Frente e Retaguarda nas Guerras Futuras

M. V. Frunze

1925


Primeira edição: Front i tyl v voine budushchego," Na novykh putiakh, 1925, reimpresso em M. V. Frunze, Izbrannye proizvedeniia (Moscovo, 1940)
Tradução do russo para inglês por David R. Stone 2006, 2012.
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Tradução: João Filipe Freitas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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A conclusão mais importante e básica derivada da experiência da passada Guerra imperialista de 1914-1918 é a reavaliação da questão do papel e significância da retaguarda no curso geral das operações militares.

A posição de que o “resultado da Guerra será decidido não só directamente na frente de batalha, mas também naquelas linhas onde está a força civil de um país”, tornou-se agora um axioma comum. A experiência de Guerra mostrou que alcançar os objectives de Guerra nas condições contemporâneas se tornou uma matéria mais complicada do que anteriormente. Os exércitos contemporâneos têm uma resistência colossal [zhivuchest]. Esta resistência está totalmente ligada ao estado geral do país. Mesmo a completa derrota de um exército inimigo, alcançada num momento particular, não trará a derrota final, enquanto as unidades derrotadas tenham atrás de si uma forte retaguarda moral e económica. Dado o tempo e o espaço, necessários para a nova mobilização de recursos humanos e materiais para o restabelecimento da prontidão de combate, um exército derrotado pode facilmente recriar a frente, desenvolver uma luta com esperança de sucesso.

Por outro lado, a dificuldade de dar a preparação para a mobilização de um exército cresceu a níveis tidos como improváveis. As medidas necessárias para isto não são medidas em milhões, mas em biliões de rublos. Nenhum orçamento, compreensivelmente, é capaz de lidar com estes números, mesmo no país mais rico.

Finalmente, o rápido progresso da tecnologia militar contemporânea age do mesmo modo. O que hoje é reconhecido como o mais avançado, já amanhã estará obsoleto e incapaz de trazer a vitória. Disto segue-se a imprudência e o perigo de despesas financeiras colossais na preparação de armazenamentos para a mobilização. O centro de gravidade moveu-se para correspondente organização da indústria e para a gestão geral do país.

A partir disto, podemos concluir que a necessidade de reexaminar os princípios da estratégia. Num choque de oponentes de primeira classe a decisão não pode ser alcançada com o primeiro golpe. A Guerra passará a ter o carácter de um longo e árduo concurso, testando todos recursos políticos e económicos das partes em Guerra. Expressa em linguagem de estratégia, isto significa uma mudança de uma estratégia de golpes relâmpago, decisivos, para uma estratégia de desgaste.

Esta conclusão, embora basicamente correcta, deve ser complementada com a correcção vinda do carácter de classe da guerra futura.

A essência desta correcção está sob uma profunda intensificação das contradições de classe, a estabilidade moral de cada uma das partes combatentes que se podem revelar muito fracas e podem não resistir à dinâmica do primeiro golpe militar sério. Especialmente característico disto é a posição das partes combatentes, de estruturas de classe opostas — por exemplo, o embate de qualquer estado burguês com a nossa União Soviética. É óbvio que como resultado de um golpe forte militar da nossa parte, um movimento espontâneo da classe proletária no lado oponente podia encontrar as mãos livres, podendo tornar a tomada do poder pela classe trabalhadora possível, o que poderia significar o fim imediato de uma guerra.

Sem dúvida que este tipo de discussão pode ser aplicável a nós, na medida em que os inimigos internos do poder operário-camponês pode levantar a cabeça. Isto é explicado, ainda mais, pelo facto de que os restos dos Guardas Brancos (wrangelitas) e outros, continuam ainda hoje a gozar de um bem conhecido patrocínio de governos dos países burgueses.

Assim, da discussão acima, não há necessidade para concluirmos que precisamos de rejeitar uma estratégia de ataques preventivos (esta estratégia, a propósito, também não é rejeitada pelos estados burgueses). Pelo contrário, quanto mais forte as contradições de classe nos estados inimigos, maiores as possibilidades e fundamentos para o sucesso e proveito desta estratégia. Apesar de tudo isto, a necessidade de nos prepararmos para uma longa e difícil guerra é ainda obrigatório para nós. Uma vez que estamos a discutir o embate de dois mundos diferentes, isto significa que a luta será até à morte. A república operário-camponesa tem muitos inimigos, donde que a luta será debaixo de quaisquer condições, longa.

Donde que a ligação da frente com a retaguarda nos nossos dias tem que ser mais próxima, mais directa e mais decisiva. A vida e o trabalho da frente são determinados em todos os momentos pelo trabalho e pelo estado da retaguarda. E neste sentido o centro de gravidade da condução da Guerra movimenta-se da frente para a retaguarda.

Há ainda um outro ponto nesta direcção, ligado com o desenvolvimento da tecnologia militar e o aperfeiçoamento de forças destrutivas. A transformação da aviação num ramo decisivo, os melhoramentos nas armas químicas, o possível uso de agentes infecciosos, e para aí adiante transformam de forma essencial os principais conceitos de “frente” e “retaguarda” nos significados antigos destes termos.

“Frente” no sentido de região directamente englobada nas acções militares" perdeu o seu carácter anterior como uma barreira humana que bloqueia o acesso do inimigo à “retaguarda”. Se não completamente, então num qualquer acontecimento, pelo menos em parte (dependendo sobretudo na grandeza do território de um dado país) a retaguarda tem-se misturado com a frente. Daqui deve haver novas missões e novos métodos de preparar a defesa de um país, e em particular, um novo papel para a retaguarda ela própria, como directa participante na luta. Se o peso directo de conduzir a Guerra cai sobre a nação inteira, todo o país, se a retaguarda adquire tal significação para o decurso geral das operações militares, então naturalmente a tarefa de prepara-las de uma forma global e sistemática, em tempos de paz, assume importância prioritária.

Esta a preparação deve ter como primeiro objectivo o fornecimento ininterrupto da frente, de tudo o que é necessário para a condução de operações militares; segundo, o suprimento da retaguarda, de tudo o que é necessário para manter a energia de funcionamento e estabilidade moral no nível necessário. A tarefa é entendida do mesmo modo em todas potências mundiais contemporâneas, esforçando-se para lhe dar expressão prática.

Para nós, este problema — o da organização a do Estado Soviético para a eventualidade da guerra — tem excepcional significância. A dimensão do nosso território, a relativa baixa densidade da população, a rede ferroviária insuficiente, e o atraso tecnológico geral, e por aí adiante — tudo isto põe-nos em posição extremamente desvantajosa em termos de preparação de mobilização por comparação com potenciais inimigos.

O nosso exército permanente deve ser meio de providenciar a condução planeada da mobilização do país. Mas ninguém na nossa União pode estar com ilusões com este resultado. Fomos até aos extremos nos nossos esforços para reduzir o fardo militar na população. Em 1924 nós cortamos no exército numas 50.000 tropas, e em vez das nossas prévias 610.000 tropas, temos apenas 560.000 homens. E uma vez que, um número significativo, estão nos serviços de retaguarda, a parte de efectivos de combate no exército mantém-se num número muito mais baixo. Nesta situação é claro que nós não temos um exército permanente no verdadeiro sentido da palavra: uma força armada suficiente para estar pronta a suportar os golpes do inimigo. Temos apenas o quadro, apenas o esqueleto de futuro exército, e mesmo assim está insuficientemente forte.

Daí, a nossa ardente, urgente tarefa imediata: para fortalecer os esforços gerais para a preparação do país para a defesa; para organizar no país em tempo de paz, para que possa mover-se, de forma fácil, rápida e em trilhos militares. O caminho para isto está em ter em tempo de Guerra o curso firme para a militarização das funções de todo o nosso aparelho civil. O que isto quer dizer, é o que veremos.

A tarefa de preparar o país para a defesa em condições contemporâneas repousam muito para além das capacidades actuais do exército e da burocracia militar. A tarefa deve tornar-se a preocupação de todo o país, de todo o aparelho soviético. Parece impossível num primeiro olhar, mas não é correcto. As dificuldades aqui, é verdade, são grandes, mas de facto o carácter do nosso poder de estado fará ultrapassá-las mais facilmente do que para todos os outros.

Aqui estão alguns exemplos para indicar a direcção na qual o nosso trabalho deve seguir.

Preparação do oficial de corpo [comandante]. Até agora tem havido a responsabilidade exclusiva dos militares. Toda uma rede de instituições militares-educacionais de todas as especialidades e patentes que já existem para este propósito. Este sistema é satisfatório? Dificilmente. Primeiro, é extremamente caro. Segundo, estes sendo preparados para as necessidades de Guerra (a reserva de oficiais de corpo) são no entanto insuficientes.

Pode esta tarefa ser lidada de maneira diferente? Sem dúvida, pode. Um exemplo vivo disto pode ser encontrado na América. A preparação da reserva de oficiais é da responsabilidade do camarada Lunacharskii (Comissário do Povo para a Instrução e Educação Pública). Podemos ler numa descrição do jornal “Guerra e Paz” (jornal Branco dos emigrados).

“O método de produção de reserva de oficiais a partir do interior das instituições da juventude de educação superior alcançou um alto grau de desenvolvimento na América como resultado da natureza do sistema democrático e das baixas despesas”.

No momento presente 123 instituições de educação superior nos Estados Unidos levam a cabo o treino militar de estudantes voluntários, que constituem o "corpo de estudantes de reserva" de oficiais ascendendo às 60.000 pessoas.

"A preparação militar na própria universidade de maneira que traz para os estudantes, os seguintes benefícios: relaxação, treino desportivo e físico chamando o espírito de competição e de interesse. Como resultado, passar através de um curso militar é visto como uma recompensa especial e é acompanhado de benefícios claros (prémios, assistência material, e por aí adiante). Finalmente, o estudo da ciência militar é montado num modelo e de uma forma interessante. A distribuição entre as especialidades é levada a cabo em correspondência com a especialização da universidade ou departamento: por exemplo, os estudantes do departamento de engenharia mecânica estão preparadas para o serviço na artilharia de costa e por aí adiante. Cada universidade ou outro instituto de tipo superior é posto num número específico de grupos por ramos de serviço ou especialidade em correspondência com a especialidade do departamento e com o número dos seus estudantes. Todos os grupos, juntos, completam o “departamento militar” de uma instituição de educação. Um oficial encabeça o departamento como professor de ciência militar, tendo sob o seu comando, professores de ciência militar, como eram os oficiais da frente e oficiais juniores.

"O reitor da universidade dedica um certo número de horas na semana para o estudo de um curso na ciência militar e disponibiliza as estruturas necessárias para os elementos materiais do curso (peças de artilharia, tractores, carabinas, e por aí adiante), pertencentes ao departamento militar”.

Todas as actividades gerais do Comissariado para a Instrução e Educação Nacional devem ser estruturadas de modo que elas possam servir as necessidades da defesa. A sua militarização é necessária a todos os níveis e ramos.

É possível que alguma parte do pessoal dos estabelecimentos educacionais, possam ficar “assustados” com este “militarismo”. Apenas demonstra a presença de humores sentimentais, pequeno-burgueses e uma completa falta de entendimento da essência e do carácter das tarefas com que se defronta a nossa república operária-camponesa. A contradição profunda e de princípio existente entre a natureza da União Soviética e do restante mundo burguês–capitalista, devem cedo ou tarde, tomar a forma de um embate aberto e decisivo. Os factos da vida internacional contemporânea são uma demonstração aguda disto. Não podemos dizer com certeza se o resultado do novo bloco anti-soviético, agora organizado pela Inglaterra se tornará numa nova intervenção num futuro próximo. Mas podemos e devemos com toda a decisão sublinhar que no longo prazo o embate é inevitável. A iniciativa para atacar não será nossa. No que nos diz respeito, podemos esperar calmamente os resultados dos nossos sucessos económicos e culturais. Cedo ou tarde, isto levará inevitavelmente ao florescimento dos ideais socialistas noutros países também. Mas os nossos inimigos dificilmente nos permitirão o desenvolvimento socialista pacífico, que ameaça a própria existência do capitalismo. E daí a nossa tarefa — preparar firmemente, metodicamente e resolutamente a nossa luta, para preparar as condições da nossa vitória.

Organizar e dirigir os Comissariados da Instrução e Educação Nacional da união das repúblicas está entre o mais importante destes tipos de condições. Como resultado deste trabalho, o exército deve receber soldados–cidadãos, cultural, literária e politicamente educados. Quando isto é alcançado, decidirá em 9/10 o resultado de qualquer embate ameaçador. Cada sucesso em direcção ao presente beneficia infinitamente o nosso trabalho no próprio tempo de guerra. Liquidar a iliteracia no próximo projecto conjunto deve ser a tarefa concreta do próximo ano. Até agora o exército teve que lidar com este assunto, que fez grande dano a outras prioridades. Deve ser e será lidado pelo Comissariado da Instrução e Educação Nacional antes do momento da convocação militar.

Uma tarefa imediata deve ser a inclusão de programas das escolas secundárias e primárias de um curso mínimo de treino e conhecimento militares. Isto é especialmente importante nas áreas rurais, que fornece a esmagadora maioria das forças armadas. No tempo presente, graças ao baixo nível cultural e nalgumas vezes simples iliteracia, este contingente não é o melhor material para as condições da batalha contemporânea. Estes defeitos devem ser abordados com as mudanças correspondentes na educação, começando no banco da escola. O papel dos nossos professores é incomensurável. Com uma pequena adição de pequenos recursos, eles podem fornecer serviços colossais para a defesa do país.

Outro exemplo — transporte [oboz]. A exigência de transporte num exército mobilizado será enorme. Pensar a preparação da mobilização de armazenamentos apenas no orçamento militar é a mais pura das ilusões, pois os seus recursos são insuficientes para satisfazer as necessidades diárias. E o sistema de acumulação destas reservas de mobilização é extremamente impraticável tendo em vista os seus custos. Mas as necessidades de mobilização podem ser completamente satisfeitas se os nossos órgãos económicos estiverem, em lugar da impossível tarefa de criar tais reservas, ocuparem-se eles próprios no desenvolvimento e distribuição por entre o campesinato de veículos de tais tipos, que pudessem, tanto satisfazer completamente as exigências económicas da população e ao mesmo tempo serem adequadas para servir as necessidades militares. A introdução de um sistema de medidas de apoio e uma larga retaguarda para isto, haveria de assegurar o sucesso.

Outro exemplo. Começamos a desenvolver a indústria de tractores. Como é bem sabido, o tractor jogará um importante papel nos futuros campos de batalha. A somar ao óbvio papel dos tanques, o tractor de lagartas tem larga aplicação noutras esferas dos assuntos militares: por exemplo, numa série de países em transição de artilharia puxada a cavalo para a puxada a tractor está no começo. Dada a nossa pobreza, pensando na acumulação de tecnologia, em tempo de paz, exclusivamente para as necessidades do exército seria uma coisa de tolos. Mas para assegurar que os tipos de tractores utilizados em tempos de paz devem também satisfazer um mínimo de certas exigências militares – é uma medida completamente necessária e praticável.

Os meios de comunicação e de transporte jogarão um papel especialmente importante no decurso das actividades militares. Na essência, todo o trabalho preparatório de mobilização repousa fora da esfera militar. Providenciar o exército de tempo de guerra com reservas de mobilização com equipamentos de transportes e de comunicações às custas do orçamento civil é uma utopia e prejudicial. Tudo isto deve ser preparado no processo do normal, trabalho de tempo de paz, correspondentes aos comissariados do povo. Este trabalho tem recebido a necessária atenção. Podemos, agora, ver alguns resultados, especialmente na comunicação. Em toda uma série de formas de produção, nós temo-nos libertado da dependência estrangeira. Precisamos de nos mover ainda mais energicamente e largamente neste caminho. Precisamos de estabelecer organizacionalmente e fortalecer ainda mais os laços entre comissariados populares relevantes e as secções correspondentes e directórios dos militares. Estes últimos devem tornar-se o pessoal para mobilização e instrução dos primeiros.

Tal “militarização” é completamente alcançável, mas apenas sob debaixo de duas condições: primeiro, com a clara consciência, por parte da retaguarda, e especialmente pelo aparelho civil, do seu papel na guerra futura e a necessidade de uma preparação para isso. Segundo, através do estabelecimento de uma ligação vital, directa entre os aparelhos militar e civil. Esta ligação deve ser fortalecida organizacionalmente, através da introdução de representantes do exército nos órgãos e instituições civis relevantes para as suas especialidades.

Os nossos gestores económicos terão um papel importante. Devem lembrar-se que a Guerra requer a mobilização de todos os recursos económicos agrícolas, industriais e financeiros. Estes devem ser organizados, coordenados, e dirigidos pela mesma estratégia que dirige a operação das forças armadas.

Os líderes dos seus “trusts” e conglomerados [kombinaty], os directores das nossas centrais e fábricas, em todas as actividades em tempo de paz devem começar destes pontos de vista. Com cada nova conquista — económica, cultural ou outra — devemos por sempre a questão: qual é a relação entre este projecto e a necessidade para providenciar a defesa do país? Isso não é possível, sem o dano das exigências do tempo de paz, para fazer coisas que possibilitam alcançar certos objectivos militares?

Por outro lado, os nossos gestores militares devem rever os tipos de artigos fornecidos tanto para o tempo de paz como para os exércitos tempos de Guerra. Precisamos de nos empenhar ao máximo no uso daqueles modelos que são objecto de largo consumo em tempos de paz, se possível, onde a produção em massa está já instituída. Aqui, todos os detalhes não essenciais devem ser ignorados. A possibilidade de fornecimento em massa em tempo de guerra sem nenhum esforço adicional ou gastos, desculpa quaisquer defeitos secundários.

Compreensivelmente, nós não podemos exigir dos nossos gestores tal preparação, tal conhecimento de assuntos militares, que automaticamente iriam produzir a concretização destas exigências. Ajudá-los é a primeira tarefa dos militares. O militar está obrigado, com a ajuda de certas formas organizacionais de trabalho do aparelho estatal, e também com a agência de várias organizações sociais (Sociedade de Amigos da Frota Aérea, Dobrokhim, VNO, e outras) a influenciar o carácter e direcção do trabalho dos órgãos económicos.

Finalmente, a questão da mobilização da indústria e em geral na economia do país. A experiência da Guerra imperialista dá-nos rico material neste ponto de vista. A nossa guerra civil, por seu lado, deu uma série de informações valiosas, próprias do modo particular do nosso Estado. Devo-me queixar de que a nossa experiência tem sido pouco estudada na correspondente literatura do pós-guerra. O trabalho dos nossos órgãos de fornecimento Chusosnabarm e Oprodkomarms têm tido um grande interesse prático juntamente com o seu grande significado histórico.

A particular importância de investigação e preparação sistemática, planeada e dolorosa da questão da mobilização industrial é clara para nós. Entretanto, devemos reconhecer que fizemos muito pouco nisto. Este é um trabalho que deve ser montado como o é nos estados-maiores que cuidam de questões puramente militares. O mesmo plano operacional que desenhamos para as tropas devem organizar-se para o desenvolvimento da nossa economia nacional em tempo de guerra. Este plano deve ter em conta todas as nossas exigências e todos os nossos recursos. O fornecimento ininterrupto e adequado da frente e da retaguarda devem ser assegurados. Este trabalho é incrivelmente complexo, mas é necessário e possível. Vale a pena notar que levar isto a cabo é muito mais fácil para nós, graças ao carácter do Estado, dos ramos básicos da nossa indústria. Esta é a nossa grande superioridade em relação aos estados burgueses e seria imperdoável não saber como usar esta vantagem de modo próprio.

Trabalhos académicos que lançam luz no desenvolvimento destes importantes temas, estão totalmente ausentes, mas isto não pode continuar. Vale a pena desejar que a pesquisa nessas questões deva ocupar um lugar adequado na nossa imprensa civil e militar. Isto é, acima de tudo, o dever dos nossos oficiais dos fornecimentos. Eu gostaria de lembrar-lhes, uma vez e outra para abandonarem rápida e radicalmente os resquícios das visões que se afundaram no esquecimento. A tarefa dos nossos oficiais de fornecimentos não é meramente a de distribuir produção por entre as várias unidades: seria bem mais simples se ela fosse apenas de distribuição. O centro de gravidade do seu trabalho está nas ordens estatais de aquisição [zagatovka]. As ordens do Estado têm estado localizadas nas mãos de órgãos civis e do Estado. Tirá-las das suas mãos e simplesmente colocá-las directamente em mãos militares é uma utopia. É necessário uma abordagem de algum modo diferente, para não só verem como se faz as coisas “lá” (no sector civil?) mas também para influenciar o carácter da própria produção, derivada das exigências da defesa.  Dado isto, os fornecimentos devem não só dizer respeito a responder às necessidades correntes do exército, mas em não menor grau com os estoques de mobilização. Mas de modo a fazermos isto, devemos ter em conta muito bem a verdade – de que o centro da nossa atenção deve ser transferido para a organização dos ramos correspondentes da indústria. Os nossos directorados de fornecimentos devem de ter como principal tarefa o aprovisionamento para uma ligação original mútua com o mundo industrial do nosso país e igualmente com o mundo científico-técnico. Esta ligação não deve ser limitada para os órgãos centrais — deve tomar lugar a um nível inferior também. Um papel importante deve por isso ficar nas nossas unidades territoriais (milícias). Devem, acima de tudo não esperar o incitamento de cima, mas ligar-se eles próprios com o aparelho local, teimosamente levando a cabo, a linha indicada acima.

Qualquer trabalho produtivo só é concebível na presença de uma correspondente organização, hábitos, competências e métodos. Trabalhar em tão grande escala, um esboço sistemático do qual dei acima, exige isto a um grau ainda maior. Não somos especialmente ricos em bons organizadores. Toda a prática do nosso trabalho é ameaçada por dezenas de milhar de curto-circuitos. Muitos deles resultam não só de incompreensão, mas simples desordem, desmazelo e a falta de uma abordagem sistemática. O programa esboçado acima torna-se muito mais fácil pelo carácter de Estado, dos elementos fundamentais da nossa economia. Seria escandaloso se, dada esta vantagem, fôssemos incapazes de elevar a defesa da União Soviética às alturas necessárias. Precisamos apenas de boa vontade da parte dos civis e dos oficiais militares, e depois um trabalho planeado, sistemático e persistente.

Apenas com uma abordagem destas é que a mobilização do país para as necessidades da defesa será montada como deve ser.

O significado da retaguarda, isto é, a preparação de todo aparelho económico e do estado apresenta um sério desafio ao pessoal e às instituições civis — no sentido de serem responsáveis pelas exigências da Guerra do futuro e a harmonização da produção com as suas necessidades — e para o pessoal militar em estabelecer os mais chegados laços com as instituições civis correspondentes. Junto com isto, o excepcionalmente importante papel da retaguarda não diminuiu, mas pelo contrário, em muitas formas aumentam os requisitos e preocupações dos quadros do exército permanente.

O problema da doutrinação e educação de milhões de reservas com dificuldades ininterruptas nos assuntos militares e um comparativamente curto período de serviço militar, o problema da melhor organização das tropas sob condições tecnológicas actuais e as nossas possibilidades tecnológicas reais; a tarefa de verificação e resoluta melhoria dos assuntos militares de base do ponto de vista da futura Guerra de massa; finalmente, o estabelecimento no Exército Vermelho de um tom firme de trabalho sistemático e ilimitado até ao mais pequeno parafuso — todas estas tarefas devem ser levadas a cabo por nada menos que todo o Exército Vermelho, de modo que a mobilização no futuro dará uma possibilidade de fornecer o mínimo de esforço de energia para a criação de um forte e organizado exército de guerra.

É por isso que o pessoal permanente do Exército Vermelho — acima de tudo, claro, os corpos políticos e administrativos-gestores, suportam uma grande responsabilidade. Cada unidade do Exército Vermelho que existe, tem um  significativo efeito multiplicador que, quando posto em acção, irá crescer várias vezes as suas forças e fraquezas. A liderança do Exército Vermelho deve levar em conta o trabalho, sinceramente, trabalhar com criatividade, porque dele depende em grande, muito significativa medida, a nossa vitória, a vitória do proletariado internacional no conflito iminente com o capital.


Inclusão 20/06/2015