República Democrática Alemã - Sociedade Socialista Avançada

Alexandre Babo


Conversa com dois Dirigentes da Juventude Livre Alemã


capa

Para termos um panorama, embora genérico e necessariamente não profundo, do ensino e da juventude da República Democrática Alemã, temos que aflorar, pelo menos, o papel das organizações juvenis — fundamentalmente a Juventude Livre Alemã — F.D.J.

Através de contactos com fábricas e grandes combinados, com escolas, com instituições culturais, demos conta da sua presença, da sua intervenção, do seu papel decisivo no processo do desenvolvimento e do equilíbrio social.

Em Rostock, em Cottbus, em Dresden, conversei com vários elementos da F.D.J. e dos pioneiros Ernest Thàlmann. Assisti a algumas festas da juventude onde as suas blusas azuis fazem sobressair a extraordinária sensação de saúde, de força da juventude alemã. Aquela mesma visão de autêntica Primavera da vida que também encontrámos na União Soviética.

No meu programa estava marcada uma conversa em Berlim, com dirigentes da F.D.J. Julgo que mais importante que o esquema orgânico da Juventude Livre Alemã e as suas múltiplas actividades, esta conversa versou pontos quentes ligados à experiência do socialismo.

Ruhrerch e Rainer Tich, dois jovens, embora o primeiro seja casado e tenha um filho, receberam-me afavelmente. O primeiro é formado em direito e director da secção de Estudo e Direito do F.D.J.

Estes jovens levam com muito orgulho a camisa azul com o emblema do nascer do Sol, símbolo dos militantes da Juventude Livre Alemã, organização juvenil da RDA. Em cada três cidadãos da RDA, um foi na sua juventude militante desta organização, criada em 1946
Estes jovens levam com muito orgulho a camisa azul com
o emblema do nascer do Sol, símbolo dos militantes da
Juventude Livre Alemã, organização juvenil da RDA.
Em cada três cidadãos da RDA, um foi na sua juventude
militante desta organização, criada em 1946

Começaram por me dar uma ideia da organização nacional da Juventude Livre Alemã, o seu carácter democrático, a eleição dos representantes de base até à cúpula, a sua representação na Câmara do Povo. No total, há sessenta e um deputados, com idade até trinta anos, sendo 24 mulheres.

Relataram-me, por exemplo, o modo como a Lei da Juventude foi elaborada e promulgada, o que mais uma vez demonstra a base democrática da vida na RDA.

A Lei foi elaborada pelo F.D.J. e, depois de estudada, proposta em conjunto pelo Partido Socialista Unificado, o Conselho de Estado e o F.D.J.

Depois, foi apresentado o projecto à população para uma discussão pública durante seis meses. Fizeram-se, em todo o pais, 64 000 conferências para estudo e discussão da Lei. A Comissão recebeu 18 000 propostas de emenda, algumas delas do maior interesse. O projecto sofreu até à sua aprovação 2 000 emendas. Finalmente, foi promulgada pela Câmara do Povo.

A tarefa fundamental do F.D.J. é a formação da consciência dos jovens. Ela é a lídima representante dos jovens e o seu organismo dinamizador e catalisador em todos os sectores da vida, desde a escola aos desportos, à vida cultural, às férias, à assistência.

Comecei por lhes pôr uma questão que julgo ser extremamente importante e que se não refere apenas aos jovens, mas a toda a sociedade da RDA e, certamente, a todas as sociedades socialistas desenvolvidas.

Ela surgiu-me, pela primeira vez, quando em Rostock, no Hotel Neptuno, assisti a um sarau. Tive a imagem exacta de uma média ou alta burguesia, aparentemente igual ou semelhante à do Estoril, comendo, dançando, e assistindo a um espectáculo de variedades de tipo burguês, sem nenhuma característica de sociedade socialista e sem sequer um grau artístico aceitável. Como já disse, supus estar num hotel de turistas, depois soube tratar-se, na sua grande maioria, de sindicalizados que passavam ali as suas férias. E pensei então: — Quando se atinge um tal bem-estar, quando o cumprimento dos deveres básicos sociais, de trabalho sobretudo, dão a plena confiança no futuro, um presente risonho e um acesso à vida, fácil e agradável; quando está à mão este novo tipo de «encanto discreto — que se passará? Haverá ou não uma tendência para a inércia, para o «deixa-te ir», «só faço o mínimo», para a falta de estímulo de uma dinâmica social que não pode nem deve parar? Não haverá também um fenómeno de decadência? E como irão o Partido e o povo consciente lutar contra este perigo? Com que meios?

Apercebi-me, então, mais uma vez, de que a construção e desenvolvimento da sociedade socialista é extremamente complexa e exige uma vigilância permanente. Porque as contradições vão surgindo e é preciso colmatá-las, não as deixar alastrar.

Por isso lhes fiz a seguinte pergunta: — Os jovens da RDA desfrutam de uma situação social, económica e cultural, verdadeiramente excepcional face ao padrão ocidental. Isto não levará uma grande parte dos jovens a aproveitar apenas a vida, negligenciando as tarefas que se lhes põem, em face das contradições que vão surgindo?»

Responderam-me que esse facto era real, um dos aspectos sobre que eles se debruçavam e que era até agudizado pela constante propaganda levada a cabo pela Rádio e TV da RFA.

No entanto, a F.D.J. dinamizava em todos os escalões a juventude para estar atenta às difíceis tarefas que se lhes punham diariamente e que precisavam de enfrentar

Informei-me sobre a droga. Existiria na RDA, entre os jovens, alguma tentativa nesse sentido? Esse problema parecia excepcionalmente agudo, dada a proximidade da RFA. Responderam-me não constituir o mínimo problema. Teria havido algumas tentativas isoladas, especialmente o caso de um estudante que tinha tentado fabricar a droga, mas tudo foi imediatamente detectado e reprimido.

Quanto à criminalidade juvenil, respondeu-me com a franqueza habitual. Ela representa, no conjunto da criminalidade, apenas 1%. Os problemas de criminalidade vindos da influência de países capitalistas deixou praticamente de existir. Mas existem, evidentemente, alguns casos concretos — recusa ao trabalho e vadiagem, sobretudo. Os órgãos do Estado lutam contra isso. O F.D.J. mantém a esse respeito uma vigilância grande nas escolas e nas Universidades, assim como nas fábricas. Quando um jovem falta à escola, não quer estudar, etc., o F.D.J. procura informar-se das razões que o levam a tal atitude e ajudá-lo. Isso pode ser no futuro um sintoma de desadaptação. Normalmente a ajuda resulta. Por outro lado, é claro que ainda há famílias que não têm condições morais para educar os filhos e, em geral, são essas as fontes de certas anomalias. Formas sobretudo de incompreensão.

A pornografia é proibida, de acordo com uma lei de protecção à infância.

Quanto ao homossexualismo, a questão é posta nos termos que se me afiguram mais justos, equilibrados e humanos. Não há qualquer proibição. Quando constitui, pela sua forma especial de exibicionismo ou de anomalia, um caso a considerar, ele é entregue a clínicas. Não constitui, portanto, qualquer problema.

Os problemas sexuais? — Quando fiz a pergunta senti que havia da parte dos meus interlocutores uma certa estranheza. Tive de fazer um pouco de história recente da sexualidade entre nós, explicando a razão da pergunta. Responderam-me que nada se opõe à sexualidade. É considerado normal que os jovens se amem. Há uma educação sexual da juventude que se pratica desde os jardins de infância. Nas praias há zonas de nudismo. O uso da pílula é permitido. O aborto é legal. A jovem decide se quer e quando quer ser mãe. A mãe solteira não tem quaisquer problemas sociais. A partir da puberdade, os jovens são livres para o amor. Nada se opõe a que dois jovens, com 16 anos por exemplo, passem um fim de semana ou umas férias juntos num hotel. Nada lho proíbe ou dificulta.


Inclusão 16/02/2015