A Revolução Alemã e a Burocracia Estalinista
(Problemas Vitais do Proletariado Alemão)

Léon Trotsky


4. Os ziguezagues dos estalinistas na questão da frente única


A antiga social-democrata Torchors (Dusseldorf), que passou para o Partido Comunista, diz num relatório oficial que pronunciou em nome do partido em Francfort a meio de Janeiro:

''Os chefes sociais-democratas já estão suficientemente desmascarados, e manobrar nesse sentido propondo-lhe a unidade na cimeira é um desperdício de energia.''

Citamos segundo o jornal comunista de Francfort que cobre de elogios esse relatório. ''Os chefes sociais-democratas já estão suficientemente desmascarados''. Suficientemente para a oradora, que passou da social-democracia para o Partido comunista (o que , certamente, é honrado), mas insuficiente para os milhões de operários que votam pela social-democracia e toleram à sua cabeça a burocracia reformista dos sindicatos.

Todavia, é inútil referir-se a um relatório isolado. No último dos apelos do Rote Fahne (28 de Janeiro) que me chegou, é de novo demonstrado que não é admissível criar a frente única senão contra os chefes sociais-democratas e sem eles. Porquê? Porque ''ninguém dos que viveram e suportaram as acções desses ''chefes'' durante estes últimos oito anos não acreditam neles''. Mas então que fazer, perguntamos nós com os que vieram para a política nestes últimos dezoito meses? Desde o início da guerra novas gerações políticas cresceram; elas próprias devem fazer a experiência da geração mais velha, nem que fosse a uma escala extremamente reduzida.

''Trata-se justamente, ensinava Lénine aos ultra-esquerdas, em não acreditar no que fez o seu tempo para nós, fez o seu tempo para a classe, fez o seu tempo para as massas.''

Mas a antiga geração social-democrata, que teve a experiência destes dezoito anos, não rompeu com os seus chefes. Pelo contrário, é precisamente na social-democracia que sobram muitos ''velhos'', ligados ao partido por fortes tradições. É lamentável, evidentemente, que as massas levam tanto tempo a aprender. Mas na grande medida a falta é dos ''pedagogos'' comunistas, que não souberam desmascarar concretamente a natureza criminosa do reformismo. É preciso, pelo menos, tirar proveito da nova situação, enquanto que a atenção da massas está altamente concentrada sobre o perigo mortal para submeter os reformistas a uma nova prova que será, talvez, desta vez decisiva.

Sem esconder nem moderar nada a nossa opinião sobre os chefes da social-democracia, podemos e devemos dizer aos operários sociais-democratas:

''Como, por um lado, vocês estão de acordo em lutar connosco, e que, por outro, vocês não querem romper com os vossos chefes, eis o que nós propomos: obriguem eles a iniciar uma luta comum connosco por tais e tais tarefas práticas, por tais e tais meios; no que nos diz respeito, nós, comunistas, estamos prontos.''

Que pode haver de mais simples, de mais claro, de mais convincente que isso?

É precisamente nesse sentido que escrevi – com deliberada intenção de suscitar o temor sincero ou a indignação fingida dos imbecis e charlatans, — que, na luta contra o fascismo, nós estávamos prontos a concluir acordos práticos militantes com o diabo, sua avó, e mesmo com Noske e Zorgiebel.(1)

O partido oficial viola ele próprio a cada passo a sua posição imóvel. Nos seus apelos a uma ''frente única vermelha'' (com ele mesmo), ele avança invariavelmente a reivindicação de ''liberdade ilimitada das manifestações, das reuniões, das coligações e da imprensa proletárias''. É uma palavra de ordem absolutamente justa. Mas na medida onde o Partido comunista fala de jornais, de reuniões, etc., proletários e não somente comunistas, ele avança a palavra de ordem da frente única com a própria social-democracia, que edita jornais operários, convoca assembleias, etc. O máximo da absurdidade é de avançar palavras de ordem políticas, que contêm a ideia da frente única com a social-democracia, e de recusar os acordos práticos para se bater por essas palavras de ordem.

Münzenberg, que se disputa a linha geral e o sentido mercantil, escrevia em Novembro no Der Rote Aufhau:

''É verdade que o nacional-socialismo é a ala a ais reaccionária, a mais chauvinista e a mais feroz do movimento fascisme alemão.''

Se o partido de Hitler é a ala ''a mais reaccionária, a mais feroz'', o governo de Bruning é menos feroz e menos reaccionária. Münzenberg chega com passos de lobo à teoria do ''mal menor'' . Para salvar as aparências de ortodoxia, Münzenberg distingue diferentes especies de fascismo: o ligeiro, o médio e o forte, como se se tratasse de tabaco turco. Mas se todos os ''círculos de esquerda'' (e quais são os seus nomes?) estão interessados na vitória sobre o fascismo, não seria necessários apoderar-se imediatamente da proposição diplomática e equívoca de Breitscheid, avançando do nosso lado um programa prático, concreto e bem elaborado, de luta contra o fascismo, e exigindo uma reunião comum das direcções dos dois partidos, com a participação da direcção dos sindicatos livres? Ao mesmo tempo, seria preciso difundir energicamente esse programa, a todos os níveis dos dois partidos e nas massas. As negociações teriam que se desenrolar sob os olhos do todo o povo: a imprensa deveria dar um relato quotidiano, sem exageros nem invenções absurdas. Os operários são infinitamente mais receptivos a uma tal agitação concreta que bate justo, do que aos ganidos contínuos sobre o tema do ''social-fascismo''. Se se tivesse posto o problema desta maneira, a social-democracia não teria podido, mesmo um só momento, esconder-se por detrás da decoração de cartão da ''frente de fer''.

Leiam A doença infantil do comunismo, o esquerdismo: é hoje o livro actual. É precisamente a propósito de situações análogas àquela que temos hoje na Alemanha que Lénine fala – citamos textualmente – da

''necessidade absoluta para a vanguarda do proletariado, para a sua parte consciente, para o Partido comunista, de bordejar, fazer acordos, compromissos com os diferentes grupos de proletários, os diversos partidos operários e dos pequenos exploradores … Trata-se de saber aplicar esta táctica de maneira a retirar e não de baixar nível de consciência geral do proletariado, o seu espírito revolucionário, a sua capacidade de lutar e de vencer.''

Ora qual é a atitude do Partido comunista? Nesses jornais, ele repete diariamente que para ele só é aceitável

''a frente úica que será dirigida contra Bruning, Severing, Leipart, Hitler e seus iguais''.

Face ao levantamento proletário, não há dúvida que não terá qualquer diferença entre Bruning, Severing, Leipart e Hitler. Os socialistas revolucionários e os menchevique aliaram-se aos cadete e aos kornilovianos contra o levantamento dos bolcheviques em Outubro: Kerensky conduziu sobre Petrogrado o general cossaco cem-negros, Krasnov, os mencheviques apoiavam Kornilov e Krasnov, os socialistas-revolucionários organizavam o levantamento dos Junkers sob a direcção de oficiais monárquicos. Mas isso não significa absolutamente que Bruning, Severing, Leipart e Hitler pertencem sempre e em todas as condições ao mesmo campo. Agora, seus interesses divergem. Para a social-democracia, a questão é, neste momento, menos a defesa dos fundamentos da sociedade capitalista contra a revolução proletária, do que a defesa burguesa do meio-parlamento contra o fascismo. Seria uma muito grande besteira recusar utilizar este antagonismo.

''Fazer a guerra para derrubar a burguesia internacional … escrevia Lénine em A doença infantil, e renunciar à priori a bordejar, explorar as oposições de interesses (mesmo se fossem momentâneas) que dividem os nossos inimigos, a estabelecerem acordos e compromissos com os aliados eventuais ( mesmo temporários, pouco seguros, instáveis, condicionais), não são ridículos?

Citemos de novo textualmente: as palavras entre parênteses sublinhados por nós são de Lénine.

E mais longe:

''Não se pode-se vencer um adversário mais potente senão pelo preço de uma extrema tensão das forças e com a condição expressa de utilizar com a maneira mais minuciosa, a mais atenta, a mais circunspecta, a mais inteligente, a menor ''racha'' entre os inimigos.''

Que fazem Thälmann e Remmele dirigidos por Manuilsky? A racha entre a social-democracia e o fascismo – e que racha! - eles tentavam com todas as suas forças repará-la com a ajuda da teoria do social-fascismo e da prática da sabotagem da frente única.

Lénine exigia que se utilize cada

''possibilidade de assegurar um aliado numericamente forte, fosse um aliado temporário, condicional, pouco sólido e pouco seguro. Quem não compreendeu esta verdade não compreendeu nada do marxismo, nem em geral do socialismo cientifico contemporâneo''.

Olhai, profetas da nova escola estalinista: é dito aqui claramente e precisamente, que vocês nada compreenderam do marxismo. Isso, é Lénine que disse de vocês: respondam!

Mas sem vitória sobre a social-democracia, respondem os estalinistas, não pode haver vitória sobre o fascismo. Isso é verdade? Num certo sentido é verdade. Mas o teorema inverso é igualmente verdadeiro: a vitória sobre a social-democracia italiana é impossível sem a vitória do fascismo italiano. O fascismo tal como a social-democracia são instrumentos da burguesia. Enquanto que dominar o capital, a social-democracia e o fascismo continuarão a existir em diferentes combinações. Assim todos os problemas se reduzem a um só dominador: o proletariado deve derrubar o regime burguês.

Mas é precisamente hoje, enquanto que esse regime treme na Alemanha, que o fascismo corre ao seu socorro. Para derrotar esse defensor, é preciso, nos dizem, previamente acabar com a social-democracia …

Um esquematismo assim parado nos coloca num círculo vicioso. Não se pode sair disso a não ser no terreno da acção. O carácter da acção é determinado não pelo jogo de categorias abstractas, mas pelas relações reais das forças históricas vivas.

Não, afirmam os funcionários, liquidemos ''primeiro'' a social-democracia. Por qual meio? É muito simples: dando ordem às organizações do partido de recrutar num tal prazo cem mil novos membros. Pura propaganda em vez de luta política, um plano de burocrata no lugar de uma estratégia dialéctica. E se o desenvolvimento real da luta de classe colocasse a partir de hoje à classe operária a questão do fascismo, como uma questão de vida ou de morte? É preciso então que a classe operária volte as costas ao problema, é preciso adormecê-la, é preciso convencê-la que a luta contra o fascismo é uma tarefa secundária, que esta tarefa possa esperar, que ela se resolva por ela própria, que o fascismo domina já de facto, que Hitler não traga nada de novo, que não é preciso ter medo de Hitler, que Hitler abra caminho à voz aos comunistas.

Talvez seja um exagero? Não, é a ideia directora e verdadeira e evidente dos chefes do Partido comunista. Eles não a levam sempre até ao fim. Quando são confrontados às massas, eles fazem sempre marcha atrás sobre as suas últimas conclusões, amalgamando diferentes posições, confundindo os operários e eles próprios; mas cada vez que eles tentam sair disso, partem da vitória inevitável do fascismo.

No 14 de Outubro do último ano, Remmele, um dos três chefes do Partido comunista, declarou no Reichstag:

''Foi o próprio sr. Bruning que disse claramente: quando eles (os fascistas) estarão no poder, a frente única do proletariado se realizará e varrerá tudo'' (barulhentos aplausos nas bancadas dos comunistas).

Que Bruning procure assustar a burguesia e a social-democracia por uma tal perspectiva, é compreensível: ele defende o seu poder. Que Remmele console os operários com tal perspectiva, é uma vergonha: ele prepara o poder de Hitler, porque toda esta perspectiva é radicalmente falsa e testemunha uma incompreensão total das psicologia das massas e da dialéctica da luta revolucionária. Se o proletariado da Alemanha, que é hoje a testemunha directa de todos os acontecimentos, deixa os fascistas aceder ao poder, quer dizer dá prova de uma cegueira e de uma passividade absolutamente criminal, não há decididamente nenhuma razão de contar com o facto que depois da chegada dos fascistas ao poder, o mesmo proletariado sacudirá a sua passividade e ''varrerá tudo'': em todos os casos não é o que se passou na Itália. Remmele raciocina inteiramente no espírito dos fazedores de frases pequeno burgueses do XIXº século, que davam prova duma incapacidade total em mobilizar as massas, mas que, em contrapartida, estavam fortemente convencidos que, quando Luís Bonaparte tomou a cabeça da República, o povo se levantaria sem esperar para defender e ''varreria tudo''. Todavia o povo, que tinha deixado o aventureiro Luís Bonaparte aceder ao poder, mostrou-se evidentemente, incapaz de o varrer a seguir. Foi preciso para isso novos acontecimentos importantes, tremores históricos, incluindo a guerra.

A frente única do proletariado, para Remmele, não é realizável, vimos, senão após a chegada de Hitler ao poder. Pode haver aí a confissão mais miserável da sua própria carência? Dado que nós, Remmele e companhia, somos incapazes de unir o proletariado, encarregamos Hitler dessa tarefa. Quando ele unir para nós o proletariado, nós nos mostraremos com toda a nossa força. Depois veio a declaração fanfarrona:

''Seremos os vencedores de amanhã, e a questão não se põe mais: quem esmagará quem? Esta questão já está resolvida (aplausos nas bancadas comunistas). Só há uma questão: a que momento derrubaremos a burguesia? ''

Só isso? Chama-se isso em russo, tocar o céu com o dedo. Nós amanhã seremos os vencedores. Para isso, só nos falta hoje a frente única. Hitler nos dará amanhã, quando ele chegar ao poder. Portanto o vencedor amanhã não será Remmele, mas Hitler. Mas então, metam isso na cabeça: a hora da vitória dos comunistas está longe de soar.

O próprio Remmele sente que o seu optimismo coxeia da perna esquerda, e tenta consolidá-la.

''Esses senhores fascistas não nos assustam, eles gastar-se-ão mais depressa que qualquer outro governo (''completamente verdade'', nas bancadas dos comunistas)''.

A prova: os fascistas querem a inflação das notas de banco, e é a ruína para as massas populares; em consequência, tudo se arranjará pelo melhor. É assim que a inflação verbal de Remmele afasta os operários alemãs.

Temos aqui o discurso programático de um chefe oficial do partido, editado num grande número de exemplares e que deve servir para a campanha de adesão do Partido comunista: um formulário pronto para adesão ao partido foi imprimido no fim do discurso. Esse discurso programático é inteiramente construido sobre a capitulação diante do fascismo. ''Não tememos'' a chegada de Hitler ao poder. Mas é de facto uma fórmula invertida de cobardia. ''Nós'' não nos consideramos como capazes de impedir Hitler de chegar ao poder; pior: nós, burocratas, estamos de tal forma podres, que não ousamos encarar seriamente a luta contra Hitler. É por isso, ''nós não temos medo''. Do quê vocês não têm medo: da luta contra Hitler? Não, eles não têm medo … da vitória de Hitler. Eles não têm medo de se subtraírem ao combate. Eles não têm medo de reconhecer a sua própria cobardia. Vergonha, três vezes vergonha! Num dos meus últimos cadernos, escrevi que a burocracia estalinista se preparou a armadilhar Hitler … sob a forma do poder de Estado. Os plumitivos comunistas, que vão de Münzenberg a Ullstein e de Mosse a Münzenberg, declararam imediatamente: ''Trotsky calúnia o Partido comunista''. Não é claro: por hostilidade pelo comunismo, por ódio pelo proletariado alemão, por desejo ardente de salvar o capitalismo alemão, Trotsky atribui à burocracia estalinista um plano de capitulação. De facto, só resumi o discurso pragmático de Remmel e o artigo teórico de Thälmann. Onde está a calúnia?

Thälmann e Remmele continuam nisso completamente fiés ao evangelho estalinista. Lembremos mais uma vez o que Estaline ensinou em Outono de 1923, quando na Alemanha tudo se aguentava como hoje, sobre o fio da navalha:

''Os comunistas, escrevia Estaline a Zinoviev e Bukarine, devem se esforçar (no momento actual) para se apoderarem do poder sem a social-democracia, estarão maduros para isso,- eis, na minha opinião, o fundo da questão … Se hoje na Alemanha o poder cai, digamos assim, e que os comunistas o colhem, eles afundam-se com estrondo. Isso ''no melhor'' dos casos. E no pior, eles serão quebrados em bocados e jogados fora … Evidentemente, os fascistas vigiam, mas é mais vantajoso para nós que os fascistas ataquem em primeiro: isso juntará toda a classe operária à volta dos comunistas … Na minha opinião, é preciso refrear os Alemãs e não encorajá-los.''

No seu caderno sobre a Greve de massa, Langner escreve:

''A afirmação (de Brandler), segundo a qual a luta de Outubro (1923) teria levado à ''derrota decisiva'', não é nada mais do que uma tentativa de embelezar os erros oportunistas e a capitulação oportunista sem combate''.(p. 101).

É completamente verdade. Mas quem foi o instigador da ''capitulação sem combate''? Que ''refreava'' em vez de ''encorajar''? Em 1931, Estaline desenvolveu a sua fórmula de 1923: que os fascistas tomem o poder, eles nos abrirão o caminho. Evidentemente, é muito mais perigoso atacar Brandler que Estaline: os Langner bem o sabem … É verdade que os últimos meses – e os protestos determinados da esquerda não têm nada a ver – uma certa mudança operou-se: o Partido comunista não diz mais que Hitler deve tomar o poder para se esgotar rapidamente; hoje, ele insiste mais no aspecto oposto da questão: que não se retome a luta contra o fascismo à chegada de Hitler no poder; é preciso desencadear a luta agora, insurgindo os operários contra os decretos de Bruning, alargando e aprofundando a luta no terreno económico e político. É justo. Tudo o que dizem os representantes do Partido comunista nesse quadro é incontestável. Sobre esse ponto não há desacordo entre nós. Mas resta ainda a questão principal: como passar das palavras aos actos?

A maioria esmagadora dos membros do partido e uma parte importante do aparelho – não duvidamos de forma alguma, querem sinceramente a luta. Mas é preciso olhar a realidade de frente: esta luta não existe, não a vêm aproximar-se. Os decretos de Bruning passaram impunemente. A trégua de Natal não foi interrompida. A política das greves parciais improvisadas, considerando os relatórios do próprio Partido comunista, não deu resultados sérios até agora. Os operários constatam isso. Não se pode convencê-los com um só apelo. O partido comunista rejeita sobre a social-democracia a responsabilidade da passividade das massas. Historicamente, é incontestável. Mas não somos historiadores, mas militantes políticos revolucionários. Não se trata de pesquisas históricas, mas de meios permitindo sair do impasse. O SAP, que o início da sua existência colocava de formal (particularmente nos artigos de Rosenfeld e de Seydewitz) a questão da luta contra o fascismo e fazia coincidir o contra-ataque com a chegada de Hitler ao poder, deu um passo em frente. A sua imprensa exige agora que se organize rapidamente a resistência contra o fascism, insurgindo os operários contra a fome e a opressão policial. Nós reconhecemos de boa vontade que a mudança na posição do SAP produziu-se sob a influência da crítica comunista: uma das tarefas do comunismo consiste em fazer avançar o centrismo em criticando o seu carácter híbrido. Mas isso é insuficiente: é preciso utilizar politicamente os frutos dessa crítica propondo ao SAP a sua passagem das palavras aos actos. É preciso submeter o SAP à prova prática, pública e clara: não em interpretando citações isoladas – isso não bastaria - mas propondo um acordo sobre os meios práticos precisos de resistência. Se o SAP revela a sua carência, a autoridade do partido sairá reforçada, e o partido intermediários será rapidamente liquidado. O que há a temer?

Não é verdade todavia que o SAP não se queira bater a sério. Há nele várias tendências. Hoje, a medida onde o assunto se resume a uma propaganda abstracta pela frente única, as contradições internas adormecem. Quando se passar à luta, elas surgirão. Só o Partido comunista pode ganhar aí.

Mas resta a questão principal: a da social-democracia (SPD). Se ela rejeita as proposições práticas que o SAP aceitou, isso criará uma nova situação. Os centristas, que queriam manter-se a distância igual do Partido comunista e da social-democracia, recriminar um contra o outro e se reforçar à conta dos dois (tal é a filosofia de Urbahns), se encontrariam imediatamente suspensos sobre o vazio, porque se tornaria evidente que é precisamente a social-democracia que sabota a luta revolucionária. Não é uma vantagem séria? Os operários do SAP voltariam de forma séria o olhar para o Partido comunista.

Mas a recusa de Wels e companhia em aceitar o programa de acção aceite pelo SAP, não passaria impunemente mesmo pela social-democracia. O Vorwarts perderia imediatamente a possibilidade de se queixar da passividade do Partido comunista. A atracção pela frente única cresceria logo entre os operários sociais-democratas. E isso equivaleria a uma atracção pelo Partido comunista. Não é claro?

A cada uma dessas etapas e a cada uma dessas voltas, o partido comunista descobriria novas possibilidades. Em vez da repetição monótona das mesmas fórmulas acabadas, diante do mesmo auditório, ele ganharia a possibilidade de mobilizar novas camadas, de as instruir sobre a base da experiência viva, de as temperar e de reforçar a sua hegemonia na classe operária.

Não pode haver aí discussão sobre o facto que o Partido comunista renuncie ao mesmo tempo à direcção independente das greves, das manifestações, das campanhas políticas. Ele mantêm a sua liberdade de acção. Ele não espera ninguém.

Mas sobre a base das suas acções, ele manobra activamente em direcção das outras organizações operárias, destrói as divisões entre os operários, faz surgir abertamente as contradições do reformismo e do centrismo, faz avançar a cristalização revolucionária no proletariado.

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) A revista francesa Les Cahiers du bolchevisme, a mais estúpida e a mais ignorante de todas as produções da burocracia estalinista, apoderou-se avidamente da alusão à avó do diabo, evidentemente sem se duvidar um só instante que ela tem na literatura marxista uma muito grande história. A hora está próxima, esperemos, onde os operários revolucionários expedirão a avó mencionada sobre os seus professores ignorantes e de má fé, para que eles aprendam. (retornar ao texto)

Inclusão 09/11/2018/