Mao Tsé-tung na Revolução Chinesa

Chen Po-ta


Revolução das grandes massas populares sob a direção do Proletariado


Considerando as mudanças fundamentais trazidas para a história do mundo pela Revolução Socialista de Outubro e as modificações na história chinesa geradas pelo surgimento na arena política do proletariado na China Moderna, Mao Tsé-tung escreveu que antes destes fatos surgirem, a Revolução Chinesa era uma revolução democrática de velho tipo; ou seja, dirigida pela burguesia e que, após os acontecimentos, a Revolução Chinesa passou a ser uma revolução de Nova Democracia, isto é, uma revolução dirigida pelo proletariado.

Desde sua oposição ao oportunismo de direita de Chen Tu-hsiu no primeiro período revolucionário(1) e seguindo os princípios do Partido, Mao Tsé-tung aderiu firmemente - sob todas as circunstancias - a teoria de Lenin e Stalin sobre a direção do proletariado e a desenvolveu de acordo com as condições existentes na China. Durante o primeiro período da Guerra de Resistência Antijaponesa, Mao Tsé-tung empenhou uma luta irreconciliável contra o oportunismo de direita que acabava de surgir, e constantemente enfatizou a necessidade de recordar as lições aprendidas a partir do fracasso da revolução de 1927, as consequências criminosas do oportunismo de Chen Tu-hsiu em prejuízo da direção do proletariado.

Constantemente aconselhava aos membros do Partido Comunista da China, ler cuidadosamente a grande obra ideológica de Lenin, Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática, dado que a considerava como uma poderosa arma para enfrentar o oportunismo de direita.

O problema da direção do proletariado na Revolução Chinesa se relacionava estreitamente com a debilidade da burguesia nacional chinesa. Em 1926, ante a fragilidade da burguesia nacional na China, Stalin escreveu em seu artigo, As Perspectivas da Revolução na China-:

(...) “se conclui disto, que o papel de iniciar e continuar a Revolução Chinesa, o papel de direção do campesinato chinês, deve inevitavelmente corresponder ao proletariado chinês e a seu Partido”.(2)

Mao Tsé-tung disse:

“No que concerne à China, a situação é muito clara. Aqueles que podem conduzir o povo a derrotar as forças imperialistas e feudais, ganharam a confiança do povo, uma vez que seus inimigos mortais são o feudalismo e sobretudo o imperialismo... A história provou que a burguesia chinesa é totalmente incapaz de assumir esta responsabilidade, que não pode senão recair sobre as costas do proletariado”.(3)

Mao Tsé-tung assinalou:

“o curso histórico da Revolução Chinesa se divide em duas etapas: a revolução democrática e a revolução socialista”.(4)

Ainda que em seu caráter social a primeira etapa que dá início a Revolução Chinesa seja fundamentalmente democrático-burguesa, esta

"já não pertence a revolução de velho tipo dirigida exclusivamente pela burguesia com o objetivo de estabelecer uma sociedade capitalista e um estado sob a ditadura burguesa, mas agora pertence a uma revolução de novo tipo que, dirigida inteiramente, ou em parte pelo proletariado, aspira ao estabelecimento de uma sociedade de nova democracia e um estado sob a ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias".(5)

Mao Tsé-tung definiu esta revolução na seguinte fórmula, clara e simples:

“Uma revolução de Nova Democracia é uma revolução das grandes massas do povo, dirigida pelo proletariado contra o imperialismo e o feudalismo”.(6)

Em algumas circunstâncias também se referiu a esta como “uma revolução democrático-popular contra as forças do imperialismo e do feudalismo”. Devido ao fato de que durante os largos anos de dominação contrarrevolucionária — as Quatro Grandes Famílias(7) encabeçadas por Chiang Kai-shek tornaram-se em uma camarilha monopolizadora do capital burocrático - um novo elemento se somou ao caráter da revolução. Este elemento foi a oposição ao capitalismo burocrático. Mao acrescentou este novo elemento a sua formulação:

“a revolução contra o imperialismo, o feudalismo e o capitalismo burocrático, apoiada pelas grandes massas do povo sob a direção do proletariado”.(8)

Considerou esta formulação como a linha geral e a política geral na primeira etapa da Revolução Chinesa.

O termo “as amplas massas do povo” se refere principalmente aos camponeses. A revolução estava baseada na aliança entre operários e camponeses e abarcava o povo que se opunha ao imperialismo, ao feudalismo e ao capitalismo burocrático. Segundo Mao Tsé-tung, o proletariado, os camponeses, os intelectuais e alguns setores da pequena burguesia na China eram as forças fundamentais que, com o proletariado como força dirigente, poderiam decidir seu destino.

A ditadura democrática revolucionária implantada pela revolução permitiu a manutenção das mesmas classes fundamentais. Mao Tsé-tung a chamou de “ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias sob a direção do proletariado”, ou “ditadura democrática popular sob a direção da classe operária, baseada na aliança operário-camponesa”.(9)

Segundo Mao Tsé-tung, a questão da direção do proletariado foi a chave que permitiu resolver uma série de problemas da Revolução Chinesa. Foi também o ponto chave para decidir o êxito ou o fracasso da mesma revolução. Em maio de 1937, ao discorrer sobre a questão da Frente Única Antijaponesa, Mao disse: "É o proletariado quem deve seguir a burguesia, ou é a burguesia quem deve segue o proletariado? Esta questão da responsabilidade da direção da Revolução Chinesa é o ponto fundamental da qual depende seu êxito".(10)

Em sua obra, Sobre a Ditadura da Democracia Popular, publicada em 1949, assinalou novamente:

"A história da revolução prova que, sem a direção da classe operária, a revolução fracassa e que, com esta direção, a revolução triunfa. Na época do imperialismo, em nenhum país, nenhuma outra classe - que não a classe operária - pode conduzir uma verdadeira revolução à vitória. Comprova o fato das revoluções dirigidas pela pequena burguesia e pela burguesia nacional da China, ter fracassado".(11)

Ao mesmo tempo, Mao Tsé-tung considerava a questão do campesinato como o centro do problema acerca da direção do proletariado.

Em seu informe sobre os problemas nacionais e coloniais escrito para o Segundo Congresso da Internacional Comunista, Lenin expôs:

“Seria utópico pensar que os partidos proletários, nos países atrasados, poderiam adotar táticas e políticas comunistas sem considerar as relações com o movimento camponês e sem apoiá-los efetivamente”.(12)

Stalin destacou em diversas ocasiões, “em essência, a questão nacional é a questão camponesa”.(13) A visão do camarada Mao Tsé-tung sobre a Revolução Chinesa estava de completo acordo com os pontos de vista de Lenin e Stalin e foi, precisamente, um desenvolvimento destes conceitos.

Nas revoluções democrático-burguesas, a controvérsia principal entre o proletariado e a burguesia, e entre o proletariado e todos os demais partidos políticos, foi o problema do campesinato.

Em sua obra Sobre o Governo de Coalizão, Mao assinalou:

“Reunindo todas as forças e seus mandos, a camarilha do Kuomintang lançou contra o Partido Comunista da China toda sorte de dardos venenosos, tanto ataques públicos como secretos, políticos como militares. Do ponto de vista das suas implicações sociais, o centro da controvérsia entre as duas partes gira em torno do princípio das relações agrárias”.(14)

O signo da boa qualidade na direção da revolução camponesa vai na direção do proletariado. A burguesia não pode chegar a converter-se na liderança de uma revolução democrático-burguesa, devido principalmente à sua incapacidade de dirigir uma revolução agrária e porque teme tal revolução e se opõe a esta. Não há dúvida de que somente sob a direção do proletariado é possível organizar a enorme e desunida população camponesa como uma inesgotável força combativa, formar uma sólida aliança entre operários e camponeses e sobre as bases desta, conquistar todo o potencial revolucionário e forjar uma unidade entre as forças revolucionárias da China com as de outras partes do mundo.

Durante o primeiro período revolucionário, Chen Tu-hsiu defendia que “se a revolução democrático-burguesa perder o apoio da burguesia, deixará de ter um conteúdo de classe e perderá toda base social na causa revolucionária”. Em outras palavras, Chen Tu-hsiu considerava que o “significado de classe e os fundamentos sociais” da revolução democrático-burguesa eram exclusivos à burguesia. Não levava em consideração a questão camponesa [ver o artigo de Chen Tu-hsiu, A Revolução Burguesa e a Burguesia Revolucionária, publicado em 1923]. Foi em relação ao problema dos camponeses que os oportunistas de toda laia, começando por Chen Tu-hsiu, se opuseram ao papel de direção do proletariado e tergiversaram. Alguns deles negaram diretamente a direção do proletariado e admitiram a da burguesia, rechaçando desta maneira a revolução camponesa, como o fizeram Chen Tu-hsiu e seus seguidores no primeiro período revolucionário e os oportunistas de direita na etapa inicial da Guerra de Resistência Antijaponesa. Outros ainda mantiveram uma aparência ultra esquerdista, mas na prática negavam a necessidade de unidade com os camponeses médios e a pequena burguesia urbana, de tal forma que negavam o princípio de direção do proletariado, tal qual fizeram os oportunistas de "esquerda" no período da Guerra Civil dos Dez Anos, entre 1927 e 1937.

Não há dúvida de que foi precisamente a direção do proletariado e a consequente aliança dos operários e camponeses, que possibilitou, por uma parte, a vitória da revolução contra o imperialismo, o feudalismo e o capitalismo burocrático, tal como Mao Tsé-tung expressa:

“são estas duas classes a principal força para derrubar o imperialismo e os reacionários do Kuomintang”.(15)

De outro lado, tornaram possível a transição da revolução de Nova Democracia em uma revolução socialista; como disse Mao,

“a transição da Nova Democracia ao socialismo depende de sua aliança”.(16)

Se nós seguíssemos o caminho dos oportunistas que renegavam a direção do proletariado então, como demonstraram os fatos históricos, a revolução teria sofrido sérios reveses e fracassos, assim a Revolução Chinesa não chegaria a ser o que é hoje e não teria futuro.


Notas de rodapé:

(1) Ver nota 9, na página 25 da presente edição. (retornar ao texto)

(2) J. V. Stalin, obra citada, vol. VIII, página 375. (retornar ao texto)

(3) Mao Tsé-tung, "Obras escolhidas", Londres, vol. III, pág. 118. (retornar ao texto)

(4) Ibid., página 109. (retornar ao texto)

(5) Ibid., páginas 111-112. (retornar ao texto)

(6) Ibid., página 97. (retornar ao texto)

(7) Refere-se às quatro camarilhas de capitalistas representadas por Chiang Kai-shek, T. V. Soong, H. H. Kung, Chen Li-fu e seu irmão, Chen Kuo-fu. (retornar ao texto)

(8) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Pequim, vol. IV, página 238. (retornar ao texto)

(9) Ibid., página 422. (retornar ao texto)

(10) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Londres, Vol. I, página 269. (retornar ao texto)

(11) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Pequim, vol. IV, página 421. (retornar ao texto)

(12) V. I. Lenin, “Obras Escolhidas”, Lawrence y Wishart, Londres, 1938, vol. X, páginas 240-241. (retornar ao texto)

(13) J. V. Stalin, obra citada, vol. III, página 72. (retornar ao texto)

(14) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Londres, Vol. IV, página 294. (retornar ao texto)

(15) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Pequim, vol. IV página 421 (retornar ao texto)

(16) Ibid. (retornar ao texto)

Inclusão 26/07/2019