercado já na primeira etapa da crise geral do capitalismo cessara e o capitalismo se encontrava nas condições de uma estabilidade relativa do mercado. Isto se verificou em conseqüência do afastamento da URSS do sistema mundial do capitalismo — o que significava uma retração do campo de atividade do capital.

O camarada Stálin observou por ocasião do XIV Congresso do Partido:

«... desde a vitória da revolução proletária em nosso país, todo um imenso país com um imenso mercado de escoamento e imensas fontes de matérias-primas se afastou do sistema mundial do capitalismo e isto, evidentemente, não pôde deixar de influir na situação econômica da Europa, Perder uma sexta parte do mundo, perder os mercados e as fontes de matérias-primas de nosso país significa para a Europa capitalista reduzir sua produção e abalá-la radicalmente."(3)

A intensificação do processo de pauperização absoluta do proletariado e de ruína do campesinato trabalhador nos países capitalistas foi a segunda causa da retração da capacidade do mercado capitalista. Tudo isso muito aguçou o conflito entre as possibilidades de ampliação da produção capitalista e os estreitos limites do mercado. J. V. Stálin frisou por ocasião do XV Congresso do Partido:

"Esta contradição entre o aumento das possibilidades de produzir e a estabilidade relativa dos mercados representou a base para o fato de o problema dos mercados ser hoje o problema fundamental em geral, a agravação do problema dos mercados externos em particular, a agravação do problema dos mercados para a exportação de capital em particular — eis a situação atual do capitalismo. É assim que se explica, em particular, se torne a paralisação parcial das fábricas e usinas um fenômeno rotineiro".(4)

Em conseqüência do afastamento da China e dos países de democracia popular da economia capitalista mundial verificou-se uma nova e brusca retração dos mercados externos para os países capitalistas. A capacidade do mercado mundial do capitalismo se reduz, também, em conseqüência da decomposição do sistema econômico do mundo burguês e do empobrecimento das massas populares, o que provoca a retração dos mercados internos. O empobrecimento das massas acelera-se em conseqüência do desemprego em massa, da queda da capacidade aquisitiva da população sob a influência da inflação, e do imenso aumento dos imoostos provocados por uma corrida armamentista sem precedentes. Com a retração da capacidade do mercado interno, toda a tendência ao aumento da produção vai de encontro a uma barreira intransponível. O aumento de paralisação parcial e crônica das emprêsas e o desemprego permanente são os resultados inevitáveis desse fato. A redução das possibilidades de aplicação dos meios das principais potências imperialistas aos recursos mundiais, e o agravamento das condições de escoamento no mercado mundial do capitalismo não podem deixar de levar a uma luta ainda mais feroz, em que as aves-de-rapina do imperialismo disputam o domínio do mundo. O sistema mundial do capitalismo, que se encontra em profunda desorganização, caracteriza-se pela redução de sua capacidade e pelas crescentes dificuldades de escoamento, pelo aguçamento extremo das contradições e pela luta entre os países imperialistas pelo domínio dos mercados, pela intensificação monstruosa da pilhagem imperialista dos países fracos e dependentes.

A profunda desorganização econômica do mundo imperialista nas condições da crise geral do capitalismo é predeterminada pelo rompimento das relações econômicas entre os países burgueses e pela estagnação no comércio mundial do capitalismo. É característico o fato de o volume do comércio exterior dos países capitalistas tomados em conjunto em 1950 haver superado apenas de maneira insignificante o nivel alcançado em 1928 — isto é: há cerca de um quarto de século. Se se levar em conta que durante esse tempo a população dos países capitalistas aumentou aproximadamente de 25%, conclui-se, então, que o volume do comércio mundial do capitalismo em 1950 foi, por pessoa, inferior ao nível de 1928 de aproximadamente 12%. O volume do comércio exterior de países capitalistas como a Inglaterra, França, Itália, Áustria, Índia, Argentina e Japão durante os primeiros anos de após-guerra permaneceu em nível mais baixo do que em 1928.

Volume Físico do Comércio Exterior dos Países Capitalistas (1929=100)
  1937 1947 1948 1949 1950 1951 1952
Paises Capitalistas
97
95
98
106
118
132
129
Estados Unidos
             
Importação
100
95
108
105
128
120
130
Exportação
79
202
157
163
141
180
180
Inglaterra
             
Importação
102
75
79
85
85
98
89
Exportação
79
76
95
105
11
114
107
França
             
Importação
90
85
82
84
85
100
102
Exportação
57
51
59
80
105
125
116
Itália
             
Importação
69
67
62
73
84
92
101
Exportação
108
57
89
96
130
133
116
Alemanha Ocidental
             
Importação(*)
64
-
-
65
82
83
99
Exportação(*)
60
-
-
25
57
84
89
(*)Dados Referentes a 1936

Certo aumento do volume físico do comércio exterior dos países capitalistas em conseqüência da guerra contra o povo coreano e da intensificação da militarização teve um caráter temporário e instável; como se vê pelo quadro acima, já em 1952 se observava uma queda de volume do comércio exterior desses países.

***

O desenvolvimento do mercado mundial do capitalismo ocorre em situação de contínuo aguçamento das contradições antagônicas entre os países capitalistas rivais. Torna-se cada vez mais feroz a luta entre as aves-de-rapina do imperialismo pelo domínio do mundo, pelos mercados de escoamento, pelas fontes de matérias-primas e pelas esferas de inversão de capitais. Com o objetivo de vencer seus concorrentes, os monopólios capitalistas utilizam diferentes processos de agressão econômica: o super-protecionismo, o dumping, etc. Entretanto, apenas esses meios de expansão comercial nas condições atuais se tornam insuficientes, e os magnatas do capital recorrem à guerra como meio de destrocar militarmente seus rivais e de redistribuir os mercados por meio de força armada.

A desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas e a brusca violação do equilíbrio dentro do sistema mundial do capitalismo provocam a cisão do mundo capitalista em campos hostis, e as guerras entre os mesmos.

Referindo-se à crise geral do capitalismo, o camarada Stálin assinala em seu genial trabalho “Problemas Econômicos do Socialismo na URSS”:

"A própria segunda guerra mundial foi gerada por esta crise. Cada uma das duas coalizões capitalistas empenhadas na guerra calculava esmagar o adversário e conquistar o domínio mundial. Com isso procuravam uma saída para a crise. Os Estados Unidos da América pensavam eliminar seus mais perigosos concorrentes — a Alemanha e o Japão —, apoderar-se dos mercados estrangeiros, das fontes mundiais de matéria-prima e conquistar o domínio mundial.

"A guerra, entretanto, não justificou essas esperanças. Na verdade, a Alemanha e o Japão foram postos fora de combate como concorrentes dos três principais países capitalistas: Estados Unidos, Inglaterra e França. Mas concomitantemente, separaram-se do sistema capitalista a China e as democracias populares da Europa, formando juntamente com a União Soviética um único e poderoso campo socialista, em oposição ao campo capitalista. Como resultado econômico da existência de dois campos opostos, o mercado mundial único, universal, desagregou-se, motivo.por que temos atualmente dois mercados mundiais paralelos, que também se opõem um ao outro.", [pág. 51]

Ao se apoderar dos mercados dos países vencidos, os Estados Unidos também colocaram em situação de segundo plano seus sócios capitalistas enfraquecidos. Entretanto, a redistribuição dos mercados [FALHA NO TEXTO ORIGINAL] armas não acabou com as contradições irreconciliáveis entre os imperialistas. Pelo contrário, a segunda guerra mundial deu origem a novas e profundas contradições no campo do capitalismo. Essas contradições se desenvolvem, em primeiro lugar, entre os Estados Unidos que pretendem dominar o mundo e outros países capitalistas — antes de todos a Inglaterra —; em segundo lugar, entre os países capitalistas vencidos e os vencedores; em terceiro lugar, entre as potências imperialistas e os países coloniais e dependentes.

A política de usurpação dos monopolistas dos Estados Unidos representa, nas condições do após-guerra, o fator determinante do aguçamento das contradições e da desorganização das relações econômicas mundiais no campo do imperialismo. No setor econômico os Estados Unidos esforçam-se por sufocar seus adversários, apoderar-se de seus mercados de escoamento, estabelecer o controle dos recursos mundiais em matérias-primas, e monopolizar as esferas de inversão de capitais. Essa expansão no comércio exterior assume a forma de uma intensificação das exportações das mercadorias norte-americanas, da usurpação de fontes de matérias-primas e da imposição, a outros países, de créditos e empréstimos escravizadores.

A soma total das inversões de capital dos Estados Unidos no estrangeiro em 1951 foi de 36 bilhões e 100 milhões de dólares — isto é: três vezes mais do que antes da guerra. Por meio de créditos escravizadores, um punhado de multimilionários norte-americanos envolveu com as redes da dependência financeira países burgueses há muito formados e suas colônias, submeteu-os a seu controle e pilhou sem qualquer restrição a população dos países devedores, obtendo lucros máximos. Somente em 1951, os monopólios dos Estados Unidos conseguiram 2 bilhões de dólares de lucro procedente das inversões de capital no estrangeiro.

Ao conceder um empréstimo ou um crédito, os "benfeitores" norte-americanos exigem sempre privilégios cada vez maiores para a penetração de suas mercadorias, que inundam os mercados dos países "beneficiados". Os monopólios dos Estados Unidos apoderaram-se de considerável parte do mercado mundial do capitalismo, valendo-se do afastamento de seus rivais vencidos — a Alemanha e o Japão — e, também, do enfraquecimento de seus sócios — a Inglaterra e a França. A parte dos Estados Unidos no comércio mundial do capitalismo aumentou.

Peso Específico dos Países Capitalistas na
Exportação Geral do Mundo Capitalista
  1937 1947 1950 1951 1952
Estados Unidos
14,0
31,7
18,2
19,7
20,5
Inglaterra
11,0
10,1
10,9
9,6
9,9
França
4,1
3,7
5,5
5,5
5,6
Alemanha Ocidental
7,2
0,7
3,6
4,6
5,5
Itália
2,3
1,4
2,2
2,2
1,9
Japão
5,1
0,4
1,5
1,8
1,7

Como se vê por esse quadro, os Estados Unidos puderam aumentar consideravelmente sua parte no comércio exterior, apoderando-se dos mercados dos países vencidos — Alemanha, Itália e Japão — e também expulsando uma série de outros países capitalistas.

Depois de 1947 as exportações norte-americanas não só não aumentaram como também caíram continuadamente até 1951, apesar do mais desavergonhado dumping de mercadorias através do Plano Marshall e de medidas semelhantes. Somente a partir da guerra de agressão contra o povo coreano o valor das exportações dos Estados Unidos começou a aumentar, às custas, porém, do aumento dos preços no comércio internacional e em ligação com os fornecimentos de material bélico. Nas exportações norte-americanas de 1952 os fornecimentos de material bélico foram de 4 bilhões de dólares, ou mais de um quarto de todo o volume das exportações. Entretanto até mesmo nessas condições o volume das exportações em 1952, em relação a 1947, foi de 10% mais baixo.Foram vãos os esforços dos círculos dirigentes dos Estados Unidos no sentido de manter o nível da produção industrial forçando as exportações.

A expansão comercial dos Estados Unidos no após-guerra reflete as contradições da economia norte-americana. Os monopólios dos Estados Unidos se esforçam por tomar conta de novos mercados a fim de colocar suas mercadorias, mas ao mesmo tempo não querem permitir a penetração das mercadorias estrangeiras no mercado interno dos Estados Unidos. Sua divisa é vender muito a outros países e comprar muito pouco deles.

Comércio Exterior dos Estados Unidos
(Em bilhões de dólares)
anos Exportação Importação
Excesso da exportação
sobre a importação
1937
3,3
3,0
0,3
1947
14,4
5,8
8,6
1948
12,7
7,1
5,6
1949
12,1
6,6
5,5
1950
10,3
8,9
1,4
1951
15,0
11,0
4,0
1952
15,2
10,7
4,5

Como se vê pelo quadro acima, os Estados Unidos vendem a outros países, em média, 5 bilhões de dólares por ano a mais do que compram desses países. No período do após-guerra, a exportação média, anual, dos Estados Unidos para a Europa Ocidental foi superior a 4 bilhões de dólares e a importação procedente da Europa Ocidental foi apenas de cerca de 1 bilhão de dólares. Essa corrente unilateral de mercadorias não pode concorrer para a intensificação do comércio internacional e sim para miná-lo.

A exportação norte-americana artificialmente hipertrofiada durante os anos do após-guerra realiza-se através do financiamento oficial às custas dos contribuintes norte-americanos e do extremo esgotamento das reservas em divisas dos outros países. Se em 1947 11% da exportação, foram diretamente pagos às custas dos contribuintes dos Estados Unidos, já em 1949 o financiamento por conta dos impostos correspondeu a 45 % do volume da exportação. Entretanto, esse financiamento da exportação faz baixar a capacidade aquisitiva das massas trabalhadoras dos Estados Unidos e acarreta assim maior retração do mercado interno, aguça o problema do escoamento para a indústria e a agricultura dos Estados Unidos. Por sua vez, o esgotamento dos recursos em divisas dos países capitalistas e a falta de dólares provocam a redução da procura de mercadorias norte-americanas entre os sócios comerciais dos Estados Unidos. Em 1952 muitos países capitalistas limitaram novamente as importações a fim de remendar, de algum modo, as fendas — que se ampliam cada vez mais — em sua balança de pagamentos.

A política exterior do governo dos Estados Unidos acha-se inteiramente subordinada aos objetivos de rapina dos monopólios norte-americanos. Em seu interesse os Estados Unidos impõem a outros países diferentes tipos de acordos escravizadores e desiguais em direitos, sob a máscara da "ajuda" e da "cooperação". Os governantes dos Estados Unidos privam os demais países burgueses da independência em sua política interna e externa, destroem as múltiplas relações econômicas que se formaram historicamente, substituindo-as por relações unilaterais com a América. O estabelecimento do controle norte-americano sobre o comércio exterior dos países burgueses representa o principal obstáculo para a livre cooperação econômica entre os países.

Os países da Europa Ocidental saíram da segunda guerra mundial profundamente enfraquecidos economicamente, e a expansão econômica do imperialismo americano agravou-lhes, ainda mais, a situação econômica e solapou suas posições no mercado mundial do capitalismo. Com relação ao volume do comércio exterior, vários países da Europa Ocidental não alcançaram o nível de 1929, enquanto que os restantes marcam passo em torno desse nível. Os países capitalistas da Europa que em sua maioria dependem do comércio exterior — não podem restaurar sua economia nacional sem matérias-primas e víveres importados. Entretanto, o volume da importação em países como a Inglaterra, França e Itália continua sendo inferior ao de 1929. Isso significa que recebem menos matérias-primas destinadas à indústria e víveres destinados à população, do que recebiam antes da guerra. Entretanto, até mesmo para pagar a sua reduzida importação esses países não possuem os recursos necessários.

O problema fundamental que agrava as dificuldades econômicas dos países da Europa Ocidental é o grande déficit crônico de sua balança comercial.

Déficit da Balança Comercial dos Países da Europa Ocidental
(em milhões de dólares)
  1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952
Todos os países
6.445
8.874
8.170
6.300
4.800
6.440
6.210
Inclusive:              
Inglaterra
1.391
2,379
1.739
1.608
986
3.381
2.207
Itália
377
763
462
424
247
490
932
França
1.714
1.123
1.432
569
13
376
495

A massa fundamental do déficit da balança comercial pertence ao comércio da Europa Ocidental com os Estados Unidos. Ligados artificialmente às fontes norte-americanas de fornecimento, os países da Europa Ocidental sentem aguda necessidade de dólares. A intensa exportação de mercadorias norte-americanas para a Europa já nos primeiros anos de após-guerra provocou o esgotamento das reservas em ouro e em divisas dos países da Europa Ocidental. Aproveitando a situação difícil em que se encontram esses países, o capital monopolista dos Estados Unidos impôs-lhe escravizadores empréstimos oficiais, através dos quais não só abriu caminho aos excedentes de mercadorias norte-americanas, como também envolveu a Europa Ocidental em uma compacta rede de dependência financeira.

A "ajuda" pelo Plano Marshall, que no fundamental visava a atender aos objetivos de guerra do imperialismo norte-americano, solapou ainda mais a economia dos países da Europa Ocidental. O capital monopolista dos Estados Unidos valeu-se desse plano para enriquecer-se ainda mais, para enfraquecer seus concorrentes da Europa Ocidental e para transformá-los em seus vassalos.

A "dádiva" norte-americana aos países da Europa Ocidental custou muito caro. O Plano Marshall não ajudou os países da Europa Ocidental a restaurar sua economia e sim, pelo contrário, multiplicou as dificuldades de após-guerra. Os fornecimentos de mercadorias norte-americanas apresentaram, em essência, um caráter obrigatório os Estados Unidos impuseram à Europa Ocidental principalmente suas mercadorias encalhadas (fumo, passas, legumes em conserva, leite condensado, ovo em pó, tecidos) e também matéria-prima excedente (algodão, carvão, celulose, etc.), enquanto que se recusaram a fornecer equipamento destinado à restauração da indústria. É característico o fato de os Estados Unidos haverem fornecido, segundo o Plano Marshall, fumo no valor de 4,5 vezes mais do que o valor dos tornos fornecidos. A inundação dos mercados da Europa Ocidental com mercadorias norte-americanas ajudou os monopólios dos Estados Unidos a se apoderarem desses mercados de escoamento, a privarem de mercados a indústria da Europa Ocidental e a condenarem muitos de seus setores a uma diminuição de atividade.

A agressão dos Estados Unidos contra seus sócios do bloco do Atlântico-Norte não se limita apenas à usurpação de seus mercados de escoamento e à expulsão, das colônias, de seus antigos donos. Os usurpadores norte-americanos mascaram seus objetivos de rapina com um palavreado demagógico a respeito da comunidade de interesse da "comunidade do Atlântico" em face do imaginário e inexistente perigo comunista. A sorte da Inglaterra — o principal concorrente dos Estados Unidos — mostra-nos de que tipo é essa comunidade. Em seu informe de balanço apresentado ao XIX Congresso do Partido sobre o trabalho do Comitê Central, o camarada Malênkov observou:

"Os fatos provam que nenhum inimigo da Inglaterra lhe assestou tão pesados golpes como seu "amigo" norte-americano, nem a espoliou progressivamente — como esse o faz".

A Inglaterra, que saiu da segunda guerra mundial economicamente fraca, perdeu importantes posições no comércio internacional. A profunda desorganização, no após-guerra, da economia da Inglaterra manifesta-se no imenso déficit crônico de sua balança comercial e na desvalorização da libra-esterlina, que perdeu seu antigo papel nas contas internacionais. A burguesia inglesa não pôde, durante os anos do após-guerra, cobrir o excesso da importação sobre a exportação com os recebimentos provenientes da chamada exportação "invisível": suas rendas provenientes das inversões no estrangeiro caíram, em conseqüência da perda de parte considerável das inversões de capital durante os anos da guerra, e também baixaram bruscamente suas rendas provenientes da navegação marítima. Os círculos governamentais da Inglaterra morderam a isca dourada lançada por Wall Street e esperavam, como sócio menor dos Estados Unidos, refazer seus negócios com a ajuda dos fornecimentos norte-americanos. Entretanto, os Estados Unidos prestaram "ajuda" não para restaurar a antiga importância da Inglaterra no comércio mundial, mas para enfraquecê-la ainda mais e para se apoderarem de suas posições no mercado mundial do capitalismo.

Com a "ajuda" norte-americana a Inglaterra enreda-se cada vez mais nas dificuldades econômicas do período de após-guerra, não pode superar a crise da balança comercial e de pagamentos, que se aprofunda novamente sob a influência da corrida armamentista. A ligação da Inglaterra à fonte de abastecimento em dólares e a insuperável falta de dólares constituem a causa principal da desorganização de seu comércio exterior. O capital dos Estados Unidos e os monopólios restaurados da Alemanha Ocidental e do Japão expulsam a Inglaterra de seus mercados tradicionais. As dificuldades de escoamento aumentam cada vez mais para a Inglaterra em virtude do rompimento de suas relações comerciais com os países democráticos e pela impossibilidade de conseguir mercados em outras regiões do globo terrestre. O agravamento de suas posições no comércio exterior determina uma crise particularmente profunda nos setores da indústria inglesa que trabalham para a exportação.

A luta anglo-americana pelos mercados aguça-se cada vez mais. O capital monopolista dos Estados Unidos dedica particular atenção à invasão das posições decisivas nos mercados dos países do império britânico. A expansão dos Estados Unidos no após-guerra estendeu-se a vários mercados em que os monopólios dos Estados Unidos expulsaram os monopólios da Inglaterra. Assim é que nas importações do Canadá a parte dos Estados Unidos aumentou de 60% durante os anos de pré-guerra para 70% em 1951, enquanto que a parte da Inglaterra baixou de 18%? para 10%. Os monopólios ingleses resistem ferozmente à concorrência. Nos mercados dos países que constituem o império britânico, e no Próximo-Oriente, no Oriente Médio e na América Latina, lutam cada vez mais ferozmente, de maneira aberta ou dissimulada, contra seus aliados norte-americanos.

Outros países da Europa Ocidental, envolvidos nas redes da dependência financeira dos Estados Unidos, vêem-se privados de mercados de escoamento e de sua independência na administração de seus negócios no comércio exterior. Em conseqüência disso, intensificam-se suas contradições com os Estados Unidos. Os representantes dos países da Europa Ocidental declaram, com freqüência cada vez maior, que esses países não necessitam da "ajuda" norte-americana, mas de mercados para colocar sua produção.

J. V. Stálin afirma:

"Externamente parece que tudo "vai bem": os Estados Unidos puseram no regime de tutela a Europa Ocidental, o Japão e outros países capitalistas. A Alemanha (Ocidental), a Inglaterra, a França, a Itália, o Japão — nas garras dos Estados Unidos — executam obedientemente suas ordens. Mas seria erro supor que este "bem-estar" possa conservar-se "eternamente" que esses países suportarão para sempre a dominação e o jugo dos Estados Unidos e que não tentarão livrar-se do cativeiro americano e tomar o caminho do desenvolvimento independente." [pág. 53]

As contradições entre os países imperialistas vencidos e os vencedores na segunda guerra mundial constituem um dos mais importantes conjuntos de contradições no mercado mundial do capitalismo. Os mercados exteriores da Alemanha fascista e do Japão militarista foram dominados pelos monopolistas norte-americanos. O imperialismo dos Estados Unidos escravizou os povos da Alemanha Ocidental e do Japão e, desejando utilizá-los como carne-de-canhão na nova guerra mundial que preparam, transformou a Alemanha Ocidental e o Japão em bases de apoio de sua agressão na Europa e no Extremo Oriente. O regime norte-americano de ocupação coloca a economia dos países ocupados a serviço de objetivos militares e agrilhoa sua indústria e agricultura, seu comércio, sua política interna e externa e todos os aspectos de sua vida. Aumenta o ódio aos invasores ianques na Alemanha Ocidental e no Japão, e se intensifica a tendência dos povos desses países a se livrarem do cativeiro e a viver vida independente. Tudo isso anuncia o amadurecimento de um conflito inevitável entre os Estados Unidos e os países que se acham sob o tacão da bota militar norte-americana.

Os monopólios da Alemanha Ocidental e do Japão, restaurados pelos imperialistas americanos, já mostram seus dentes de lobo e começam a lutar, com tenacidade cada vez maior, por um lugar no mercado. Durante os últimos anos, a exportação de suas mercadorias desenvolveu-se rapidamente.

Exportação da Alemanha Ocidental e do Japão
(em milhões de dólares)
  1937 1947 1948 1949 1950 1951 1952
Alemanha Ocidental
1.693
329
706
1.129
1.981
3.473
3.951
Japão
900
174
259
511
820
1.355
1.274

É característico o fato de a Alemanha Ocidental, que, quanto ao volume da exportação, ocupava em 1947 o 26.° lugar entre os países capitalistas, encontrar-se agora no 5.° lugar (antes da guerra a Alemanha estava em 3.° lugar). O Japão também passou do 36.° lugar em 1947 para o 14.° lugar (antes da guerra ocupava o 9.° lugar).

Os monopólios da Europa Ocidental e do Japão desbancam de maneira cada vez mais acentuada seus concorrentes ingleses nos mercados mundiais; assim é que, por exemplo, a exportação da Alemanha Ocidental para a Europa Ocidental aumentou mais de três vezes de 1949 a 1951. Se em 1949 a Inglaterra exportou para os mercados dos países da Europa Ocidental 2,5 vezes mais do que a Alemanha Ocidental, já em 1951, pelo contrário, a exportação da Alemanha Ocidental superava de maneira sensível a inglesa.

Nos mercados da Ásia, o Japão concorre de maneira intensa com a Inglaterra, já havendo ultrapassado os ingleses, por exemplo, na exportação de tecidos de algodão. Em 1951 o Paquistão importou do Japão uma quantidade de tecidos de algodão 6 vezes maior do que a importada da Inglaterra. Os tecidos japoneses expulsam os ingleses nos mercados da Malaia, Indonésia e África Oriental Inglésa.

Os monopólios norte-americanos esforçam-se por não permitir em seus mercados a penetração das mercadorias dos monopólios restaurados da Alemanha Ocidental, e orientam a expansão da Alemanha Ocidental para os mercados da Inglaterra, França e outras potências. Até certa época essa política foi favorável aos Estados Unidos. entretanto, a sempre crescente atividade dos revanchistas da Alemanha Ocidental nos mercados de várias regiões — em particular da América Latina — começa a prejudicar tanto os interesses dos monopólios da indústria química como os da indústria mecânica dos Estados Unidos. A volta ao mercado mundial do capitalismo por parte dos vencidos na segunda guerra mundial é acompanhada de tão profundo aguçamento das contradições, que anuncia o amadurecimento de condições para novos e inevitáveis choques entre os rivais imperialistas.

As contradições no mercado mundial do capitalismo aguçam-se também sob a influência da desagregação do sistema colonial do imperialismo. O ascenso do movimento de libertação nacional dos povos oprimidos cada vez mais dificulta as manobras das potências imperialistas e suas tentativas de minorar suas dificuldades às custas de maior exploração das colônias e semi-colônias. Os Estados Unidos penetram por todos os meios nas colônias e dali expulsam a velhas potências coloniais. A penetração do capital norte-americano nas possessões coloniais das velhas potências imperialistas traz aos povos coloniais exploração cada vez mais feroz e a pilhagem de suas riquezas. Ao mesmo tempo, a Inglaterra, a França, a Bélgica e outras potências coloniais esforçam-se por transferir para suas colônias o peso imposto pela militarização da economia das metrópoles e pela expansão dos Estados Unidos. Tudo isso causa maior pilhagem das colônias e semi-colõnias pelas potências imperialistas, e o aprofundamento do antagonismo entre as metrópoles e as colônias.

O comércio exterior é um dos principais meios de pilhar os países coloniais e dependentes. Os monopólios dos Estados Unidos e das velhas potências coloniais colocam nos mercados dos países atrasados sua produção industrial três vezes mais cara, enquanto que arrematam a preços ínfimos as matérias-primas e os víveres. A troca não equivalente e a pilhagem cada vez maior das colônias e das semi-colônias causam a decadência de sua economia, o aumento de seu atraso econômico e a baixa do nível de vida, já ínfimo, da população. Essas conseqüências do domínio dos monopólios nos países atrasados diminuem a possibilidade do escoamento da produção industrial nesses países e, por conseguinte, aguçam, ainda mais, o problema do mercado para o capitalismo.

O comércio exterior dos países coloniais e dependentes encontra-se sob o controle dos monopólios estrangeiros, que deformam a economia dos países atrasados, emprestando-lhe um desenvolvimento unilateral ao interesse das metrópoles e no interesse de conseguir o lucro máximo. Inundando os mercados coloniais com mercadorias de consumo que as próprias colônias e semi-colônias poderiam produzir para si mesmas em quantidade suficiente, os monopólios das grandes potências sufocam a indústria local, arruínam as indústrias artesãs, freiam o desenvolvimento da indústria nacional e da agricultura. Ao mesmo tempo, os países imperialistas não permitem o fornecimento de maquinaria destinada à industrialização dos países atrasados, porque a manutenção de seu atraso é que garante ali o domínio dos imperialistas. A insignificante exportação de equipamento aos países dependentes não se destina à criação da indústria nacional e sim a atender às necessidades das filiais dos monopólios capitalistas ali instaladas.

Pelos exemplos seguintes podemos julgar do insignificante volume da exportação de maquinaria aos países dependentes: em 1951 os Estados Unidos exportaram para a Indonésia 51 milhões de dólares de tecidos e 45 milhões de dólares de mercadorias alimentícias, enquanto que o fornecimento de equipamento foi ao todo de apenas 2 milhões e 400 mil dólares para a indústria petrolífera, 700 mil dólares para a industria metalúrgica e 100 mil dólares, laticínios no valor de 19 milhões de dólares e couro. Para as Filipinas os Estados Unidos exportaram tecidos no valor de 95 milhões de dólares, laticínios no valor de 19 milhões de dólares, e apenas 1 milhão e 400 mil dólares de máquinas agrícolas. A exportação de tecidos norte-americanos e de outros produtos da indústria leve, fumo, etc., provoca a redução da produção local e sufoca a indústria nacional dos países dependentes.

Os hipócritas imperialistas realizam sua política de pilhagem sob a bandeira da "ajuda" aos países atrasados. É justamente para isso que se formulou o Ponto IV do famigerado programa Truman. Entretanto o objetivo real desse plano norte-americano de "ajuda" aos países atrasados é colocar seus recursos a serviço da máquina bélica norte-americana, é ampliar o campo de atividade dos monopólios dos Estados Unidos. Os acordos celebrados entre o governo dos Estados Unidos e os países dependentes sobre ajuda técnica prevêem a construção de bases militares e estratégicas e o aumento da produção de matérias-primas destinadas à indústria bélica dos Estados Unidos.

A luta feroz que as aves-de-rapina do imperialismo travam pelas fontes de matérias-primas, pelos mercados de escoamento e pela redistribuição das colônias atesta a irreconciliabilidade das contradições no mercado mundial do capitalismo, a decomposição da economia no campo dos imperialistas, que tentam encontrar saída de suas dificuldades econômicas através da militarização da economia e da preparação de nova guerra.

***

O novo mercado mundial paralelo, que se formou em consequência do fato de vários países da Europa e da Ásia se haverem afastado do capitalismo, distingue-se radicalmente do mercado mundial do capitalismo. O camarada Stálin afirmou:

"Como resultado econômico da existência de dois campos opostos, o mercado mundial único, universal, desagregou-se, motivo por que temos atualmente dois mercados mundiais paralelos, que também se opõem um ao outro", [pág. 51]

O surgimento do mercado democrático mundial distingue-se, quanto aos princípios, do surgimento do mercado mundial do capitalismo. O mercado democrático mundial, surgindo à base da vitória do socialismo na URSS e da passagem dos países de democracia popular para o caminho do desenvolvimento socialista — o caminho da construção de uma nova vida —, foi criado na medida em que se deu a aproximação econômica voluntária entre povos livres e com igualdade de direitos. Ao contrário, o mercado mundial do capitalismo formou-se no decurso da incorporação, pela violência, dos países atrasados ao comércio mundial, através das invasões e pilhagens das colônias, através da subordinação e exploração de uns países mais fracos por outro mais fortes.

No novo mercado mundial — o mercado dos países do campo democrático e da paz — foram liquidadas as relações de exploração entre os povos; sua cooperação econômica baseia-se no desejo sincero da ajuda mútua e de conseguir um ascenso geral. Todas as formas de cooperação econômica entre os países do campo democrático baseiam-se na igualdade completa entre as partes e no respeito à soberania nacional. Nas relações mútuas entre os países democráticos não há, nem pode haver, desigualdade de direitos, opressão, porque a igualdade real entre os povos grandes e pequenos decorre da própria essência do socialismo. A cooperação econômica entre os países democráticos realiza-se, tendo-se em conta os interesses mútuos das partes, à base do proveito mútuo; exclui a possibilidade de relações proveitosas unilaterais a favor da parte mais forte.

O mercado democrático mundial caracteriza-se por relações novas entre os povos — e sem precedentes na história —, baseadas nos princípios da amizade leninista-stalinista entre os povos e nos princípi0s do internacionalismo proletário, da comunidade de interesses na defesa da paz e na abolição de todas as formas de exploração e opressão. As relações mútuas no mercado democrático mundial são, por seu caráter, socialistas. Distinguem-se radicalmente das relações que se observam no mercado mundial do capitalismo e que se caracterizam na exploração dos países fracos pelos mais fortes; nas relações de domínio e de subordinação; na desigualdade de direitos, e na liquidação da soberania dos povos mais fracos.

As relações novas — socialistas — entre os povos no mercado democrático mundial manifestam-se antes de tudo na ajuda amistosa, em todos os sentidos, dos países avançados aos países atrasados. O camarada Stálin afirmou:

"... é necessário que o proletariado vitorioso das nações avançadas preste ajuda real e prolongada à massas trabalhadoras das nações atrasadas para seu desenvolvimento cultural e econômico, para ajudá-las a que se elevem a um grau superior de desenvolvimento e alcancem as nações que estão na frente. Sem essa ajuda não se pode organizar a convivência pacifica e a cooperação fraternal entre os trabalhadores das diferentes nações e nacionalidades em uma economia mundial única, tão necessária ao triunfo definitivo do socialismo".(5)

Ás relações econômicas novas — socialistas — entre os povos desenvolvem-se em conseqüência da derrubada do poder dos capitalistas e dos latifundiários, da transferência do poder para as mãos do povo e da concentração do comércio exterior nas mãos do Estado dos trabalhadores.

A concentração do comércio exterior nas mãos do Estado dos trabalhadores é uma particularidade fundamental do novo sistema de troca entre os povos no mercado democrático mundial. Aqui a circulação de mercadorias se realiza sem capitalistas, nem grandes nem pequenos. A União Soviética realiza seu comércio exterior à base do monopólio do Estado socialista, com o domínio indivisível do sistema socialista sobre toda a economia nacional. Os países europeus de democracia popular, construindo as bases do socialismo, privaram o capital privado da participação no comércio exterior e concentraram esse nas mãos do Estado. A República Popular da China — onde o capital privado é admitido a participar do comércio exterior sob o controle do governo popular — conseguiu uma posição dominante do setor estatal no c0mércio exterior, realizando a troca com os países do campo democrático através de organizações estatais que controlam o comércio exterior.

Assim, do mercado democrático mundial participam o Estado socialista soviético — onde o sistema socialista domina inteiramente em todos os setores da economia nacional — e os Estados de democracia popular — que se apóiam no sistema socialista, predominante em sua economia. As mercadorias que circulam entre os países no mercado democrático mundial são de propriedade dos Estados democráticos — isto é: patrimônio de todo o povo. Isso significa que o comercio exterior dos países democráticos no novo mercado mundial já se acha socializado e é uma forma socialista de economia porque o poder proletário é o único dono das instituições, que se baseiam na propriedade de todo o povo.

O monopólio estatal do comércio exterior coloca o comércio exterior a serviço do progresso da economia nacional, a fim de acelerar os ritmos de desenvolvimento da produção socialista. Permite a garantia da independência econômica do país, a salvaguarda da economia interna contra a intervenção econômica dos países imperialistas, e a defesa da economia nacional contra a ação nefasta das forças elementares do mercado mundial do capitalismo. O monopólio do comércio exterior representa importante papel na formação e fortalecimento das formas socialistas de economia, em sua defesa contra a atividade de sapa do capital internacional. Nas condições do mercado democrático mundial o monopólio estatal do comércio exterior assegura harmonia no desenvolvimento econômico dos países do campo democrático e o entrosamento voluntário de seus planos econômicos.

A socialização do comércio exterior significa a criação de um novo sistema de troca entre os povos — sistema novo e sem precedentes na história —, e que permite que a tendência progressista dos povos à aproximação econômica encontre suas formas adequadas de cooperação voluntária que correspondem às exigências do desenvolvimento objetivo da história. Esse é o sistema de relações econômicas entre povos livres—, que puseram por terra o jugo do capitalismo — sistema descoberto por J. V. Stálin e que se corporifica no sistema, criado segundo suas indicações, de fraternal cooperação econômica entre os povos que formam o mercado democrático mundial.

O novo sistema de relações econômicas mútuas, que se baseiam nas formas socialistas de troca, abre campo à ação das leis econômicas do socialismo nas relações entre os países do mercado democrático mundial. A circulação de mercadorias entre esses países está de acordo com as exigências da lei econômica fundamental do socialismo, descoberta por J. V. Stálin. Como ensina o camarada Stálin, as características essências e as exigências dessa lei são

"... garantia da máxima satisfação das necessidades materiais e culturais, sempre crescentes, de toda a sociedade, por meio do ininterrupto aumento e aperfeiçoamento da produção socialista, à base de uma técnica superior.", [pág. 57]

Essas exigências são as que definem a troca entre os países democráticos no novo mercado mundial. O objetivo da troca é cooperar para o progresso ininterrupto da economia nacional, o desenvolvimento planificado da produção socialista à base de uma técnica superior como meio de assegurar a satisfação, cada vez mais completa, das necessidades sempre crescentes das massas populares dos países democráticos. O motor da cooperação econômica entre os povos do campo do socialismo não é a caça ao lucro máximo para os monopolistas — motor do comércio capitalista internacional —, mas, sim, a cooperação mútua para acelerar os ritmos do desenvolvimento econômico no interesse dos trabalhadores.

O desenvolvimento planificado, é sem crises, da economia dos países democráticos assegura o desenvolvimento planificado, e sem crises, de sua circulação mercantil no novo mercado mundial. Todos esses países realizam seu comércio à base dos acordos relativos aos mútuos fornecimentos de mercadorias. Os acordos garantem a todos os participantes tanto o recebimento das mercadorias que são necessárias a cada um deles para o desenvolvimento de sua economia como o escoamento de suas mercadorias nos países amigos. A troca de mercadorias se realiza de maneira planificada e está livre das crises destruidoras e das vacilações provocadas pela conjuntura econômica. Por força dessas vantagens fundamentais do novo mercado mundial, as relações econômicas entre os países democráticos e pacíficos são prolongadas, estáveis, e se ampliam sem cessar.

A cooperação econômica entre esses países ingressou em nova etapa com o fortalecimento do princípio da planificação e a passagem dos países de democracia popular a planos econômicos de muitos anos. A elaboração dos planos econômicos com perspectivas criou condições para o estabelecimento do comércio recíproco na base de acordos comerciais a longo prazo. A planificação, com a antecipação de vários anos, para a circulação de mercadorias é usada com amplitude cada vez maior nas relações mútuas entre os países do campo da democracia e do socialismo. Essas relações econômicas tão firmes e prolongadas no novo mercado mundial criam para todos os povos irmãos uma perspectiva clara e favorável de desenvolvimento contínuo.

Os planos para o comércio exterior — parte integrante dos planos econômicos dos países do campo democrático — acham-se subordinados à realização das tarefas relativas ao desenvolvimento, tarefas estabelecidas em cada um dos países democráticos para um período correspondente. Ao mesmo tempo o desenvolvimento planificado do comércio exterior nas condições do novo mercado mundial concorre para intensificar a direção planificada da economia nacional dos países de democracia popular, de acordo com as exigências da lei do desenvolvimento planificado, que cada vez mais se amplia à medida que aumenta a socialização dos meios de produção nesses países.

O desenvolvimento planificado da circulação de mercadorias no mercado mundial democrático permite que os países amigos estabeleçam seus planos econômicos de modo a se harmonizarem entre si de maneira livre e fraternal. Nessa cooperação entre povos irmãos, na ampliação de suas múltiplas relações econômicas internacionais está a garantia do desenvolvimento econômico de cada país do campo democrático, e a garantia do ascenso da economia nacional de cada povo.

Os acordos comerciais e outros acordos de caráter econômico entre os países democráticos são um meio de entrosar seus planos de desenvolvimento econômico. Esses acordos garantem a cada país a obtenção de máquinas, equipamento e materiais necessários ao desenvolvimento econômico e, por conseguinte, permitem que se saiba com exatidão e com vários anos de antecedência os fornecimentos procedentes de países amigos e que garantem o cumprimento dos planos. De maneira idêntica, os compromissos condicionados pelos acordos de um país com outros países permitem-lhe prever, em seus planos, a produção das mercadorias de que necessita. Assim é que a planificação da circulação mútua de mercadorias leva os países do campo democrático a realizar a harm0nia fraternal entre os seus planos de desenvolvimento econômico.

De acordo com o aumento contínuo da produção de paz dos países democráticos, a capacidade de seu mercado mundial aumenta de ano para ano. A ampliação contínua e a ausência de dificuldades de escoamento caracterizam o novo mercado. Em virtude do desaparecimento da contradição fundamental do capitalismo — a contradição entre o caráter social da produção e a forma privada da apropriação dos resultados do trabalho —, não se observa no campo socialista o atraso da capacidade do mercado em relação ao aumento da produção.

Em uma sociedade na qual o objetivo da produção socialista é "o homem com suas necessidades — isto é: a satisfação de suas necessidades materiais e culturais" (J. Stálin), não há, nem pode haver, os estreitos limites do mercado contra os quais, no capitalismo, se chocam constantemente as crescentes possibilidades de produção. Pelo contrário: nos países democráticos o aumento das necessidades ultrapassa o aumento da produção, enquanto que a sempre crescente capacidade do mercado abre campo ilimitado ao desenvolvimento da produção social. Nesses países, o mercado interno — que se amplia sem cessar — assegura o desenvolvimento da produção e, por conseguinte, não há base para a expansão econômica no exterior, a luta pelos mercados externos e a concorrência ruinosa.

O aumento ininterrupto de sua capacidade e o aumento planificado do comércio exterior de todos os países democráticos constituem uma particularidade característica do novo mercado mundial. Isso se acha ligado às vantagens fundamentais do regime social dos países do campo do socialismo. O comércio exterior de todos os países democráticos desenvolve-se sobre a sólida base do progresso econômico geral. O florescimento das forças produtivas dos países do campo democrático leva a tal aumento de seus recursos materiais, que abre possibilidades cada vez maiores para a troca econômica entre os países.

A inquebrantável unidade política entre os países do campo democrático, unidos pela tendência comum de conseguir a vitória do socialismo, cria condições favoráveis ao amplo desenvolvimento de uma cooperação econômica entre os povos livres. Justamente em virtude dessas circunstâncias é que o comércio exterior de todos os países democráticos aumenta ininterruptamente e, além disso, a ritmos muito acelerados, impossíveis nas condições do capitalismo.

Em oposição ao período de pré-guerra — em que a circulação do comércio exterior da União Soviética não aumentava continuamente devido à instabilidade das relações com os países burgueses —, nas condições do após-guerra o comércio exterior da URSS aumenta de ano para ano, o que se explica tanto pelo aumento do poderio econômico do país como pela estabilidade das relações amistosas com os países de democracia popular. Em conseqüência do desenvolvimento planificado do comércio exterior após a Grande Guerra Patriótica, o volume do comércio exterior da URSS em 1952 foi três vezes superior ao de pré-guerra.

O comércio exterior de todos os demais países do campo democrático aumenta,a ritmos acelerados. O aumento da circulação no comércio exterior dos países europeus do campo da paz e da democracia caracteriza-se pelos seguintes dados (em percentagem):

  1946 1947 1948
Polônia
100
207
600
Tchecoslováquia
100
233
357
República Democrática Alemã
-
100
1770
Hungria
100
314
1310
Romênia
100
244
1445
Bulgária
100
142
296

Em 1951 a República Popular da China duplicou o volume de seu comércio exterior em relação a 1950, e ultrapassou o volume do comércio de pré-guerra.

A redução do comércio com os países capitalistas é amplamente coberta pela ampliação da circulação de mercadorias entre os países democráticos. No conjunto, a circulação de mercadorias entre os países do campo da paz e da democracia aumentou, de 1948 a 1952, mais de três vezes.

A estreita cooperação econômica entre os países do campo democrático faz com que a troca com os países amigos seja predominante em seu comércio exterior. Atualmente a massa fundamental da circulação do comércio exterior de todos os países democráticos cabe ao mercado mundial. Assim é que no comércio exterior da União Soviética a parte dos países de democracia popular é de 80%.

Peso Específico dos Países do Campo Democrático
no Comércio Exterior dos Países Euroupeus de Democracia Popular
  1937 1948 1949 195 1951 1952
Polônia
7
41
43
59
58
67
Tchecoslováquia
11
32
45
55
60
71
Hungria
13
34
46
61
67
71
Romênia
18
71
82
83
80
85
Bulgária
12
78
82
89
92
89
Albânia
5
38
100
100
100
100
Total
12
41
51
63
78
83

No comércio exterior da República Democrática Alemã a parte dos países do campo democrático representa atualmente cerca de 80%. No comércio exterior da República Popular da China a parte dos países democráticos aumenta também de maneira incessante: em 1950 foi de 26%: em 1951, de 61%, e em 1952, chegou a 72%.

O novo mercado mundial desenvolve-se sobre a sólida base do ascenso ininterrupto da economia de todos os países democráticos. A circulação de mercadorias entre os mesmos e seu comércio exterior aceleram, por sua vez, seu desenvolvimento econômico. Os países de democracia popular podem realizar a industrialização socialista somente graças às trocas com os países amigos, que lhes fornecem as máquinas e o equipamento necessários. Por isso a ampliação da circulação de mercadorias no mercado democrático mundial acelera muito os ritmos de desenvolvimento econômico dos países democráticos.

A formação do poderoso campo da paz e da democracia modifica radicalmente, nos países de democracia popular, as condições da passagem ao caminho da construção do socialismo. A União Soviética solucionou a tarefa de conquistar a sua independência técnica e econômica em relação aos países capitalistas baseando-se apenas em seus próprios recursos. O Estado socialista foi forçado a organizar por si mesmo a produção de todos os tipos de máquinas e o equipamento de que necessitava para conseguir um desenvolvimento independente de sua economia e não ficar desarmado em face da agressão imperialista. Os países de democracia popular se encontram em condições diferentes, mais favoráveis. Cada um deles, baseando-se na ajuda amistosa da União Soviética e de outros países democráticos, encontra no novo mercado mundial todos os tipos de máquinas e equipamento, matérias-primas e materiais de que necessita. O mercado mundial democrático dispõe de recursos tão amplos e variados que permitem garantir o cumprimento dos planos econômicos e elevados ritmos de desenvolvimento econômico para todos os povos irmãos.

As vantagens fundamentais do novo mercado mundial manifestam-se de maneira evidente no novo sistema de preços que impera no comércio mútuo entre os países democráticos. Em razão das novas relações entre os povos do campo democrático, os preços no novo mercado mundial não podem ser — como no mercado capitalista — um meio de troca não equivalente, de exploração e pilhagem dos países fracos pelos fortes. No comércio entre os países democráticos os preços se estabelecem realmente, entre os participantes, com igualdade de direitos na troca, através do acordo voluntário e com a observância dos interesses recíprocos. Os preços no novo mercado mundial são estáveis, o que os distingue dos preços instáveis, e que vacilam espontaneamente, no mercado mundial do capitalismo. A dança especulativa dos preços no mercado capitalista reflete a correlação, que se modifica constantemente, da oferta e da procura, as manobras dos monopólios na bolsa, enquanto que a subida e a queda dos preços intensificam, por sua vez, a instabilidade da economia capitalista. Em oposição a isso, no comércio entre os países democráticos os preços são estabelecidos por acordo recíproco durante um período não inferior a um ano, e os preços da maioria das mercadorias continuam os mesmos no decurso de uma série de anos.

A estabilidade dos preços no mercado democrático mundial representa um importante fator da estabilidade do desenvolvimento econômico dos países que formam esse mercado. Contrariamente ao que se observa no mercado capitalista, não há nele a grande quantidade de preços para uma e mesma mercadoria, quantidade que tem origem na diferença de forças entre as partes no comércio internacional. No mercado democrático mundial, a União Soviética oferece o exemplo para as novas relações, fornecendo mercadorias a preços únicos a todos os países amigos e permitindo variações apenas dentro dos limites das diferenças do custo dos transportes aos diferentes países.

Assim como a poderosa União Soviética se tornou o centro de coesão dos países democráticos em um único e poderoso campo do socialismo, a poderosa economia socialista da URSS é o centro de formação do novo mercado mundial. Somente estabelecendo relações econômicas intensas e amplas com o Estado socialista é que os povos que se livraram dos grilhões do capitalismo puderam, baseando-se na ajuda desinteressada da URSS, enveredar pelo caminho do desenvolvimento independente, elevar sua economia nacional e acabar com o atraso herdado do regime burguês.

As relações comerciais entre a URSS e os países democráticos, que se orientam no sentido da ajuda mútua, estabelecem-se levando-se em conta as particularidades da estrutura econômica de cada país amigo e as necessidades do amplo desenvolvimento de suas forças produtivas. A União Soviética fornece aquilo que os países de democracia popular necessitam para cumprir seus planos econômicos. Os fornecimentos soviéticos de equipamento industrial, materiais e matérias-primas servem em primeiro lugar à causa da industrialização dos países amigos e constituem a base do ascenso de toda sua economia nacional. Já o fato de que em 1952 os fornecimentos soviéticos de equipamento e máquinas dos mais modernos tipos aos países de democracia popular aumentaram 10 vezes em relarão a 1948 — sendo que parte considerável do equipamento foi fornecida a crédito para a construção de novas empresas — demonstra como é grande o papel da URSS na industrialização dos países democráticos. De acordo com projetos soviéticos e com a ajuda de técnicos soviéticos, constroem-se nesses países centenas de grandes e modernas empresas equipadas com maquinaria fornecida pelas fábricas soviéticas, criam-se novas indústrias e setores inteiros da indústria. É assim que se preparam as condições para um progresso ainda mais poderoso da economia dos países democráticos.

A cooperação científica e técnica constitui uma das manifestações brilhantes das novas relações mútuas no mercado democrático mundial. A União Soviética transmite gratuitamente aos países de democracia popular sua rica experiência técnica de vanguarda e conhecimentos científicos em todos os setores da produção social. Isso permite que os países de democracia popular estruturem sua economia nacional diretamente à base de uma técnica superior; e acelera muito os ritmos de seu desenvolvimento econômico, porque a ajuda técnica gratuita os liberta do gasto de quantias colossais destinadas ao pagamento da experiência técnica e permite encaminhar esses recursos à construção de obras básicas.

A União Soviética transmite sua experiência técnica aos países de democracia popular sem compensação, sem quaisquer pagamentos — claros ou ocultos — por patentes. Os países de democracia popular reembolsam as organizações soviéticas apenas pelas despesas reais com os projetos e a preparação da documentação técnica. O baixo custo dessa ajuda, que não exige nenhum pagamento de licenças, constata-se pelo seguinte: nosso pais, no começo da industrialização socialista, foi forçado a se valer, para organizar algumas indústrias, da ajuda técnica de firmas capitalistas. A URSS teve de pagar não só o elevado custo dos serviços técnicos mas também a licença pelos segredos tecnológicos da indústria correspondente. Por serviços técnicos e licenças destinados a algumas Indústrias a União Soviética pagou a firmas capitalistas 10 vezes mais do que atualmente custam os projetos e a preparação da documentação técnica que as organizações soviéticas realizam para os países de democracia popular. Além disso, não devemos esquecer de que essa ajuda extremamente barata da URSS aos países amigos é de primeira classe quanto à sua técnica.

Se levarmos em conta que a ajuda técnica da União Soviética abrange centenas de diferentes indústrias, torna-se evidente que seu caráter gratuito possibilita aos países de democracia popular a economia de recursos colossais. Até mesmo no caso em que os países capitalistas avançados concordassem em prestar ajuda técnica aos países de democracia popular, essa não lhes seria economicamente accessível. Na realidade essa ajuda não pode suceder porque os países imperialistas mantêm atitude hostil em relação à industrialização dos países fracos e atrasados e fazem fracassar todas suas tentativas de enveredar pelo caminho do desenvolvimento independente.

Desde, que ingressam no campo democrático mundial, esses países têm a possibilidade de se valer dos frutos do progresso científico e técnico das nações socialistas avançadas. Como observa o camarada Stálin, a URSS presta aos países de democracia popular uma ajuda não só barata ao máximo, como tecnicamente de primeira classe Na base dessa cooperação está o desejo sincero de conseguir um ascenso geral e de cooperar para o desenvolvimento da economia nacional de cada um dos países. Nisso se manifesta o caráter socialista das relações fraternais entre o povo soviético e os povos de outros países do campo democrático. Valendo-se da ajuda ampla da União Soviética, os países de democracia popular podem assimilar rapidamente as últimas conquistas da ciência e da técnica soviéticas, desenvolver a produção à base da técnica moderna e dos métodos avançados de produção. Tudo isto permite aos países de democracia popular realizarem um salto rápido do atraso ao progresso.

Entre os países do campo socialista mundial se forma uma divisão internacional do trabalho, nova quanto aos princípios que a regem em relação à que existe na economia mundial do capitalismo. Esta nova divisão do trabalho se cria no processo de ruptura da velha divisão herdada do capitalismo. A divisão do trabalho entre os países amigos se verifica em base nova quanto aos princípios que a regem em, relação ao capitalismo: não espontaneamente, mas, sim, de maneira planificada; não compulsoriamente, mas sim através da cooperação voluntária; não sob a forma do domínio dos países avançados sobre os atrasados, mas, sim, à base da real igualdade de direitos e da ajuda sincera dos países avançados na elevação dos atrasados economicamente ao nível dos avançados; não através da transformação dos atrasados economicamente em apêndice auxiliar dos países desenvolvidos e sim na base da independência dos sistemas econômicos nacionais que se completam um ao outro no sistema da nova economia mundial. Tudo isto assegura a divisão racional cio trabalho entre os países, o desenvolvimento amplo de suas forças produtivas à base de uma técnica superior, de acordo com as possibilidades que há em cada país, a liquidação do- atraso econômico, da unilateralidade e da deformação que esses países herdaram do capitalismo. Criam-se condições para o progresso econômico geral e para o aumento do bem-estar de todos os povos livres e amantes da paz.

A União Soviética e os países de democracia popular desenvolvem-se no sentido de um ascenso ininterrupto de sua economia e estão certos de sua vitória na competição pacífica com o sistema capitalista de economia. Os países do campo democrático, interessados em manter a paz, realizam uma política de relações pacíficas com os países capitalistas, e de desenvolvimento de relações comerciais com esses. Essa política é definida pelas particularidades fundamentais do regime social e estatal dos países do campo democrático. O ascenso planificado da economia socialista da União Soviética e da economia dos países de democracia popular significa o aumento ininterrupto dos recursos, não só para ampliar a circulação de mercadorias no mercado democrático mundial mas também para comerciar com os países capitalistas,. Essas possibilidades se ampliam de ano a ano. Por maiores que sejam as invencionices insidiosas a que recorrem os órgãos de imprensa dos grandes monopólios, que tentam fazer crer que os países democráticos não têm o desejo nem as possibilidades de desenvolver o comércio com o Ocidente, os fatos — que são teimosos — desmascaram os agressores imperialistas, que não desejam comerciar com os países democráticos.

Enveredando pelo caminho do rompimento de relações comerciais com os países que não se submeteram ao diktat norte-americano e que não venderam sua independência nacional pelas esmolas do Plano Marshall, os Estados Unidos reduziram a quase nada seu comércio com a União Soviética e os países europeus de democracia popular, e interromperam o comércio com a China. Os imperialistas norte-americanos proibiram de fato o comércio com os países democráticos não só aos países vencidos (Alemanha Ocidental, Japão e Itália) mas também a seus satélites. Em conseqüência disso, a circulação de mercadorias dos países do campo democrático se reduziu em 1951, em relação a 1937, na seguinte proporção: com os Estados Unidos, de 10 vezes; com a Inglaterra, de 6 vezes; com a França, de mais de 4 vezes.

Através do bloqueio econômico, os círculos governamentais dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França esperavam sufocar a URSS, a China e os países europeus de democracia popular. Entretanto, os imperialistas erraram em seus cálculos. A política agressiva dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França c0ntribuiu para reunir os países de democracia popular em torno da União Soviética e para fortalecer a unidade no campo da paz e da democracia, contrariando a vontade de seus inspiradores. A experiência do após-guerra demonstra, de maneira, evidente, que os inimigos do socialismo não têm forças para solapar nem para retardar o desenvolvimento econômico da União Soviética, da China e dos países europeus de democracia popular. O ininterrupto progresso econômico de todos os países do campo democrático nas condições do bloqueio econômico por parte dos países agressores comprova que os povos livres resolvem com êxito seus problemas, baseando-se inteiramente em seus próprios recursos.

Os agressores imperialistas não aprenderam as lições da história. Todas suas numerosas tentativas no sentido de interromper a construção do socialismo na URSS através do rompimento de relações econômicas terminaram sempre pelo fracasso e não puderam deter o avanço triunfante do Estado socialista. Construindo o socialismo dentro do cerco hostil do capitalismo, a União Soviética suportou todos os bloqueios dos imperialistas e defendeu sua independência econômica. E sempre o rompimento de relações comerciais com a URSS se voltou contra os próprios países capitalistas, piorando sua situação econômica e forçando-os a renovar as relações comerciais com o Estado soviético.

Após o fracasso do bloqueio econômico da República Soviética organizado pelos países da "Entente", o grande Lênin afirmou em 1922:

"Os países burgueses têm necessidade de comerciar com a Rússia; sabem que sem estas ou aquelas formas de relações econômicas mútuas sua ruína se verificará mais depressa, como aconteceu hoje.(6)

Afirmou V. I. Lênin em seu informe político ao XI Congresso do Partido:

"Todos nós sabemos que os interesses mais inadiáveis, essenciais, práticos, e que se manifestaram agudamente durante os últimos anos, exigem de todas as potências capitalistas o desenvolvimento, a regularização e a ampliação do comércio com a Rússia. E se há esse tipo de interesses, então (...) essa necessidade econômica fundamental abrirá caminho por si mesma".(7)

Se durante os primeiros anos de existência do Estado Soviético — quando o país se encontrava arruinado e atrasado — o bloqueio econômico terminou pelo fracasso, hoje — quando já a União Soviética conseguiu um florescimento sem precedentes e é uma potência socialista avançada, que chefia o poderoso campo da paz e da democracia — é ainda mais infundada a aspiração dos imperialistas a impedir a marcha vitoriosa do socialismo.

O bloqueio econômico do campo democrático voltou-se contra os próprios países capitalistas, intensificando sua ruína econômica e aguçando as dificuldades de escoamento no mercado mundial do capitalismo. A recusa de comerciar com a União Soviética e os países de democracia popular agrava, ainda mais, o problema de escoamento para os países capitalistas e multiplica as dificuldades econômicas por que passam. Os próprios capitalistas sentem cada vez mais as conseqüências nefastas do rompimento de relações com mercados tão vastos com os da URSS, da China e dos países europeus de democracia popular.

Nos países capitalistas aumenta o descontentamento contra o diktat norte-americano que os obriga a reduzir o comércio com os países cio ;campo democrático, contrariando seus interesses nacionais. Não só círculos progressistas mas também clarividentes representantes da burguesia exigem com insistência cada vez maior a renovação das relações econômicas com os países democráticos.

O auto-isolamento dos países capitalistas em relação ao mercado democrático mundial pode levá-los à perda definitiva desse mercado. O elemento novo nas condições atuais consiste em que os países capitalistas que hoje se recusam a comerciar com os países democráticos podem no futuro não encontrar essas possibilidades. Os próprios países do campo democrático podem desenvolver a produção dos tipos de mercadorias que antes eram adquiridas nos países capitalistas. J. V. Stálin diz que com os elevados ritmos de desenvolvimento da indústria nos países de democracia popular pode afirmar-se com segurança que:

"... esses países em breve não mais terão necessidade de importar mercadorias dos países capitalistas, mas sentirão necessidade de exportar os excedentes de sua produção", [pág. 52]

A política de rompimento de relações econômicas com o mercado democrático mundial seguida pelos países capitalistas contraria as exigências objetivas da economia capitalista, que se debate nas tenazes das dificuldades provocadas pela redução da capacidade do mercado capitalista. O evidente fracasso da política do bloqueio econômico contra o campo do socialismo, e as crescentes dificuldades de escoamento no mercado mundial do capitalismo, forçam os países burgueses a procurar os meios de renovarem as relações comerciais com os países democráticos. V. I. Lênin afirmou há mais de 30 anos:

"Há uma força maior do que o desejo, a vontade e a decisão de qualquer dos governos ou classes inimigas. Essa força são as relações econômicas gerais e universais que os obrigam a entabular esse tipo de relações conosco.".(8)

A ampliação constante do novo mercado democrático mundial comprova suas indiscutíveis vantagens sobre o mercado mundial do capitalismo, em decomposição, comprimido pelas tenazes da ruína econômica e das contradições antagônicas, que se aprofundam, entre os países capitalistas.


Notas de rodapé:

(1) J. V. Stálin — "Problemas Econômicos do Socialismo na URSS", PROBLEMAS n. 43, pág. 67 — Rio. NOTA DA RED.: Todas as outras citações dessa obra de Stálin trarão em seguida, entre parênteses, no próprio corpo do artigo, a referência da página em que se encontram no mencionado número desta revista. (retornar ao texto)

(2) V. I. Lênin — "Obras", tomo 3, pág. 522, ed. russa. (retornar ao texto)

(3) J. V. Stálin — "Obras", tomo 7, pág. 287, ed. russa. (retornar ao texto)

(4) J. V. Stálin — "Obras", tomo 10, pág. 275, ed. russa. (retornar ao texto)

(5) J. V. Stálin — "Obras", tomo 5, pág. 58-59, ed. russa. (retornar ao texto)

(6) V. I. Lênin — "Obras", tomo 33, pág. 188, ed. russa. (retornar ao texto)

(7) V. I. Lênin - Idem, idem, págs. 236-237, ed. russa. (retornar ao texto)

(8) V. I. Lênin — "Obras", tomo 33, pág. 129, ed. russa. (retornar ao texto)

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Inclusão 17/07/2011