Jornalistas do Autogoverno e Patriotismo

Uma Lição Objetiva

James Connolly

13 de agosto de 1898


Origem: publicado em The Workers' Republic, 13 de agosto de 1898. Republicado em Red Banner, nº 12.

Fonte para a tradução: seção inglesa do Arquivo Marxista na Internet.

Tradução e HTML: Guilherme Corona.

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A maioria dos irlandeses que lembram dos primeiros tempos do movimento da Liga da Terra neste país também lembrarão como os atuais políticos do Autogoverno, então fazendo sua entrada na vida pública, maquinaram para "aparelhar" a mídia impressa irlandesa e usá-la como uma agência de publicidade em seu interesse. Os aventureiros de classe média que agora se colocam como nossos 'Líderes nacionais' foram confrontados com um problema, que pode ser colocado essa forma: Dados um povo oprimido, um governo alienígena e uma aristocracia insolente, como explorar seus conflitos mútuos para ganhar fama e fortuna. Do Governo não se poderia esperar muito. Seguro em sua posição, não se importava com as multidões famintas em busca de escritórios e aspirando postos no serviço civil com que nossa classe média irlandesa cerca os prédios do Governo a cada exame: ele sabe o valor exato do patriotismo do jornal Nacionalista de classe média, que denuncia a regra 'Sacsanach', e, ao mesmo tempo, dedica colunas inteiras do seu espaço para explicar no interesse dos leitores como eles podem melhor se vender para servir ao Sacsanach, seja no Exército, Marinha, Guarda ou Serviço Civil. Ainda menos pode ser esperado da classe latifundiária, o baluarte do inimigo na Irlanda. Mas restava o povo, o esquentado, entusiasmado, caloroso, patriótico povo. E para isso nossos políticos patriotas, vejam só, se deram a tarefa de ludibriar, bajular e chocar o povo da Irlanda de uma forma absolutamente única na história de qualquer país. O método era simples. Nossos jornais não correspondem ao que os seus nomes indicam, meramente cronistas de notícias, eles são, na Irlanda pelo menos, primariamente armas políticas nas mãos de partidos políticos. Portanto, o público irlandês que aprecia tirar suas opiniões dos jornais tem suas opiniões sobre nossos 'líderes' formada mais ou menos dessa maneira:- Tim Healy, sendo indicado correspondente em Londres para um semanário de Dublin, teria, no curso de sua carta, se referido em termos de brilhante admiração aos "discursos de estadista e de eloquência indisputável" de Sr. Sexton; Sr. Sexton, que escreve como correspondente para outro jornal, por sua vez poderia dificilmente encontrar termos suficientemente elogiosos para descrever o "brilhante sarcasmo e instinto legal" de Tim Healy; Sr. Harrington, da cena do fronte, teria, através das colunas da imprensa, e como os outros, sempre sob o manto da anonimidade, informar os tenentes que o mundo estava perdido em admiração por Sr. Redmond, e Sr. Redmond retribuiria o elogio com meia coluna de bajulação sobre o "gênio organizativo" de Tim Harrington; John Dillon concluiria seus discursos com uma citação do excessivamente elogiado doggerel de T.D. Sollivan, e William O'Brien nunca perde a oportunidade em casa ou no exterior de chamar os Céus para testemunhar o amor e admiração que ele tem "no fundo do peito" pelas muitas grandes qualidades do Sr. T.P. O'Connor(1).

Quão bem a manobra funcionou o mundo sabe. O povo irlandês idolatrava esses homens com uma devoção entusiástica de sacrifício. A raça irlandesa, em casa e no exterior, derramava seus bens suados para manter esses homens na luta, estimando eles e se curvando para eles, mesmo quando vimos alguns deles na prisão fazendo mais escândalo sobre a perda de suas calças do que os Irlandeses Unidos ou os Mártires de Manchester fizeram sobre a perda das suas vidas. Mas no tempo certo a bolha estoura. A crise de Parnell, e todas as cenas tempestuosas e traições que a acompanharam, nos mostrou de que material desprezível nossos venerados semideuses eram feitos(2). Todo esforço agora sendo feito, ou possivelmente feito, para reabilitar esses homens na opinião pública deve ser visto com desprezo por qualquer irlandês correto. Nos permitiram ver atrás das cenas da política por um curto momento enquanto os atores discutiam no fronte, e aqueles que uma vez viram o mecanismo do palco nunca mais se assustarão pelos seus trovões.

E se os jornalistas desacreditados que traficaram com nossa credulidade no passado não puderem mais comandar nosso respeito o que será dos jornalistas que operam nossos jornais hoje? O seu patriotismo e também sua honestidade podem ser medidas pelo seguinte incidente que foi gravado em todos nossos diários de Dublin, e no momento absolutamente sem comentário. Nós extraímos do Freeman's Journal.

INSTITUTO IRLANDÊS DE JORNALISTAS

Jantar Anual

O jantar anual, junto com a assembleia geral anual da Associação Distrital do Instituto Irlandês de Jornalistas foi realizado na noite de sábado no Grand Hotel, Malahide. Durante a noite, às 6:30, mais de sessenta membros e convidados se sentaram para jantar no espaçoso salão.

Sr. J.P. Hayden (diretor) presidiu. Na sua direita sentou Right Hon, prefeito, Sr. W.C. Mills, diretor do Distrito de Dublin; na sua esquerda Sr. Geo. McSweeney, ex-diretor, e Sr. Thos. Kennedy, secretário do prefeito. Aqueles presentes incluíram Sr. F.J. Allan, C. Ryan, J.B. Hall, J. Sherlock; M.F. McGrenahan; W.F. Dennehy, J.P. Gaynor; John Magrath, M.P. Ryle, T.R. Harrington, E. Tuohy, Cork; W. Barret; J. Geary; James Murray, J. Wyse Power, Edward Byrn; M.J. Cosgrave, R. O'Dwyer, C. Lehane, A.J. Conway, V.D. Hughes, P.J. Meade, P.J. Hooper, M.A. Casey, Drogheda; R. Donovan, J. Linehan; J. Jameson, R.J. O'Mulrennin; T. Fitzpatrick, F.C. Wallis Healy, L. Dennehy,; W.M. Seaver, M. Wheeler, William Stewart, H. McWeeney, P. Delany, P.J. Griffith, V. Kilbride; G. Sherlock, T.D. Fitzgerald, J. McNerney, J.W. Bacon, T.J. Condon; R.M. Peter, Lionel Johnson, J. Mooney, W. Clarke, secretário honorário do distrito de Dublin; E.H. Kearney; Frank Manley, Edwin Hamilton; Dr. Joze, John O'Connell, T. O'Connor, W.W. O'Mahony (Nass), M. Code (Wexford), P.F. Keenan (Enniscorthy).

As vice-presidências foram ocupadas pelos Srs. J.B. Hall e T.R. Harrington.

Que nossos leitores por favor percebam que nesta lista de nomes, aparentemente, todo jornal em Dublin estava representado - Dillonite, Healyite, Parnellite, eles estão todos aí. Todos os homens que escrevem os furiosamente patrióticos artigos de capa, todos os guias literários de política, todos os homens que a todo tempo estão pregando seu amor pela Irlanda, seu ódio à tirania, sua inabalável determinação para seguir os passos de Tone e Emmet. Bem, esses esquentados e sábios partidos (sic) se encontram em uma função puramente social, não-política, onde eles estavam em maioria absoluta, eles começaram os procedimentos com um brinde, para o quê, você pensa? Para nossos mortos martirizados, não; para nossa pátria, não; pela causa da Liberdade, não; talvez para as 1.225.000 pessoas que morreram de fome no atual reinado da Irlanda, não. Mas para

Sua Mais Graciosa Majestade a Rainha

O reino sob o domínio do qual aqueles nossos companheiros e companheiras foram levados a fome, em uma terra tão fértil quanto qualquer outra na Europa, em obediência a um sistema infernal de economia política, e de acordo com a política deliberada de governo sancionada e aprovada pela Sua Mais Graciosa Majestade a Rainha

No domingo seguinte a maioria desses patriotas jornalísticos estavam na demonstração em Bodenstown(3), os maiores rebeldes entre nós (mar dhea) e superando uns aos outros em torcidas entusiasmadas pelo grande republicano de 98, proclamando sua admiração pelo seu objetivo inflexível e virtudes democráticas, mesmo enquanto a bebida que eles consumiram no brinde 'leal' tinha malmente saído de suas veias. E no dia seguinte da demonstração de Wolfe Tone todos nossos jornais diários de Dublin no interesse do Autogoverno continham longos editoriais escritos por esses mesmos versáteis senhores, elogiando o povo irlandês pela sua fidelidade à causa da liberdade. Poderia tamanha desonestidade e hipocrisia ir mais longe?

A história política irlandesa, escrita por homens como estes, representou nossos partidários do autogoverno da classe média e seus aliados jornalísticos como os elevados apóstolos de um povo empobrecido; a história futura estigmatizará eles mais corretamente como os mais inescrupulosos charlatões políticos que já se impuseram sobre uma raça confidente.

Antes de sair deste assunto desagradável gostaríamos de fazer uma pergunta civil. Na lista de nomes presentes na citada função lealista, vemos o nome do Sr. F. J. Allan. O Sr. Allan é diretor do Independent, é um membro da Executiva de 98, é reputado como um nacionalista avançado. Se ele estava presente no banquete, por que ele não protestou? Se ele não estava presente, por que ele não repudiou os nomes daqueles que usaram seu nome naquela função? Foi por que ele não gostaria de expor os hipócritas covardes que se chamam de jornalistas nacionalistas? Ou por que ele é também um hipócrita tão grande quanto qualquer outro? O Sr. F. J. Allan é um oficial do Instituto Irlandês de Jornalistas que ofereceu este jantar - Tesoureiro na verdade - e assim é diretamente responsável por este brinde lealista. Deixemos que ele responda(4). E que ele e todos os outros notem que agora entrou no mundo jornalístico da Irlanda uma força nova na forma de um jornal jurado a levar adiante os princípios revolucionários dos Irlandeses Unidos, de acordo com as mudanças no desenvolvimento econômico e político da época(5). De acordo com este juramento, que aqui fazemos aos nossos leitores, fica sobre os nossos ombros o dever, que aceitamos com prazer, de expor incansavelmente à opinião pública o pântano ao qual pertence toda a horda de enganadores de classe média e manipuladores políticos que por tanto tempo emascularam e enfraqueceram nossa fé política. Que esses "mercenários da Inglaterra com a insígnia de nosso país" tomem nota.

Setanta