O povo chinês não tolerará a agressão

Zhou Enlai

Outubro de 1950


Fonte para a tradução: Chinese People Will not Tolerate Aggression, Zhou Enlai Internet Archive, seção inglesa do Marxists Internet Archive.
Tradução: Renan Yamasaki Veiga de Barros.
HTML: Lucas Schweppenstette.


Um ano se passou desde a fundação da República Popular da China, em 1 de outubro de 1949. Este foi um ano de grandes vitórias e avanços para o povo chinês.

Atravessamos o ano passado com contínuas vitórias na guerra de libertação popular. A guerra de libertação do povo chinês, que começou em julho de 1946, já havia alcançado fundamental êxito já nas vésperas da fundação da República Popular da China em 1949. Mas naquela altura, os bandidos remanescentes do Kuomintang ainda ocupavam áreas do Sul da China, áreas do Sudoeste da China tendo como centro Chungking, além de algumas ilhas.

Durante o ano passado, o Exército Popular de Libertação libertou todo o Sul da China e a província de Fukien. Posteriormente, libertou todo o Sudoeste da China – com exceção do Tibete, e outras ilhas como as Ilhas Choushan, das Ilhas Tungshan. Nosso exército exterminou completamente 203 divisões inimigas inteiras, em uma soma que chega ao número de 2.180.000 homens.

O povo chinês obteve uma enorme vitória quando aniquilou os exércitos delinquentes do Kuomintang equipados pelos Estados Unidos por todo o território chinês. Que lição podemos tirar disso? A lição mais importante é: Uma vitória tão grandiosa nunca pode ser tida como um fenômeno acidental na História, mas sim como resultado necessário de inúmeras lutas revolucionárias tocadas pelo povo chinês durante todo o século passado. Uma vitória tão eminente, rápida e completa jamais pode ser concebida sem o apoio altruísta de milhões de pessoas

China Unida

Esta vitória do povo chinês é totalmente diferente de todas as experiências de “unificação” já registradas na história da China. Antes, havia um ou outro tipo de “unificação”, mas os unificadores ou eram os opressores do povo, ou assim se tornaram posteriormente. Dessa forma, eles nunca puderam alcançar a unificação, e caso alcançassem, não conseguiram impedir as unificações de ruírem depois de algum tempo.

Hoje surgiu a primeira unificação do povo chinês. O próprio povo tornou-se o dono de seu solo e o domínio reacionário na China foi irrevogavelmente derrubado.

Se na medida em que o inimigo aniquilado foi armado pelo governo dos EUA, pode-se concluir que o povo chinês não só obteve vitória sobre o inimigo interno, como também sobre o inimigo externo – isto é, os intervencionistas imperialistas dos Estados Unidos. Se ainda os imperialistas estadunidenses quiserem intervir e invadir a China com quaisquer novos meios e formas, irão então ter que enfrentar a mesma derrota que se abateu sobre o Kuomintang.

A luta entre o povo chinês e o remanescente dos reacionários do Kuomintang ainda não terminou. Isso porque Taiwan, ocupada pelos mesmos reacionários remanescentes, está agora sob controle direto da Marinha e da Força Aérea dos Estados Unidos.

O Exército Popular de Libertação está determinado a libertar Taiwan das garras dos agressores estadunidenses e limpar de uma vez por todas os covis dos delinquentes reacionários da China. Se verá que na guerra pela libertação de Taiwan, a nossa posição estratégica é muito superior à de qualquer inimigo. Do nosso lado está uma honrada integridade; nossa retaguarda está consolidade e redobramos os nossos esforços para a vitória. O Exército Popular de Libertação também está determinado a marchar rumo ao Oeste para libertar o povo tibetano e defender as fronteiras da China. Estamos dispostos a empreender negociações pacíficas para concretizar essa etapa tão necessária à segurança de nossa pátria. Os patriotas no Tibete saudaram abertamente esse fato e esperamos que as autoridades tibetanas não hesitem em buscar uma solução pacífica para a questão.

Política Externa da China Popular

A política externa da República Popular da China foi explicitamente definida no Programa Comum Aprovado na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. O Programa Comum estipula que: “O princípio da política externa da República Popular da China é a proteção da independência, da liberdade, da integridade e soberania de nosso país, a defesa da paz internacional duradoura e da cooperação amistosa entre os povos de todos os países, além da oposição às políticas imperialistas de agressão e guerra”.

Acerca da questão do estabelecimento de relações diplomáticas comerciais com países estrangeiros, o Programa Comum estipula que: “O Governo Popular Central da República Popular da China pode, com base na igualdade, no benefício e respeito mútuo pelo território e pela soberania, negociar com governos estrangeiro que cortaram relações com a camarilha reacionária do Kuomintang e que adotaram uma atitude amistosa para com os povos da China estabelecendo assim, relações diplomáticas com eles”. “A República Popular da China pode restaurar e desenvolver relações comerciais com governos e povos estrangeiros com base na igualdade e no benefício mútuo”. Ao longo de todo o ano passado, as relações exteriores do Governo Popular Central foram conduzidas de acordo com estes princípios básicos.

Desde a fundação da República Popular da China, dezessete países já estabeleceram relações diplomáticas formais conosco. São eles a União Soviética, a Bulgária, a Romênia, a Hungria, a Coréia, a Checoslováquia, a Polônia, a Mongólia, a Alemanha, a Albânia, a Birmânia, a ìndia, o Vietname, a Dinamarca, a Suécia, a Suíça e a Indonésia. Outros oito países – Paquistão, Grã-Bretanha, Ceilão, Noruega, Israel, Afeganistão, Finlândia e Países Baixos – também manifestaram interesse de estabelecer relações diplomáticas com o nosso país. Entre eles, quatro países – Grã-Bretanha, Noruega, Países Baixos e Finlândia – ainda conduzem negociações para o estabelecimento de relações diplomáticas conosco.

Amizade com a URSS

A República Popular da China alinha-se resolutamente com o campo da paz e da democracia mundial liderados pela União Soviética e estabeleceu relações fraternas mais estreita com eles. Durante a visita do Presidente Mao Tsé-Tung à União Soviética, O Tratado Sino-Soviético de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que possui um grande significado histórico ao mundo, foi assinado com a China. Devido a este tratado, importantes povos dos continentes Europeu e Asiático, num número que se aproxima dos 700 milhões, uniram-se numa estreita aliança militar, econômica e cultural, fortalecendo assim o poder de ambos os países para se salvaguardarem contra as agressões no oriente.

Simultaneamente à assinatura deste tratado, talvez um pouco mais tarde, a China e a União Soviética assinaram ainda os acordos sobre a Ferrovia Chinesa de Changchun, Port Arthur e Dairen, o acordo sobre a concessão de crédito ao Governo Popular Central da República Popular da China, além de outros cinco acordos econômicos e comerciais.

Nestes acordos, o nosso grandioso vizinho tem prestado uma generosa assistência à China neste período de recuperação dos ferimentos da guerra. Todo o povo chinês está muito entusiasmado com a assinatura e implementação de tratados e acordos entre a China e a União Soviética e expressa os seus máximos agradecimentos pela parceria que lhe é estendido pelo líder da União Soviética, o Generalíssimo Stalin, e pelo Governo e povo da União Soviética.

A China também assinou contratos e acordos comerciais com a Polônia, a Checoslováquia e a Coréia. Ainda estão em curso negociações comerciais com a Alemanha e com a Hungria.

As relações comerciais também se desenvolveram entre a China e certos países capitalistas. Estima-se que o volume total do comércio exterior da China não apenas atinja, mas supere os planos originais.

Relações com Estados Capitalistas

O estabelecimento de relações diplomáticas com os países capitalista é mais complicado do que o estabelecimento de relações comerciais. Em especial, posso mencionar nossas prolongadas negociações com a Grã-Bretanha, que em nada resultou. A razão para a ineficácia das negociações residiu no fato de o Governo britânico ter dado o reconhecimento da República Popular da China por um lado, enquanto, por outro, concordou em permitir que os chamados “representantes” da retaguarda reacionária da camarilha chinesa do Kuomintang continuassem a ocupar de forma ilegal o assento chinês nas Nações Unidas. Isso torna custoso o início das relações diplomáticas formais entre a China e a Grã-Bretanha. As injustificáveis e hostis atitudes da Grã-Bretanha como com os residentes chineses de Hong Kong e outros territórios não podem passar em branco aos olhos do Governo Popular Central.

Ao longo da guerra de libertação do povo chinês, o Governo dos EUA ficou ao lado de nossos inimigos, ajudando firmemente os reacionários do Kuomintang nos seus ataques ao povo chinês. A inimizade que o Governo dos EUA nutre pelos chineses aumenta desde a fundação da República Popular da China.

Apesar das justas críticas à União Soviética, à Índia e outros países, os EUA teimosamente obstruem a participação dos representantes da República Popular da China nas Nações Unidas e seus vários órgãos, e protegem descaradamente a sede dos chamados “representantes” da retaguarda reacionária do Kuomintang. Da mesma forma, os EUA proíbem os representantes chineses de participarem do Conselho Aliado para o Japão e conspiram para excluir, a China e a União Soviética, de um tratado de paz com o Japão com a finalidade de rearmá-los e reter as tropas e bases estadunidenses lá.

Os EUA planejaram o ataque do bando de Syngman Rhee contra a República Democrática da Coréia a fim de expandir as agressões no oriente para depois, a pretexto da situação na Coréia, enviarem suas forças navais e aéreas para invadir Taiwan, uma província da China, e por fim anunciado que o chamado problema do estatuto de Taiwan deveria ser resolvido pelas Nações Unidas por eles controlada. Além disso, reiteradas vezes, enviou sua força aérea, que está invadindo a Coréia, para sobrevoar a província de Liaotung, na China, metralhando-a e bombardeando-a, também enviou suas forças marinhas, que está invadindo a Coréia, para bombardear as rotas mercantes da China em alto mar.

Através destes atos frenéticos e violentos de agressão imperialista, o Governo dos EUA revelou-se o mais perigoso inimigo da República Popular da China. As agressivas forças dos EUA invadiram as fronteiras da China e podem a qualquer momento expandir suas agressões. MacArthur, Comandante em Chefe das agressões estadunidenses contra Taiwan e Coréia, nos mostrou há muito o desígnio violento do Governo dos EUA e continua a inventar novas desculpas para o prolongamento das agressões.

Contra a Agressão Estadunidense

O povo chinês opõe-se firmemente às brutalidades dos Estados Unidos e está determinado a libertar Taiwan e outros territórios chineses das garras dos agressores estadunidenses.

O povo chinês tem acompanhado de perto a situação na Coréia desde que foi invadida pelos EUA. O povo coreano e seu Exército Popular são determinados e valorosos. Liderados pelo Primeiro-ministro Kim Il-Sung, realizaram feitos notáveis na resistência aos invasores estadunidenses e conquistaram a simpatia e apoio de pessoas em todo o mundo. O povo coreano pode certamente superar as suas muitas dificuldades e obter a vitória final com base no princípio da resistência permanente e de longo prazo.

Os chineses são um povo amante da paz. Cento e vinte milhões de chineses já assinaram seus nomes no solene Apelo de Estocolmo, que continua a receber assinaturas de nosso povo. É óbvio que o povo chinês, depois de libertar todo o território de seu próprio país, quer reabilitar e desenvolver sua produção industrial, agrícola e seu trabalho cultural e educativo num ambiente pacífico livre de ameaças. Porém, se os agressores estadunidenses interpretarem isso como um sinal de fraqueza do povo chinês, cometerão o mesmo erro fatal que cometeram os reacionários do Kuomintang.

O povo chinês ama entusiasticamente a paz, mas para defender a paz, nunca teve ou terá medo de se opor à guerra. O povo chinês não tolerará ociosamente ver seus vizinhos serem selvagemente invadidos pelos imperialistas. Quem tentar excluir os quase 500 milhões de chineses da ONU e quem desprezar e violar os interesses deste um quarto da humanidade existente no mundo e imaginar, em vão, resolver arbitrariamente qualquer problema oriental diretamente relacionado à China, certamente terá seu crânio quebrado.


Inclusão: 02/12/2023