Os Homens que Honramos

James Connolly

13 de agosto de 1898


Primeira edição: publicado na Workers' Republic, em 13 de agosto de 1898.

Fonte para a tradução: seção inglesa do Arquivo Marxista na Internet.

Tradução e HTML: Guilherme Corona.

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Apóstolos da Liberdade são sempre idolatrados quando mortos, mas crucificados enquanto vivos. Uma afirmação tão universalmente verdadeira, se aplica ainda mais ao herói revolucionário em memória do qual o povo irlandês colocará a pedra fundamental de um grande memorial na segunda-feira, 15 de agosto.

Acostumados, como estamos, a aceitar sem questionar os argumentos dos oradores ou do jornalismo político como as verdades mais corretas da história, o sentido e significado reais da vida e da luta do organizador do movimento dos Irlandeses Unidos de 1798 são muito frequentemente esquecidos para o povo da Irlanda hoje, mas quando pensamos nos seus inimigos, naqueles que o atacavam em toda oportunidade, que não pararam de insultá-lo enquanto vivo e não interromperam suas calúnias mesmo quando já estava morto e enterrado, estamos demasiado prontos para esquecer que os mais virulentos e impiedosos desses inimigos não eram os emissários da Coroa Britânica, mas os homens em cujos lábios sempre está o canto do patriotismo, os líderes da Igreja e da política do povo cuja emancipação Wolfe Tone trabalhou para assegurar - e encontrou a morte no seu esforço adiante. Ainda é uma lição que precisamos lembrar, repleta como está de siginificado, na tarefa diante da democracia irlandesa hoje.

Há poucas passagens na vida de Tone mais prenhes de interesse para o leitor atento do que as crônicas das negociações entre ele mesmo e o grande Partido Whig, do qual Grattan era uma luz tão brilhante. A tentativa da aristocracia Whig de bajular e subornar o jovem e ardente democrata para emprestar seu intelecto e poderes a serviço do seu partido, e a desdenhosa recusa do nobre, mas pobre, Tone de prostituir seu gênio na causa do compromisso e da enrolação, sinaliza uma moral que os jovens homens da Irlanda poderiam considerar ao decidir sob qual bandeira eles estarão na luta na qual de agora em diante desafiamos amigos e inimigos.

"Eu era um democrata desde o início", orgulhosamente declarou nosso herói, e na luz desde anúncio percebemos de uma vez por que as classes ricas da Irlanda, com exceção de um punhado, se colocaram contra ele; porque Grattan nunca, por fala ou ação, declarou a menor simpatia pelos Irlandeses Unidos; porque Dan O'Connell pegou em armas para defender Dublin para o Governo Britânico contra seus próprios compatriotas e correligionários rebeldes; porque a aristocracia católica lutou lado a lado com os oficiais de Orange; porque as mais corajosas invectivas de Lorde Castlereagh ou Beresford da Riding School eram apenas fracos ecos das maldições jogadas contra os revolucionários pelos bispos católicos aristocráticos; porque, em resumo, Wolfe Tone e seus camaradas foram esmagados pela traição dos seus próprios compatriotas mais do que pela força do inimigo estrangeiro. Ele foi crucificado em vida, agora ele é idolatrado na morte, e os homens que se adiantam mais arrogantemente para queimar incensos no altar da sua fama são da mesma classe que, se estivesse vivo hoje, se apressaria para repudiá-lo como um perigoso descontente. Falsos como sejam em relação a todos os grandes princípios dos quais nosso herói consagrou sua vida, eles não podem esperar enganar o instinto popular, e sua presença nas comemorações de 98 só deixa mais evidente o quanto eles se afundaram na lama. Nossos líderes do Autogoverno descobrirão que a glória da memória de Wolfe Tone servirá, não para aliviar, mas para acentuar o peso da sua vergonha.

Wolfe Tone estava alinhado com o pensamento revolucionário do seu tempo, como estão os Republicanos Socialistas de hoje. Ele viu claramente, como vemos, que um domínio tão bem enraizado em um país como o domínio britânico na Irlanda só pode ser removido por um impulso revolucionário de acordo com o desenvolvimento da época. Compreendendo esta verdade em sua completude ele rompeu com os homens chamados 'práticos' do tempo, e onde quer que tivesse uma audiência, ele, com a voz ou com a pena, inculcava os princípios republicanos da Revolução Francesa e aconselhava seus compatriotas a embarcar no movimento nacionalista na crista daquela onda revolucionária. Seu nascimento irlandês não criou seu ódio da Constituição Britânica, mas só o intensificou. Como Mitchel, cinquenta anos depois, ele tinha ideias políticas e sociais de tal ordem que o fariam um rebelde mesmo que fosse inglês. Nisto reside sua força e o segredo do seu entusiasmo. Nós que compartilhamos seus princípios apreciamos sua memória ainda mais nesse sentido, acreditando como fazemos que qualquer movimento que resolvesse o problema da liberdade nacional deve tirar sua inspiração, não das lembranças mofadas de um passado enterrado, mas das esperanças brilhantes do presente vivo, das vastas possibilidades do poderoso futuro.

Quando a hora da revolução social por fim chegar e a lava revolucionária agora represada no movimento Socialista finalmente irromper e submergir os reis e classes que agora governam e arruinam o mundo, nos nichos no topo do templo uma raça humana libertada levantará para os heróis e mártires que regaram a árvore da liberdade com o sangue do seu corpo e com o suor do seu intelecto, lado a lado com os Washingtons, Kosciuszkos e Tells de outras terras, um povo irlandês agradecido gravará o nome do nosso precursor, Theobald Wolfe Tone, o homem cujas virtudes só poderemos honrar pela imitação, enquanto a República Socialista ainda honrará seus princípios pela sua realização.