A Classe Operária

Astrojildo Pereira

1926


Referência: PEREIRA, Astrojildo. Formação do PCB: 1922/1928. Rio de Janeiro: Vitória, 1962. (pag. 72 a 74)
Fonte: Fundação Maurício Grabois
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

A publicação de A Classe Operária, em 1925, resultou de um plano maduramente pensado e traçado pela direção do Partido. Tratava-se de lançar um jornal de massas - um "Jornal de trabalhadores, feito para trabalhadores". Estávamos em estado de sítio— decretado em 5 de julho de 1924 e sucessivamente prorrogado até 31 de dezembro de 1926 —, o que tornava ainda mais difíceis as naturais dificuldades de um empreendimento dessa natureza. Vencidas, porém, as dificuldades mais imediatas, pôs-se na rua o primeiro número do Jornal, a 1º de maio de 1925. Sua tiragem, 5000 exemplares, relativamente considerável, esgotou-se logo, e foi sendo aumentada mais e mais a partir do segundo número, Vendia-se diretamente nas fábricas e locais de trabalho, bem como nas sedes dos sindicatos operários, por membros do Partido e simpatizantes, alargando-se de semana em semana o circulo dos seus leitores. O êxito obtido ultrapassava, em suma, os cálculos mais otimistas. E isto significava que A Classe Operária, com todas as suas insuficiências e deficiências, correspondia a uma necessidade sentida pela massa operária, aparecendo e impondo-se como um genuíno porta-voz dos trabalhadores.

A reação compreendeu-o multo bem — tanto assim que proibiu a sua circulação quando atingia o número 12, menos de três meses depois do número inaugural.(1)

Sabe-se que o seu reaparecimento só se tornou possível em 1928, com a mesma feição primitiva de jornal legal de massas. Durou isso um ano e tanto. Em meados de 1929 foi a sua redação invadida e depredada, o mesmo aliás acontecendo a numerosos sindicatos operários: nova e furiosa onda reacionária caia sôbre as massas trabalhadores, que se organizavam e lutavam por suas reivindicações... Mas data de então, justamente, a luta heróica de A Classe contra a reação policial. Travou-se entre ambas um verdadeiro duelo, que durou mais de 15 anos. Dezenas de tipografias, ora pertencentes a amigos do Partido, ora de propriedade do Partido, foram invadidas e empasteladas; muitas dezenas de camaradas, incumbidos de sua redação ou da sua administração, caíram nas garras da reação, submetidos às piores torturas; mas A Classe Operária reaparecia sempre, e já então propriamente como órgão central do Partido Comunista do Brasil. As condições criadas pela rigorosa clandestinidade levaram a essa mudança em sua feição primitiva.

Neste caráter pôde A Classe, durante os mais negros anos do Estado Novo, manter viva a chama do comunismo, levando aos trabalhadores de todo o país, nas cidades e nos campos, a palavra do seu Partido, a palavra de fé e confiança em melhores dias. Melhores dias chegaram, com efeito, e com êles surgiu de novo A Classe Operária para a vida legal. Os tempos, no entanto, eram outros, exigindo o cumprimento de outras e novas tarefas. Em março de 1946 encontrava-se instalada, sôbre os escombros do Estado Novo, a Assembléia Nacional Constituinte — e nesta assembléia havia quinze constituintes comunistas eleitos pelo povo brasileiro. Só a enunciação dêste fato basta para mostrar a profunda diferença existente entre 1948 e os anos passados de Ilegalidade do Partido Comunista e do seu órgão central.

Hoje, A Classe Operária realiza uma obra diversa daquela de outrora, que era mais de pura agitação: sua missão precípua consiste agora em educar, orientar e organizar o proletariado — isso na sua qualidade de órgão central de um Partido Comunista de massas, que representa importante papel histórico no presente período de luta pacífica pela consolidação da democracia.

A festa do primeiro aniversário da nova fase legal de A Classe Operária é motivo de especial satisfação e alegria para todos os comunistas. Lembramo-nos com verdadeira ternura da nossa velha Classe, e honramos a memória dos camaradas que por ela e pelo Partido tombaram nos dias terríveis da ilegalidade. Mas é bom acrescentar: sem nenhum saudosismo, sem nenhum pieguismo. Olhamos para o passado não pelo passado em si mesmo, por mais venerável que seja, mas buscando nêle e na sua lembrança a Inspiração, a lição, o estímulo para as novas, mais belas e mais importantes jornadas que temos pela frente. Esta compreensão do passado é que explica o "milagre" do permanente rejuvenescimento do comunismo e do trabalho comunista, e eis porque A Classe Operária nos parece muito mais jovem e vigorosa à medida que os anos vão passando na trama inexorável e renovadora da história.


Notas de rodapé:

(1) Proibida de circular A Classe Operária, a direção do Partido utilizou as possibilidades que lhe ofereciam os pequenos jornais sindicais, principalmente no Rio, São Paulo e Santos, fazendo estampar em suas colunas não só artigos como também importantes materiais de agitação e propaganda do Partido. Em 7 de novembro de 1925, a direção do publicou uma folha de 4 paginas com o titulo precisamente de 7 de novembro, dedicado ao 8º aniversario da Revolução de outubro, com as Teses da IC para o trabalho de propaganda em torno da Revolução, artigos de Lênin, etc. Publicação idêntica fez por ocasião do 2º aniversário da morte de Lênin, como título Wladimir Ilitch e contendo as Teses sobre a data elaboradas pelo Secretariado Sulamericano da IC, além de vários artigos sobre a personalidade de Lênin, etc. (retornar ao texto)

Fonte
logotipo vermelho
Inclusão 18/11/2013