A luta pela unidade da classe operaria contra o fascismo

Georgi Dimitrov


II - A frente única da classe operária contra o fascismo


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Camaradas: Milhões de operários e trabalhadores nos países capitalistas perguntam a si mesmos: Como se pode impedir que o fascismo chegue ao Poder e como derrotá-lo onde já triunfou? A Internacional Comunista responde: o que é preciso fazer primeiro, por onde se há de começar, é criar a frente única, estabelecer a unidade de ação dos operários em cada empresa, em cada bairro, em cada região, em cada país, no mundo inteiro. A unidade de ação do proletariado sobre um plano nacional e internacional: eis aí a arma poderosa que capacita a classe operária não só para a defesa eficaz, como também para a contraofensiva eficaz contra o fascismo, contra o inimigo de classe.

A importância da frente única

Não é evidente que as ações conjuntas dos filiados aos Partidos e organizações das duas Internacionais — a Internacional Comunista e a Segunda Internacional — permitiriam às massas repelir o impulso fascista e aumentariam o peso político da classe operária?

As ações conjuntas dos partidos de ambas as Internacionais contra o fascismo não se limitariam a exercer uma influência sobre seus filiados atuais, sobre os comunistas e os social-democratas; exerceriam também uma influência poderosa sobre as fileiras dos operários católicos, anarquistas e não organizados, até sobre aqueles que momentaneamente são vítimas da demagogia fascista.

Mas ainda: a poderosa frente única do proletariado exerceria uma enorme influência sobre todas as demais camadas do povo trabalhador, sobre os camponeses, sobre a pequena burguesia urbana, sobre os intelectuais. A frente única infundiria aos setores vacilantes fé na força da classe operária.

Mas isto não é tudo. O proletariado dos países imperialistas tem seus aliados potenciais, não só nos trabalhadores do próprio país, como também nas nações oprimidas das colônias e semicolônias. O fato do proletariado achar-se dividido nos planos nacional e internacional e de uma parte dele apoiar a política de colaboração com a burguesia, e sobretudo, seu regime de opressão nas colônias e semicolônias, afasta da classe operária os povos oprimidos das colônias e semicolônias e enfraquece a frente anti-imperialista mundial. Cada passo que o proletariado das metrópoles imperialistas dá pelo caminho da unidade de ação, disposto a apoiar a luta de libertação dos povos coloniais, equivale a converter as colônias e semicolônias numa das reservas principais do proletariado mundial.

Finalmente, se levarmos em conta que a unidade de ação internacional do proletariado se apoia na força sempre crescente do Estado proletário, do País do Socialismo, da União Soviética, veremos que largas perspectivas abre a realização da unidade de ação do proletariado nos planos nacional e internacional.

A implantação da unidade de ação de todos os setores da classe operária, qualquer que seja o Partido ou organização a que pertençam, é necessária mesmo antes de se unificar a maioria da classe operária para a luta pela derrocada do capitalismo e pelo triunfo da revolução proletária.

É possível realizar esta unidade de ação do proletariado nos diversos países e no mundo inteiro? Sim, é possível, e o é imediatamente. A Internacional Comunista não impõe para a unidade de ação nenhuma espécie de condições, com exceção de uma elementar, aceitável para todos os operários, a sabor: que a unidade de ação seja dirigida contra o fascismo, contra a ofensiva do capital, contra a ameaça de guerra, contra o inimigo de classe. Eis ai nossa condição.

Os principais argumentos dos adversários da frente única

Que podem objetar e que objetam os adversários da frente única?

«Para os comunistas, a palavra de ordem da frente única não passa de uma manobra», dizem uns. Mas, ainda que fosse uma manobra — respondemos nós — por que não desmascarais esta «manobra comunista» participando honradamente na frente única? Dizemos francamente: queremos a unidade de ação da classe operária para que o proletariado se fortaleça em sua luta contra a burguesia, para que, defendendo hoje seus interesses cotidianos contra os ataques do capital, contra o fascismo, esteja amanhã em condições de assentar os alicerces para sua definitiva emancipação.

«Os comunistas nos atacam», dizem outros. Pois escutai: Já declaramos repetidas vezes que não atacaremos ninguém, pessoas, organizações, nem partidos, que combatam pela frente única da classe operária contra o inimigo de classe. Mas, ao mesmo tempo, temos, no interesse do proletariado e de sua causa, o dever de criticar as pessoas, organizações e partidos que entorpecem a unidade de ação dos operários.

«Não podemos formar a frente única com os comunistas, porque seu programa é diferente», dizem os de mais longe. Mas afirmais que vosso programa difere do dos partidos burgueses e isto não vos impediu, nem vos impede, de fazer coalizões com estes partidos.

«Os partidos democrático-burgueses são melhores aliados contra o fascismo do que os comunistas», dizem os adversários da frente única e defensores da coalizão com a burguesia. Mas, que nos ensina a experiência da Alemanha? Lá os social-democratas formaram um bloco com estes aliados «melhores». Quais foram os resultados?

«Se estabelecermos a frente única com os comunistas, os pequenos burgueses se assustarão do «perigo vermelho» e se passarão para os fascistas», ouvimos dizer com frequência. Acaso a frente única ameaça os camponeses, os pequenos comerciantes, os artesãos, os trabalhadores intelectuais? Não. A frente única ameaça a grande burguesia, os magnatas financeiros, os latifundiários e demais exploradores cujo regime acarreta a ruína completa de todos aqueles setores.

«A social-democracia é partidária da democracia e os comunistas da ditadura; por isso não podemos estabelecer a frente única com os comunistas», dizem vários chefes social-democratas. Mas, será que nós vos propomos agora uma frente única para proclamar a ditadura do proletariado? Por enquanto não vos propomos semelhante coisa.

«Que os comunistas reconheçam a democracia e atuem em sua defesa e então estaremos dispostos à frente única». A isto respondemos: Nós somos partidários da democracia soviética, a democracia dos trabalhadores, a democracia mais consequente do mundo. Mas defendemos e continuaremos a defender nos países capitalistas, palmo a palmo, as liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o fascismo e a reação burguesa, pois assim o exigem os interesses da luta de classe do proletariado.

«Os pequenos partidos comunistas não contribuiriam nada com sua participação na frente única realizada pelo Partido trabalhista», dizem, por exemplo, os chefes trabalhistas da Inglaterra. não obstante, recordai-vos de que o mesmo afirmavam os chefes social-democratas austríacos com relação ao pequeno Partido Comunista da Áustria. E que demonstraram os acontecimentos? Não era a social-democracia austríaca, com Otto Bauer e Karl Renner à frente, quem tinha razão, e sim o pequeno Partido Comunista austríaco, que salientou oportunamente o perigo fascista na Áustria e chamou os operários à luta contra ele. E toda a experiência do movimento operário ensina que os comunistas, ainda quo numericamente sejam poucos, são o motor da atividade combativa do proletariado. Além disto, não se deve esquecer que os Partidos Comunistas da Áustria e Inglaterra não são somente as dezenas de milhares de operários filiados a estes Partidos, senão partes do movimento comunista mundial, secções da Internacional Comunista, a que pertence o Partido de um proletariado que triunfou e que governa uma sexta parte do mundo.

«Mas a frente única não impediu a vitória do fascismo no Sarre», objetam os adversários da frente única. Curiosa lógica a desses senhores! Primeiro, de sua parte fazem tudo para assegurar a vitória do fascismo e, depois, se alegram malignamente de que a frente única, para a qual se deixaram arrastar nos últimos momentos, não tenha conduzido os operários ao triunfo.

«Se formássemos, a frente única com os comunistas teríamos que sair dos governos de coalisão e começariam a governar os partidos reacionários e fascistas», dizem os chefes social-democratas que se sentam nos governos dos diversos países. Mas acaso não participou a social-democracia alemã de um governo de coalisão? Sim, participou. Não formou parte do governo a social-democracia austríaca? Também fez parte. Não estiveram os socialistas espanhóis em um governo, coligados com a burguesia? Sim, também estiveram. E acaso a participação da social-democracia nos governos burgueses de coalisão impediu nesses países o assalto do fascismo contra o proletariado? Não, não o impediu. Está, pois, claro como a luz do dia que a participação de ministros social-democratas nos governos burgueses não constitui uma barreira contra o fascismo.

«Os comunistas agem ditatorialmente, querem impor e ditar tudo». Não; nós não impomos nem ditamos nada. Limitamo-nos a formular nossas propostas, cuja realização estamos convencidos de que corresponde aos interesses do povo trabalhador. E isto não é só um direito, senão um dever de quantos atuem em nome dos operários. Tendes medo da «ditadura» dos comunistas? Pois apresentemos conjuntamente com os operários todas as propostas, as vossas e as nossas, discutamo-las conjuntamente, com os operários todos, e escolhamos aquelas que sejam mais vantajosas para a causa da classe operária.

Como se vê, estes argumentos contra a frente única não resistem à mais leve crítica. São apenas pretextos dos chefes reacionários da social-democracia que preferem a frente única com a burguesia à frente única do proletariado.

Não, esses pretextos não prevalecerão! O proletariado internacional pagou muito caro pelas consequências da cisão do movimento operário e está cada vez mais convencido de que a frente única, a unidade de ação do proletariado, tanto sobre o plano nacional como num plano internacional, é necessária e perfeitamente possível. (Aplausos).

Conteúdo e formas da frente única

Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente única, na etapa atual?

A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos da classe operária, sua defesa contra o fascismo, há de ser o ponto de partida e o conteúdo principal da frente única em todos os países capitalistas.

Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela ditadura proletária, temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem e formas de luta que se deduzam das necessidades vitais das masas, do nível de sua capacidade de luta em cada etapa de seu desenvolvimento.

Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para defender-se da exploração capitalista e da barbárie fascista.

Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais ampla por meio de ações conjuntas das organizações operárias das diversas tendências, para defender os interesses vitais das massas trabalhadoras.

Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por descarregar de um modo efetivo as consequências da crise sobre os ombros das classes dominantes; numa palavra, sobre os ombros dos ricos.

Significa, em segundo fugar, a luta conjunta contra todas as formas da ofensiva fascista, pela defesa das conquistas e direitos dos trabalhadores, contra a liquidação das liberdades democrático-burguesas

Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada vez mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria a preparação desta guerra.

Devemos preparar sem descanso a classe operária para as mudanças rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem as circunstâncias. A medida que cresça o movimento e se fortaleça a unidade da classe operária, teremos que ir mais longe e preparar a passagem da defensiva à ofensiva contra o capital, dirigindo-nos para a organização da greve política de massas. Condição obrigatória desta greve é que nela tomem parte os sindicatos principais de cada país.

Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar um só minuto à sua tarefa própria e independente de educação comunista, de organização e mobilização das massas. Não obstante, para assegurar aos operários o caminho para a unidade de ação, é preciso conseguir ao mesmo tempo firmar acordos a curto e a longo prazo sobre ações comuns com os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas e as demais organizações dos trabalhadores contra o inimigo de classe do proletariado. Nesses pactos, a atenção principal deve encaminhar-se para o desencadeamento de ações de massas nos diversos lugares, que deveriam ser realizadas pelas organizações de base mediante resoluções focais. Ao mesmo tempo que cumprirmos lealmente as condições de todos os acordos firmados com elas, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem cometida contra as atividades conjuntas por pessoas ou organizações que tomem parte na frente única. A quantas tentativas se façam para frustrar os acordos firmados — e estas tentativas possivelmente se farão — responderemos apelando para as massas e continuando infatigavelmente a luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada.

Resta dizer que a realização concreta da frente única nos diversos países se efetuará de diferentes modos e revestirá diferentes formas, segundo o estado e o caráter das organizações operárias, seu nível político, a situação concreta do país de que se trate, segundo as mudanças operadas no movimento operário internacional, etc.

Estas formas podem ser, por exemplo: atividades conjuntas dos operários, coordenadas para casos determinados e por motivos concretos, por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma plataforma geral; ações coordenadas em determinadas empresas ou ramos industriais; ações coordenadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional; ações coordenadas para a organização de lutas econômicas dos operários, para a realização de movimentos políticos de massas, para a organização da autodefesa comum contra os assaltos fascistas; ações coordenadas para ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação social; ações conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das mulheres; na defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.

Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeitos com firmar um pacto sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação dos partidos e organizações envolvidas na frente única, como acontece, por exemplo, na França. Isto é apenas o primeiro passo. Os pactos são meios auxiliares para a realização de ações conjuntas, mas não são ainda a frente única. Os comitês de ligação entre as direções dos Partidos Comunista e Socialista são necessários para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas estão muito longe de bastar para o desenvolvimento efetivo da frente única, para arrastar as amplas massas à luta contra o fascismo.

Os comunistas e todos os operários revolucionários devem esforçar-se por criar órgãos de classe de frente única à margem dos partidos, eleitos (nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais prestigiadas no movimento de frente única) nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento de frente única, as enormes massas não organizadas dos trabalhadores, contribuir para desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta base o extenso corpo de ativistas operários da frente única, que é indispensável, e formar nos países capitalistas centenas e milhares de bolcheviques sem partido.

As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo, são a base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos operários é constituída pelas massas não organizadas. Assim, na França, o total dos operários organizados, comunistas, socialistas e filiados aos sindicatos de diferentes tendências, é no total, aproximadamente, de um milhão e a estatística total de operários atinge onze milhões. Na Inglaterra, pertencem aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências uns cinco milhões; mas a estatística total de operários é de quatorze milhões. Nos Estados Unidos da América há, aproximadamente, cinco milhões de operários organizados, mas o total de operários na América do Norte é de trinta e oito milhões. E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em outra série de países. Em tempos «normais» esta massa permanece, substancialmente, à margem da vida política. Más na atualidade, está massa gigantesca se põe cada vez mais em movimento, incorpora-se à vida política, chega à discussão política.

A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma cie realizar, ampliar e fortalecer á frente única na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade de ação alcançada pela classe operária.

A frente popular antifascista

Na mobilização das massas trabalhadoras para a luta contra o fascismo, temos como tarefa especialmente importante a criação de uma extensa frente popular antifascista, sobre a base da frente única proletária. O êxito de toda a luta do proletariado está intimamente unido à criação da aliança de luta do proletariado com os camponeses trabalhadores e com as massas mais importantes da pequena burguesia urbana, que formam a maioria da população, mesmo nos países industrialmente desenvolvidos.

O fascismo, em suas campanhas de agitação destinadas à conquista de tais massas, tenta opor as massas trabalhadoras da cidade e do campo ao proletariado revolucionário e assustar os pequenos burgueses com o fantasma do «perigo vermelho». Temos que devolver os tiros e indicar aos camponeses trabalhadores, aos artesãos e aos trabalhadores intelectuais, de onde os ameaça o verdadeiro perigo; temos que os fazer ver concretamente quem joga sobre os camponeses a carga das contribuições e impostos, quem os suga por meio de juros usurários, expulsa de seu terreno o camponês e sua família e o condena ao desemprego e à mendicância. Precisamos esclarecer objetivamente, explicar paciente e tenazmente, quem arruína os artesãos à força de impostos e taxas de todo gênero, de rendas pesadas e de uma concorrência insuportável para eles, quem atira à rua e priva de trabalhos as extensas massas dos trabalhadores intelectuais.

Mas isto não basta.

O fundamental, o decisivo, para estabelecer a frente popular antifascista, é a ação decidida do proletariado revolucionário em defesa das reivindicações destes setores e, em particular, dos camponeses trabalhadores, de reivindicações que estejam na razão dos interesses primordiais do proletariado, combinando no decorrer da luta as aspirações da classe operária com estas reivindicações.

Para a criação da frente popular antifascista, tem grande importância saber abordar de maneira acertada todos os partidos e organizações que envolvem uma parte considerável de camponeses trabalhadores e as massas principais da pequena burguesia urbana.

Nos países capitalistas, a maioria destes partidos e organizações — tanto econômicas como políticas — se encontra ainda sob a influência da burguesia e acompanha esta. A composição social destes partidos e organizações não é homogênea. Nela aparecem, ao lado dos camponeses muito ricos; ao lado de pequenos comerciantes, homens de grandes negócios; mas a direção está na mão dos últimos, os agentes do grande capital. Isto nos obriga a dar a estas organizações um tratamento diferente, levando em conta que, com frequência, a massa de seus filiados não conhece a verdadeira face política de sua própria direção. Em determinadas circunstâncias, podemos e devemos dirigir nossos esforços no sentido de ganhar para a frente popular antifascista estes partidos e organizações ou setores isolados deles apesar de sua direção burguesa. Assim acontece atualmente na França, por exemplo, com o partido radical; nos Estados Unidos, com as diversas organizações de granjeiros (farmers); na Polônia com o «Stronictwo Ludowe»; na Iugoslávia com o Partido Camponês croata; na Bulgária com a Liga dos Agricultores; na Grécia com os «agraristas», etc. Mas, independentemente disto, de que existam possibilidades de atrair estes partidos e estas organizações para a frente popular, nossa tática tem que ser orientada, sob quaisquer condições, no sentido de arrastar para a frente popular antifascista os pequenos burgueses camponeses, artesãos, etc., envolvidos neles.

Assim, pois, como vedes, temos que acabar por completo com o menosprezo e a atitude depreciativa, que surgem com bastante frequência em nossa situação, a respeito dos diversos partidos e organizações de camponeses, artesãos e de massas da pequena burguesia urbana.

Problemas básicos da frente única em alguns países

Em todos os países há problemas primordiais que numa determinada etapa comovem as extensas massas e em torno dos quais deve desenvolver-se a luta para estabelecer a frente única. Captar acertadamente estes pontos fundamentais, estes problemas primordiais, significa assegurar e acelerar a formação da frente única.

a) Estados Unidos.

Tomemos, por exemplo, um país tão importante do mundo capitalista como os Estados Unidos, Aqui, a crise pôs em movimento massas de milhões de homens. O programa de saneamento do capitalismo foi a pique. Massas imensas começam a afastar-se dos partidos burgueses e acham-se atualmente na encruzilhada. O incipiente fascismo norte- americano tenta canalizar o descontentamento e a desilusão destas massas para leitos reacionárlo-fascistas. A peculiaridade do desenvolvimento do fascismo norte-americano consiste em que, na fase atual age predominantemente em forma de oposição contra o fascismo considerando-o uma corrente «não americana», importada do estrangeiro. Ao contrário do fascismo alemão, que entrou em cena com palavras de ordem contrária à Constituição, o fascismo norte-americano tenta apresentar-se como partidário da Constituição e da «democracia americana. Mas, se conseguir penetrar nas amplas massas desiludidas dos antigos partidos burgueses, poderá converter-se rapidamente num grave perigo.

E que significaria o triunfo do fascismo nos Estados Unidos? Para as massas trabalhadoras significaria, naturalmente, uma acentuação desenfreada do regime de exploração e a destruição do movimento operário. E qual seria a significação internacional desta vitória do fascismo? Os Estados Unidos não são — como é sabido — a Hungria, nem a Finlândia, nem a Bulgária, nem a Letônia. A vitória do fascismo nos Estados Unidos faria mudar essencialmente toda a situação internacional.

Nestas circunstâncias, pode o proletariado norte-americano dar-se por satisfeito simplesmente com a organização de sua vanguarda consciente de classe, que está disposta a marchar pelo caminho da revolução? Não.

É de todo evidente que os interesses do proletariado americano exigem que todas as suas forças se desliguem sem demora dos partidos capitalistas. É preciso encontrar os caminhos e as formas apropriadas para impedir a tempo que o fascismo arraste consigo as amplas massas dos trabalhadores descontentes. E aqui, temos que dizer que a forma apropriada às condições da América do Norte poderia ser a criação de um partido de massas dos trabalhadores, um «partido de operários e granjeiros». Este partido seria uma forma específica da frente popular de massas na América do Norte, uma frente de oposição aos partidos dos «trusts» e dos bancos, e ao crescente fascismo. Esse partido não seria naturalmente, nem socialista, nem comunista. Mas terá que ser um partido antifascista e não deverá ser um partido anticomunista. O programa deste partido deverá ser dirigido contra os bancos, os «trustes» e os monopólios, contra os inimigos principais do povo, que especulam com suas dores. Este partido só poderá cumprir sua missão se defender as reivindicações mais vitais da classe operária, se lutar por uma autêntica legislação social, pelo seguro contra o desemprego, para que obtenham terra e sejam libertados do jugo das dívidas as aderentes brancos e negros, se lutar pela anulação das dívidas dos granjeiros, pela igualdade de direitos dos negros, por defender as reivindicações dos antigos combatentes, os interesses dos membros das profissões liberais, dos pequenos comerciantes e dos artesãos. E assim sucessivamente.

Compreende-se que um partido desse tipo terá de lutar por enviar representantes às administrações autônomas locais e aos órgãos representativos dos diversos Estados da União, assim como ao Congresso e ao Senado.

Nossos camaradas dos Estados Unidos procederam acertadamente tomando a iniciativa, de criar semelhante partido. Mas terão que adotar medidas mais eficazes ainda, para que a criação de tal partido chegue a conseguir as simpatias das próprias massas.

O problema da organização de um «Partido de operários e granjeiros» e seu programa deve ser discutido em assembleias populares de massas, É necessário desenvolver um movimento da maior amplitude para a criação desse partido e colocar-se à frente deste movimento. Não se deve, de modo algum, permitir que a iniciativa de sua organização cala em mãos daqueles elementos que queiram explorar o descontentamento das massas de milhões de homens desiludidos dos partidos burgueses — o democrático e o republicano — para criar nos Estados Unidos um «terceiro» partido como partido anticomunista, como um partido orientado contra o movimento revolucionário.

b) Inglaterra.

Na Inglaterra, à organização fascista de Mosley passou, provisoriamente, a último plano, como resultado das atividades de massas dos operários ingleses. Mas não devemos fechar os olhos ante o fato de que o chamado «Governo nacional» leva a cabo uma série de medidas reacionárias contra a classe operária, mediante as quais se criam também na Inglaterra condições que, chegada a ocasião, facilitarão à burguesia a passagem ao regime fascista. Lutar contar o perigo fascista na Inglaterra, na etapa atual, significa, antes de tudo, lutar contra o «Governo nacional», contra suas medidas reacionárias, contra a ofensiva do capital, pela defesa das reivindicações dos desempregados, contra as diminuições de salário, pela revogação das leis com que a burguesia inglesa piora o nível de vida das massas.

Mas o ódio crescente da classe operária contra o «Governo nacional» agrupa massas cada vez mais extensas sob a palavra de ordem da formação de um novo governo trabalhista na Inglaterra. Podem os comunistas passar por alto esse estado de ânimo nas amplas massas, que ainda têm fé no governo trabalhista? Não, camaradas! Temos que encontrar o caminho para estas massas e lhes dizermos francamente, como o fez o XII Congresso do Partido Comunista inglês: «Nós, comunistas, somos partidários do Poder soviético, único Poder capaz de emancipar os operários do jugo do capital. Mas quereis um governo trabalhista? Perfeitamente. Temos lutado e lutaremos convosco para derrotar o «Governo nacional». Estamos dispostos a apoiar vossa luta pela formação de um novo governo trabalhista, apesar dos dois anteriores não terem cumprido as promessas feitas pelo Partido Trabalhista à classe operária. Não esperamos deste governo que realize medidas socialistas. Mas em nome de milhões de operários formulamos a exigência de que defenda os interesses econômicos e políticos mais angustiantes da classe operária e de todos os trabalhadores. Vamos discutir juntos um programa comum destas reivindicações e por em prática a unidade de ação que o proletariado necessita para fazer frente à ofensiva reacionária do «Governo nacional», à ofensiva do capital e do fascismo e à preparação da nova guerra. Os camaradas ingleses estão dispostos a atuar, sobre estas bases, conjuntamente com as organizações do Partido Trabalhista, nas próximas eleições parlamentares contra o «Governo nacional» e também contra Lloyd George, que, a seu modo, tenta arrastar consigo as massas contra a causa da classe operária em interesse da burguesia inglesa.

Esta posição dos comunistas ingleses é acertada. Ajuda-lhes a estabelecer a frente única de luta com as massas de milhões de homens das «Trade Unions» inglesas e do Partido Trabalhista. Permanecendo sempre nas primeiras linhas do proletariado combatente, mostrando às massas o único caminho certo — o caminho da luta por abater revolucionariamente a dominação da burguesia e para instaurar o Poder Soviético — os comunistas não devem ao fixar suas tarefas políticas atuais, empenhar-se em saltar as etapas necessárias do movimento de massas, ao longo do qual as massas operárias superam, à base da própria experiência, suas ilusões e passam para o lado do comunismo.

c) França.

A França é, como se sabe, o país cuja classe operária há a todo proletariado internacional exemplo de como é preciso lutar contra o fascismo. O Partido Comunista francês pode servir a todas as Secções da Internacional Comunista de exemplo de como se deve levar a cabo a tática da frente única, e os operários socialistas franceses podem servir de exemplo do que devem fazer hoje os operários social-democratas dos demais países capitalistas em luta contra o fascismo. A significação da manifestação antifascista celebrada em Paris a 14 de julho deste ano, na qual tomaram parte melo milhão de homens, assim como as numerosas manifestações efetuadas em outras cidades da França, é enorme. Isto já não é simplesmente um movimento da frente única operária; é o começo de uma ampla frente de todo o povo contra o fascismo.

Este movimento de frente única aumenta a fé da classe operária em suas forças, fortalece nela a consciência de seu papel de guia em relação aos camponeses, à pequena burguesia urbana, aos intelectuais. Estende a influência do Partido Comunista sobre as massas operárias e com isso enrijece o proletariado em sua luta contra o fascismo. Este movimento desperta, a tempo, a atenção vigilante das massas diante do perigo fascista. Será um exemplo contagiante para o desenvolvimento da luta antifascista nos demais países capitalistas e exercerá uma influência animadora sobre os proletários da Alemanha, algemados pela ditadura fascista.

É sem dúvida uma grande vitória, mas não decide ainda o resultado da luta antifascista. A maioria esmagadora do povo francês está, indubitavelmente, contra o fascismo. Mas a burguesia sabe dobrar, recorrendo à força armada, a vontade dos povos. O movimento fascista continua se desenvolvendo com desembaraço completo, com o apoio ativo do capital monopolista, do aparelho estatal da burguesia, do estado maior do exército francês e dos dirigentes reacionários do clero católico, baluarte de toda reação. A mais forte organização fascista, a «Cruz de Fogo», dispõe atualmente de mais de 300.000 homens armados, cujo núcleo principal são 60.000 oficiais da reserva. Possui fortes posições na polícia, na gendarmeria, no exército, na aviação e dentro de todo o aparelho do Estado. As últimas eleições municipais põem em evidência que na França não crescem somente as forças revolucionárias, como também as forças do fascismo. Se o fascismo conseguir penetrar de um modo extenso entre os camponeses e assegurar o apoio de uma parte do exército com a neutralidade da outra, as massas trabalhadoras da França não poderão impedir a subida dos fascistas ao Poder. Não esqueçais, camaradas, a debilidade do movimento operário francês no terreno da organização, debilidade que facilita o êxito da ofensiva fascista. não há nenhuma razão para que a classe operária e todos os antifascistas da França se dêem por satisfeitos com os resultados já conseguidos.

Quais são as tarefas que se apresentam à classe operária da França?

E se o movimento antifascista na França conduzisse à formação de um governo que lutasse contra o fascismo francês de um modo efetivo, não apenas com palavras mas com fatos, que pusesse em prática o programa de reivindicações da frente popular antifascista, os comunistas sem deixar de ser inimigos irreconciliáveis de todo governo burguês, e partidários do Poder Soviético, estariam dispostos, apesar de tudo, ante o crescente perigo fascista a apoiar tal governo. (Aplausos).

A frente única e as organizações fascistas de massas

Camaradas: A luta por estabelecer a frente única nos países onde os fascistas estão no Poder é, talvez, o problema mais importante que temos apresentado. Nesses, a luta se desenvolve, naturalmente, em condições muito mais difíceis que nos países de movimento operário legal. Não obstante, se oferecem nos países fascistas todas as premissas para a formação de uma verdadeira frente popular antifascista na luta contra a ditadura fascista, pois os operários social-democratas, católicos e de outras tendências na Alemanha, por exemplo, podem reconhecer de um modo mais imediato a necessidade de lutar unidos aos comunistas contra a ditadura fascista. As amplas camadas da pequena burguesia e dos camponeses, que já saborearam os frutos amargos da dominação fascista, se sentem cada vez mais descontentes e desiludidas, o que facilita a tarefa de arrastá-las ao movimento popular antifascista.

Nos países fascistas, especialmente na Alemanha e Itália, onde o fascismo soube criar uma base de massas impondo violentamente suas organizações aos operários e demais trabalhadores, a tarefa principal consiste em saber combinar a luta contra o fascismo de fora com o trabalho para miná-lo por dentro nos órgãos e organizações fascistas de massas. É necessário estudar, assimilar e aplicar métodos e processos especiais, apropriados às condições concretas destes países, que estimulem a rápida decomposição da base de massas do fascismo e preparem a destruição da ditadura fascista. É preciso estudar, assimilar e aplicar estes métodos e não limitar-se a gritar: «Morra Hitler!» «Morra Mussolini!» Sim! Assimilá-los e aplicá-los.

É uma tarefa difícil e complicada. Tanto mais difícil quanto nossas experiências de luta eficaz contra a ditadura fascista são extraordinariamente limitadas. Nossos camaradas italianos, por exemplo, levam já aproximadamente treze anos lutando sob as condições da ditadura fascista. Mas não conseguiram desenvolver uma verdadeira luta de massas contra o fascismo, e por isto não puderam, infelizmente, ajudar muito neste sentido, com experiências positivas, os Partidos Comunistas dos demais países fascistas. Os comunistas alemães e italianos e os comunistas de outros países fascistas, do mesmo modo que os membros das juventudes comunistas fizeram maravilhas quanto ao heroísmo. Fizeram e fazem diariamente sacrifícios enorme. Ante este heroísmo e estes sacrifícios, todos nós nos inclinamos. Mas o heroísmo não basta. É necessário combinar este heroísmo com o trabalho diário entre as massas, na luta concreta contra o fascismo, para conseguir resultados mais tangíveis nesse terreno. Em nossa luta contra a ditadura fascista, é particularmente perigoso confundir os desejos com as realidades; é preciso partir dos fatos, da situação concreta real.

E qual é hoje a realidade, por exemplo, na Alemanha?

Entre as massas crescem o descontentamento e a decepção pela política da ditadura fascista, revestindo mesmo a forma de greves parciais e de outras atividades. Apesar de todos seus esforços, o fascismo não conseguiu conquistar politicamente as massas fundamentais dos operários; perde, e perderá cada vez em maior proporção, até seus antigos partidários. Mas temos que compreender que os operários que estão convencidos da possibilidade de derrubar a ditadura fascista e dispostos a lutar desde hoje mesmo por isso, de um modo ativo, são ainda, no momento, uma minoria. Somos nós, os comunistas, e é o setor revolucionário dos operários social-democratas. A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência das possibilidades reais e concretas e dos caminhos pelos quais pode derrubar-se esta ditadura, e continua, no momento na expectativa, isto deve ser levado em conta ao fixarmos nossos objetivos na luta contra o fascismo na Alemanha e quando buscarmos, estudarmos e aplicarmos processos especiais para derrotar e sacudir a ditadura fascista na Alemanha.

Para vibrar um golpe sensível na ditadura fascista, temos que conhecer seus pontos mais vulneráveis. Onde está o tendão de Aquiles da ditadura fascista? Em sua base social. Esta base é extraordinariamente heterogênea. Abrange diferentes classes e diferentes setores da sociedade. O fascismo se proclama representante exclusivo de todas as classes e camadas da população: do fabricante e do operário, do milionário e do desempregado, do latifundiário e do pequeno camponês, do grande capitalista e do artesão. Finge defender os interesses de todos estes setores, os interesses da nação. Mas como o fascismo é a ditadura da grande burguesia, tem que chocar-se inevitavelmente, com sua base social de massas e tanto mais quanto, precisamente sob a ditadura fascista se destacam com maior relevo as contradições de classe entre a matilha dos magnatas financeiros e a esmagadora maioria do povo.

Só poderemos levar as massas às lutas decisivas pela derrota da ditadura fascista, se envolvermos os operários que se viram violentamente impelidos para as organizações fascistas ou que ingressaram nelas por falta de consciência de classe, nos movimentos mais elementares para a defesa de seus interesses econômicos, políticos e culturais. Precisamente por isto, os comunistas devem trabalhar dentro destas organizações como os melhores defensores dos interesses cotidianos das massas de seus filiados, tendo presente que, à proporção que os operários enquadrados nestas organizações exigirem com maior frequência seus direitos e defenderem seus interesses, se chocarão inevitavelmente com a ditadura fascista.

Baseando-se na defesa dos mais vitais interesses — e, nos primeiros tempos, os mais elementares — das massas trabalhadoras da cidade e do campo, será relativamente fácil encontrar uma linguagem comum que nos una não só aos antifascistas conscientes, como também àqueles trabalhadores que são ainda partidários do fascismo, mas que estão enganados e descontentes com sua política, se queixam e procuram a ocasião para manifestar seu descontentamento. Em geral, temos que levar em conta que toda nossa tática, nos países da ditadura fascista, precisa ter um caráter que não repugne ao simples partidário do fascismo, que não o empurre de novo para os braços do fascismo, e sim que aprofunde o abismo entre as camadas fascistas e as massas dos desiludidos e partidários das correntes do fascismo entre as camadas trabalhadoras.

Não há motivo para preocupar-se, se a gente mobilizada em torno destes interesses diários for tida como indiferente em política e mesmo como partidária do fascismo. O importante para nós é arrastá-la ao movimento, um movimento que talvez em seus começos não se desenvolva ainda abertamente sob as palavras de ordem da luta contra o fascismo, porque coloca estas massas frente à ditadura fascista.

A experiência nos ensina que acreditar que nos países de ditadura fascista é absolutamente impossível atuar de um modo legal ou semilegal é prejudicial e falso. Aferrar-se a este ponto de vista significa cair na passividade, renunciar por completo a todo verdadeiro trabalho de massas. Certamente, encontrar formas e métodos de atuação legal ou semilegal, sob as condições da ditadura fascista, é um problema difícil e complicado. Mas, como em tantas outras questões, também aqui a vida é a iniciativa das próprias massas se encarregarão de indicar-nos o caminho, pois as massas já nos deram uma série de exemplos que devemos generalizar e aplicar de maneira organizada e oportuna.

É preciso acabar decididamente com o desprezo pelo trabalho dentro das organizações fascistas de massas. Tanto na Itália como na Alemanha, e em outros países fascistas, nossos camaradas encobriram sua passividade, e com frequência mesmo a negativa direta de fato em trabalhar nas organizações fascistas de massas, pretextando que opunham o trabalho nas empresas à atuação dentro das organizações fascistas de massas. Na realidade, dessa oposição esquemática resultou precisamente que tanto o trabalho dentro das organizações fascistas de massas como o desenvolvido nas empresas fosse extraordinariamente frouxo e até que, às vezes, não se realizasse trabalho algum. Para os comunistas dos países fascistas é, portanto, de especial importância estar em toda parte onde se encontrem as massas. O fascismo arrebatou aos operários suas próprias organizações legais. Impôs-lhes pela violência as organizações fascistas e nestas se encontram as massas, seja de boa vontade ou à força. Estas organizações de massas do fascismo podem e devem ser nosso campo legal ou semilegal de operações no qual entraremos em contacto com as massas. Podem e devem ser para nós um ponto de partida legal ou semilegal para a defesa dos interesses cotidianos das massas. Para aproveitar essas possibilidades, os comunistas deverão lutar por conseguir postos eletivos nas organizações fascistas de massas para manter contacto com as massas, e livrar-se, de uma vez para sempre, do preconceito de que esta tarefa é imprópria e indigna de um operário revolucionário.

Na Alemanha existe, por exemplo, o sistema dos chamados «delegados de fábrica». Onde está escrito que devemos ceder o monopólio destas organizações aos fascistas? Não podemos acaso tentar unir os comunistas, social-democratas, católicos e outros operários antifascistas dentro das empresas para que, ao votarem as listas dos «delegados de fábrica», separem os agentes declarados do patrão e incluam nelas outros candidatos que gozem da confiança dos operários? A prática demonstrou que isto é possível.

E não nos ensina também a prática que podemos exigir dos «delegados de empresas», em união com os operários social-democratas e outros operários descontentes, uma verdadeira defesa dos interesses operários?

Observai a «Frente do Trabalho» da Alemanha ou os sindicatos fascistas da Itália. Acaso não se pode exigir que os funcionários da «Frente de Trabalho» sejam eleitos, em vez de designados de cima? Não se pode insistir em que os órgãos dirigentes dos grupos locais dêem conta de sua atuação às assembleias de membros das organizações? Não se podem levar essas reclamações por resolução do grupo, ao patrão, ao «encarregado do trabalho», aos órgãos superiores da «Frente de Trabalho»? Sim, pode-se fazer, com a condição de que os operários revolucionários trabalhem efetivamente dentro da «Frente de Trabalho» e lutem por conquistar postos na mesma.

Métodos de trabalho parecidos são também possíveis e necessários em outras organizações desportivas, na organização «A Força pela Alegria», na Alemanha; no «Dopo lavoro», na Itália; nas cooperativas, etc.

Recordareis, camaradas, a antiga lenda da tomada de Troia. A cidade de Troia se tornara forte contra o exército sitiante por meio de uma muralha intransponível, e os sitiantes, que tinham sofrido muitas baixas, só alcançaram a vitória quando penetraram no interior, no coração mesmo do inimigo, com auxílio do famoso cavalo de Troia.

Parece-me que nós, operários revolucionários, não devemos sentir nenhum escrúpulo em empregar a mesma tática contra nossos inimigos fascistas, que se defendem contra o povo por meio da muralha viva de seus assassinos a soldo. (Aplausos).

Quem não compreender a necessidade de empregar tática semelhante a respeito do fascismo, quem considerar tal atuação «humilhante», poderá ser um excelente camarada, porém, se me permitis que o diga, é um charlatão e não um revolucionário; esse não saberá conduzir as massas à derrota da ditadura fascista. (Aplausos).

O movimento de massas da frente única que vai germinando fora e dentro das organizações fascistas da Alemanha, Itália e outros países nos quais o fascismo conta com uma base de massas, partindo da defesa das necessidades mais elementares, mudando de formas e palavras de ordem de luta conforme esta luta cresça e se estenda, será o ariete que destruirá a fortaleza da ditadura fascista, que, hoje, muitos talvez julguem inexpugnável.

A frente única nos países em que os social-democratas estão no poder

A luta pelo estabelecimento da frente única levanta outro problema muito importante: o problema da frente única nos países em que estão no Poder governos social-democratas ou governos de coalizão com participação dos socialistas, como acontece, por exemplo na Dinamarca, Noruega, Suécia, Tchecoslováquia e Bélgica.

É bem conhecida nossa atitude absolutamente negativa ante os governos social-democratas, que são governos de conciliação com a burguesia. Mas, apesar disso, não consideramos a existência de um governo social-democrata ou de uma coalizão governamental do partido social-democrata com os partidos burgueses como um obstáculo insuperável, para estabelecer a frente única com os social-democratas, em determinadas questões. Consideramos que também nesses casos é absolutamente possível e necessária a frente única para a defesa dos interesses vitais do povo trabalhador e para a luta contra o fascismo. Compreende-se que nos países em que participam no governo representantes dos partidos social-democratas, a direção social-democrata oponha a mais enérgica resistência à frente única proletária. Compreende-se perfeitamente que seja assim. Querem fazer ver à burguesia que são eles que sabem, melhor e mais habilmente que ninguém, refrear o descontentamento das massas e preservá-las da influência do comunismo. Mas o fato de que os ministros social-democratas adotem uma atitude negativa ante a frente única proletária, não justifica, de modo algum, o fato de que os comunistas nada façam para a criação da frente única do proletariado.

Nossos camaradas dos países escandinavos continuam, com frequência, o caminho da menor resistência, ao limitar-se a desmascarar a propaganda do governo social-democrata. Isto é um erro. Na Dinamarca, por exemplo, os chefes social-democratas há dez anos estão no governo e os comunistas vieram repetindo dia após dia, durante dez anos, que este é um governo burguês, capitalista. Deve supor-se que esta propaganda é conhecida dos operários dinamarqueses. O fato de que, apesar disso, uma considerável maioria vota no partido governamental social-democrata indica somente que o desmascaramento de propaganda do governo pelos comunistas não basta; mas não demonstra que estas centenas de milhares de operários estejam contentes com todas as medidas do governo dos ministros social-democratas. Não, não lhes agrada que o governo Social-democrata, com o chamado «convênio de crise», ajude os grandes capitalistas e latifundiários, e não os operários e os camponeses pobres; que tenham suprimido com o decreto promulgado em janeiro de 1933, o direito de greve. Não lhes agrada que a direção social-democrata planeje uma perigosa norma eleitoral antidemocrática, restringindo consideravelmente o número de deputados. Não julgo equivocar-me ao afirmar que noventa e nove por cento dos operários dinamarqueses não aprovam estas medidas políticas dos chefes e ministros social-democratas.

Acaso os comunistas não podem chamar os sindicatos e organizações social-democratas da Dinamarca a discutir tal ou qual questão da atualidade, a emitir sua opinião a respeito delas e atuar em comum pela frente única proletária, para a realização das reivindicações operárias? Quando, o ano passado, em outubro, nossos camaradas dinamarqueses se dirigiram aos sindicatos para agir contra a redução do subsídio de desemprego e pelos direitos democráticos dos sindicatos, aderiram à frente única umas cem organizações sindicais locais.

Na Suécia está no Poder, pela terceira vez, um governo social-democrata; mas os comunistas suecos renunciaram praticamente, durante multo tempo, a empregar a tática da frente única. Por que? Eram contrários à frente única? Naturalmente que não. Eram, em princípio, partidários da frente única, da frente única em geral, mas não percebiam sobre que pontos, em que problemas, pela defesa de que reivindicações, se podia estabelecer com êxito a frente única, e como e onde havia de apoiar-se. Poucos meses antes de constituir-se o governo social-democrata, o partido social-democrata se apresentou as eleições com uma plataforma em que havia uma série de reivindicações que poderiam ter sido incluídas justamente numa plataforma de frente única proletária, como, por exemplo, estas palavras de ordem; Contra as tarifas aduaneiras! Contra a militarização! É preciso acabar com a lentidão de trâmites no seguro de desemprego! Assegurar aos velhos pensões suficiente para viver! Não admitir a existência de organizações como o «Munch-Corps»! (organização fascista). Abaixo a legislação antissindical de classe, exigida pelos partidos burgueses!

Mais de um milhão de trabalhadores da Suécia votaram em 1932 por estas reivindicações formuladas pela social-democrata, com a esperança de que se converteriam em realidade estas reivindicações. Nada teria sido mais lógico, naquela situação, nem podia corresponder em maior grau aos desejos das massas operárias, do que o Partido ter se dirigido a todas as organizações social-democratas e sindicais com a proposta de empreender atividades conjuntas para levar à prática estas reivindicações lançadas pelo partido social-democrata.

Se realmente se tivesse conseguido mobilizar as extensas massas, pára a consecução de tais reivindicações formuladas pelos próprios social-democratas e agrupar estreitamente numa frente única as organizações operárias social-democratas e comunistas, não resta dúvida que a classe operária sueca teria saído ganhando. Aos ministros social-democratas da Suécia, isto não teria produzido grande alegria, naturalmente, pois neste caso o governo se veria obrigado a satisfazer pelo menos algumas reivindicações. Em todo caso, não teria ocorrido o que agora ocorre: que o governo, em vez de suprimir as tarifas aduaneiras, elevou algumas, em vez de restringir o militarismo aumentou o orçamento de guerra, e em vez de anular toda a legislação dirigida contra os sindicatos apresentou ele mesmo ao parlamento um projeto de lei deste gênero. É certo que o Partido Comunista da Suécia desenvolveu uma boa campanha de massas, no sentido da frente única proletária, a respeito do último problema, conseguindo afinal que a própria fração parlamentar social-democrata se visse obrigada a votar contra o projeto do governo e que no momento o projeto fracassasse.

Os comunistas noruegueses procederam acertadamente ao convidar no Primeiro de Maio as organizações do Partido Operário a celebrar manifestações conjuntas e apresentar uma série de reivindicações, que coincidiam no essencial com as reivindicações da plataforma eleitoral do Partido Operário norueguês. E apesar deste passo a favor da frente única ter se preparado de modo indeciso e a direção do Partido Operário norueguês lhe ser contrária, independente disto foram realizadas manifestações de frente única em trinta localidades.

Antes, muitos comunistas temiam que fosse uma manifestação de oportunismo, de sua parte, não opor a toda reivindicação parcial dos social-democratas suas próprias reivindicações, duas vezes mais radicais. Isto era um erro ingênuo. Se por exemplo, os social-democratas reclamam a dissolução das organizações fascistas, nós não temos que acrescentar: e a dissolução da policia do Estado também (reivindicação que seria oportuno formular em outras circunstâncias), mas devemos dizer aos operários social-democratas: estamos dispostos a aceitar esta reivindicação de vosso Partido como reivindicação de frente única do proletariado, e vamos lutar até o fim por sua consecução. Empreendamos juntos a luta.

Também na Tchecoslováquia se podem e se devem aproveitar certas reivindicações formuladas pela social-democracia tcheca e alemã, assim como pelos sindicatos reformistas, para estabelecer a frente única da classe operária. Quando a social-democracia exige, por exemplo proporcionar, trabalho aos desempregados ou como já o vem exigindo desde 1917 — a revogação das leis que restringem a autonomia dos municípios, é preciso concretizar estas reivindicações em cada localidade e em cada distrito e lutar de mãos dadas com as organizações social-democratas por sua consecução efetiva. Se os partidos, em seus discursos, «em termos gerais», atacam os agentes do fascismo dentro do aparelho do Estado, é preciso expor à luz do dia, por toda a parte, os porta-vozes fascistas concretos e agir conjuntamente com os operários social-democratas para eliminá-los das instituições do Estado.

Na Bélgica, os chefes do partido social-democrata, com Emile Vandervelde à frente, entraram no governo de coalizão. Conseguiram este «êxito» mediante uma longa e ampla campanha por duas reivindicações principais: Primeira, derrogação dos decretos-leis, e, segunda, realização do plano de De Man. A primeira questão é de grande importância. O governo anterior havia promulgado um total de 150 «decretos-leis» reacionários, que atiravam cargas extremamente pesadas sobre os ombros do povo trabalhador. Apresentava-se o problema de revogá-los imediatamente. Assim o exigia o Partido Social-democrata. Acaso o novo governo revogou multo desses «decretos-leis»? Nem um só. Limitou-se a atenuar um pouco alguns com objetivo de oferecer uma espécie de «indenização simbólica» pelas promessas de grande envergadura feitas pelos chefes socialistas da Bélgica (algo semelhante ao «dólar simbólico» que algumas potências europeias ofereceram à América do Norte em pagamento dos milhões de dólares de suas dívidas de guerra).

No que diz respeito à realização do pomposo plano De Man, a coisa tomou para as massas social-democratas um aspecto inesperado. Os ministros social-democratas declararam que antes de tudo era preciso esperar o fim da crise econômica e realizar apenas as partes do plano De Man que melhorassem a situação dos capitalistas, industriais e dos bancos e que só então se poderia passar a pôr em prática as medidas tendentes a melhorar a situação dos operários; mas quanto tempo terão que esperar os operários a parcela de bem-estar que lhes promete o plano? Sobre os banqueiros belgas já caiu uma verdadeira chuva de ouro. Foi implantada uma desvalorização do franco belga em 28 por 100, e devido a esta manipulação os banqueiros puderam apropriar-se como troféu de 4.500 milhões de francos, à custa dos que vivem do salário e das economias da gente modesta. Como se harmoniza isto com o conteúdo do plano De Man? Se se deseja conceder crédito à letra do plano, este promete «perseguir os abusos monopolistas e as manobras dos especuladores».

À base do plano De Man, o governo nomeou uma comissão de controle sobre os bancos; mas, uma comissão composta de banqueiros que se controlam a si mesmos alegre e despreocupadamente!

O plano De Man promete também muitas outras coisas boas: Redução da jornada de trabalho», «normalização dos salários», «salário mínimo», «organização de um sistema completo de seguros sociais», extensão das comodidades mediante a construção de novas casas», etc. São todas elas reivindicações que nós, os comunistas, podemos apoiar. Devemos dirigir-nos às organizações operárias da Bélgica e dizer-lhes: os capitalistas já obtiveram bastante e até demasiado. Exijamos dos ministros social-democratas que cumpram as promessas que fizeram aos operários. Unamo-nos numa frente única para a defesa eficaz de nossos interesses. Senhor ministro Vandervelde: nós apoiamos as reivindicações contidas na plataforma para os operários, mas declaramos abertamente: Tomamos a sério estas reivindicações; queremos fatos e não palavras vazias, e por esta razão agrupamos centenas de milhares de operários para lutar por estas reivindicações!

Desse modo, os comunistas, nos países onde existem governos social-democratas, ao aproveitar as reivindicações concretas, oportunas tomadas das plataformas dos próprios partidos social-democratas e as promessas eleitorais dos ministros social-democratas como ponto de partida para atividades conjuntas com os partidos e organizações social-democratas, poderão depois desenvolver com maior facilidade uma campanha para estabelecer a frente única, baseando-se já noutra série de reivindicações das massas que lutam contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra.

Além disto, é preciso ter presente que se as atividades conjuntas com os partidos e organizações social-democratas exigem dos comunistas, em geral, uma critica mais séria, razoável, do social-democratismo como ideologia, e prática da colaboração de classes com a burguesia, assim como esclarecer infatigavelmente e com espírito de camaradagem os operários social-democratas sobre o programa e as palavras de ordem do comunismo, esta tarefa é de singular importância para a luta da frente única precisamente nos países onde existem governos social-democratas.

A luta pela unidade sindical

Camaradas: A realização da unidade sindical, tanto sobre um plano nacional como internacional, deve constituir a etapa mais importante na consolidação da frente única.

Como é sabido, a tática divisionista dos chefes reformistas, foi levada com maior exacerbação nos sindicatos. É explicável; aí sua política de colaboração de classe com a burguesia encontrava seu resultado prático diretamente nas empresas, à custa dos interesses vitais da massa operária. Isto provocava, naturalmente, uma critica severa e encontrava a resistência dos operários revolucionários dirigidos pelos comunistas, contra este modo de agir. Eis aí porque a mais inflamada luta entre o comunismo e o reformismo se desenrolou no terreno sindical.

Quanto mais difícil e complicada se tornava a situação do capitalismo, mais reacionária era a política dos chefes dos sindicatos ligados à central de Amsterdam e mais agressivas suas medidas contra todos os elementos oposicionistas dentro dos sindicatos. Nem a própria instauração da ditadura fascista na Alemanha, nem a ofensiva redobrada do capital em todos os países capitalistas, diminuíram esta agressividade. Não é característico que somente em um ano, em 1933, na Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia se lançassem as mais ignominiosas circulares destinadas a expulsar dos sindicatos os comunistas e operários revolucionários?

Na Inglaterra, apareceu, em 1933, uma circular proibindo as seções Sindicais de aderir às organizações contra a guerra e outras organizações revolucionárias. isto foi o prelúdio à célebre «Circular Negra» do Conselho Geral das «Trade-Unions», pela qual todo conselho sindical que admitisse em seu seio delegados que «estivessem relacionados, sob uma ou outra forma, com organizações comunistas» era declarado fora da lei. E que dizer da direção dos sindicatos alemães, que aplicou represálias inauditas contra os elementos revolucionários dentro dos sindicatos?

Mas nossa tática não deve tomar como ponto de partida a conduta de alguns chefes dos sindicatos ligados a Amsterdam, por muito grande que sejam as dificuldades que esta conduta oponha à luta de classes, senão que tem de partir, sobretudo, deste fato: Onde se encontram as massas operárias? E aqui, temos que declarar abertamente: o trabalho dentro dos sindicatos é a questão mais candente dos Partidos Comunistas. Devemos conseguir que se dê uma viragem verdadeira no trabalho sindical, e colocar como ponto central a questão da luta pela unidade sindical.

Muitos de nossos camaradas, passando por alto a atração dos operários para os sindicatos, e ante as dificuldades que oferecia o trabalho dentro dos sindicatos ligados a Amsterdam, não se detinham nesta complicada tarefa. Falavam, invariavelmente, da crise orgânica dos sindicatos de Amsterdam, de que os operários abandonavam os sindicatos, e perdiam de vista como estes, depois de certa decaída no começo da crise econômica mundial, começaram a crescer de novo. A particularidade do movimento sindical, consistia precisamente em que a ofensiva da burguesia contra os direitos sindicais, as tentativas feitas em uma série de países (Polônia, Hungria, etc.) de «refrear» os sindicatos, a redução dos seguros sociais, o roubo dos salários, obrigavam os operários, apesar de não haver uma resistência da parte dos chefes sindicais reformistas contra tudo isto, a cerrar ainda mais suas fileiras em torno dos sindicatos, pois os operários queriam e querem ver no sindicato o defensor combativo de seus interesses de classe. Assim se explica o fato de que nestes últimos anos tenham aumentado — na França, Tchecoslováquia, Bélgica, Suécia, Holanda, Suíça, etc. — o número de membros da maioria dos sindicatos ligados à Central de Amsterdam. A Federação Americana do Trabalho teve aumentado também consideravelmente nos últimos anos o número de seus filiados.

Se os camaradas alemães tivessem compreendido melhor a tarefa do trabalho sindicai, da qual tão repetidamente lhes falava o camarada Thaelmann, teriam tido indubitavelmente, dentro dos sindicatos, uma posição melhor que a que na realidade tinham no momento de implantar-se a ditadura fascista. Em fins de 1932, havia nos sindicatos livres apenas 10 por cento dos membros do Partido. E isto, apesar dos comunistas, depois do VI Congresso mundial da Internacional Comunista, se terem colocado. à frente de toda uma série de greves. Nossos camaradas escreviam na imprensa acerca da necessidade de consagrar 90 por cento de nossas forças ao trabalho dentro dos sindicatos. Mas, na prática, tudo se concentrava na Oposição Sindical Revolucionária, que de fato se esforçava por suplantar os sindicatos. E que aconteceu depois da tomada do Poder por Hitler? No curso de dois anos, muitos de nossos camaradas se opuseram tenaz e sistematicamente à palavra de ordem acertada da luta pela reconstrução dos sindicatos livres.

Poderia mostrar exemplos parecidos de quase todos os demais países capitalistas.

Não obstante, na luta pela unidade do movimento sindical nos países europeus, já conseguimos as primeiras conquistas sérias. Ao dizer isto, refiro-me à pequena Áustria, onde, por iniciativa do Partido Comunista, foram lançadas as bases para um movimento sindical ilegal. Depois dos combates de fevereiro, os social-democratas, com Otto Bauer à frente, lançaram esta palavra de ordem: «Os sindicatos livres só poderão restabelecer-se depois da queda do fascismo». Os comunistas empreenderam o trabalho de restabelecer os sindicatos. Cada fase desta tarefa era um fragmento de frente única viva do proletariado austríaco. O restabelecimento eficaz dos sindicatos livres na ilegalidade, foi uma derrota séria para o fascismo. Os social-democratas não sabiam que fazer. Uma parte deles tratava de entabular negociações com o governo. Outra parte em vista de nossos êxitos, criou paralelamente alguns sindicatos ilegais próprios. Mas só podia haver um caminho: ou capitular ante o fascismo, ou marchar lutando, conjuntamente, contra o fascismo para a unidade sindical. Sob a pressão das massas, a direção vacilante dos sindicatos paralelos, criados pelos antigos chefes sindicais, se decidiu por uma unificação. A base desta unificação é a luta irreconciliável contra a ofensiva do capital e do fascismo e a salvaguarda da democracia dentro dos sindicatos. Saudamos este fato da unificação dos sindicatos, que é o primeiro passo desta natureza desde que se cindiu formalmente o movimento sindical depois da guerra e que encerra portanto uma significação internacional.

A frente única, na França, serviu indubitavelmente de impulso gigantesco para a realização da unidade sindical. Os dirigentes da Confederação Geral do Trabalho refreavam e continuam refreando por todos os meios a realização da unidade, ao contrapor ao problema fundamental, que é o da política de classes dos sindicatos, questões de importância secundária, subalterna ou meramente formal. Um êxito indubitável da luta pela unidade sindical foi a criação de Sindicatos únicos, sobre um plano local, sindicatos que, por exemplo, no ramo dos ferroviários, abraçam quase as três quartas partes da massa de membros de um e outro sindicato.

Combatemos decididamente pelo restabelecimento da unidade sindical dentro de cada país e, sobre um plano internacional, advogamos por um sindicato único em cada ramo de produção.

Trabalhamos por uma Central sindical única em cada país.

Lutamos por Centrais sindicais internacionais únicas por industrias.

Somos por uma internacional sindical única sobre a base de luta de classes.

Combatemos por sindicatos de classe únicos como um dos baluartes mais importantes da classe operária contra a ofensiva dó capital e do fascismo. Ao fazer assim colocamos como única condição, para a unificação dos sindicatos, lutar contra o capital, lutar contra o fascismo e pela democracia sindical interna.

O tempo não espera. Para nós, o problema da unidade do movimento sindical, tanto sobre um plano nacional como sobre um plano internacional, é o problema da grande causa da unificação de nossa classe em poderosas organizações sindicais únicas contra o inimigo da classe. Saudamos a proposta dirigida nas vésperas do Primeiro de Maio deste ano pela Internacional Sindical Vermelha à Internacional de Amsterdam, para discutir conjuntamente o problema das condições, métodos e formas da unificação do movimento sindical. Os chefes da internacional de Amsterdam repeliram esta proposta, com o usado argumento de que a unidade do movimento sindical só pode realizar-se dentro das fileiras da internacional de Amsterdam que, seja dito de passagem, agrupa quase exclusivamente organizações sindicais de uma parte dos países europeus.

Mas os comunistas, em seu trabalho dentro dos sindicatos, devem prosseguir infatigavelmente a luta pela unidade do movimento sindical. À missão dos Sindicatos Vermelhos e da Internacional Sindical Vermelha é fazer quanto deles depender para que chegue o mais rápido possível á hora da luta conjunta de todos os sindicatos contra a ofensiva do capital e do fascismo, para que a unidade do movimento sindical se crie, apesar dá tenaz resistência dos chefes reacionários da Internacional Sindical de Amsterdam. Os Sindicatos Vermelhos e a Internacional Sindical Vermelha devem receber de nós para isto toda espécie de apoio.

Nos países onde existem pequenos sindicatos vermelhos lhes recomendamos que procurem ingressar nos grandes sindicatos reformistas, exigindo liberdade para sustentar suas opiniões próprias, e a readmissão dos membros expulsos; nos países onde existem paralelamente grandes sindicatos vermelhos e reformistas, recomendamos que exijam a convocação de um Congresso de unificação sobre a plataforma da luta contra a ofensiva do capital e a salvaguarda da democracia sindical.

É preciso afirmar, do modo mais categórico, que o operário comunista, o operário revolucionário que não pertence ao sindicato de massas de seu ofício, que não luta por converter este sindicato reformista em uma verdadeira organização sindical de classe, que não trabalha pela unidade do movimento sindical sobre a base da luta de classes; este operário comunista, este operário revolucionário, não cumpre com seu dever proletário primordial. (Aplausos).

A frente única e a juventude

Camaradas: Salientei o papel que desempenha para a vitória do fascismo a incorporação da juventude às organizações fascistas. Ao falar da juventude, é necessário confessar francamente: temos desdenhado nossa missão de arrastar as massas da juventude trabalhadora à luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra; temos desdenhado esta missão numa série de países. Não apreciamos devidamente a enorme importância que tem a juventude para a luta contra o fascismo. Não tivemos sempre no pensamento os interesses particulares, econômicos, políticos e culturais da juventude. Menos ainda dedicamos atenção ao problema da educação revolucionária da juventude.

Tudo isto o fascismo explorou muito habilmente em alguns países, particularmente na Alemanha, para atrair a si grandes setores da juventude contra o proletariado. É preciso não esquecer que o fascismo não colhe em suas redes a juventude somente com o romantismo militarista. A uns dá comida e roupas envolvendo-os em seus destacamentos; a outros dá trabalho; funda até estabelecimentos chamados culturais para a juventude, e deste modo se esforça por inspirar-lhe a crença de que o fascismo quer e pode realmente dar à massa da juventude trabalhadora alimento e roupa, instruí-la e assegurar-lhe trabalho.

Nossas Juventudes Comunistas continuam sendo, numa série de países capitalistas, organizações predominantemente sectárias, desligadas das massas. Sua debilidade principal reside em que se esforçam ainda em copiar as formas e métodos de trabalho dos Partidos Comunistas, e esquecem que as Juventudes Comunistas não são o Partido Comunista da Juventude. Não percebem que são uma organização com tarefas especiais. Seus métodos e formas de trabalho, de educação, de luta, hão de adaptar-se ao nível concreto e às exigências da juventude.

Nossas camaradas juvenis deram exemplos inolvidáveis de heroísmo na luta contra as violências fascistas e a reação burguesa. Mas carecem ainda de capacidade para arrancar concreta e perseverantemente as massas da juventude da influência inimiga. Isto se revela na resistência, não vencida ainda até hoje, contra a necessidade de trabalhar dentro das organizações fascistas e no modo, nem sempre ajustado, de abordar a juventude socialista e outras juventudes não comunistas. De tudo isto cabe também grande responsabilidade, naturalmente, aos Partidos Comunistas, que devem dirigir e apoiar as Juventudes Comunistas em seu trabalho. Pois o problema da juventude não é somente um problema das Juventudes Comunistas, é um problema do movimento comunista em sua totalidade. No campo da luta pela juventude, os Partidos Comunistas e as organizações juvenis devem dar uma viragem verdadeira e resoluta. A missão principal do movimento juvenil comunista, nos países capitalistas, consiste em marchar valentemente pela senda da organização e da unificação da jovem geração trabalhadora. Que exercem enorme influência sobre o movimento juvenil revolucionário até os mais incipientes passos dados nesta direção, temos a prova nos exemplos recentes da França e dos Estados Unidos. Bastou que se empreendesse nestes países a realização da frente única, para que imediatamente se conseguissem êxitos consideráveis. Também é digna de atenção, no campo da frente única internacional, a eficaz iniciativa do Comitê contra a Guerra e o Fascismo, de Par|s, de chegar a uma colaboração internacional com todas as organizações juvenis não fascistas.

Estes passos que foram dados com êxito, nos últimos tempos, no movimento de frente única da juventude mostram, também, que as formas de frente única da juventude não podem aplicar-se com sujeição a padrões, não têm que ser forçosamente as mesmas que se dão na prática dos Partidos Comunistas. As Juventudes Comunistas devem esforçar-se, por todos os meios, em unificar as forças de todas as organizações não fascistas de massas da juventude, até chegar à formação de diferentes organizações conjuntas para a luta contra o fascismo, contra a inaudita privação de direitos e a militarização da juventude, pelos direitos econômicos e culturais das jovens gerações, por ganhar para a frente antifascista esta juventude, onde quer que se encontre: nas empresas, nos campos de trabalhos forçados, nas Bolsas de Trabalho, nos quartéis, na marinha, nas escolas ou nas diferentes organizações esportivas, culturais e de outro gênero.

Nossos jovens comunistas, ao mesmo tempo que desenvolvem e fortalecem as Juventudes Comunistas, devem esforçar-se por criar associações antifascistas das Juventudes Comunistas e Socialistas sobre a plataforma da luta de classe.

A frente única e a mulher

Não menor que a referente à juventude é, camaradas, a insuficiente compreensão que se manifesta a respeito do trabalho entre as mulheres trabalhadoras, as operárias, as desempregadas, as camponesas e as mulheres do lar. Se o fascismo despoja de tudo a juventude, por outro lado escraviza a mulher de um modo especialmente implacável e cínico, jogando com os sentimentos profundamente arraigados da mãe, da dona de casa, da operária sem apoio, incertas do amanhã. O fascismo, que se apresenta com o papel de filantropo, atira às famílias uma esmola miserável e tenta com isso afogar os sentimentos amargos, provocados especialmente entre as mulheres trabalhadoras, pela indizível escravização a que as submete. Expulsa as operárias da produção. Envia ao campo, pela força, as jovens necessitadas e as condena a converter-se em criadas gratuitas dos camponeses ricos e dos latifundiários. Ao mesmo tempo que promete à mulher um lar feliz, empurra-a, como nenhum outro regime capitalista, no caminho da prostituição.

Os comunistas, e sobretudo nossas camaradas de Partido, devem ter continuamente presente que não pode haver luta eficaz contra o fascismo nem contra a guerra se não se arrastam a esta luta as extensas massas femininas. E isto não se consegue somente com a agitação. Temos que encontrar, atendendo a cada situação concreta, a possibilidade de mobilizar as massas das mulheres trabalhadoras em favor de seus interesses e reivindicações vitais: contra a carestia da vida, pela elevação dos salários, segundo o princípio de «para igual trabalho, igual salário», contra as despedidas em massa, contra tudo que significa desigualdade de direitos e contra a escravização fascista da mulher.

Em nossos esforços por arrastar a mulher trabalhadora ao movimento revolucionário, não devemos recear a criação de organizações especiais de mulheres, onde seja necessário fazê-lo. O preconceito de que é preciso liquidar, nos países capitalistas, as organizações feministas que se acham sob a direção dos Partidos Comunistas, por exigência da luta contra o «separatismo feminino» no movimento operário, é um preconceito que acarreta frequentemente grandes prejuízos.

É preciso procurar as formas mais simples e flexíveis para estabelecer o contacto e a luta comum com as organizações femininas revolucionárias, social-democrata, progressivas, antifascistas e antiguerreiras. Temos que conseguir, custe o que custar, que as operárias e as mulheres trabalhadoras militem na frente única da classe operária e na frente popular antifascista, fado a lado com seus irmãos de classe.

A frente única anti-imperialista

Uma importância extraordinária adquire, em relação com as transformações operadas na situação internacional e doméstica de todos os países coloniais e semicoloniais, o problema da frente única anti-imperialista.

A respeito da criação de uma ampla frente única anti-imperialista nas colônias e semi-colonias, é preciso levar em conta, antes de tudo, a diversidade das condições sob as quais se desenvolve a luta anti-imperialista das massas, o diferente grau de maturidade do movimento de libertação nacional, o papel do proletariado neste movimento e a influência do Partido Comunista sobre as extensas massas.

O problema se apresenta de modo diferente no Brasil e na Índia, na China, etc.

No Brasil, o Partido Comunista, que, com a criação da Aliança Nacional Libertadora, estabeleceu um princípio acertado para o desenvolvimento da frente única anti-imperialista, tem que fazer todos os esforços para continuar alargando no futuro esta frente, por meio da incorporação, em primeiro lugar, das massas de milhões de camponeses, orientando-se para a criação de destacamentos de um exército popular revolucionário, entregues, sem reserva, à revolução, e trabalhar pela instauração do Poder da Aliança Nacional Libertadora.

Na Índia, os comunistas devem participar em todas as atividades anti-imperialistas de massas, sem excetuar aquelas a cuja frente marchem nacional-reformistas, apoiá-las e estendê-las. Conservando sua independência política e de organização, devem empreender um trabalho ativo no seio das organizações ligadas ao Congresso Nacional da Índia e contribuir para a cristalização de uma ala nacional revolucionária dentro destas organizações, para continuar desenvolvendo sempre o movimento de libertação nacional dos povos da Índia contra o imperialismo britânico.

Na China, onde o movimento popular conduziu à criação de distritos soviéticos em importantes territórios do país e à organização de um poderoso Exército Vermelho, a ofensiva rapace do imperialismo japonês e a traição do governo de Nanking puseram em perigo a existência nacional do grande povo chinês. Só os Soviets chineses podem atuar como centro de unificação na luta contra a escravização e a divisão da China pelos imperialistas, como centro de unificação que agrupe todas as forças anti-imperialistas, para a luta nacional do povo chinês.

Aprovamos, portanto, a iniciativa de nosso valente Partido Comunista irmão da China de criar a mais ampla frente única anti-imperialista contra o imperialismo japonês e seus agentes chineses, com todas as forças organizadas no território da China que estejam dispostas a desenvolver a ofensiva pela salvação de seu país e de seu povo.

Estou certo de que expresso os sentimentos e ideias de todo nosso Congresso ao declarar que enviamos nossa saudação fraternal e calorosa, em nome do proletariado revolucionário do mundo inteiro, a todos os Soviets da China, ao povo revolucionário chinês. (Grande ovação, todos os delegados se põem de pé). Enviamos nossa calorosa saudação fraternal ao heróico Exército Vermelho da China (grande ovação), provado em mil batalhas. E afirmamos ao povo chinês que estamos firmemente decididos a apoiar sua luta por libertar-se completamente de todos os rapaces imperialistas e de seus agentes chineses. (Grande ovação e vivas, que duraram muito tempo. Todos os delegados se põem de pé).

O governo de frente única

Camaradas: Tomamos um rumo decidido e audaz para a frente única da classe operária, e estamos dispostos a segui-lo com a máxima consequência.

Se nos perguntarem se nós, os comunistas, lutamos no terreno da frente única somente por reivindicações parciais ou estamos dispostos a compartilhar a responsabilidade, mesmo se se chegasse à formação de um Governo sobre a base da frente única, diremos, com inteira consciência de nossa responsabilidade: se considerarmos que pode surgir uma situação em que a criação de um governo de frente única proletária ou de frente popular antifascista seja não somente possível, mas indispensável, no interesse do proletariado, aceitamos, com efeito, esta eventualidade. (Aplausos). E neste caso, interviremos sem nenhuma vacilação em favor da criação desse governo.

Não me refiro aqui ao governo que possa formar-se depois do triunfo da revolução proletária. Evidentemente, não está excluída a possibilidade de que, num país qualquer, imediatamente depois da derrubada revolucionária da burguesia, se possa formar um governo soviético sobre a base do bloco governamental do Partido Comunista com outro partido (ou sua ala esquerda) que participe na revolução. É sabido que, depois da Revolução de Outubro, o Partido vencedor, o Partido dos bolcheviques russos, fez entrar no governo soviético os representantes dos social-revolucionários de esquerda. Esta foi a particularidade do governo soviético, depois do triunfo da revolução de Outubro.

Não se trata de um caso deste gênero, senão da possível formação de um governo de frente única antes do triunfo da revolução soviética.

Que seria este governo? E em que situação poderia ser possível?

É, antes de tudo, um governo de luta contra o fascismo e a reação. Deve ser um governo formado como consequência do movimento de frente única e que não embarace de nenhuma maneira a atuação do Partido Comunista e das organizações de massas da classe operária, senão ao contrário, que tome enérgicas disposições contra os magnatas contrarrevolucionários da fiança e seus agentes fascistas.

No momento oportuno, apoiando-se no movimento ascensional da frente única, o Partido Comunista do país em questão se manifestará pela criação de semelhante governo, sobre a base de uma plataforma antifascista concreta.

Sob que condições objetivas será possível a formação de tal governo? A esta pergunta, pode responder-se de um modo muito geral: sob as condições de uma crise politica, em que as classes dominantes já não estejam em condições de acabar com o poderoso ascenso do movimento antifascista de massas. Mas isto é apenas uma perspectiva geral, sem a qual só será possível, na prática, a formação de um governo de frente única. Somente em presença de determinadas premissas especiais, pode ser colocado na ordem do dia o problema da formação deste governo como tarefa politicamente necessária. Parece-me que nisto reclamam a maior atenção as seguintes premissas:

Primeiro: Quando o aparelho estatal da burguesia estiver bastante desorganizado e paralisado para que a burguesia não possa impedir a formação de um governo de luta contra a reação e o fascismo.

Segundo: Quando as mais amplas massas dos trabalhadores, e em particular os sindicatos de massas, se levantarem, impetuosamente contra o fascismo e a reação, mas não estiverem ainda preparadas para lançar-se à insurreição com o fim de lutar sob a direção do Partido Comunista pela conquista do Poder soviético.

Terceiro: Quando o processo de diferenciação e radicalização nas fileiras da social-democracia e dos demais partidos que participam na frente única tenha conduzido a que uma parte considerável dentro delas exija medidas implacáveis contra os fascistas e demais reacionários, lute de braços dados com os comunistas contra o fascismo e se manifeste abertamente contra o setor reacionário e hostil ao comunismo dentro de seu próprio partido.

Quando e em que países surgirá de fato uma situação semelhante na qual se dêem em grau suficiente estas premissas, é coisa que não se pode predizer; mas enquanto esta perspectiva não desaparecer em nenhum país capitalista, devemos tê-la em conta e não orientar e preparar para ela somente a nós mesmos, mas orientar também a classe operária da maneira adequada.

O simples fato de colocarmos em discussão este problema está relacionado, naturalmente, com nosso modo de apreciar a situação e as perspectivas próximas do desenvolvimento e com o auge efetivo do movimento da frente única numa série de países, nestes últimos tempos. Durante mais de dez anos, a situação que se apresentava nos países capitalistas era tal, que a internacional Comunista não tinha motivo para discutir um problema desta natureza.

Recordareis, camaradas, que em nosso IV Congresso, celebrado em 1922, e ainda no V Congresso, em 1924, se discutiu o problema da palavra de ordem do governo operário ou operário e camponês. Aqui, originariamente, se tratava, em substância, de um problema quase análogo ao que se nos apresenta. Os debates que em torno desta questão se promoveram naquela época, na Internacional Comunista, e especialmente os erros políticos que se cometeram aqui, têm ainda hoje sua importância para aguçar nossa atenção vigilante ante o perigo de desviar-se para a direita ou para a «esquerda» da linha bolchevique, nesta questão. Por isso quero salientar, em poucas palavras, alguns destes erros, com o fim de tirar deles os ensinamentos necessários à política atual de nossos Partidos.

A primeira série de erros obedeceu, precisamente, a que o problema do governo operário não se ligou clara e firmemente com a presença de uma crise política. Graças a isto, os oportunistas de direita puderam interpretar a coisa no sentido de que era preciso desejar a formação de um governo operário apoiado pelo Partido Comunista em qualquer situação, por assim dizê-lo, «normal». Ao contrário, os ultraesquerdistas só admitiam um governo operário que se formasse única e exclusivamente mediante a insurreição armada, depois da derrocada da burguesia. Ambas as coisas eram falsas, e por isso, agora, para evitar a repetição de semelhantes erros, mostramos com tanto cuidado a necessidade de levar em conta exatamente as condições concretas e particulares da crise política e do auge do movimento de massas sob as quais pode apresentar-se como possível e politicamente necessária a formação de um governo de frente única.

A segunda série de erros obedeceu ao fato de que o problema do governo operário não se ligou com o desenvolvimento do movimento combativo de massas da frente única proletária. isto deu aos oportunistas de direita a possibilidade de falsear o problema e reduzi-lo à tática sem princípios de formação de um bloco com os partidos social-democratas, à base de combinações puramente parlamentares. Os ultra-esquerdistas, ao contrário, gritavam: «Nada de coalizões com a social-democracia contrarrevolucionária!», considerando como contrarrevolucionários, no fundo todos os social-democratas.

Ambas as coisas eram falsas, e salientamos, agora, de uma parte, que não queremos de modo algum um «governo operário» que seja, simplesmente, um governo social-democrata ampliado. Preferimos, até renunciar ao nome de «governo operário» e falar de um governo de frente única que, por seu caráter político, é algo completamente distinto fundamentalmente distinto de todos os governos social-democratas que costumam chamar-se «governos operários». Enquanto que os governos social-democratas representam um instrumento da colaboração de classes com a burguesia no interesse da conservação do sistema capitalista, o governo de frente única é um órgão da colaboração da vanguarda revolucionária do proletariado com outros partidos de luta contra o fascismo é a reação. É evidente que se trata de duas coisas radicalmente diferentes.

Por outra parte, frisamos que é necessário ver a diferença existente entre os diversos campos da social-democracia. Como já salientamos, existe na social-democracia um campo dos social-democratas de esquerda (sem aspas), dos operários que se convertem em revolucionários. A diferença decisiva entre os dois campos consiste, praticamente, em sua atitude ante a frente única da classe operária. Os social-democratas reacionários são contrários à frente única, caluniam o movimento de frente única, o sabotam e decompõem, pois a frente única faz fracassar sua politica de conciliação com a burguesia. Os social-democratas de esquerda são partidários da frente única, defendem, desenvolvem e fortalecem o movimento de frente única, visto que é um movimento de luta contra o fascismo e a reação, e será sempre a força motriz que impelirá o governo de frente única a lutar contra a burguesia reacionária. Quanto maior for a força com que se desencadeie este movimento de massas, tanto maior será a força que levará o governo à luta contra os reacionários. E quanto melhor organizado de baixo estiver o movimento de massas e melhor for a rede dos órgãos de classe da frente única situados à margem do partido nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do campo, tanto maiores serão as garantias contra uma possível degeneração da politica do governo de frente única.

A terceira série de conceitos errôneos que se manifestaram nos antigos debates se referiam justamente à politica prática do «Governo operário». Os oportunistas de direita opinavam que o «Governo operário» devia manter-se dentro do «limite da democracia burguesa» e, por conseguinte, não podia dar nenhum passo que saísse deste marco. Por outro lado, os ultraesquerdistas renunciavam de fato a toda tentativa de formação de um governo de frente única.

Em 1923, se pode ver, na Saxônia e na Turíngia, um quadro eloquente da prática oportunista direitista de um «Governo operário». A entrada dos comunistas no governo da Saxônia, com o social-democratas de esquerda (grupo Zeigner) não era por si um erro. Pelo contrário, este passo estava completamente justificado pela situação revolucionária da Alemanha. Mas os comunistas, ao participarem do governo, tinham que se aproveitar de suas posições, antes de tudo, para armar o proletariado e não o fizeram. Nem sequer confiscaram uma só das casas dos ricos, apesar da escassez de casas Operárias ser tão grande, que muitos operários com mulher e filhos não tinham onde abrigar-se. Não fizeram nada para organizar o, movimento revolucionário de massas dos operários. Procederam em tudo como os habituais ministros parlamentares dentro do «limite da democracia burguesa». Como é sabido foi este o resultado da política oportunista de Brandler e de seus sequazes. O resumo de tudo foi uma bancarrota tal, que ainda hoje nos vemos obrigados a referir-nos ao governo saxão como exemplo clássico de como não devem agir os revolucionários no governo.

Camaradas: Exigimos de todo governo de frente única uma politica completamente diversa. Exigimos-lhe que realize determinadas reivindicações cardiais revolucionárias consoantes com a situação, como, por exemplo, o controle da produção, o controle sobre os bancos, a dissolução da polícia, sua substituição por uma milícia operária armada, etc.

Há quinze anos, Lenin nos convidava a que concentrássemos toda a atenção «em procurar formas de transição ou de aproximação para a revolução proletária». Poderá acontecer que o Governo de frente única seja, numa série de países, uma das formas transitórias mais importantes. Os doutrinários «de esquerda» passaram sempre de longe em relação a esta indicação de Lenin, falando somente da «meta», como propagandistas limitados, sem preocupar-se jamais com as «formas de transição». E os oportunistas de direita tentaram estabelecer uma «fase democrática intermediária especial» entre a ditadura burguesa e a ditadura do proletariado, para sugerir à classe operária a ilusão de um pacífico passeio parlamentar de uma ditadura a outra. A esta «fase intermediária» fictícia chamavam também «forma de transição», e invocavam inclusive o nome de Lenin! Mas não foi difícil descobrir a fraude, pois Lenin falava de uma forma de transição e de aproximação da «revolução proletária», isto é, a destruição da ditadura burguesa, e não de uma formá transitória qualquer entre a ditadura burguesa e a proletária.

Por que atribuía Lenin significação tão extraordinariamente grande à forma que revestisse a passagem à revolução proletária? Porque tinha presente «a lei fundamental de todas as grandes revoluções», a lei de que a propaganda e a agitação por si sós não podem suprir nas massas sua própria experiência política, quando se trata de atrair as massas verdadeiramente extensas dos trabalhadores para o lado da vanguarda revolucionária, sem o que é impossível a luta vitoriosa pelo Poder. O erro habitual de tipo esquerdista é a crença de que com o aparecimento de uma crise política (ou revolucionária), basta que a direção comunista lance a palavra de ordem da insurreição revolucionária para que as grandes massas a acompanhem. Não, até em presença de tais crises, as massas muito longe estão do preparo para isso. Vímo-lo no exemplo da Espanha. Para ajudar as massas de milhões a aprender o mais rapidamente possível, à base de sua própria experiência, o que têm de fazer, onde podem encontrar a saída decisiva e compreender que partido merece sua confiança; para isto são precisas, entre outras coisas, palavras de ordem transitórias e formas especiais de transição ou de aproximação da revolução proletária. Sem isto, as amplas massas do povo que são presa das ilusões e tradições democráticas pequeno-burguesas, poderão, até diante de uma situação revolucionária, vacilar, perder tempo, vagar sem encontrar o caminho da revolução e cair sob os golpes dos verdugos fascistas.

Por isso salientamos a possibilidade de formar, sob as condições da crise política, um governo de frente única antifascista. Na medida em que este governo desenvolver uma luta real e verdadeira contra os inimigos do povo conceder liberdade de ação à classe operária e ao Partido Comunista, nós, os comunistas, o apoiaremos por todos os meios e lutaremos na primeira linha de fogo como soldados da revolução. Mas dizemos francamente às massas: esse governo não trará a salvação definitiva . Esse governo não estará em condições de destruir a dominação da classe dos exploradores, e por esta razão não poderá eliminar definitivamente o perigo da contrarrevolução fascista. Por conseguinte, é preciso preparar-se para a revolução socialista! Só e exclusivamente o Poder soviético trará a salvação!

Se analisarmos o desenvolvimento atual da situação internacional, veremos que a crise política vai amadurecendo numa série completa de países, isto condiciona a grande importância e atualidade de urna decisão firme de nosso Congresso sobre o problema do Governo de frente única.

Se nossos Partidos souberem aproveitar para a preparação revolucionária das massas, de um modo bolchevique, a possibilidade de formar um governo de frente única e a luta em torno da formação e permanência no Poder deste governo, esta será a melhor justificação de nosso rumo para a criação de um governo de frente única.

A luta ideológica contra o fascismo

Um dos aspectos mais fracos da luta antifascista de nossos Partidos consiste em que não reagem suficientemente nem em seu devido tempo contra a demagogia do fascismo e ainda hoje continuam tratando levianamente os problemas da luta contra a ideologia fascista. Muitos camaradas não acreditavam em absoluto que uma variedade tão reacionária da ideologia burguesa como a ideologia do fascismo, que em seu absurdo chega com muita frequência até o desvario, fosse capaz de conquistar influência sobre as massas. Foi um grande erro. A avançadíssima putrefação do capitalismo penetra até a própria medula de sua ideologia e de sua cultura, e a situação desesperada das extensas massas do povo predispõe certos setores ao contágio dos detritos ideológicos deste processo de putrefação.

Não devemos menosprezar, de modo algum, esta força do contágio ideológico do fascismo. Ao contrário, devemos travar por nossa parte uma ampla luta ideológica, baseada numa argumentação clara e popular e de uma maneira certa e bem meditada de abordar a peculiaridade da psicologia nacional das massas do povo.

Os fascistas rebuscam na história de cada povo, para apresentar-se como herdeiros e continuadores do que há de elevado e heróico em seu passado, e exploram tudo o que humilha e ofende os sentimentos nacionais do povo como arma contra os inimigos do fascismo. Na Alemanha se publicam centenas de livros que não têm mais que uma finalidade: falsear ao modo fascista a história do povo alemão.

Os ardentes historiadores nacional-socialistas se esforçam em apresentar a história da Alemanha como se, por imperativo de «uma lei histórica», se visse correr como um fio de ligação, ao longo de 2.000 anos, a trajetória que determinou a aparição no cenário da história do «salvador nacional», do «Messias» do povo alemão, do celebre «cabo» de pais austríacos. Todos os grandes homens do povo alemão, em épocas passadas, são apresentados nestes livros como fascistas, e todos os grandes movimentos camponeses como precursores direto do movimento fascista. Mussolini se esforça obstinadamente em tirar partido da figura heróica de Garibaldi. Os fascistas franceses mostram Joana d’Arc como sua heroína. Os fascistas norte-americanos apelam para as tradições da guerra da independência norte-americana, para as tradições de Washington e de Lincoln. Os fascistas búlgaros exploram o movimento de libertação nacional da década de 70 do século passado e os heróis populares deste movimento, figuras tão, queridas como Vasil Lewsky, Stejan Karadash, etc.

Os comunistas que julgam que tudo isto não tem nada que ver com a causa da classe operária e nada fazem, a mínima coisa, para esclarecer diante das massas trabalhadoras com toda fidelidade histórica e com um verdadeiro sentido marxista-leninista, o passado de seu próprio povo para entrosar a luta atual com as tradições revolucionárias de seu passado, esses comunistas entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas tudo o que há de valioso no passado heróico da nação, para que enganem as massas do povo. (Aplausos).

Não, camaradas! A nós afetam todos os problemas importantes, não só do presente e do futuro, como também os que formam parta do passado de nosso próprio povo, pois, os comunistas, não praticamos a política mesquinha dos interesses gremiais dos operários. Não somos os funcionários limitados das «trade-unions» nem os dirigentes dos grêmios medievais de artesãos e oficiais. Somos os representantes dos interesses de classe da mais importante e maior das classes da sociedade moderna, da classe operária, que tem por missão emancipar a humanidade dos tormentos do sistema capitalista, que já abateu o jugo do capitalismo e é ia classe governante numa sexta parte do mundo. Defendemos os interesses vitais de todos os setores trabalhadores explorados; isto é, da imensa maioria do povo de todos os países capitalistas.

Nós, os comunistas, somos, por princípio, inimigos irreconciliáveis do nacionalismo burguês, em todas as suas formas e variedades. Mas não somos partidários do nihilismo nacional, nem podemos agir nunca, como tais. A missão de educar os operários e todos os trabalhadores no espírito do internacionalismo proletário é uma das tarefas fundamentais de todos os Partidos Comunistas. Mas aquele que pensar que isto lhe permite, e mesmo o obriga, a desprezar todos os sentimentos nacionais das grandes massas trabalhadoras, está muito longe do verdadeiro bolchevique, e nada compreendeu dos ensinamentos de Lenin sobre a questão nacional.

Lenin, que lutou sempre decidida e consequentemente contra o nacionalismo burguês, em seu artigo «Sobre o orgulho nacional dos grandes russos», escrito no ano de 1914, nos deu um exemplo de como se deve abordar o problema dos sentimentos nacionais. Eis aqui suas palavras:

«É alheio a nós, proletários conscientes de nacionalidade «grande-russa», o sentimento do orgulho nacional? Não, naturalmente que não! Sentimos amor por nosso idioma e pelo país em que nascemos; trabalhamos mais do que ninguém para que suas massas trabalhadoras, isto é, as nove décimas partes de sua população, se elevem à vida consciente dos democratas e socialistas. Aflige-nos enormemente ver e sentir as injustiças, a opressão e o escárnio a que submetem nosso belo país os verdugos do Czar, da nobreza e dos capitalistas. Orgulha-nos que estas investidas tenham encontrado resistência entre nós, entre os «grandes russos»; que tenham saldo dentre eles um Radischev, os decabristas, os revolucionários pequeno-burgueses da década de 70 do século passado; que a classe operária de nacionalidade «grã-russa» tenha criado, em 1905, um poderoso partido revolucionário de massas. Invade-nos o sentimento de orgulho nacional ao ver que a nacionalidade «grande-russa» soube criar também uma classe revolucionária e demonstrou também que é capaz de dar à humanidade exemplos grandiosos de luta pela liberdade e pelo socialismo e não só grandes «pogrons», fileiras de patíbulos, calabouços de tortura, fomes terríveis e um atroz servilismo ante os padres, o Czar, os latifundiários e os capitalistas.

Invade-nos o sentimento do orgulho nacional, e precisamente por isso odiamos com especial força nosso passado de escravos... e nosso presente de escravos, em que os próprios latifundiários, ajudados pelos capitalistas, nos conduzem à guerra para estrangular a Polônia e a Ucrânia, para sufocar o movimento democrático da Pérsia e da China e pera fortalecer o bando dos Romanov, dos Bobriniski e dos Purischkevich, que cobrem de opróbrio nossa dignidade de «grandes russos».

Assim se expressava Lenin a respeito do orgulho nacional.

Creio, camaradas, não ter procedido com equívoco quando, no processo de Leipzig, diante da tentativa dos fascistas de caluniar o povo búlgaro como um povo bárbaro, defendi a honra nacional das massas trabalhadoras do povo búlgaro, que luta abnegadamente contra os usurpadores fascistas, que são os verdadeiros bárbaros e selvagens (prolongados aplausos), e quando declarei que não tenho nenhum motivo para envergonhar-me de ser búlgaro e que, longe disso, estou orgulhoso de ser filho da heróica classe operária búlgara. (Aplausos).

Camaradas: O internacionalismo proletário deve «aclimatar-se», por assim dizer, em cada país e lançar raízes profundas no solo natal. As formas nacionais que revestem a luta proletária de classes, o movimento operário em cada país, não estão em contradição com o internacionalismo proletário, senão que, ao contrário, é precisamente sob estas formas que se podem defender com êxito os interesses nacionais do proletariado.

É evidente que se precisa por em relevo, ante as massas, em toda parte e em todas as ocasiões, e demonstrar de modo concreto, que a burguesia fascista, sob o pretexto de defender os interesses de toda a nação, pratica a política egoísta de opressão e exploração de seu próprio povo e a exploração e a escravização dos demais povos. Mas não podemos limitar-nos a isto. Ao mesmo tempo, temos que pôr em evidência, através das próprias lutas da classe operária e nas intervenções do Partido Comunista, que o proletariado, ao rebelar-se contra toda vassalagem e contra toda opressão nacional, é o único e autêntico paladino da liberdade nacional e da independência do povo.

Os interesses da luta de classes do proletariado contra os exploradores e opressores de nossa pátria, não estão em choque com os interesses de um futuro livre e feliz da nação. Ao contrário: a revolução socialista será a salvação da nação, e lhe abrirá o caminho de um novo esplendor. Por isto, porque a classe operária ao construir hoje suas organizações de classe e firmar suas posições, ao defender contra o fascismo os direitos e liberdades democráticas, ao lutar pela destruição do capitalismo, luta através de tudo isto por esse futuro da nação.

O proletariado revolucionário luta por salvar a cultura do povo, por redimi-la das cadeias do capital monopolista em putrefação, do fascismo bárbaro que a violenta. Só a revolução proletária pode impedir o naufrágio da cultura, elevar a cultura a um mais alto esplendor como verdadeira cultura popular, nacional por sua forma e socialista por seu conteúdo, como se está realizando a nossos olhos na União das Repúblicas Soviéticas.

O internacionalismo proletário não só não está em choque com a luta dos trabalhadores de cada país, pela liberdade nacional, social e cultural, mas além disto garante, graças à solidariedade proletária internacional e à unidade de luta, o apoio necessário para triunfar nesta luta. Só em estreita aliança com o proletariado vitorioso da grande União Soviética, poderá triunfar a classe operária dos países capitalistas. Só lutando de mãos dadas com o proletariado dos países imperialistas, poderão os povos coloniais e as minorias oprimidas conseguir sua libertação. A aliança revolucionária da classe operária dos países imperialistas com os movimentos de libertação nacional das colônias e dos países dependentes é um elo absolutamente indispensável na senda do triunfo da revolução proletária nos países imperialistas, pois, como ensinava Marx, «o povo que oprime outros povos jamais pode ser livre».

Os comunistas que fazem parte de uma nação oprimida ou dependente não poderão lutar com êxito contra o chauvinismo no seio de sua própria nação, se ao mesmo tempo não puserem em evidência, na prática do movimento de massas, que lutam realmente para redimir sua nação do jugo estrangeiro. Por outro lado, os comunistas da nação opressora não poderão também fazer o que é necessário para educar as massas trabalhadoras de sua nação no espírito do internacionalismo, se não travarem uma luta decidida contra a política de opressão de sua «própria» burguesia, pelo direito completo das nações por ela escravizadas de dirigir livremente seus destinos. Se não o fizerem, ajudarão menos ainda os trabalhadores das nações oprimidas a colocar-se acima de seus preconceitos nacionalistas.

Somente atuando nesse sentido, demonstrando de um modo convincente em todo nosso trabalho de massas que estamos tão livres do niilismo nacional como do nacionalismo burguês, somente então poderemos travar uma luta verdadeiramente eficaz contra a demagogia chauvinista do fascismo.

Por isso tem importância tão grande a aplicação certa e concreta da política nacional leninista. É uma premissa absolutamente indispensável para lutar eficazmente contra o chauvinismo, principal instrumento da influência ideológica dos fascistas sobre as massas. (Aplausos).


Inclusão: 21/10/2020