Nosso Enver


I. Introdução


A ideia de escrever sobre a figura de Enver Hoxha, de colocar no papel aquelas impressões e lembranças indeléveis deste homem notável da nação albanesa, de nosso amado professor, que estão sempre na minha mente e no meu coração, sempre me pareceu uma tarefa muito difícil.

Ele era um grande líder, que estava envolvido em atividades políticas e sociais extremamente intensas e ininterruptas que se estendem por mais de meio século, que realizou um trabalho teórico multifacetado e tinha uma mente aguda, ao qual colocou totalmente a serviço da revolução. Confrontado com tamanha personalidade, tanto no trabalho quanto no conhecimento, não é fácil encontrar as palavras adequadas, em todos os casos, para destacar as características, entre a infinita variedade de suas qualidades e valores notáveis.

Por mais de quatro décadas tive o privilégio de trabalhar ao seu lado, de passar por grandes eventos de nossa história recente, bem como por acontecimentos banais da vida cotidiana. Nós nos encontramos pela primeira vez no calor da guerra, quando ele estava liderando o povo no período épico de nossa libertação nacional. Considero-me muito afortunado porque, desde o primeiro dia de liberdade, tive contato comum e de trabalho direto com ele. A partir de 1960, durante 25 anos, como membro do Secretariado do Comitê Central e um de seus colaboradores mais próximos, os contatos diários com Enver foram, para mim, uma verdadeira escola.

Em todos esses anos de luta, trabalho, sucessos e dificuldades, eu o vi nos mais variados estados de espírito: feliz e entusiasmado com cada vitória alcançada; indignado e severo com qualquer fraqueza ou injustiça, especialmente com qualquer atividade hostil inimiga; solidário e preocupado com o nosso povo e camaradas; inflexível diante das dificuldades; otimista e lúcido em qualquer situação. Tudo isso eu recordo com veneração e emoção, porque, para mim, além de líder e professor, Enver Hoxha era também um camarada e amigo insubstituível.

Nos momentos tristes, após os dolorosos acontecimentos de abril de 1985, bem como nos dias que se seguiram, em várias reuniões e discursos, falei muitas vezes sobre a vida e a obra de Enver Hoxha, tentando definir e avaliar seu lugar e papel histórico em todo o desenvolvimento socialista da pátria como o fundador da Nova Albânia. Fiz isso sob o peso de uma tristeza tamanha que dificultou até mesmo concentrar meus pensamentos, quanto mais analisar e sintetizar as qualidades morais e sociais raras deste líder tão querido pelo Partido e pelo povo, deste homem com quem a luta e o trabalho pela construção socialista me uniram para a vida.

Tudo o que o partido tem dito sobre nosso inesquecível líder está correto. No entanto, ainda há muito a ser dito sobre sua figura. Portanto, embora consciente, como já disse, das dificuldades envolvidas em escrever um livro sobre este notável homem de pensamento e ação revolucionária, empreendi este trabalho com grande otimismo e orgulho.

Mas não foi apenas o meu desejo que me levou a esta direção. Considero uma grande obrigação para o povo, para o partido e para a memória do próprio camarada Enver apresentar meus sentimentos e pensamentos a sua figura, talvez algo incompleto, mas sempre com respeito, carinho e profunda gratidão.

Naturalmente, minha intenção aqui não é de forma alguma escrever notas biográficas, ou reminiscências cobrindo todos os campos de atividade de Enver Hoxha, que é tão rico e abrangente. Nessas minhas notas, sua incomparável contribuição, suas qualidades e características exemplares são apenas afloradas, meramente apontadas. Entretanto, o próprio leitor, com suas próprias impressões, memórias e reflexões, será capaz de dar mais vitalidade à imagem que ele criará enquanto lê estas notas. E se estas linhas estimularem a erudição, reavivar impressões e memórias, então esta será uma satisfação completa e especial para mim.

Assinatura de Ramiz Alia

Julho de 1988


Jornal A Verdade
Inclusão: 10/08/2022