A Internacional Comunista

Antonio Gramsci

24 de maio de 1919


Primeira Edição: L'Ordine Nuovo - 24 de maio de 1919

Tradução: Elita de Medeiros - da versão disponível em https://www.marxists.org/espanol/gramsci/la_inter.htm

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A Internacional Comunista nasceu da e com a revolução proletária, e com ela se desenvolve. Três grandes estados proletários, as Repúblicas Soviéticas da Rússia, Ucrânia e Hungria, já constituem sua base real histórica.

Em uma carta a Sorge, de 12 de setembro de 1874, Friedrich Engels escreveu a propósito da I Internacional em vias de dissolução:

“A Internacional dominou dez anos de história europeia e pode contemplar sua obra com orgulho. Mas ela sobreviveu em sua forma antiquada. Creio que a próxima Internacional será, uma vez que os trabalhos de Marx tenham cumprido sua função durante tantos anos, diretamente comunista, e instaurará nossos princípios”.

A II Internacional não justificou a fé de Engels. No entanto, depois da guerra e após a experiencia positiva da Rússia, os contornos da Internacional revolucionária, da Internacional de conquistas comunistas, foram claramente traçados.

A Internacional tem por base a aceitação dessas teses fundamentais, elaboradas de acordo com o programa da Liga Espártaco da Alemanha e do Partido Comunista (bolchevique) da Rússia:

  1. A época atual é a da decomposição e fracasso de todo o sistema capitalista mundial, o que significará o fracasso da civilização europeia, se o capitalismo não for suprimido com todos os seus antagonismos irremediáveis.
  2. A tarefa do proletariado na hora atual consiste na conquista do poder do Estado. Essa conquista significa a supressão do aparelho de governo da burguesia e organização de um aparelho de governo proletário.
  3. Esse novo governo é a ditadura do proletariado industrial e dos camponeses pobres, que deve ser o instrumento da supressão sistemática das classes exploradoras e de sua expropriação. O tipo de Estado proletário não é a falsa democracia burguesa, forma hipócrita de dominação oligárquica financeira, mas a democracia proletária, que fará a libertação das massas trabalhadoras; não o parlamentarismo, mas o autogoverno das massas através de seus próprios órgãos eletivos; não a burocracia de carreira, mas órgãos administrativos criados pelas próprias massas, com participação real das massas na administração do país e na tarefa socialista de construção. A forma concreta do Estado proletário é o poder dos Conselhos e das organizações semelhantes.
  4. A ditadura do proletariado é a ordem de expropriação imediata do capital e da supressão do direito da propriedade privada sobre os meios de produção, que devem ser transformados em propriedade de toda a nação. A socialização da grande indústria e de seus centros organizadores, o banco; o confisco da terra dos proprietários latifundiários e a socialização da produção agrícola capitalista (entendendo por socialização a supressão da propriedade privada, a transferência da propriedade para o Estado proletário e o estabelecimento da administração socialista a cargo da classe operária); o monopólio do grande comércio; a socialização dos grandes palácios nas cidades e dos castelos no campo; a introdução da administração operária e a concentração das funções econômicas nas mãos dos órgãos da ditadura proletária; eis a tarefa do governo proletário.
  5. Para assegurar a defesa da revolução socialista contra os inimigos do interior e do exterior, e para socorrer a outras frações nacionais do proletariado na luta, é necessário desarmar totalmente a burguesia e seus agentes, e armar a todo o proletariado, sem exceção.
  6. A atual situação mundial exige o máximo contato entre as diferentes frações do proletariado revolucionário, exige, inclusive, um bloco total dos países em que a revolução socialista já é vitoriosa.
  7. O método principal de luta é a ação das massas do proletariado até o conflito aberto contra os poderes do Estado capitalista.

A totalidade do movimento proletário e socialista mundial orienta-se decididamente para a Internacional Comunista. Os operários e os camponeses percebem, mesmo que de maneira confusa e vaga, que as repúblicas soviéticas da Rússia, Ucrânia e Hungria são as células de uma nova sociedade que cristaliza todas as aspirações e esperanças dos oprimidos do mundo. A ideia da defesa das revoluções proletárias contra os assaltos do capitalismo mundial deve servir para estimular os fermentos revolucionários das massas: nesse terreno, é necessário organizar uma ação enérgica e simultânea dos partidos socialistas da Inglaterra, França e Itália, que imponha a cessação de qualquer ofensiva contra a República dos Sovietes. A vitória do capitalismo ocidental sobre o proletariado russo significaria jogar a Europa por duas décadas nos braços da reação mais feroz e implacável. Para impedir isso, para conseguir reforçar a Internacional Comunista, a única que pode dar ao mundo a paz no trabalho e a justiça, nenhum sacrifício deve parecer demasiado grande.


Inclusão: 19/05/2023