O Partido do Brasil

Maurício Grabois

29 de março de 1952


Fonte: Jornal Voz Operária (RJ), 29 de março de 1952.

Transcrição: Leonardo Faria Lima

HTML: Fernando Araújo.


O nosso querido e glorioso Partido completa hoje 30 anos de existência. Esses 30 anos de incessante atividade em benefício dos explorados e oprimidos representam o que há de mais nobre e humano na vida do povo brasileiro, constituem a mais elevada expressão de patriotismo.

Desde que foi fundado até os dias atuais, o P.C.B. tem sido alvo das piores calúnias e infâmias. Procuraram sempre os inimigos de nosso povo, gastando inutilmente rios de tinta e montanhas de papel, apresentar os comunistas como indivíduos desprovidos de qualquer sentimento patriótico e humano, frios e calculistas, capazes de cometer os maiores crimes. Os fatos, no entanto, sempre se encarregaram de desmascarar as torpes mentiras assacadas contra o Partido dos trabalhadores pelas classes sociais caducas, fadadas a desaparecer inelutavelmente da sociedade brasileira.

Trinta anos de lutas abnegadas e heroicas perante as grandes massas confirmam que o P.C.B. é o único partido verdadeiramente patriótico, existente na arena política nacional. A nossa ação firme e consequente em defesa dos legítimos interesses do povo revela que nós, comunistas, não somos, de nenhum modo, infensos ao patriotismo, mas que, ao contrário, possuímos o mais entranhado amor ao Brasil. Podemos proclamar, sem vanglória e com imenso orgulho, que somos os melhores filhos da grande Pátria brasileira.

Sim, somos os maiores patriotas porque aspiramos ardentemente a libertação da esmagadora maioria do povo, de mais de nove décimos da população brasileira, da fome e da opressão; eis por que contra o atual estado de coisas lutamos. Sentimos na própria carne os sofrimentos dos trabalhadores das cidades e dos campos, ameaçados de liquidação física; esse é o motivo por que lutamos contra a miséria. Emocionamo-nos com a tragédia de milhões de flagelados da seca do nordeste ou com as horríveis catástrofes ferroviárias da Central do Brasil onde perdem, periodicamente a vida, centenas de homens do povo; é também contra isso que lutamos.

Revolta-nos assistir as desumanas condições em que trabalham os operários nas fábricas, percebendo ínfimos salários, ou presenciar a escravização sem limites dos trabalhadores do campo pelos monopolizadores de terra: é por essa razão que lutamos a fim de acabar para sempre com toda espécie de exploração do homem pelo homem. Enche-nos de horror a ação criminosa do governo de Vargas, tudo fazendo para arrastar o país a uma aventura guerreira, onde centenas de milhares de jovens brasileiros poderão ser barbaramente sacrificados; por isso lutamos sem descanso em defesa da paz.

Assim, em nosso grande Partido, não visamos vantagens pessoais, não medimos sacrifícios, temos os olhos fitos na liberdade e no progresso do povo, na felicidade e no bem-estar das amplas massas. Quem, portanto, mais patriota do que nós, comunistas, que defendemos com intransigência uma vida livre, alegre e feliz para todos os brasileiros? Existe, por acaso, melhor forma de patriotismo do que combater os inimigos mortais de nosso povo, do que lutar, como lutam os comunistas – até o fim – contra o poder dos latifundiários e da grande burguesia, classes reacionárias que vendem o país aos magnatas norte-americanos, exploram e oprimem impiedosamente os trabalhadores?

É evidente que não. Somos o oposto dos partidos das classes dominantes que, sem restrições, apoiam a política do governo de Vargas, política de militarização, de guerra, de liquidação da soberania nacional, de fome e de terror contra as massas. É certo que os homens e os jornais da grande burguesia e dos latifundiários a todo instante invocam o patriotismo. Mas como são ocas as suas palavras. Como é contraditório o que proclamam e o que realizam. E não poderia ser de outro modo, uma vez que representam classes que só podem subsistir à custa da exploração e da miséria das massas. A história dessas classes retrógradas é constituída de uma cadeia sem fim de monstruosos crimes, de roubos, assassinatos e violências. Seu poder está erigido sobre lama e sangue.

Como podem, pois, tais classes e seus partidos políticos defender os interesses nacionais? Não! Os latifundiários e os grandes capitalistas traem a nação, perderam quaisquer vestígios de patriotismo, são agentes internos do opressor estrangeiro – o imperialismo ianque.

Agora mesmo, quando o povo brasileiro atravessa uma difícil situação de fome, o governo de Vargas assina um acordo militar com os Estados Unidos, frontalmente contrário aos interesses do Brasil, acordo de guerra, de cessão de bases militares, de submissão das forças armadas brasileiras aos norte-americanos, de entrega das riquezas nacionais à voracidade do imperialismo ianque. Diante de fatos como esse, nenhum brasileiro honesto pode acreditar no patriotismo de um governo que firma um tratado dessa natureza, nem no patriotismo das classes que tal governo representa.

A bandeira do verdadeiro patriotismo é hoje desfraldada pela classe operária e pelas grandes massas do povo. São elas, tendo à frente o P.C.B., que lutam pela independência nacional, contra todas as forças que entravam o progresso do país. Guiados pelo partido, o proletariado e o povo não lutam somente pela independência de nosso país, mas também pela auto-determinação de todos os povos. As grandes massas populares condenam a política do governo anti-nacional de Vargas ao mandar a sua delegação na ONU votar contra países dependentes, semelhantes ao nosso, como o Egito e o Irã, que lutam contra as brutais imposições do imperialismo.

O patriotismo de nosso Partido não reside tão somente na luta em que nos empenhamos pela paz e a libertação nacionais. Os interesses de classe que o P.C.B. representa nos levam a defender a cultura nacional das influências monopolistas ianques que, tentando impor ao nosso país o modo de vida americano, procuram abastardá-la, corrompê-la e deformá-la. Orgulhamo-nos da cultura nacional, da cultura de Frei Caneca, Castro Alves e Euclides da Cunha, da cultura que tem profundas raízes no povo brasileiro. Pugnamos por uma cultura a serviço do povo, que o ajude a se livrar da fome e da exploração, que contribua para derrotar os cruéis inimigos do progresso e da felicidade de nossa Pátria.

Somos pela cultura que reflita as grandiosas lutas que as massas travam em nosso país, que reforce a vontade de luta pela paz do povo e eleve o seu sentimento patriótico e anti-imperialista. Somente o partido do proletariado pode defender essa cultura, enquanto as classes dominantes chafurdam no cosmopolitismo, na subserviência indigna à pretensa cultura que os imperialistas ianques exportam para o nosso país.

Por sua vez, a luta que travamos, à frente de nosso povo, pela paz, pela libertação nacional e pela democracia popular, torna o P.C.B. o legítimo herdeiro dos movimentos patrióticos e revolucionários que se verificam em toda a nossa história. O Partido cultua as tradições revolucionárias do povo brasileiro e nelas inspira a sua luta. Temos orgulho de Tiradentes, das lutas dos escravos negros, dos cabanos, dos balaios, da revolução praieira, dos abolicionistas, dos lutadores que instauraram a República, da revolta dos marinheiros da esquadra em 1910, da insurreição nacional-libertadora de 1935, da ação heroica da F.E.B. e de todos os heróis e mártires da luta libertadora de nosso povo.

À vanguarda das massas populares, com as nossas lutas de hoje, somos os continuadores dessas grandiosas lutas do passado, enquanto as classes dominantes e os dirigentes de seus partidos negam a verdadeira história pátria, deformando-a e adaptando-a a seus sinistros propósitos de manter a opressão de nosso povo, de entregar totalmente o país aos imperialistas ianques e arrastá-los a uma terceira guerra mundial.

A maior demonstração do profundo sentimento patriótico de nosso heroico Partido tem sido a sua decidida posição de fidelidade aos princípios do internacionalismo proletário sua inabalável confiança na gloriosa União Soviética, que lidera as forças da paz e da democracia no mundo inteiro. Essa atitude do P.C.B. em relação à Pátria do socialismo e ao seu genial e sábio chefe Stálin, é verdadeiramente patriótica porque corresponde inteiramente aos interesses nacionais e sociais do povo brasileiro, uma vez que a União Soviética defende a independência e o bem-estar de todos os povos e jamais atacou qualquer país.

Finalmente, o nosso Partido é a mais alta expressão do patriotismo porque tem como seu dirigente máximo, como chefe e educador, o líder anti-imperialista que é por todos os trabalhadores e homens do povo reconhecido como o maior patriota brasileiro, cuja existência sempre esteve inteiramente dedicada à causa da libertação nacional e social de nosso povo, o camarada Luiz Carlos Prestes.

Por tudo isso, o nosso glorioso e combativo Partido é o único partido verdadeiramente nacional. No XXX aniversário do P.C.B. comemoramos, portanto, uma grande data do povo e da nação brasileira. São trinta anos de vida do Partido da Pátria, do Partido do Brasil.


Inclusão: 09/10/2020