Mao Tsé-tung na Revolução Chinesa

Chen Po-ta


O contínuo desenvolvimento da Revolução Democrática na Revolução Socialista


Mao Tsé-tung escreveu em sua obra Sobre o Governo de Coalizão:

“Nós, comunistas, nunca ocultamos nossa posição política. É definitivo e está fora de toda dúvida que nosso futuro, nosso programa máximo é levar a China ao socialismo e ao comunismo. Tanto o nome de nosso Partido, como nossa inequívoca concepção marxista de mundo, assinala nosso ideal fundamental do futuro, futuro pleno de incomparável esplendor e beleza. Em união ao Partido, cada comunista deve ter em seu pensamento o espírito de luta para a conquista dos objetivos claramente definidos: a revolução de Nova Democracia no presente e o socialismo e o comunismo no futuro. E ao mesmo tempo, devemos estar resolutos para combater a animosidade, a calúnia, a antipatia e a ridicularização, que em sua ignorância e baixeza, os inimigos do comunismo levantam contra nós. Quanto aos céticos honrados, não devemos atacá-los sem explicar-lhes as coisas com boa vontade e paciência. Tudo isto é muito claro, definido e inequívoco”.(1)

Este excerto oferece um quadro bastante claro do futuro da China, absolutamente inevitável segundo as leis que governam a história do mundo, assim como governam a história chinesa.

Os oportunistas de direita não somente não podiam vislumbrar tal futuro, como também o considerava completamente incerto e muito distante. Por julgar a burguesia como a direção única da revolução democrático-burguesa, consideravam que o futuro da revolução devia ser decidido apenas pela burguesia. Por exemplo, em seu artigo A Revolução Burguesa e a Burguesia Revolucionária, publicado em 1923, Chen Tu-hsiu escreveu que “a vitória em tal revolução democrática, certamente significa a vitória da burguesia”. A partir deste ponto de vista direitista, negou categoricamente o futuro da revolução. Do lado inverso, os oportunistas de “esquerda” ignoraram a diferença entre a revolução democrático-burguesa e a revolução socialista, e consideraram que a vitória da revolução em uma ou várias províncias poderiam marcar o início da revolução socialista. Consideravam que no momento em que a vitória revolucionária se estendesse à “parte essencial da China”, a tarefa fundamental deveria ser realizar a revolução socialista, e que o domínio do imperialismo e dos reacionários do Kuomintang, só poderia ser derrotado com a realização do socialismo. Devido aos pontos de vista “esquerdistas”, que estavam imbuídos de ultrarrevolucionarismo, negaram categoricamente a possibilidade da vitória da revolução democrática e deste modo negaram, em essência, a possibilidade da vitória do socialismo.

O oportunismo de “esquerda” e o oportunismo de direita nesta questão são recíprocos, assim como em muitas outras. Como fora falado anteriormente, na etapa inicial da Guerra de Resistência Antijaponesa, nosso Partido, dirigido por Mao Tsé-tung, se esforçava a cada passo em sua tarefa de converter o êxito da Guerra de Resistência em uma vitória para o povo. Aqueles camaradas que haviam cometido erros “esquerdistas” durante o período da Segunda Guerra Civil Revolucionária, tiraram uma conclusão inteiramente contrária. Consideraram que o “futuro” vitorioso da Guerra de Resistência pertencia ao Kuomintang de Chiang Kai-shek e não ao povo. Tal conclusão, evidentemente, negava o futuro vitorioso da revolução democrática e o futuro do socialismo.

Após 1927, Mao Tsé-tung refutou repetidas vezes as equivocadas tendências ideológicas “esquerdistas” em relação ao problema do caráter da revolução. Considerou que a revolução democrática na China deveria ser levada a cabo até o final. Mao disse: “Somente nesta forma se pode fomentar o futuro socialista da Revolução Chinesa. Concepções errôneas tais como negar este período da revolução democrática e considerar que o momento oportuno para uma revolução socialista na China já havia chegado, são extremamente prejudiciais à Revolução Chinesa”.(2)

Mao Tsé-tung considerava a posição então sustentada pela Internacional Comunista de que o caráter da Revolução Chinesa ainda permanecia democrático-burguês, como completamente correta. Ele disse: “as lutas pelas quais nós passamos, comprovam a justeza da posição da Internacional Comunista”.(3) À luz das condições concretas da China, o camarada Mao Tsé-tung desenvolveu os ensinamentos de Lenin e Stalin, levando em conta o contínuo processo de desenvolvimento da revolução democrático-burguesa na revolução socialista. Ele disse:

"Nós defendemos a teoria do contínuo desenvolvimento da revolução, mas não pela teoria trotskista de uma revolução permanente. Nós estamos dispostos, para lograr o triunfo do socialismo, atravessar todas as etapas necessárias da república democrática. Nos opomos ao seguidismo, porém nos opomos igualmente ao aventureirismo e ao ultrarrevolucionarismo".(4)

Também disse:

“Todo comunista necessita saber que todo o movimento revolucionário chinês, dirigido pelo Partido Comunista da China, é um movimento completamente revolucionário que compreende as duas etapas revolucionárias, a democrática e a socialista, que são dois processos diferentes em caráter, e que a etapa socialista pode ser alcançada somente após etapa democrática ser completada. A revolução democrática é a necessária preparação para a revolução socialista, e a revolução socialista é o rumo inevitável da revolução democrática. E o último objetivo dos comunistas, é esforçar-se para fazer todo o possível para a final construção da sociedade socialista e da sociedade comunista. Nós podemos dar uma correta direção à Revolução Chinesa, somente sobre a base de uma clara compreensão tanto das diferenças entre as revoluções democráticas e as revoluções socialistas, como acerca das suas relações internas”.(5)

Portanto, considerando o desenvolvimento integral do movimento revolucionário, o período da revolução de Nova Democracia

“é uma etapa transitória necessária entre a derrubada da sociedade colonial, semicolonial e semifeudal, e o estabelecimento da nova sociedade socialista”.(6)

Por que foram possíveis o desenvolvimento contínuo e a transição? Em termos de classe, foi devido a direção do proletariado; e em termos de partido, foi devido a direção do Partido Comunista da China. Mao estava completamente certo ao afirmar:

“A exceção do Partido Comunista, nenhum dos partidos políticos burgueses ou pequeno-burgueses pode executar a tarefa de dirigir a duas grandes revoluções na China, a democrática e a socialista, até sua completa realização. E o Partido Comunista da China, desde o dia da sua fundação, tomou esta dupla tarefa como sua responsabilidade”.(7)

Como já foi destacado, é completamente errado confundir a etapa da revolução democrática com a da revolução socialista. Por outro lado, de nenhum modo isso quer dizer que a etapa da revolução democrática não possa incluir tarefas socialistas. Acreditar nisto é igualmente errôneo. Em 1939, ao analisar o resultado da vitória da revolução de Nova Democracia, Mao Tsé-tung escreveu:

“É um resultado inevitável da vitória da revolução democrática na China atrasada economicamente, que o capitalismo se desenvolva até certo grau. Mas isto será apenas o resultado da Revolução Chinesa em um aspecto, não seu sucesso total. O completo êxito da Revolução Chinesa será o desenvolvimento dos fatores capitalistas por um lado, e dos fatores socialistas, por outro”.(8)

Mao Tsé-tung chegou a esta conclusão, precisamente se baseando no princípio fundamental da direção do proletariado. Os desenvolvimentos, político e econômico, que ocorreram desde a vitória de nossa revolução de Nova Democracia, comprovam tal conclusão marxista-leninista.

Qual o principal fator socialista na esfera política, oriundo da vitória da revolução de Nova Democracia? É a posição dirigente da classe operária nos órgãos do poder estatal e nas forças armadas populares, como posto no Programa Comum da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

Qual o principal fator socialista na esfera econômica, oriundo da vitória da revolução de Nova Democracia? É a confiscação das empresas dos imperialistas e capitalistas burocráticos e a transferência da propriedade à república popular dirigida pela classe operária. Nas palavras de Mao Tsé-tung, isto “permitirá a república popular controlar os aspectos vitais da economia do país e capacitará a economia de propriedade do estado para se converter no setor de direção da economia nacional em seu conjunto. Este setor da economia tem um caráter socialista e não capitalista”(9). O Programa Comum, de acordo com os pontos de vista de Mao, também esclarece tal ponto. O Programa estabelece: “a economia estatal é de natureza socialista. Todas as empresas vinculadas a vida econômica do país e que exercem uma influência dominante sobre a subsistência do povo, estarão sob o controle unificado do estado. Os recursos estatais e as empresas são a propriedade social do povo em seu conjunto, são as principais bases materiais sobre as quais se desenvolverá a produção, para lograr a prosperidade, e são a força dirigente da economia social íntegra”.

As organizações de ajuda mútua, as cooperativas de produtores agrícolas e as cooperativas de víveres e consumo das massas camponesas, que se estabeleceram no curso da revolução de Nova Democracia, também contém fatores socialistas e servem como formas transitórias dirigindo o campesinato até o socialismo. É certo que necessitamos de um longo espaço de tempo para realizar a transformação socialista em todo o país. Mas este caminho foi aberto. Nosso progresso está completamente assegurado, ainda que muitos preparativos e lutas sejam necessários. Como Mao assinalou:

"Nosso país progredirá constantemente por meio de lutas e reformas de Nova Democracia, e no futuro, quando a prosperidade econômica e cultural do país tenha sido realizada, quando múltiplas condições estejam preparadas, e quando se tenha conquistado o consentimento popular após maduras deliberações, devemos abordar a nova era do socialismo livre e autônoma.(10)

Os oportunistas de direita tentaram transformar em peça de museu o grande ideal do comunismo, enquanto que os oportunistas de “esquerda” tentaram despojá-lo de sua rica potência vital. Tendo em conta todas as etapas atravessadas pela história da China, Mao combinou os princípios comunistas com a flexibilidade em matéria de política, para a conquista do socialismo. Em consequência, o comunismo na China não é uma utopia ou algo inalcançável; o comunismo é realizável, irresistível e cheio de vida.


Notas de rodapé:

(1) Mao Tsé-tung, "Obras Escolhidas", Londres, Vol. IV, página 274. (retornar ao texto)

(2) “Resolução do Sexto Congresso do Quarto Exército do Exército Vermelho”, emitido por Mao Tsé-tung, dezembro de 1928. (retornar ao texto)

(3) Ibid. (retornar ao texto)

(4) Mao Tsé-tung, “Obras Escolhidas”, Londres, Vol. I, página 279. (retornar ao texto)

(5) Ibid., vol. III, página 101. (retornar ao texto)

(6) Ibid., página 97. (retornar ao texto)

(7) Ibid., página 101. (retornar ao texto)

(8) Ibid., página 100. (retornar ao texto)

(9) Mao Tsé-tung, "Obras Escolhidas", Pequim, Vol. IV, página 367. (retornar ao texto)

(10) Mao Tsé-tung, “Discurso de Encerramento da Segunda Sessão do Primeiro Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês”. (retornar ao texto)

Inclusão 26/07/2019