Diretivas do Comitê Central do Partido Comunista da China ao Comitê da Frente do 4º Corpo do Exército Vermelho

Chen Yi e Zhou Enlai

28 de setembro de 1929


Origem: carta instrutiva redigida pelo camarada Chen Yi em nome do Comitê Central do PCCh, conforme reunião militar do Comitê Central e com base em diversas conversas que manteve com o camarada Zhou Enlai, tendo sido posteriormente revisada por este.

Fonte para a tradução: Obras Escogidas de Zhou Enlai, t. I, Pequim: Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1981, pp. 41-59.

Tradução e HTML: João Victor Bastos Batalha.

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Nota da edição

Para fins de publicação neste volume, alguns trechos da carta foram suprimidos.

Ao Comitê da Frente do 4º Corpo e aos camaradas de todo o exército:

O camarada Chen Yi chegou(1) e nos transmitiu um relato detalhado sobre tudo. Após analisar seus informes, tanto orais quanto escritos, o Comitê Central decidiu encaminhar ao Comitê da Frente as seguintes instruções:

A situação atual dos intrincados conflitos entre os senhores da guerra

Após os confrontos entre Chiang Kai-shek e os senhores da guerra de Guangxi, bem como entre Chiang Kai-shek e Feng Yuxiang(2), a situação política na China passou a dar a falsa impressão de que o governo de Nanquim, controlado pela camarilha de Chiang, havia saído vitorioso e que a influência política da burguesia se ampliara em certa medida. Na realidade, porém, as contradições que deram origem a esses conflitos, longe de serem resolvidas, vêm se agravando a cada dia. Como resultado, eclodiu um novo conflito intrincado, maquinado há muito, entre os demais senhores da guerra contra Chiang Kai-shek. Todas as potências imperialistas estão empenhadas em dispor suas forças militares na China, o que revela o acirramento dos choques de interesse entre estas. O imperialismo estadunidense assinou um contrato de aviação com a China(3); o imperialismo britânico, um convênio naval(4); enquanto o imperialismo japonês intensificou os esforços para implementar seu plano manchu-mongol(5). O Incidente da Estrada de Ferro Oriental da China(6) foi uma clara expressão do ataque articulado dos imperialistas contra a União Soviética, além de uma questão que os próprios pretendiam resolver antes de iniciar a guerra. O agravamento da disputa entre os imperialistas é o principal fator por trás dos confrontos entre os senhores da guerra. A burguesia nada lucrou com os conflitos entre Chiang Kai-shek e os senhores da guerra de Guangxi, ou entre Chiang e Feng Yuxiang. Embora um determinado setor das forças feudais tenha sido enfraquecido, outro saiu fortalecido. Esse é o destino inevitável da burguesia, que, sendo tão fraca, não tem outra alternativa senão adular as forças feudais para tentar se consolidar. No entanto, ao tentar manipular uma força feudal contra outra, não apenas falha em resolver as contradições entre ambas as classes, como também alimenta novos choques entre os senhores da guerra. Além disso, diante do colapso acelerado da economia chinesa e da necessidade de recursos para sustentar seus exércitos gigantescos, os senhores da guerra, instigados por diversas potências imperialistas, disputam entre si o controle de territórios e fontes de renda – o que intensifica ainda mais a crise bélica entre estes. As três contradições mencionadas constituem os principais fatores dessas guerras, mas não podem ser resolvidas por meio delas. Pelo contrário, cada novo conflito apenas agrava as contradições anteriores. O atual confronto travado pelos senhores da guerra contra Chiang Kai-shek(7) é uma continuação direta dos embates anteriores com os senhores de Guangxi e com Feng Yuxiang. Uma vez deflagrada, essa guerra tende naturalmente a se expandir. Exceto por uma insurreição dos operários, camponeses e soldados, não existe outra saída para resolver as múltiplas contradições que alimentam os confrontos entre os senhores da guerra. Devemos compreender esse fato com total clareza.

Atualmente, o governo da camarilha de Chiang Kai-shek detém o poder político contrarrevolucionário em Nanquim. No plano internacional, é reconhecido pelas potências imperialistas e busca monopolizar o “direito” de vender os interesses nacionais e, no plano interno, almeja controlar as finanças e as principais fábricas de armamento situadas na bacia inferior do rio Yangtzé. Naturalmente, isso o torna alvo de ataques de todos os lados e leva à formação de uma aliança anti-Chiang, composta pelas demais camarilhas de senhores da guerra do país. Excetuando-se a província de Zhejiang, relativamente unificada sob o domínio da camarilha de Chiang Kai-shek, todas as demais províncias abrigam forças opositoras. As tropas particulares de Chiang contam, nominalmente, com nove divisões, mas algumas delas pertenciam anteriormente a outros senhores da guerra. Ao mesmo tempo, registram-se nelas atividades do Grupo de Reorganização(8), ou seja, há também elementos antichiangistas no interior de suas fileiras. Esses são seus principais pontos fracos. Por outro lado, os opositores de Chiang, que têm como bandeira a teoria reformista da camarilha de Wang Jingwei e Chen Gongbo(9), carecem de um centro de gravidade política. Um contingente expressivo de forças antichiangistas encontra-se disperso por todas as províncias meridionais. À primeira vista, essas forças poderiam ser aproveitadas pelos “reorganizadores”, mas, na prática, perseguem cada qual as suas próprias ambições. Zhang Fakui e Yu Zuobo, por exemplo, disputam entre si o controle da província de Guangdong, mas nenhum dos dois aceita subordinar-se ao outro. Já as camarilhas militares de Feng Yuxiang, Tang Shengzhi e Zhu Peide desejam conquistar Nanquim e Wuhan, mas seus interesses entram em conflito. No Norte, as camarilhas de Yan Xishan e Zhang Xueliang, cientes de sua impotência para dominar Nanquim, vêm tentando estabelecer um poder central em Pequim, e por isso mostram pouco entusiasmo em apoiar os “reorganizadores”. Paralelamente, todas essas camarilhas registram casos de suborno de subalternos promovidos por Chiang Kai-shek. A existência de uma ramificação separada organizada por subordinados de Yan Xishan não está desvinculada das ações de Chiang. No seio da camarilha da família Zhang, há uma disputa entre facções novas e antigas(10). As forças mais recentes viram seu poder declinar vertiginosamente após a morte de Yang Yuting e Chang Yinhuai(11), e Zhang Xueliang já não exerce controle pleno sobre as forças antigas, leais ao imperialismo japonês – o que explica por que arde em anseio de avançar rumo às regiões ao sul da Grande Muralha. Após o Incidente da Estrada de Ferro Oriental da China, ficou evidente o conflito de interesses entre Zhang e Chiang. Todos esses fatos apontam para a impossibilidade de cooperação entre os senhores da guerra, que seguem tentando eliminar uns aos outros. O Incidente Zhang Fakui foi claramente o primeiro disparo da campanha do Grupo de Reorganização contra Chiang Kai-shek. É possível que as guerras de Wuhan(12) e de Guangdong-Guangxi contra Chiang se desenvolvam até assumir uma escala nacional. Mesmo uma vitória temporária de Chiang não significaria o fim desses conflitos, que continuarão inevitavelmente. Caso os “reorganizadores” saiam vitoriosos, o resultado será uma proliferação de pequenos regimes independentes liderados por senhores da guerra. No conflito entre senhores da guerra, ambos os lados, tanto os opositores quanto os aliados de Chiang, perseguem os mesmos objetivos: disputar o poder político contrarrevolucionário para facilitar a entrega da independência e dos interesses nacionais, além de conquistar territórios que lhes permitam intensificar a exploração de operários e camponeses. Diante disso, o Partido deve adotar uma política que vise à derrota de todos os beligerantes, mobilizando as massas contra essas guerras. Essa mobilização deve estar intimamente ligada às lutas cotidianas das massas. Este é o caminho correto: pôr fim aos confrontos entre os senhores da guerra por meio das insurreições de operários, camponeses e soldados.

Não devemos superestimar o significado dos confrontos entre os senhores da guerra, alimentando ilusões de que poderemos nos aproveitar deles para desencadear grandes operações e, com isso, negligenciar as múltiplas tarefas práticas envolvidas nas lutas cotidianas das massas. Em especial, o Exército Vermelho deve estar sempre atento à possibilidade de o inimigo lançar “campanhas conjuntas de aniquilamento” contra nós. Enfrentar esse tipo de campanha deve ser uma preocupação constante do Exército Vermelho. Não devemos baixar a guarda nem nos descuidar apenas porque eclodiram conflitos entre os senhores da guerra; e muito menos entrar em pânico quando essas guerras forem momentaneamente suspensas. Devemos compreender que os senhores da guerra, ao lançarem “campanhas conjuntas de aniquilamento” contra o Exército Vermelho, inevitavelmente enfrentam obstáculos que, muitas vezes, os impedem de levá-las até o fim e, pelo contrário, podem inclusive abrir espaço para nosso progresso. No entanto, isso não deve nos levar a relaxar a vigilância ou estar despreparados para lutas árduas contra o inimigo. Anteriormente, o Comitê da Frente vinha avaliando a estabilidade ou a fragilidade do regime vigente com base exclusiva nas ações dos senhores da guerra nas proximidades do Exército Vermelho. Esse método de análise é incorreto. O Comitê da Frente precisa dar grande atenção à correção da visão estreita de certos camaradas militares, que acreditam que o Exército Vermelho é a única força que importa na revolução. Avaliar o panorama geral da revolução apenas pelas circunstâncias específicas em que se encontra o Exército Vermelho é profundamente limitado e inevitavelmente conduz a erros. As três “campanhas conjuntas de aniquilamento” lançadas até agora pelos senhores da guerra contra o Exército Vermelho possuem todas um duplo significado: por um lado, são ataques conjuntos contra as forças revolucionárias; por outro, são também preparativos para suas próprias guerras intestinas, uma vez que precisam eliminar o Exército Vermelho a fim de consolidar suas retaguardas. Isso vale tanto para a campanha conjunta empreendida pelos senhores da guerra de Hunan, Jiangxi e Guangdong quanto para a mais recente, promovida pelas camarilhas de Fujian, Jiangxi e Guangdong. Quando Chiang Kai-shek enviou Liu Heding(13) para Fujian, seu objetivo era, claro, atacar Zhu De e Mao Zedong, mas também acalentava a intenção de eliminar Zhang Zhen(14). Por isso, as diversas facções do exército de Fujian mantiveram-se em alerta umas contra as outras, cada qual tentando transferir para as demais a tarefa de combater o Exército Vermelho. As tropas de Guangdong enviadas a Fujian recuaram apressadamente diante dos conflitos entre Chen Mingshu e Chen Jitang(15), bem como das tensões entre Chiang Kai-shek e os senhores da guerra de Guangdong e Guangxi. Depois que Zhu Peide perdeu seus territórios em Jiangxi(16) e Wang Jun(17) foi transferido para Bengbu, Jin Handing(18) permaneceu com suas tropas no sul de Jiangxi. Agora, aderiu ao Grupo de Reorganização e, nos últimos meses, tem mantido uma postura essencialmente defensiva frente ao Exército Vermelho. Este é o verdadeiro panorama da última “campanha conjunta de aniquilamento” lançada pelas camarilhas das três províncias. O Exército Vermelho deve armar-se de firme determinação, compreender integralmente a situação do inimigo e unir-se às amplas massas para frustrar tais campanhas. De forma alguma deve hesitar ou se retrair, de modo a evitar perdas.

O Exército Vermelho surgiu num momento em que o regime reacionário caminha para a ruína e a revolução agrária avança gradualmente; a vastidão do território chinês, como demonstram as duras experiências vividas pelos senhores, constitui também uma condição favorável à nossa causa. Agora temos o Exército Vermelho no campo; mais adiante, teremos o poder político nas cidades. Esse é um traço característico da revolução chinesa, produto direto de sua base econômica. Quem questiona a necessidade de existência do Exército Vermelho não compreende a realidade da revolução chinesa e incorre em ideias liquidacionistas. Quando essas ideias se manifestam no seio do Exército Vermelho, tornam-se particularmente perigosas. O Comitê da Frente deve combatê-las com firmeza e erradicá-las por meio da educação política. No momento atual, em que o regime reacionário se aproxima do colapso e ainda não despontou um auge revolucionário em escala nacional, é correto que o Exército Vermelho adote, como tática principal, a guerra de guerrilhas nas áreas de fronteira entre as províncias de Guangdong, Hunan, Jiangxi e Fujian. No entanto, é necessário prestar atenção à coordenação entre as forças vermelhas dessas quatro regiões. Acima de tudo, o Exército Vermelho deve intensificar seus esforços para auxiliar as massas em suas lutas, conquistando, assim, seu apoio. Com as amplas massas agrupadas em torno de si, o Exército Vermelho encontrará maior facilidade para crescer e superar todas as dificuldades que se apresentarem.

As tarefas básicas e as perspectivas do Exército Vermelho

Atualmente, o Exército Vermelho tem, como tarefas básicas, principalmente as seguintes:

1) Mobilizar as massas para a luta, levar a cabo a revolução agrária e estabelecer governos soviéticos;

2) Desenvolver a guerra de guerrilhas, armar os camponeses e ampliar as fileiras do Exército Vermelho;

3) Expandir as zonas de guerrilha e a nossa influência política por todo o país.

Caso não seja capaz de cumprir essas tarefas, o Exército Vermelho não se distinguirá em nada de um exército qualquer. Nos últimos dois anos, o 4º Corpo do Exército Vermelho realizou parte dessas tarefas e exerceu uma influência significativa sobre a conjuntura política nacional, fato que demonstra que o poder das classes dominantes é débil nas zonas rurais e comprova a existência e o desenvolvimento das forças revolucionárias. A imensa importância do 4º Corpo do Exército Vermelho é inegável. Se continuar se empenhando, sem dúvida se tornará uma das forças propulsoras da futura insurreição revolucionária nacional. Os camaradas do 4º Corpo devem estar plenamente conscientes da relevância de suas tarefas.

Se o Exército Vermelho deve ou não manter enclaves sob regime independente é uma questão que frequentemente se coloca na prática dos senhores. É necessário compreender que, enquanto o poder político das classes dominantes não for derrubado e não despontar um auge revolucionário, o Exército Vermelho deve adotar a tática da guerra de guerrilhas contínua. Permanecer fixo em uma determinada área ou tentar se agarrar a uma determinada localidade, visando manter ali um regime independente, é não apenas inviável como está fadado ao fracasso – como nos ensinou a experiência do nosso poder político na cordilheira de Luoxiao. O cenário muda se nosso poder se estender sobre uma ou mais províncias, pois, nesse caso, contaríamos com uma base econômica relativamente estável para garantir a autossuficiência, o que nos permitiria consolidar esse poder como alicerce para nosso desenvolvimento posterior, ou ao menos para nossa sobrevivência. Em suma: o órgão de poder ou a força guerrilheira numa zona rural deve funcionar como uma unidade de combate voltada a expandir as operações de guerrilha em todas as direções. O conservadorismo levará ao fracasso. Por outro lado, também é equivocada a decisão de conquistar, em apenas um ano, o poder político em toda a província de Jiangxi.

A direção de expansão do Exército Vermelho e sua estratégia

O Exército Vermelho deve se expandir para onde houver possibilidade de fomentar as lutas de massas, e deve promovê-las de forma a aprofundar os processos revolucionários nas localidades. Se permanecer sempre em determinadas regiões de fronteira entre províncias, onde as lutas de massas são escassas, verá seu impacto político ser reduzido. Devemos impulsionar a guerra de guerrilhas onde o inimigo for militarmente fraco ou nas zonas rurais sob influência do poder branco, a fim de expulsar as forças reacionárias e mobilizar as massas para a luta. Devemos aniquilar resolutamente as forças inimigas que sejam menores do que as nossas; do contrário, não conseguiremos ampliar nossas próprias fileiras nem armar as massas. É absolutamente inadmissível qualquer tendência ao imobilismo, à espera passiva do desenrolar da situação, com o intuito de preservar nossas forças. Naturalmente, tampouco devemos opor forças pequenas a um inimigo mais poderoso em batalhas de vida ou morte, nas quais não tenhamos segurança de vitória sem grandes sacrifícios e em que o inimigo possa recuar com tranquilidade, sem que o Exército Vermelho conquiste sequer suas armas. Esse tipo de confronto temerário não traz nenhum benefício à guerra de guerrilhas. Ainda assim, jamais devemos vacilar em nossa convicção fundamental: cercar o inimigo e capturar suas armas, com vistas à nossa própria expansão. O Exército Vermelho jamais poderá se desenvolver sem ser forjado pela luta. A simples ideia de evitar combates nos levará, inevitavelmente, a perder muitas oportunidades favoráveis ao nosso crescimento. Esses são os pontos fundamentais a que devemos dedicar especial atenção no que diz respeito ao desenvolvimento do Exército Vermelho.

A questão da divisão ou concentração das forças do Exército Vermelho em suas operações militares foi debatida anteriormente por diversos órgãos dirigentes do Partido no 4º Corpo. Durante a discussão, surgiram ideias equivocadas que defendiam a dispersão simples das forças do Exército Vermelho, alegando ser desnecessária a manutenção de contatos após a divisão das tropas e considerando inconveniente qualquer concentração, por tornar-se um alvo demasiadamente evidente. No entanto, a divisão ou a concentração das forças é apenas uma questão de qual é mais vantajosa em um determinado período. De modo algum se deve dividir o 4º Corpo do Exército Vermelho em colunas independentes entre si, pois isso significaria dispersão, e não divisão estratégica das forças. Tampouco se deve fragmentá-lo em incontáveis destacamentos guerrilheiros isolados uns dos outros. Ambas as práticas refletem ideias liquidacionistas, derivadas de uma avaliação incorreta da conjuntura política e do temor de que, em caso de estabilidade das forças reacionárias, o Exército Vermelho fosse aniquilado. Daí nasce a tendência direitista de tentar se preservar, expondo-se o mínimo possível, cada um preocupando-se exclusivamente com sua própria sobrevivência. Essa tendência é extremamente prejudicial tanto para o desenvolvimento do Exército Vermelho quanto para sua influência política no país. A principal tarefa do 4º Corpo do Exército Vermelho, no momento, é travar a guerra de guerrilhas para fortalecer suas fileiras e concentrar suas forças na materialização das palavras de ordem do Partido, a fim de impulsionar a luta de massas. Dividir as forças sob uma liderança centralizada, com o objetivo de levar adiante a guerra de guerrilhas, é um princípio inabalável. Quando as tropas forem divididas, devem manter contato estreito entre si, agir em coordenação e se precaver contra o risco de serem destruídas uma a uma pelo inimigo. Nos últimos dois anos, o 4º Corpo concentrou suas forças no combate e saiu vitorioso das mais diversas provações. Essa experiência conquistada sob condições tão difíceis não deve, de forma alguma, ser subestimada por nenhum de nossos camaradas. É claro que manter o exército inteiro concentrado em ação pode gerar certos entraves, como o deslocamento, acampamento, suprimento e afins, mas essas dificuldades são, em sua maioria, de natureza técnica. Não devemos, por causa delas, abrir mão da direção centralizada, nem negligenciar a grande influência política que uma força concentrada exerce sobre o país como um todo.

Quanto à questão geral das táticas, como as mencionadas na carta do Comitê da Frente, tais como o avanço em ondas, os movimentos de cerco e assédio, e a fórmula tática dos “dezesseis caracteres”(19), todas devem ser aplicadas de acordo com as circunstâncias concretas e não devem ser tomadas como princípios fixos. Ao longo dos dois últimos anos de luta, o Comitê da Frente acumulou uma série de experiências valiosas, e o Comitê Central considera desnecessário emitir instruções rígidas neste momento.

O Exército Vermelho e as massas

No passado, o Comitê da Frente negligenciou as lutas cotidianas das massas nas áreas por onde passava. O Exército Vermelho é, em si, a expressão concentrada da força de classe que representamos. Basta que se espalhe a notícia da chegada do Exército Vermelho para que a maioria dos déspotas locais e dos perversos senhores de terras fujam em disparada. Sob a proteção de nossas forças militares, o ânimo das massas se redobra. É claro que suas ações estão ligadas sobretudo a questões políticas ou militares, mas o Partido, em sua função dirigente, jamais deve ignorar a solução dos inúmeros problemas que ainda persistem no cotidiano das massas. Nas zonas soviéticas(20), no entanto, os organismos do Partido têm deixado essa questão de lado. Ao passar por locais onde as massas ainda não tenham sido mobilizadas, o 4º Corpo não deve se limitar a lançar palavras de ordem genéricas: é preciso investigar cuidadosamente as necessidades cotidianas das massas e guiá-las, a partir de suas lutas reivindicatórias, rumo à luta política, e, eventualmente, à luta armada. Essa forma de combate é aquela de que as massas realmente necessitam, em oposição à simples mobilização militar ou aos atos temerários de alguns poucos indivíduos audazes. Só assim será possível unir amplamente as massas em torno do Partido. É particularmente necessário enfatizar esse ponto quando estivermos auxiliando os organismos partidários locais em seu trabalho.

Quando o Exército Vermelho chegar a uma determinada região, não deve se limitar a entrar em contato com os organismos dirigentes locais do Partido, mas também deve realizar reuniões com as organizações de massas, como os sindicatos operários e as associações camponesas, a fim de estabelecer vínculos estreitos com estas. Seja no trabalho político, na propaganda ou nas lutas concretas, é necessário consultar e colaborar com essas organizações, evitando agir de forma isolada ou se limitar a emitir ordens. Somente assim o Exército Vermelho poderá ampliar sua influência política entre operários e camponeses, fortalecer a confiança das massas em suas próprias organizações e aumentar a eficácia destas. Caso as massas ainda não estejam organizadas em sindicatos ou associações, torna-se ainda mais necessário apoiá-las na criação de suas próprias organizações.

O Exército Vermelho deve auxiliar as massas na criação e no fortalecimento dos governos soviéticos, bem como na construção das bases de seu próprio poder político por meio das mais diversas formas de luta. É necessário elevar a autoridade das associações camponesas, confiando-lhes a resolução de todos os problemas, de modo a preparar o terreno para o estabelecimento dos sovietes. Por exemplo, qualquer proclamação de caráter político ou algo similar deve ser emitida conjuntamente em nome do Exército Vermelho e da associação camponesa, com vistas a aumentar o prestígio dessa organização e reforçar, entre as massas, a confiança em seu próprio poder político.

Quanto ao trabalho de massas, que tem sido realizado com bastante empenho pelo 4º Corpo, gostaríamos de destacar os seguintes pontos importantes. Primeiro, é preciso levar a sério o trabalho de investigação. Infelizmente, no passado, grande parte dos dados coletados foi abandonada por falta de quem se ocupasse da sistematização estatística. O Comitê da Frente deve designar pessoas especificamente para essa tarefa, que, se bem executada, será de grande utilidade para nos ajudar a compreender a vida real nas zonas rurais chinesas e a tomar decisões táticas na revolução agrária. Segundo, é necessário ampliar ao máximo a nossa propaganda. Esta não deve se limitar às zonas guerrilheiras do Exército Vermelho, mas também alcançar, por meio de correspondência, as massas das grandes cidades, projetando nossa influência de maneira mais ampla. Terceiro, todas as organizações de massas, sejam as de luta anti-imperialista, de apoio à União Soviética, os sindicatos de trabalhadores agrícolas ou mesmo organizações provisórias úteis à revolução, são de grande importância, e devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para estabelecê-las. Quarto, a tarefa de liquidar os contrarrevolucionários deve ser executada por meio das organizações de massas; só assim esse trabalho assumirá um caráter verdadeiramente popular. Além disso, é preciso fazer esforços especiais para aprofundá-lo. Quinto, também na arrecadação de fundos devemos seguir a linha de massas, o Exército Vermelho não deve realizá-la sozinho. Ainda que, por ora, as organizações de massas não estejam em condições de prover o abastecimento do Exército Vermelho, a coleta de fundos só terá sentido real se for realizada por intermédio delas. Em certas circunstâncias, o Partido e o Exército Vermelho podem, sim, organizar uma arrecadação direta entre as massas; mas, sobretudo, o abastecimento deve ser promovido com ampla divulgação entre o povo, de modo a ampliar ainda mais a influência do Exército Vermelho. Ao distribuir os recursos arrecadados, é igualmente indispensável considerar as organizações de massas, partilhando-os com elas. A maior parte dos fundos deve ser destinada ao trabalho de massas, e de forma alguma às atividades internas do Partido, a fim de evitar sua corrupção. Sexto, entre os camaradas do 4º Corpo ainda persistem muitas concepções errôneas quanto à tarefa de armar operários e camponeses, o que tem comprometido seriamente esse trabalho. Há preferência por reter as armas de melhor qualidade, em vez de entregá-las às forças locais, e as armas repassadas aos camponeses costumam ser sempre defeituosas. Essa prática, que separa rigidamente as massas do Exército Vermelho, revela uma desconfiança profunda na força do povo. É necessário compreender que o Exército Vermelho e as forças armadas operário-camponesas devem se complementar, e não se anular mutuamente. É verdade que, em algumas áreas, onde as massas ainda não se levantaram para a luta, a entrega prematura de armas tende a ser ineficaz. Por outro lado, quando o Exército Vermelho não dispõe de armamento suficiente nem para si, é justo abster-se, por ora, de distribuí-lo à população. Mas, nos casos em que a entrega for necessária, deve-se corrigir a tendência nociva do passado. Além disso, é igualmente importante enviar quadros para treinar o exército camponês.

A organização e o treinamento do Exército Vermelho

1) Expansão do Exército Vermelho. Ampliar o Exército Vermelho é de importância vital para sua sobrevivência. A consigna “Expandir o Exército Vermelho” deve ser amplamente divulgada e profundamente enraizada tanto entre os combatentes quanto entre as massas. A linha a ser seguida em sua expansão é buscar apoio no seio da luta das massas. Por onde quer que passe, o Exército Vermelho deve realizar comícios voltados ao recrutamento, incentivando operários e camponeses a alistar-se voluntariamente em nossas fileiras. Ao mesmo tempo, sempre que surgir uma oportunidade para capturar armas do inimigo, esta não deve ser desperdiçada.

2) Composição de classe e origem do efetivo do Exército Vermelho. A única fonte disponível de recrutas para o Exército Vermelho são as amplas massas de camponeses arruinados, ainda que estes carreguem consigo uma mentalidade fortemente não proletária. Só será possível atenuar essa mentalidade camponesa por meio do fortalecimento da ideologia proletária, tornando-a predominante. Não há sentido em alimentar ilusões quanto à possibilidade de retificar as tendências atuais do Exército Vermelho por meio do recrutamento imediato de um grande número de operários.

3) Estrutura organizativa. O Exército Vermelho encontra-se atualmente sob o comando do Comitê da Frente do Partido, que emite proclamações em nome do quartel-general ou do departamento político do 4º Corpo. Por ora, essa prática é aceitável. No entanto, quando as zonas soviéticas se expandirem, será necessário convocar assembleias nos sovietes para instituir órgãos de poder nas regiões fronteiriças de diversas províncias, os quais assumirão abertamente o comando do Exército Vermelho. Isso eliminará o defeito de se tratar de um exército meramente partidário e ajudará as massas a compreenderem que o Exército Vermelho é, de fato, seu exército classista. Esse passo, contudo, não deve ser dado de imediato, sob pena de gerar organismos meramente formais. Somente quando nosso trabalho tiver avançado suficientemente no oeste de Fujian, no sul de Jiangxi e na região do rio Dongjiang será possível ensaiar essa prática por meio de conferências conjuntas. Quanto à estrutura interna do Exército Vermelho, o mais importante é ajustá-la às necessidades das atividades guerrilheiras. Os órgãos de comando não devem ser excessivamente numerosos e as organizações militares, bem como suas denominações, não precisam seguir uma forma rígida.

4) Sistema de representantes do Partido. A denominação “representante do Partido” deve ser imediatamente abolida e substituída por “comissário político”. A função do comissário político é supervisionar o trabalho administrativo do exército, consolidar sua direção política, referendar ordens, entre outras atribuições. O secretário do Comitê da Frente pode exercer, ao mesmo tempo, o cargo de comissário político do corpo de exército, embora não precise, necessariamente, chefiar o departamento político.

5) Comitê de soldados. Os comitês de soldados do 4º Corpo obtiveram êxito em suas atividades, e sua linha organizativa é bastante acertada. Suas funções consistem em supervisionar os assuntos econômicos do exército, participar da administração da vida militar, promover ativamente a educação política dos soldados e realizar trabalho de massas. No que diz respeito aos órgãos militares, esses comitês não devem intervir diretamente, mas sim apresentar sugestões por meio de relatórios. Em casos de emergência, o comissário político tem o direito de dissolver o comitê de soldados, podendo também participar de suas reuniões na qualidade de conselheiro. Ainda que essas disposições confiram aos nossos comitês de soldados um poder consideravelmente maior do que o das organizações análogas no Exército Vermelho da Rússia, são adequadas ao estágio atual da guerra de guerrilhas em que se encontra nosso exército. Contudo, é necessário garantir que a democratização do exército se mantenha dentro de certos limites, pois, do contrário, comprometerá nossa capacidade combativa.

6) Trabalho político. É correto que cada corpo e cada coluna do exército possuam um departamento político, e que cada batalhão e cada companhia tenham um comissário político. No interior do exército, sua função é conduzir a educação política; externamente, cabe-lhes realizar a propaganda política, lidar com assuntos administrativos locais, mobilizar as massas para a luta e prestar apoio às organizações populares.

7) Treinamento militar. O Exército Vermelho deve dedicar atenção especial à técnica militar. Jamais deve ceder à mentalidade camponesa, avessa ao treinamento rigoroso e à disciplina organizativa. O Exército Vermelho só poderá fortalecer sua capacidade de combate se alcançar um bom nível técnico e uma preparação militar rigorosa.

8) Democratização no exército. O Exército Vermelho não é uma organização similar a um sindicato operário ou a uma associação camponesa, mas sim uma organização de combate, em confronto armado permanente com o inimigo. Seu comando deve ser centralizado. É claro que devemos estimular os soldados, por meio da educação política, a progredirem conscientemente; no entanto, o princípio do comando centralizado não pode, sob nenhuma hipótese, ser enfraquecido. A democratização no exército só é admissível sob direção centralizada, e o grau de sua aplicação deve ser definido em consonância com as circunstâncias objetivas. É inadmissível eliminar qualquer limitação, pois isso comprometeria a consolidação da disciplina militar.

9) Sobre a incorporação de mulheres ao Exército Vermelho. É recomendável orientar as mulheres revolucionárias a participarem das lutas nas zonas rurais, sem que isso implique, necessariamente, sua incorporação ao Exército Vermelho. Essa questão já foi resolvida no 4º Corpo. Ao mesmo tempo, o Exército Vermelho deve apoiar ativamente o movimento feminino rural.

10) Disciplina e punições no Exército Vermelho. Devemos assegurar que os soldados mantenham a disciplina de forma consciente, coibindo as infrações disciplinares com base na força e na influência das massas. O castigo corporal deve ser abolido de forma resoluta. Quanto à disciplina militar cotidiana, sua aplicação poderá ser mantida conforme aconselhem as circunstâncias.

Provisões e recursos econômicos do Exército Vermelho

1) Obtenção de provisões. A principal fonte de abastecimento do Exército Vermelho é o confisco das propriedades dos senhores de terras. No entanto, ao realizar essa tarefa, devemos seguir sempre a linha de massas, um método de trabalho que precisa ser aplicado mesmo em situações de grande urgência.

2) Arrecadação de fundos. O mais importante é evitar qualquer prejuízo aos interesses gerais de operários, camponeses e pequenos proprietários. O 4º Corpo tem preservado esse princípio com grande rigor, e sua experiência deve ser assimilada pelas demais unidades guerrilheiras.

3) Coleta de contribuições. Este é outro método utilizado pelo Exército Vermelho para levantar recursos. Ao adotar esse procedimento, o 4º Corpo pode organizar comissões de coleta entre as massas, arrecadando principalmente entre camponeses ricos e comerciantes médios e pequenos.

4) Atitude em relação a comerciantes médios e pequenos e camponeses ricos. Para pôr em prática o que estabelece o Programa Político do Partido, facilitar o intercâmbio econômico entre operários e camponeses e atender aos interesses dos indigentes urbanos, é correto não confiscar os bens dos comerciantes médios e pequenos nas cidades, mas é preciso privá-los de qualquer influência política. Devem-se solicitar contribuições aos camponeses ricos, bem como aos comerciantes médios e pequenos, e adotar precauções contra possíveis atitudes reacionárias da parte deles.

5) Provisões e artigos de primeira necessidade para o Exército Vermelho. É correta a abolição do soldo regular no Exército Vermelho, mantendo-se apenas uma pequena quantia para alimentação e despesas menores. A questão do abastecimento de outros itens de necessidade básica pode ser gradualmente resolvida por meio da linha de massas. Naturalmente, é positivo que o Exército Vermelho consiga se abastecer por conta própria, mas seus laços com o povo se estreitarão ainda mais se forem as próprias massas a garantir esse abastecimento e a reunir os fundos necessários.

6) Organização econômica. As despesas de manutenção do Exército Vermelho podem ser submetidas à verificação dos comitês de soldados. Quanto aos demais gastos especiais, no futuro, deverão ser decididos e auditados pelos órgãos de poder das massas.

O trabalho do Partido no Exército Vermelho

1) A atual estrutura organizativa do Partido pode ser mantida tal como está. O número de membros do Comitê da Frente não deve ultrapassar nove, e não há necessidade de se criar um comitê militar subordinado a ele. No interior do exército, as organizações partidárias devem ser mantidas em segredo. Devem funcionar dentro dos departamentos políticos. É importante evitar que esses órgãos tenham um pessoal excessivamente numeroso, devendo-se confiar, tanto quanto possível, as tarefas do Partido àqueles que já atuam nas organizações de massas. Por via de regra, não é necessário estabelecer comitês do Partido nos batalhões. No comando de cada batalhão, pode-se constituir um grupo diretamente submetido ao comitê superior do Partido. No caso de batalhões que operem de forma independente, a direção pode ser assumida pela célula partidária correspondente. Porém, essa decisão pode ser tomada a critério do Comitê da Frente, conforme as circunstâncias.

2) Linha de trabalho do Partido. No exercício de sua função de direção sobre o exército, o Partido deve, sempre que possível, atuar por meio dos grupos dirigentes do Partido, e não por meio de um comando direto. Os assuntos militares devem ser conduzidos pelos quartéis-generais dos corpos de exército e o trabalho político pelos departamentos políticos. Posteriormente, quando forem estabelecidos órgãos de poder de nível superior, deverão ser constituídos grupos dirigentes do Partido para conduzi-los. É fundamental estabelecer distinções claras entre o sistema partidário, o militar e o político.

3) Centralismo. Todo o poder do Partido está centralizado no Comitê da Frente enquanto órgão dirigente. Essa diretriz é correta e não admite quaisquer desvios. A acusação de “patriarcalismo” não deve ser utilizada de forma indiscriminada para enfraquecer a autoridade do órgão dirigente nem para justificar tendências ultrademocráticas. Não resta dúvida de que, ao tratar qualquer questão, o Comitê da Frente deve primeiro tomar uma decisão e, só então, submetê-la à discussão das instâncias subordinadas. É absolutamente inaceitável que decisões sejam tomadas apenas após obter o consentimento dos escalões inferiores, ou que se adiem resoluções à espera da opinião destes, o que enfraqueceria a autoridade dos organismos dirigentes de nível superior e comprometeria a vida orgânica regular das organizações partidárias de base. Essa prática constitui uma expressão extrema do ultrademocratismo. No recente debate travado dentro do Partido, o Comitê da Frente demonstrou essa fraqueza. Isso foi um erro.

4) Grupos da Liga da Juventude Comunista. Devem ser criados grupos da Liga. A prática atual, de designar adultos para o trabalho da juventude e formar grupos da Liga apenas com eles, é inadequada. No Exército Vermelho, é preciso distinguir os militantes do Partido dos membros da Liga. Na célula partidária de cada companhia deve ser formado um grupo da Liga da Juventude Comunista, submetido ao comitê da companhia. Devem ser estabelecidas seções de trabalho juvenil nos comitês das colunas e no Comitê da Frente, formalmente subordinadas aos departamentos políticos, encarregadas de planejar e orientar o trabalho dos grupos da Liga junto à juventude. Cabe, ainda, ao Comitê da Frente, por onde passar o nosso Exército, assumir uma responsabilidade ainda maior no apoio ao trabalho da Liga.

5) Debates sobre questões organizativas. A consigna “Tudo sob responsabilidade do Partido” é ilógica tanto em princípio quanto na prática. O Partido só pode exercer sua liderança política por meio da atuação de seus grupos dirigentes. O sistema atualmente em vigor, segundo o qual o Comitê da Frente exerce comando sobre o quartel-general e o departamento político do corpo de exército, é provisório. O Comitê da Frente não deve se ocupar dos assuntos administrativos cotidianos, devendo delegar essa responsabilidade aos órgãos administrativos, que funcionam sob a supervisão do comissário político. O Comitê da Frente deve concentrar sua atenção na direção do trabalho político, militar e econômico do Exército Vermelho, bem como das lutas de massas. É correto o lema “Todo o trabalho deve passar pela célula do Partido”, desde que compreendido no sentido de que todo o trabalho deve ser realizado por meio da célula partidária, e não em desacordo com os princípios do centralismo democrático do Partido.

6) Corrigir as tendências errôneas. No interior do Exército Vermelho, observam-se atualmente algumas tendências equivocadas: ideias desviacionistas de direita (como o liquidacionismo, a preferência pela dispersão das forças, o desejo de desertar ou a tentativa de reduzir o porte das organizações), o ultrademocratismo e a noção de que o Exército Vermelho não pode subsistir se for separado da produção. Todas essas ideias estão profundamente erradas, sendo fruto do baixo nível teórico de muitos de nossos camaradas e da insuficiência do trabalho de formação política por parte do Partido. Se essas concepções não forem erradicadas, colocarão em sério risco o futuro do Exército Vermelho. O Comitê da Frente deve eliminá-las com espírito combativo intransigente.

7) A questão da implementação de um comitê especial do Partido nas regiões fronteiriças. Quando o trabalho nas regiões limítrofes de várias províncias puder ser coordenado e dirigido de forma conjunta, será possível instituir um comitê especial do Partido. No momento, porém, essa necessidade ainda não se coloca. Quando esse trabalho alcançar um novo estágio de desenvolvimento, o Comitê da Frente poderá assumir as atribuições de um comitê especial, devendo, nesse caso, informar o Comitê Central e solicitar as nomeações correspondentes, ou então convocar uma conferência com representantes dos condados das regiões fronteiriças para eleger os membros do comitê especial.

8) Nas localidades por onde passar o Exército Vermelho, o Comitê da Frente deve estabelecer contato estreito com os organismos dirigentes locais do Partido. As decisões relativas a todas as questões políticas locais devem ser tomadas em reuniões conjuntas com esses organismos. Caso não existam, o Comitê da Frente deve empreender todos os esforços para organizá-los, promovendo as lutas de massas.

As operações atuais do Exército Vermelho

Diante do eclodir do conflito entre os senhores da guerra, o Exército Vermelho deve concentrar todas as suas forças em operações guerrilheiras na região fronteiriça entre as províncias de Fujian e Guangdong, ao longo do curso superior do rio Hanjiang, com o objetivo de mobilizar as massas para a luta. Quando a bacia do Dongjiang for desguarnecida em virtude do confronto entre os senhores da guerra de Guangdong e Guangxi contra Chiang Kai-shek, o Exército Vermelho poderá avançar para Meixian, Fengshun, Wuhua e Xingning a fim de desenvolver atividades guerrilheiras, mobilizar amplamente as massas, apoiar a expansão das zonas vermelhas da bacia do Dongjiang, cercar oportunamente as forças inimigas e capturar suas armas, além de reunir as Guardas Vermelhas dos condados da região para formar novas unidades do Exército Vermelho. Caso a conflagração entre os senhores da guerra de Guangdong e Guangxi contra Chiang Kai-shek não chegue a uma resolução definitiva e se estenda ao restante do país, o Exército Vermelho poderá levar a guerra de guerrilhas até Chaozhou e Shantou, estabelecer ali o poder soviético e, em seguida, avançar rumo às imediações de Huiyang. Se as tropas da camarilha de Chiang Kai-shek forem derrotadas, o Exército Vermelho deve posicionar-se em ambos os lados da estrada principal entre Guangdong e Jiangxi, ou ao longo de outras rotas de retirada, para cercá-las e tomar-lhes as armas. Por outro lado, se o embate entre os senhores da guerra chegar a um desfecho rápido, ou se saírem vitoriosas as tropas da camarilha de Chiang Kai-shek, o Exército Vermelho deve prosseguir com a guerra de guerrilhas na área de fronteira entre Guangdong, Fujian e Jiangxi, visando a mobilização das massas.

Em todas as suas operações, o Exército Vermelho deve evitar uma abordagem meramente militar e manter vínculos estreitos com a luta das massas. Ao mesmo tempo, o Comitê da Frente deve também dedicar atenção às atividades guerrilheiras no sul de Jiangxi e no oeste de Fujian, mantendo contato constante com os organismos dirigentes do Partido nessas regiões, de modo que possam coordenar suas operações com a luta do 4º Corpo do Exército Vermelho e com as ações em curso na bacia do Dongjiang.

O que foi exposto acima constitui apenas um esboço geral. Já discutimos com o camarada Chen Yi os detalhes e as medidas específicas a respeito, as quais serão transmitidas oralmente por este ao Comitê da Frente e aos camaradas de todo o exército.

Saudações revolucionárias!

Comitê Central