A Guerra Popular destruiu as hesitações das mulheres de Dandakaranya!

Anuradha Gandhi

Março de 2001


Fonte: Entrevista de Anuradha Gandhi dada ao Poru Mahila, órgão do Krantikari Adivasi Mahila Sangh (K.A.M.S.) em março de 2001.

Tradução: Igor Dias, publicada no site novacultura.info e na primeira edição do livro “Sobre as correntes filosóficas dentro do movimento feminista” (2016).

HTML: Lucas Schweppenstette.


Poru Mahila: Camarada Janaki, poderia explicar a opressão que a mulher urbana enfrenta?

Camarada Janaki: Ainda que todas as mulheres da Índia se encontrem sob a opressão feudal, capitalista, imperialista e patriarcal, que se desenvolve em várias formas em áreas distintas, as áreas urbanas e as rurais, as mulheres da classe operária e as mulheres da classe média nas zonas urbanas possuem alguns problemas específicos.

Em primeiro lugar, se consideramos os problemas no seio da família, mesmo nas zonas urbanas, as mulheres estão sendo oprimidas pela cultura feudal. Ainda que a opressão desta cultura pode acabar por ser menos grave, ainda a maioria das meninas e mulheres não desfrutam do direito de tomar decisões importantes em relação a sua vida familiar. As moças solteiras estão sob a pressão de se casar com homens da mesma casta e mesma religião segundo as decisões da família. Se uma moça decide casar-se com um homem de sua escolha, de outra casta ou religião, será submetida a uma grande pressão. Enfrentará severa oposição por parte de sua família. Mesmo se uma mulher deseja trabalhar fora de casa, ela precisa da permissão do pai, irmão ou marido. Algumas pessoas de castas e religiões (por exemplo, os muçulmanos e kshatriyas) não gostam que suas mulheres trabalhem. Portanto, se converte em algo inevitável para as mulheres lutar até mesmo por sua independência econômica.

Além disso, desde que os valores capitalistas se estenderam amplamente, as relações homem-mulher também foram comercializadas e as mulheres se deparam com graves problemas. Os dotes e outros itens a serem oferecidos à família do noivo antes e depois do casamento, tornaram-se um grande problema para os pais que deram à luz a meninas. E também, tornou-se comum em todas as comunidades assediar mulheres para este dote, tanto física, quanto mentalmente. Quando a vida da esposa pode ser medida em dinheiro e ouro, matá-la em benefício próprio não é algo muito distante. Esta terrível situação pode ser encontrada em muitos lugares nas zonas urbanas em nossos dias. Especialmente nos últimos 25-30 anos, talvez seja a Índia o único país onde o novo crime de queimar noivas pelo dote se converteu em uma moda.

Uma coisa que temos que observar é que uma parte das mulheres que pertencem à classe trabalhadora e à classe média não recebem a oportunidade de sair e conseguir um trabalho. Todo seu tempo é utilizado em serviços de casa e trabalhos para a família. Como resultado, dependem de outros para sua subsistência. Socialmente, elas dependem de seus maridos. Esta é a razão pela qual não tentam fazer qualquer coisa de maneira independente. Existem tantas restrições para tomar iniciativas ou dar um passo para fora do lar. E, se olharmos para as mulheres que cuidam da educação de seus filhos, são quase como máquinas. Todo seu trabalho gira em torno do marido, dos estudos dos filhos e de enviá-los para as aulas.

As condições da classe operária nas zonas urbanas são lamentáveis. A principal razão é a gravidade do problema de não possuir um lugar onde morar. Assim, os pobres se veem obrigados a montar casas ilegais em lugares abertos. Muitos deles constroem uma cabana na beira de estradas, ferrovias e em sistemas de esgoto (mesmo em cima dos esgotos). Nos estreitos percursos, e ao lado das estrabadas, centenas de famílias vivem levantando barracos. Não existe nem sequer um milímetro de espaço para construir um banheiro ou um lugar que se possa chamar de quintal.

Como as cidades vão se estendendo, as favelas continuam aumentando nas beiras de estradas e nas pequenas colinas dentro da cidade. Carecem de banheiros ou instalações de água. Entre aglomerações de pessoas, um meio ambiente contaminado e falta de comodidades básicas, as mulheres fazem seu trabalho enfrentando todos estes problemas. A luta pela água é muito comum. Em choupanas como estas, as mulheres sofrem com o problema de assédios. Mas, acima de tudo, o principal problema é a demolição destas choupanas por parte das autoridades municipais e governamentais, alegando que são ilegais. Geralmente recaem sobre as mulheres a tarefa de se opor a estas demolições. Porque quando os funcionários aparecem de dia, com a polícia e os tratores, são geralmente as mulheres e as crianças que estão em casa. O sistema capitalista não reconhece o direito de possuir uma casa como um direito básico.

As mulheres nas zonas urbanas possuem oportunidades para sair de casa e trabalhar. Conseguem empregos em fábricas, oficinas, escolas, hospitais e lojas. Contudo, na maioria destes trabalhos não se recebe o mesmo salário que os homens. Os salários são tão baixos que não podem manter uma casa.

Muitas mulheres da classe operária atuam na indústria da construção, submetidas aos patrões. Muitas trabalham como empregadas domésticas. Todos estes trabalhos se enquadram no setor precário. Não desfrutam de nenhu­ma garantia, nem no trabalho, nem no salário.

Além do que, sofrem o assédio dos patrões e dos homens que as empregam. Isto acontece de muitas maneiras. Não somente as mulheres da classe operária, mas também mulheres da classe média com educação se deparam com tal tipo de assédio. As mulheres são assediadas por meio de táticas de gran­de pressão como ameaças de despedi-las, não lhes dando trabalho, transferin­do-as, escrevendo comentários negativos em seus arquivos, etc. Pouquíssimas mulheres são capazes de compartilhar tais assuntos com outras pessoas.

Hoje em dia, nas grandes cidades, as indústrias de eletrônicos dos imperialistas vem surgindo em grande escala. Em muitas delas são empregadas mulheres. Mas os problemas de más condições de trabalho, salários baixos e proibição de organização estão presentes nestas indústrias. Assim pois, têm que lutar mesmo pelo direito básico de criar sindicatos.

No passado, algumas indústrias de fabricação de bedéis (cigarros indianos) e agarbatti (palitos de incenso) ampliaram nos lares. Atualmente mesmo muitas novas companhias estão dando a maior parte do trabalho para que sejam feitos em casa. As esposas pobres tomam estes empregos pensando que podem ganhar um pouco mais trabalhando em sua própria casa. Existe uma grande exploração neste trabalho. Mesmo se trabalhassem o dia todo, com a ajuda de membros de sua família, é difícil para eles ganhar sequer 20 rupias (30 centavos de euro, aproximadamente). A força de trabalho das mulheres pobres é ainda mais barata. O que quero dizer que são exploradas enormemente.

Finalmente, outra questão é a influência da cultura imperialista, e­norme entre as mulheres das cidades. Não apenas são influenciadas pelo consumismo, mas também são vítimas deste. Este aumenta dia após dia. No lugar de valores humanos, dão mais importância para a beleza e aos produtos cosméticos. Como resultado, existe um ambiente de insegurança devido as atrocidades e assédios nas zonas urbanas. As mulheres jovens possuem um sentimento de insegurança quando saem de suas casas. Na vida nas cidades, as mulheres sofrem vários problemas como estes, mas existem pouquíssimas organizações que lutem contra tais questões.

Poru Mahila: Fale para nós das distintas correntes no movimento das mulheres.

Camarada Janaki: Em meados da década de 1980, houve uma explosão espontânea do movimento das mulheres em muitas partes do país, especialmente nas cidades. Este movimento foi um indicativo da crescente consciência democrática e antipatriarcal entre as mulheres indianas. Após o movimento de Naxalbari desferir um duro golpe ao sistema semifeudal e semicolonial na Índia, houve uma explosão nos movimentos da classe trabalhadora e dos estudantes e se produziu o Estado de Emergência e as crises sociais, econômicas e políticas das classes dominantes. Um movimento da mulher nasceu neste cenário. A nível internacional, existiu também a influência dos movimentos de mulheres e estudantes. Principalmente as mulheres estudantes, de classe média e profissionais participaram ativamente. Fora destes movimentos democráticos espontâneos, também nasceram tanto grandes como pequenas organizações de mulheres. Mas nos últimos vinte anos aconteceram muitas mudanças no movimento das mulheres, no seu caráter político e em suas organizações. Posteriormente, o movimento de libertação da mulher dependente das mulheres de classe média das cidades se desmembrou em várias correntes políticas e ideológicas. Nos movimentos nacionais, especialmente na luta da Caxemira por sua autodeterminação, a participação ativa das mulheres aumentou consideravelmente. As mulheres estão jogando um papel proeminente em denunciar as atrocidades desumanas cometidas pela polícia e pelo Exército.

Sob a direção do Partido, o movimento revolucionário das mulheres se desenvolveu consideravelmente nas zonas rurais, especialmente em Dandakaranya e Telengana Norte. Mesmo os partidos BJP (Bharatiya Janata) e o RSS (Rastriya Swayamsevak Sangh) reconheceram a força das mulheres e estão prestando atenção no que se refere a difusão de valores sociais decadentes e uma política depravada entre elas.

Muitas mulheres que haviam participado espontaneamente nos movimentos contra os assassinatos por causa dos dotes, o sati e os assédios, atraindo a atenção da nação frente a tais problemas, se afastaram do movimento. Contudo, muitas outras ganharam seus nomes por si mesmas tanto na Índia como no exterior, como investigadoras e ideólogas sobre assuntos concernentes as mulheres. Muitas delas fundaram ONGs. Recebem fundos de agências internacionais para estudos sobre a emancipação da mulher. Possuem um ponto de vista feminista e uma ideologia feminista. Agora converteram-se em propagandistas do feminismo, no sentido de que o patriarcado é o principal problema das mulheres, de que temos que lutar somente contra o patriarcado. Mas o patriarcado possui suas raízes na sociedade de classes. Em todas as sociedades é perpetuado pelas classes exploradoras, quer dizer, pelo feudalismo, o capitalismo e o imperialismo. Assim pois, lutar contra o patriarcado significa lutar contra as classes exploradoras. Porém, as feministas são contra o reconhecimento disto. Pensam que as condições da mulher nesta sociedade podem ser mudadas através da pressão (lobby) sobre os governos e através unicamente da propaganda. Na realidade, hoje, esta corrente feminista representa o ponto de vista tanto de classe como dos interesses das classes das mulheres da burguesia e classe média alta do país.

As organizações de mulheres dos partidos revisionistas como o Partido Comunista da Índia (PCI), o Partido Comunista da Índia – Marxista (PCM) e o Libertação estão trabalhando ativamente em algumas cidades. Dirigem um movimento sobre temas sociais e políticos da mulher. Com temas sobre opressão da mulher, levam a cabo marchas e dharnas (ato onde várias pessoas sentam no chão para bloquear alguma via) sobre problemas como aumento dos preços, etc. São diferentes da corrente feminista, porque não somente dão importância para as lutas contra o patriarcado. Mas também são organizações completamente reformistas.

Devido a sua política revisionista, não ligam a libertação das mulheres com a revolução e trabalham com a crença de que trocando de governos serão capazes de melhorar as condições no interior do marco social atual. Por exemplo, durante os últimos dois ou três anos, tem concentrado todas as suas atividades na obtenção do direito de reservar 33% do parlamento para as mulheres. De fato, há muito tempo que o povo comum perdera sua confiança no corrupto sistema parlamentar. Também tem se demonstrado que quem quer seja eleito ao parlamento, sempre servirá as classes dominantes exploradoras e não trabalhará pelos direitos da mulher e do povo pobre.

Há algumas organizações nas zonas urbanas que trabalham ativamente baseando-se em análises marxistas, vendo as raízes da exploração e opressão da mulher na sociedade de classes e reconhecendo o vínculo entre a libertação da mulher e a revolução social. Já faz uma década que estão fazendo trabalhos entre mulheres da classe trabalhadora, estudantes e empregas. Em especial, atuam muito ativamente em Andhra Pradesh e Karnataka. Não somente afrontam movimentos contra a opressão da mulher e outros problemas, mas também realizam extensa propaganda entre as mulheres sobre seus direitos e sobre a exploração e opressão que se perpetua sobre elas.

É um fenômeno alarmante para os movimentos democráticos e revolucionários de mulheres que as forças hindutva (literalmente “qualidade de hindu”) estão também trabalhando entre as mulheres. Estão restabelecendo velhos valores feudais em nome da oposição à cultura ocidental. Em nome das tradições hindus e Bharat Mata (Mãe Índia) suprimem a crescente consciência das mulheres. Não só isso. Estão levando a cabo uma propaganda perversa contra as minorias regionais. E ainda dão treinamento militar em nome da Nari Shakti (Poder Feminino). Em resumo, o movimento da mulher está dividido em várias correntes ideológicas por toda a Índia. Devemos estudá-las rigorosamente e construir um forte movimento da mulher contra as correntes errôneas em seu seio.

Poru Mahila: O quanto conhecem as pessoas que não estão dentro do movimento revolucionário da mulher sobre ele? Qual é o seu impacto?

Camarada Janaki: O movimento de mulheres adivasis que surge em Dandakaranya desde a última década tem uma enorme proeminência na história do movimento contemporâneo da mulher na Índia. O vigor e iniciativa das mulheres de Caxemira é maior do que em outras partes do país. Milhares de mulheres estão saindo às ruas para se opor a cruel repressão do Exército e a todas as formas de atrocidades. Depois do ativismo político das mulheres de Caxemira, são as camponeses adivasis de Dandakaranya que jogam um ativo papel social e político. Estão organizadas em grande escala, em um vasto número de aldeias. Opõem-se às velhas tradições patriarcais que estão dentro da sociedade adivasi Gondi.

Elas estão participando da luta armada contra o governo explorador e seu Exército e em campanhas políticas. Esta é uma grande vitória da Krantikari Adivasi Mahila Sanghatan (K.A.M.S.).

Mas é entristecedor que haja pouquíssima informação disponível sobre a extensão da K.A.M.S. e sobre suas atividades. Os militantes e simpatizantes do Partido Comunista da Índia - Marxista-leninista (PCI-ML) (Guerra Popular) em outros estados conhecem pouco a respeito dela. O Partido tem feito alguns esforços para retificar isto. O documento escrito para o seminário de Patna (publicado em telegu e hindu), o livro sobre as mulheres mártires e algumas histórias e breves relatos ajudaram em sua propagação. Mas a informação sobre tal movimento revolucionário de mulheres não aparece com frequência. Mesmo em sua revista “Poru Mahila” pode ser lida muito raramente. É necessário planificar sua distribuição também fora das zonas do movimento.

Não obstante, qualquer que seja a informação, ainda que escassa, que recebam as organizações democráticas e revolucionárias, estão muito entusiasmadas sobre isto. Estão sendo influenciadas pela determinação e coragem, desenvolvido pelas mulheres adivasis. É extremamente necessária a mais ampla propaganda sobre a K.A.M.S. e suas atividades. Através dela, podemos dar uma adequada resposta para a negativa propaganda governamental sobre a abordagem dos partidos revolucionários no que se refere a questão da mulher.

Poru Mahila: Conte-nos sobre sua experiência em Dandakaranya.

Camarada Janaki: Antes de vir a Dandakaranya, li artigos e informes sobre o movimento de mulheres daqui. Mas não tinha uma avaliação de que era tão extenso. Essa é a razão pela qual me alegrou ver sua dimensão. Tenho que te dizer algo. Nas aulas que ensinam nas escolas sobre as sociedades tribais, dizem que a sociedade Gondi é muito liberal. Contudo, depois de observar de perto os povos muria, madia e dorla, compreendi o quão patriarcal era também a sociedade tribal. Compreendi o quão importante é estudar com profundidade a questão da opressão da mulher. Ainda que a participação das camponesas adivasis no processo de produção seja enorme, o patriarcado tem violado seus direitos. Enquanto escrevia sobre o movimento das mulheres durante a guerra por uma sociedade de Nova Democracia na China, Jack Beldon, o escritor e jornalista estadunidense registrou: “O Partido Comunista da China tem a chave para a vitória da revolução. Ganharam o setor mais o­primido da sociedade chinesa”. Quando vi o movimento da mulher em Dandakaranya, foram estas palavras de Beldon que vieram à minha mente. De fato, após a Revolução Chinesa, tem sido o movimento revolucionário em Dandarankaya que vem demonstrando que onde existe uma Guerra Popular, onde tem lugar uma luta armada contra o sistema feudal, comprador e imperialista para a vitória da Revolução de Nova Democracia, as mulheres da classe trabalhadora participam ativamente e em grande escala do processo de emancipação de toda a sociedade, assim como por sua própria emancipação.

A Guerra Popular destruiu as hesitações das mulheres. Dobrou sua for­ça. Tem mostrado o caminho para a libertação da mulher. Existe um vínculo entre a sociedade semifeudal e semicolonial e a opressão da mulher. Demonstrou também uma vez mais por meio da vitória do Partido em Dandakaranya que é correto o princípio marxista de que podemos levar adiante a luta contra o patriarcado somente por meio da luta para pôr fim a este sistema.

Ali onde o partido está trabalhando sistematicamente, podemos ver que a participação da mulher é maior em todas as atividades e movimentos políticos. Em 1998, devido as graves condições de fome em Bastar Sur, muitas mulheres emigraram para Andhra Pradesh para trabalhar por um salário diário. Também havia entre elas, membros do comitê da K.A.M.S. Mas quando lhes perguntamos quantas vieram para as reuniões do 8 de março, em um lugar estiveram presentes 700 e em outro 450. Anteriormente, em atos contra as condições de fome haviam participado milhares delas. Quando estava lá, foram recrutadas mulheres para o Exército Guerrilheiro Popular em larga escala. Em alguns lugares, o recrutamento de moças jovens foi maior do que o de rapazes.

O que mais me influenciou foi que as esposas dos camaradas casados que já faziam parte dos esquadrões também estavam sendo recrutadas. Muitas delas haviam deixado suas crianças com seus familiares e estão se convertendo em combatentes guerrilheiras na grande Guerra Popular em curso para transformar esta sociedade. E eu tenho visto muitas camaradas mulheres que se mantiveram firmes com a Guerra Popular sem olhar para trás, mesmo depois de que em poucos meses seus maridos terminaram mortos em confrontos com a polícia ou em algum outro acidente. Rompendo com os tradicionais, sombrios e estreitos limites da família, gostam mais dessa nova vida, mesmo que esteja cercada de perigos. Desta maneira, sua vida e sua existência estão adquirindo um novo significado. Pude ver muitas camaradas entregando-se a causa e assumindo novas responsabilidades.

Criando unidades da K.A.M.S. em cada aldeia, a eleição de seus comitês, a eleição de Comitês Regionais em conferências regionais, o envio de membros de unidades para as ditas aldeias a fim de realizar campanhas propagandísticas, a participação em greves e outras atividades de protesto, lhes dando treinamento militar – todas estas são vitórias deste movimento. Mas o que eu observei em minha experiência é que desde que as membras dos Conselhos Consultivos estão envolvidas sem descanso, em diversos tipos de responsabilidades e devido a algum trabalho e em novos métodos para envolver as mulheres mais velhas nas aldeias. As mulheres e suas crianças estão enfrentando inúmeros problemas sanitários. Incrementando seu conhecimento dos assuntos e prestando especial atenção a seu bem-estar, podemos aumentar seu entusiasmo. Temos que aumentar sua participação nas reuniões a nível de aldeia. Muitas pessoas se referem a K.A.M.S. como uma organização de mulheres jovens. Ampliar seu estreito conhecimento da sociedade é outro desafio que está diante de nós.

Existe igualmente uma necessidade de proporcionar uma formação especial de caráter social e político para as mulheres membras dos esquadrões e pelotões. Devemos planejar para fornecer-lhes educação contínua e conhecimentos científicos sobre os problemas de saúde. Ainda que existam discussões sobre estes temas, estas são deixadas de lado devido à falta de tempo e a imersão em vários outros trabalhos. Podemos nos livrar da sua suposta inferioridade lhes oferecendo conhecimento científico e imbuindo um amplo pensamento social.

Poru Mahila: Qual é sua mensagem para as mulheres que trabalham nos esquadrões e na K.A.M.S. em Dandakaranya?

Camarada Janaki: Nossas mulheres camaradas adivasis em Dandakaranya estão, hoje, construindo uma nova história. Embora seja a zona mais atrasada do país, encabeça o movimento das mulheres que está desenvolvendo-se no país. Respondem aos fuzis da polícia adequadamente, lutam em plano de i­gualdade com os camaradas homens na luta armada para libertar o país das garras implacáveis do imperialismo, do feudalismo e da burguesia compradora. Nas aldeias estão se levantando por seus direitos, enfrentando as ameaças e pressões por parte dos idosos. Estão debilitando o patriarcado na cultura adivasi Gondi. Ainda que se oponham a inimigos e forças tão grandes, a timidez e o sentimento de subordinação que estão ainda presentes, são igualmente grandes inimigos que obstaculizam seu desenvolvimento. O complexo de inferioridade surge deles. Suas raízes são muito profundas. O que eu quero dizer para as minhas camaradas da K.A.M.S. é que devem fortalecer sua autoconfiança. De­ve-se lutar contra o inimigo em seu interior. Nos dias que estão por vir, a K.A.M.S. enfrentará muitos e grandes desafios. A repressão estatal já está aí.

Além disso, o governo tratará de manter a sociedade e a cultura adivasis no atraso com a ajuda dos idosos das aldeias e por meio dos líderes. Será necessário que a K.A.M.S. faça frente a isto politicamente. Da mesma forma, devem estar prontas para apresentar suas posições sobre a verdadeira libertação no movimento das mulheres, que se desenvolve através de várias correntes no país. Para enfrentar estes desafios, nossas camaradas devem atingir a maturidade política e ideológica e ter autoconfiança.


Inclusão: 29/08/2023