Os comunistas e as eleições

Antonio Gramsci

12 de abril de 1921


Primeira Edição: in L'Ordine Nuovo, 12 de abril de 1921

Tradução: Elita de Medeiros - da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/gramsci/1921/04/communists_elections.htm

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O Partido Comunista é o partido político historicamente determinado das classes trabalhadoras revolucionárias.

A classe operária nasceu e se organizou em uma terra de democracia burguesa, no marco de um regime constitucional e parlamentar. Presa no reino da vasta indústria moderna, com suas enormes fábricas e massas abundantes, mas confusas, foi só lentamente e depois das experiências mais cruéis, das mais amargas decepções que a classe trabalhadora se deu conta de que era uma só: conscientizou-se de seu próprio destino.

É por isso que, ao longo de seu desenvolvimento, a classe trabalhadora não apoiou os partidos políticos mais comuns e usuais. Começou apoiando partidos liberais e, ao fazê-lo, juntou-se à burguesia urbana: lutou para apagar os restos do feudalismo econômico no campo e foi assim que a burguesia industrial conseguiu quebrar o monopólio dos alimentos, introduzir um toque de liberalismo econômico no campo e reduzir o custo de vida, mas toda essa ação acabou sendo desastrosa para a classe trabalhadora, que viu sua média salarial reduzida significativamente. Mais tarde, a classe operária passou a apoiar os partidos democráticos da pequena burguesia e lutou para ampliar o quadro do estado burguês, para introduzir novas organizações e promover as que já existiam, e mais uma vez foi enganada. Todas essas novas figuras dirigentes que foram trazidas para a luta levantaram varas para o campo da burguesia: o que elas fizeram foi renovar a velha classe dominante e fornecer novos ministros e funcionários importantes para o estado parlamentar burocrático. Embora o Estado em si também não tenha mudado, continuando dentro dos limites estabelecidos na estátua de Albertine, nenhuma nova liberdade foi realmente alcançada para as pessoas comuns: a Coroa permaneceu o único verdadeiro poder na sociedade italiana, e por meio do governo, continuou a submeter o sistema judiciário, o parlamento e as forças armadas do país à sua vontade.

Com a criação do Partido Comunista, a classe trabalhadora rompeu com as tradições anteriores e confirmou sua própria maturidade política. A classe trabalhadora não quer mais trabalhar junto com outras classes para o desenvolvimento e mudança do estado parlamentar burocrático: quer trabalhar para garantir com sucesso o desenvolvimento de sua própria classe. Apresenta a sua candidatura como classe dirigente e mostra que só poderá cumprir esse papel histórico em um quadro institucional diferente do atual, em um novo sistema de Estado, e não no contexto pré-existente de um Estado parlamentar burocrático.

Com a criação do Partido Comunista, a classe trabalhadora consegue se apresentar como iniciadora da luta política, como força motriz: não é mais um movimento de massa que é guiado pelo sistema superior de outra classe social. A classe trabalhadora quer governar o país e mostra que é a única classe capaz de fazê-lo, por seus próprios meios e suas próprias instituições nacionais e internacionais, para resolver os problemas atuais causados pela situação histórica geral. Quem são as verdadeiras forças da classe trabalhadora? Quantos proletários na Itália tomaram conhecimento da missão histórica de sua classe? Que tipo de seguidores o Partido Comunista tem na sociedade italiana? Em toda essa confusão no caos atual, já temos as grandes figuras necessárias para um novo arranjo histórico? Quando diferentes forças sociais, classes e setores da sociedade italiana que estão continuamente se separando e depois se unindo, rompendo-se, mas depois se recompondo, tiveram um núcleo básico já criado? Existe um núcleo forte e sólido que é fiel às ideias e à agenda da Internacional Comunista e da revolução mundial, em torno do qual a classe trabalhadora possa formar sua nova, mas definitiva, organização política e governamental? Estas são as perguntas que serão respondidas durante as eleições.

Para que uma resposta conclusiva e concreta seja dada, uma que possa ser verificada no futuro porque foi documentada, o Partido Comunista está concorrendo nas eleições. Quando as forças sociais forem divididas pelas eleições, o Partido Comunista também vai querer saber quem são suas tropas para contar os números que estão por trás dele. Esta é uma etapa necessária no processo histórico que deve levar à ditadura do proletariado e à criação de um Estado da classe trabalhadora. Para os comunistas, as eleições são uma das muitas formas de organização política típicas da sociedade moderna. O partido é a melhor forma de organização, e os sindicatos e os conselhos são formas intermediárias de organização, nas quais os membros mais conscientes do proletariado se posicionam na luta contra o capital, e nas quais o recrutamento acontece na plataforma sindical. Nas eleições, as massas declaram seus objetivos políticos gerais, suas ideias de Estado, de que a classe trabalhadora deve ser habilitada como classe dominante. O Partido Comunista é, em essência, o partido do proletariado revolucionário, dos trabalhadores resignados à indústria urbana – ainda assim, esses trabalhadores não serão capazes de alcançar seu objetivo sem o apoio e o consenso de outras correntes, como os camponeses empobrecidos e o proletariado intelectual.

Este é o questionamento do princípio – qual é a força expansiva do proletariado revolucionário hoje? Quantos indivíduos nas outras classes trabalhadoras reconhecem o proletariado como a futura classe dominante e ainda hoje, apesar da situação caótica, apesar da decepção sofrida, apesar do terrorismo que a reação emprega, pretendem apoiá-lo em seus esforços?

O Partido Comunista não tem falsas esperanças sobre a obtenção de resultados, especialmente porque mostrou que quer abandonar a demagogia ousada com que o Partido Socialista foi capaz de atrair as multidões no passado. No entanto, quanto mais a população italiana estiver mergulhada no caos e na confusão, e quanto mais as forças que separam as encarnações anteriores das forças revolucionárias trabalharam e continuam a trabalhar, mais se torna claro que precisamos recrutar seguidores fiéis: soldados leais pela revolução mundial e pelo comunismo. A importância dinâmica e expansiva disso se tornará cada vez mais aparente à medida que a situação se tornar mais tumultuada, e deixa ainda mais claro que os meios do próximo partido para se apresentar no campo da política italiana geral são insuficientes.


Inclusão: 28/10/2021