Em Defesa da Revolução Africana

Frantz Fanon


Primeira parte: O colonizado
Antilhanos e Africanos(1)


capa

Terminava, há dois anos, uma obra(2) sobre o problema do homem de cor no mundo branco. Sabia que era absolutamente necessário não amputar a realidade. De modo nenhum ignorava que no seio dessa entidade que é o “povo negro” se podiam distinguir movimentos infelizmente bastante inestéticos. Quero dizer, por exemplo, que muitas vezes o inimigo do negro não é o branco, mas o seu congênere. Por isso chamei a atenção para a possibilidade de um estudo que contribuísse para a dissolução dos complexos afetivos suscetíveis de opor Antilhanos e Africanos.

Antes de entrar no debate, queríamos salientar que esta história de negro é uma história suja. Uma história de revolver o estômago. Uma história que nos deixa completamente desarmados se aceitarmos as premissas dos patifes. E quando digo que a expressão “povo negro” é uma entidade, quero dizer com isso que, excluídas as influências culturais, nada mais fica. Há uma diferença tão grande entre um antilhano e um dakariano como entre um brasileiro e um madrileno. O que se procura ao englobar todos os negros no termo “povo negro” é arrebatar-lhes toda a possibilidade de expressão individual. O que se procura assim é obrigá-los a corresponder à ideia que já se faz deles. Que seria o “povo branco”? Não é, pois, evidente que só pode haver uma raça branca? Será preciso que eu explique a diferença que existe entre nação, povo, pátria, comunidade? Quando se diz “povo negro”, supõe-se sistematicamente que todos os negros estão de acordo sobre certas coisas; que existe entre eles um principio de comunhão, A verdade é que não existe nada, a priori, que permita supor a existência de um povo negro. Que haja um povo africano, acredito; que haja um povo antilhano, acredito. Mas quando me falam de “este povo negro”, esforço-me por compreender. Então, infelizmente, compreendo que há nisso uma fonte de conflitos. Então, tento destruir essa fonte(3).

Ver-me-ão utilizar termos como: culpabilidade metafísica ou loucura de pureza. Pedirei ao leitor que não se admire: será exato na medida em que se compreender que, não sendo possível atingir o importante ou, mais precisamente, não se desejando o importante, é sobre o contingente que caímos. É uma das leis da recriminação e da má-fé. A urgência está em se encontrar o importante sob o contingente.

De que se trata aqui? Digo que se produziu em quinze anos uma revolução nas relações antilho-africanas. Desejo mostrar em que consiste este acontecimento.

Na Martinica, é raro verificar posições raciais tenazes. O problema racial está recoberto por uma discriminação económica e, numa determinada classe social, e sobretudo produtor de anedotas. As relações não se alteram com as acentuações epidérmicas. Apesar da maior ou menor carga de melanina, existe um acordo tácito que permite a uns e a outros reconhecerem-se como médicos, comerciantes, operários. Um negro operário estará do lado do mulato operário contra o negro burguês. Temos aqui a prova de que as histórias raciais são apenas uma superstrutura, um manto, uma surda emanação ideológica que se despe de uma realidade económica.

Aí, quando uma pessoa observa que determinado indivíduo é mesmo muito negro, fá-lo sem desprezo, sem ódio. É preciso estar habituado ao que se chama o espírito martíniquenho para compreender o que se passa. Jaukelevitch mostrou que a ironia era uma das formas da boa consciência. É verdade que a ironia é, nas Antilhas, um mecanismo de defesa contra a neurose. Um antilhano, principalmente um intelectual que já não esteja no plano da ironia, descobre a sua negritude. Assim, enquanto na Europa a ironia protege da angústia existencial, na Martinica protege da tomada de consciência da negritude. A missão consiste em deslocar o problema, em por o contingente no seu lugar e em deixar ao Martiniquenho a escolha dos valores supremos. Vê-se tudo o que se poderia dizer se encarássemos esta situação a partir das etapas kierkegaardianas. Vê-se também que um estudo da ironia nas Antilhas é capital para a sociologia desta região. A agressividade é aí quase sempre recoberta de ironia(4).

Para facilitar a nossa exposição, parece-nos interessante distinguir na história antilhana dois períodos: antes e depois da guerra de 1939-1945.

Antes da guerra

Antes de 1939, o Antilhano dizia-se feliz(5), pelo menos julgava sê-lo. Votava, ia à escola quando podia, acompanhava as procissões, gostava de rum e dançava a biguine(6). Aqueles que tinham o privilégio de ir à França falavam de Paris, de Paris, enfim da França, E aqueles que não tinham o privilégio de conhecer Paris deixavam-se embalar.

Havia também os funcionários que trabalhavam em África. Através deles vislumbrava-se um país de selvagens, de bárbaros, de indígenas, de boys. É preciso dizer certas coisas se não quisermos falsear o problema. O funcionário metropolitano, regressado de África, habitou-nos a clichés: bruxos, feiticeiros, tantã, bonomia, fidelidade, respeito pelo branco, atraso. O drama é que o funcionário antilhano não fala de outro modo da África e, como o funcionário é não só o administrador das colónias, mas também o polícia, o funcionário das alfândegas, o escrivão, o militar, forma-se a todos os escalões da sociedade antilhana, sistematiza-se, endurece-se, um irredutível sentimento de superioridade sobre o Africano. Antes da guerra de 1959, havia em todo o antilhano não só a certeza de uma superioridade sobre o Africano, mas também a certeza de uma diferença fundamental. O Africano era um negro e o Antilhano um Europeu.

Estas coisas, toda a gente aparenta não as ignorar, mas de fato não são tidas em conta.

Antes de 1939, o Antilhano voluntariamente alistado no exército colonial, analfabeto ou sabendo ler e escrever, servia numa unidade europeia, enquanto o Africano, à exceção dos originários dos cinco territórios, servia numa unidade indígena. O resultado para que queremos chamar a atenção é que, fosse qual tosse o domínio considerado, o Antilhano era superior ao Africano, de uma outra essência, assimilado ao metropolitano. Mas como no exterior era um pouco africano, visto que, por minha fé, era negro, era obrigado — reação normal na economia psicológica — a fortificar as suas fronteiras para se por ao abrigo de todo o passo em falso.

Digamos que, não satisfeito com ser superior ao Africano, o Antilhano desprezava-o, e se o branco podia permitir-se certas liberdades com o indígena, o Antilhano, esse, não o podia de modo nenhum. É que saltava aos olhos que entre brancos e africanos não havia necessidade de chamada à ordem. Mas que drama se o Antilhano fosse de súbito tomado por um africano!...

Digamos também que esta posição do Antilhano era autenticada pela Europa. O Antilhano não era um negro, era um antilhano, isto é, um quase-metropolitano. Devido a esta atitude, o branco dava razão ao Antilhano no seu desprezo pelo Africano. Em suma, o negro habitava a África.

Em França, antes de 1940, quando se apresentava um antilhano numa sociedade bordelesa ou parisiense acrescentava sempre: originário da Martinica. Digo Martinica porque — aperceberam-se disso? —, nunca se saberá por que razão a Guadalupe era considerada um pais de selvagens. Ainda hoje, em 1952, acontece ouvirmos um martiniquenho dizer que eles (os Guadalupenses) são mais selvagens do que nós.

O Africano, esse, era em África o representante real da raça negra. Aliás, quando um patrão exigia um esforço demasiado pesado a um martiniquenho, obtinha como resposta: “Se quer um negro, vá buscá-lo à África”, querendo dizer com isto que os escravos e os forçados se recrutavam noutro lugar. Lá, no país dos negros.

Quanto ao Africano, inferiorizado e desprezado, à exceção de alguns raros “evoluídos”, estagnava no labirinto da sua epiderme. Como se vê, as posições eram nítidas: por um lado, o negro, o Africano; por outro, o Europeu e o Antilhano. O Antilhano era um negro, mas o Negro estava em África.

Em 1939, nenhum Antilhano nas Antilhas se declarava negro, se reclamava negro. Quando o fazia, era sempre nas suas relações com um branco. Era o branco, o “mau branco” que o obrigava a reivindicar a sua cor, mais precisamente, a defendê-la. Mas podemos dizer que nas Antilhas, em 1939, não irrompia qualquer reivindicação espontânea da negritude.

É então que se vão produzir, sucessivamente, três acontecimentos.

E, em primeiro lugar, a chegada de Césaire.

Pela primeira vez, ver-se-á um professor de liceu, logo, aparentemente um homem digno, dizer simplesmente à sociedade antilhana “que é belo e bom ser negro”. Era, certamente, um escândalo. Nessa altura, disse-se que ele era um pouco louco e os seus colegas de promoção fizeram grandes diligências para darem pormenores da sua pretensa doença.

Com efeito, que pode haver mais grotesco do que homem instruído, um diplomado, que não deixou pois, de perceber um certo número de coisas, entre outras que “era uma infelicidade ser negro”, gritando que a sua pele é que o “grande buraco negro” é fonte de verdade? Nem os mulatos, nem os negros compreenderam este delírio. Os mulatos, porque tinham escapado à noite, os negros, porque aspíravam a sair dela. Dois séculos de verdade branca tiravam razão a este homem. Tinha de ser necessariamente louco, pois não se podia admitir que tivesse razão.

Acalmada a emoção, tudo pareceu retomar o seu ritmo anterior... E Césaire ia voltar a não ter razão quando se produziu o segundo acontecimento: estou a falar da derrota francesa.

Vencida a França, o Antilhano assistia, num certo sentido, ao assassínio do pai. Esta derrota nacional poderia ter sido vivida como o foi na metrópole, mas uma boa parte da armada francesa ficou bloqueada nas Antilhas durante os quatro anos de ocupação alemã. Aqui quero chamar a atenção do leitor. Julgo que é necessário compreender a importância histórica destes quatro anos.

Antes de 1939, havia cerca de dois mil europeus na Martinica. Estes europeus tinham funções definidas, estavam integrados na vida social, estavam interessados na economia do país. Ora, de um dia para o outro, só a cidade de Fort-de-France foi submergida por cerca de dez mil europeus de mentalidade autenticamente racista, mas até então latente. Quero dizer que os marinheiros do Béarn ou do Émile-Bertin, anteriormente, em Fort-de-France por oito dias, não tinham tempo para manifestar os seus preconceitos raciais. Os quatro anos em que foram obrigados a viver fechados em si mesmos, inativos, presos da angústia quando pensavam nos seus familiares deixados em França, muitas vezes vítimas do desespero quanto ao futuro, permitiram-lhes que deitassem fora a máscara, bastante superficial afinal de contas, e que se comportassem como “autênticos racistas”.

Acrescentemos a isto o rude golpe que a economia antilhana sofreu, pois foi preciso encontrar, ainda aqui sem transição, quando nenhuma importação era possível, com que alimentar dez mil homens. Para mais, muitos destes marinheiros e militares puderam mandar vir a mulher e os filhos, a quem foi preciso dar alojamento. A Martinica teve a sua crise de alojamento depois da sua crise económica. O Martiniquenho tomou como responsáveis de tudo isto os brancos racistas. O Antilhano, perante estes homens que o desprezavam, começou a duvidar dos seus valores. O Antilhano fazia a sua primeira experiência metafísica.

E depois, foi a França livre. De Gaulle falava, em Londres, de traição, de militares que entregavam a espada mesmo antes de a terem desembainhado. Tudo isso contribuiu para persuadir os Antilhanos de que a França, a sua, não tinha perdido a guerra, mas que traidores a tinham vendido. E onde estavam esses traidores, se não camuflados nas Antilhas? E viu-se esta coisa extraordinária: Antilhanos que se recusavam a tirar o chapéu durante a execução da Marselhesa. Qual o antilhano que não se lembra dessas tardes de quinta-feira em que, na esplanada da Savane, patrulhas de marinheiros armados exigiam silêncio e sentido quando se tocava o hino nacional? Que se tinha pois passado?

Por um processo fácil de compreender, os Antilhanos tinham assimilado a França dos marinheiros à França má, e Marselhesa que estes homens respeitavam não era a deles, É preciso não esquecer que estes militares eram racistas. Ora, “ninguém duvida de que o verdadeiro francês não é racista, isto é, de que não considera o Antilhano um negro”. Uma vez que estes o faziam, é porque não eram verdadeiros franceses. Quem sabe, talvez alemães? E, de fato, o marinheiro foi, sistematicamente, considerado como um alemão. Mas a consequência que nos interessa é esta: perante dez mil racistas, o Antilhano foi obrigado a defender-se. Sem Césaire, ter-lhe-ia sido difícil. Ora Césaire estava lá e entoou-se com ele esse cântico, antigamente odioso: que é belo e bom e que é um bem ser negro!...

Durante dois anos, o Antilhano defendeu passo a passo a sua “cor virtuosa” e dançava sem saber por cima do precipício. Porque enfim, se a cor negra é virtuosa, serei tanto mais virtuoso quanto mais negro for! Então saíram da sombra os muito negros, os bleus, os puros. E Césaire, cantor fiel, repetia; “por muito que se pinte de branco o tronco da árvore, as raízes permanecerão negras por baixo”. Então tornou-se real que não só o negro cor era valorizado, como também o negro ficção, o negro ideal, o negro em absoluto, o negro primitivo, o negro. Que era isto, se não provocar no Antilhano uma refundição total do seu mundo, uma metamorfose do seu corpo? Que era isto, se não exigir dele uma atividade axiológica invertida, uma valorização do rejeitado?

Mas a história continuava. Em 1943, fatigados por um ostracismo a que não estavam habituados, irritados, esfaimados, os Antilhanos, repartidos antigamente por grupos sociológicos fechados, rebentavam com todas as barreiras, punham-se de acordo sobre certas coisas, entre outras que esses alemães tinham ultrapassado todos os limites e, apoiados pelo exército local, arrancavam à França livre o toque a reunir. O almirante Robert, “esse outro alemão”, cedia. É aqui que se situa o terceiro acontecimento.

Podemos dizer que as manifestações da Libertação, que se realizaram nas Antilhas, ou pelo menos na Martinica, nos meses de Julho e de Agosto de 1943, foram a consequência do nascimento do proletariado. A Martinica sistematizava pela primeira vez a sua consciência política. É lógico que as eleições que se seguiram à Libertação tenham delegado dois deputados comunistas em três. Na Martinica, a primeira experiência metafísica, ou, se preferirmos, ontológica, coincidiu com a primeira experiência política. Comte fazia do proletário um filósofo sistemático; o proletário martiniquenho, esse, é um negro sistematizado.

Depois da guerra

Assim, depois de 1945, o Antilhano mudou os seus valores. Enquanto antes de 1939, tinha os olhos voltados para a Europa branca, enquanto para ele o bem era a evasão da sua cor, em 1945 descobre-se não só de cor negra, mas como um negro, e é para a longínqua África que lançará daqui em diante os seus pseudópodos. Em França, o Antilhano fazia lembrar a todo o momento que não era um negro: a partir de 1945, o Antilhano, ainda em França, fará lembrar a todo o momento que é negro.

Enquanto isso se passava, o Africano prosseguia o seu caminho. Não estava dilacerado, não tinha de se situar simultaneamente frente ao Antilhano e frente ao Europeu. Estes últimos eram de meter no mesmo saco, o saco dos causadores da fome, dos exploradores, dos canalhas. Sem dúvida, tinha havido Eboué, que, sendo embora antilhano, na conferência de Brazzaville tinha falado aos Africanos chamando-lhes: “Meus queridos irmãos.” E esta fraternidade não era evangélica, era baseada na cor. Os Africanos adotaram Eboué. Este era dos deles. Os outros antilhanos bem podiam vir, as suas pretensões de toubabs eram conhecidas. Ora, com grande espanto deles, os Antilhanos que desembarcam em África depois de 1945, apresentavam se de mãos suplicantes, de dorso vergado, abatidos. Chegavam a África com o coração a transbordar de esperança, desejando encontrar a fonte, alimentar-se nas verdadeiras teias da terra africana. Os Antilhanos, funcionários e militares, advogados e médicos, ao desembarcarem em Dakar, sentiam-se infelizes por não serem suficientemente pretos. Há quinze anos, diziam aos Europeus: “Não liguem à minha pele preta, foi o sol que me queimou, a minha alma é branca como a vossa.” A partir de 1945, mudam de opinião. Dizem aos Africanos: ”Não liguem à minha pele branca, a minha alma é preta como a vossa e é o que importa.”

Mas os Africanos queriam lhes demasiado mal para que a subversão fosse tão fácil. Reconhecidos na sua negrura, na sua escuridão, naquilo que há quinze anos era a culpa, denegaram ao Antilhano toda a veleidade neste domínio. Descobriam-se finalmente possuidores da verdade, portadores seculares de uma pureza inalterável. Rejeitaram o Antilhano lembrando-lhe que eles não tinham deserdado, que não tinham traído, que tinham penado, sofrido, lutado na terra africana. O Antilhano tinha dito não ao branco. O Africano dizia não ao Antilhano.

Este último fazia a última experiência metafísica. Sentiu então o desespero. Obcecado pela impureza, abatido pela culpa, dilacerado pela culpabilidade, viveu o drama de não ser branco nem negro.

Gritou, fez poemas, cantou a África, terra dura e bela, a África explosão de cólera, azáfama tumultuosa, projétil enlameado, a África terra de verdade. Aprendeu o bambara no Instituto das Línguas Orientais de Paris. Na sua majestade, o Africano condenava todas as diligências. O Africano vingava-se e o Antilhano pagava...

Se tentarmos agora explicar e resumir a situação, podemos dizer que na Martinica, antes de 1939, não havia o negro de um lado e o branco do outro, mas gamas coloridas de que era fácil ultrapassar rapidamente os intervalos. Bastava ter filhos de alguém menos preto. Não havia barreira racial, não havia discriminações. Havia esse picante irónico, tão característico da mentalidade martiniquenha.

Mas na África a discriminação era real. Aí, o negro, o Africano, o indígena, o preto, o sujo, era rejeitado, desprezado, maldito. Aí havia amputação, havia desconhecimento da humanidade.

Até 1939, o Antilhano vivia, pensava, sonhava (mostramo-lo no nosso ensaio Pean noire, masques blancs), fazia poemas, escrevia romances, exatamente como um branco o teria feito. Compreendesse agora por que razão não lhe era possível cantar como os poetas africanos a noite negra, “A mulher negra de calcanhares rosa”. Antes de Césaire, a literatura antilhana é uma literatura de europeus. O Antilhano identificava-se com o branco, adotava uma atitude de branco, “era um branco”.

Depois de o Antilhano ter sido obrigado, sob a pressão de europeus racistas, a abandonar posições que eram, em suma, frágeis, visto que absurdas, inexatas e alienantes, nascerá uma nova geração. O Antilhano de 1945 é um negro...

Há no Cahier d’um retour au pays natal um período africano, porque:

À força de pensar no Congo
Tornei-me um Congo sussurrante de florestas e de rios.(7)

Então, voltado para a África, o Antilhano vai chamá-la de longe. Descobre-se filho de escravos transplantado, sente a vibração da África no mais fundo do seu corpo e apenas aspira a uma coisa: mergulhar no imenso “buraco negro”.

Parece, pois, que o Antilhano está, após o grande erro branco, está agora em vias de viver na grande miragem negra.

continua>>>


Notas de rodapé:

(1) Texto publicado na revista Esprit de Fevereiro de 1955. (retornar ao texto)

(2) Peau noire et masques blancs (col. Esprit, ed. du Seuil). (retornar ao texto)

(3) Digamos que as concessões que fizemos são fictícias. Filosófica e politicamente, não há povo africano, mas um mundo africano. Do mesmo modo um mundo antilhano. Em contrapartida, podemos dizer que existe um povo judeu; mas não raça judia. (retornar ao texto)

(4) Por exemplo, ver o Carnaval e as canções compostas nessa ocasião. (retornar ao texto)

(5) Poderíamos dizer: como a pequena burguesia francesa nessa época, mas a nossa perspectiva não é esta. O que pretendemos aqui é estudar a mudança de atitude do Antilhano perante a negritude. (retornar ao texto)

(6) Dança popular das Antilhas. (N. do T.) (retornar ao texto)

(7) Cahier d’um retour au pays natal, p. 49 (retornar ao texto)

Inclusão 21/06/2018