A literatura e a arte devem temperar as massas com consciência de classe para a construção do socialismo

Discurso de encerramento na 15ª Plenária do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA)(1)

Enver Hoxha

26 de Outubro de 1965


Fonte: Enver Hoxha: Obras Completas, Volume 30 (Maio 1965 – Dezembro 1965), 1979, págs. 363-397, Tirana, Casa de Publicações “8 Nëntori”.
Original: www.enverhoxha.ruLetërsia dhe Artet të Shërbejnë për Kalitjen e Njerëzve me Ndërgjegjen e Klasës për Ndërtimin e Socializmit.
Tradução e adaptação: Thales Caramante — Jornal A Verdade e Edições Manoel Lisboa.
HTML: Lucas Schweppenstette.

Camaradas, eu estava em dúvida se deveria ou não discursar nesse encontro, e a causa dessa hesitação foi aquele belo informe do Birô Político discursado pelo camarada Ramiz Alia, como também as ótimas e mobilizadoras contribuições dos camaradas ao analisar os maiores problemas que nos preocupam hoje, examinaram unificadamente e submeteram esse exame a uma análise profundamente marxista-leninista. Por isso, tendo em vista o que já foi dito pelos camaradas, o que eu vim dizer aqui não tem uma importância especial.

No entanto, permita-me enfatizar algumas das ideias que foram expressas tanto pelo informe quanto no debate realizado pelos camaradas. Em algum dos seus escritos Marx diz:

“Nós não vamos sair pelo mundo como doutrinadores com um novo credo completamente pronto: Aqui está a verdade, ajoelhem-se diante dela! Nós estamos desenvolvendo novos princípios para o mundo, a partir de princípios já existentes. Não queremos dizer ao mundo: ‘Parem as lutas; todas as lutas são em vão’, – Nosso objetivo aqui é fornecer a palavra de ordem para uma nova luta. Nós apenas queremos mostrar ao mundo as reais razões pelas quais há luta, consciência é algo que o mundo tem a ganhar, querendo ou não”(2).

Essas palavras de Marx devem nos inspirar no desenvolvimento da nossa literatura, artes e cultura em geral.

Não é a consciência que determina a existência, é a existência que determina a consciência. Olhando essa questão pelo ponto de vista marxista-leninista nós podemos entender a magnitude, variedade, assim como as dificuldades do papel principal do partido no temperamento da consciência, da consciência como derivação direta das lutas e esforços feitos pelo nosso povo.

Daí decorre o grande papel que a literatura e a arte devem desempenhar na enculturação e desenvolvimento da consciência revolucionária, ligado estritamente com o período que passamos, com os esforços, as lutas pela construção do socialismo, em uma luta de escala mundial contra o imperialismo, a ideologia burguesa e suas variações, o revisionismo moderno etc.

A consciência dos homens, das mulheres, e da sociedade como um todo não é algo petrificado, imutável, formado e desenvolvido de uma única forma eternamente. Ela caminha entre variações positivas e negativas, se altera de acordo com as forças econômico-materiais, com a luta de classes, situações revolucionárias, as relações entre as classes antagônicas e não-antagônicas, com ideias que inspiram a luta de classes, a revolução etc.

Nós dissemos “consciência de classes”, “consciência proletária”, “consciência burguesa”, “consciência capitalista”, nós dizemos, “ele/ela tem plena consciência” ou “ele/ela tem uma consciência perturbada e fraca”, etc. isso quer dizer, necessariamente, que na vida e na luta as massas não dispõem de uma consciência única; consciência reflete as diferentes perspectivas sobre o mundo, que derivam da situação econômica em desenvolvimento. Porém é mais do que isso, mesmo que Engels diga que esse é o aspecto principal, que esse é o aspecto decisivo que abre o caminho. Nós também consideramos diversos fatores sociais e a superestrutura de cada sistema econômico, porque, no básico do materialismo dialético e histórico, as ideias predominantes de um ou outro país, em uma ou outra época histórica, são as ideias da classe dominante. Ambas as classes, feudal e burguesa, tentaram proclamar a “universalidade” de suas ideias, para criar, para moldar a consciência de sua classe, com o objetivo de perpetuar seu estado de classe dominante. Entretanto, ao mesmo tempo, seu sistema econômico, sua ideologia reacionária, sua consciência de classe cavaram o seu próprio coveiro — o proletariado, com a ideologia proletária, com a consciência proletária, com seu sistema econômico social — o socialismo, com sua ciência da vanguarda, das revoluções, da luta de classes, e com sua própria superestrutura político e ideológica.

O socialismo transcendeu as fronteiras de um único estado, já a burguesia, ao contrário, está no caminho para sua extinção, o marxismo-leninismo é esclarecedor, inspirador e lidera a humanidade para a revolução, para o socialismo e o comunismo.

Ao atravessar lutas e revoluções, nossa querida e amada Albânia se tornou um estado socialista, onde a classe operária está no poder, onde o nosso partido marxista-leninista está, com muito sucesso, orientando as massas, sem cessar, para o futuro, para o comunismo.

Nessas condições, as tarefas do partido, da literatura e das artes em particular, no sentido de temperar as massas com a consciência e moral proletária, com o objetivo de construir o socialismo, são gloriosas, mas isso não significa que são simples. Se nós não analisarmos o desenvolvimento que ocorre no nosso país no infalível ângulo do marxismo-leninismo, assim como o partido nos ensina, se nós não analisarmos e interpretarmos esses processos sob o compasso do marxismo-leninismo que o partido coloca em nossas mãos, nós não só faremos erros de julgamento, mas mudanças e progresso serão feitos mais devagar e com uma dificuldade maior.

A Albânia embarcou na estrada da construção do socialismo após um longo processo, depois de muitos esforços, revoluções, lutas contra inimigos externos e internos, um processo que tem suas origens mais profundas na história antiga do nosso povo: lutas econômicas (processos econômicos), lutas políticas (processo de luta de ideias), lutas culturais (processos políticos-ideológicos).

Todos esses processos temperaram o povo albanês, nos armaram para resistir às investidas do inimigo, para combatê-los, para lutar contra a classe feudal, contra a burguesia, o fascismo, e, finalmente, para tomar o poder nas nossas mãos. O pensamento do nosso povo avançou, nossa consciência patriótica, política, nossa moral foi despertada e passou por um temperamento positivo e inovador. Aqui está a chave para as vitórias do nosso partido, aqui está o segredo para seu domínio, está na forma de reconhecer e utilizar esses fenômenos no dinâmico desenvolvimento revolucionário.

Mas seria um erro pensar que após esses processos e essas vitórias, o passado, em especial as velhas concepções, que são expressas nos vícios e preconceitos do nosso povo, foram extintas completamente, e sem perigo de retornar. Seria ingênuo pensar que a velha forma de enxergar o mundo, que os preconceitos na consciência do homem, em sua forma de trabalhar e pensar sua forma de vida, seria extinta automaticamente, paralelamente às transformações econômicas e políticas que avançam rapidamente.

No entanto, é necessário compreender corretamente que os novos homens e mulheres revolucionários não caíram do céu, mas que foram preparados nas novas condições econômicas e políticas. Daí a base material para tal transformação existir, junto a isso, a base ideológica inspiradora do nosso partido também existe. Nós precisamos avançar com essas bases e, a partir disso, precisamos lutar contra as nossas falhas, erros, contra os impedimentos remanescentes de uma sociedade passada não tão distante, que se mostram ativos na consciência das massas em suas lutas diárias. Assim, sob liderança do partido, todas as energias das massas devem ser mobilizadas para essa luta, para construir uma nova vida, por um futuro melhor, mais belo e mais generoso.

Eu quero enfatizar que, em nossa realidade concreta, as massas desafiaram os intelectuais, escritores, poetas, artistas, compositores, pintores e escultores a seguir e a cumprir, com responsabilidade, consciência, espírito de luta e esforço, as tarefas do partido. Esse trabalho valioso e dedicado deve ser inspirado pela ideologia marxista-leninista, porque apenas dessa forma, se baseando nas massas, em suas lutas e esforços, se explodirá um espírito militante revolucionário, se espalharão atividades e obras criativas e, assim, os artistas que cumprirem com essas obras, serão os novos educadores das massas.

O trabalho vem se estendendo, o nível das massas vem crescendo, as demandas populares crescem em quantidade, qualidade e alcance. Portanto, o partido e os artistas, todos nós, estamos encarando um momento de grandes tarefas coletivas e individuais, e nós precisamos fazer um grande esforço para supri-las.

Se nós avançarmos com o povo, viver e lutarmos com eles, se nós soubermos como fazer bom e apropriado uso dos inúmeros meios materiais e morais que o partido e o poder popular têm a sua disposição, a literatura e as artes em nosso país vão continuar a avançar com um vigor sem precedentes. Junto às massas nós vamos achar nossa inspiração, as notas da música, o ritmo da dança, a pureza da língua, o tempo de trabalho, a inspiração para o trabalho criativo, o exemplo para os atos e heroicos e sacrifícios, as virtudes mais elevadas de modéstia, justiça popular etc. As bases do trabalho criativo nas artes e na literatura, assim como qualquer outra coisa, deve ser o povo.

Há a possibilidade de construir uma colossal estação hidrelétrica sobre um grande rio irá fornecer ao povo luz e ainda podemos fazer o rio irrigar os campos e criar prosperidade para o povo do campo, porém, ao mesmo tempo, há a possibilidade de permitir que o rio flua para o seu ciclo natural nas épocas de chuva e os resultados podem ser entre criação pântanos, atraindo mosquitos com doenças transmissoras, ou o rio pode inundar os campos de trigo. O destino do rio depende de nós, do povo.

É claro, o partido seguiu a estrada do desenvolvimento e com isso fizemos imensos saltos de qualidade. Hoje é de conhecimento geral que as estações hidrelétricas, a drenagem de pântanos e a irrigação dos nossos campos, antes secos, não são apenas meras fantasias é de conhecimento geral, também, que todas essas conquistas não são criadas a partir da imaginação e dos sonhos das massas ou do partido. Nosso povo, antes ignorante e hoje letrado, cruzou o país, viveu e trabalhou na lama e em pântanos, com mosquitos transmitindo doenças e os matando; outros trabalhavam para construir barragens e estabelecer uma vida de qualidade e, dessa forma, nasceram entre a nossa população, as lendas sobre construção de pontes e castelos.

Assim, quando o partido orienta nosso povo, e como está orientando agora os escritores e artistas, de que eles precisam se equipar com ampla cultura, que precisam aprender o marxismo-leninismo, e isso não se aprende apenas lendo e estudando esse ou aquele livro, mas trabalhando com a população, vivendo no meio delas, ficar inspirado com o movimento das massas e, a partir daí, criar; esse é o processo mais decisivo para um artista revolucionário. O trabalho deve ser concebido em uma profunda conexão com a realidade. E essa realidade que precisamos alcançar está na base da sociedade, com a classe operária e o campesinato, não está nas quatro paredes de uma sala de estudos, ou na criação de um deus da montanha. A mente se adapta, cria harmonia e beleza em todos os aspectos.

Há alguns escritores que pensam, e pensam errado, que fazendo uma rápida visita a base, sentando-se na mesa de uma cafeteria de encontros intelectuais, com um cigarro em mãos, com o objetivo de ordenar os vários tipos de transeuntes em suas obras, ou achando que ao fazer uma rápida visita a uma fábrica, um local de construção ou cooperativa eles vão ter todo o material necessário e retornando novamente para casa para escrever toda essa experiência de forma superficial e, às vezes, copiando de trás para frente fatos “fotografados” sobre esses transeuntes. Assim, o mundo desses artistas é restringido pela concepção burguesa do papel do escritor e, por essa concepção atrasada, esses escritores acham que são capazes de criar grandes obras. Mas pode ser dito que os engenheiros das centrais hidrelétricas ou aqueles que drenaram os pântanos não trabalharam com suas mentes e que apenas os escritores e artistas têm esse privilégio? Evidentemente que não! Mas, ao contrário do escritor e artista burguês, o engenheiro trabalhou corretamente, trabalhou com o povo das mais diversas formas, o engenheiro estudou o ambiente, a natureza, desenhou e arquitetou diversos planos, verifica-os com os colegas de trabalho e com as massas, aprende com aqueles com mais experiência, encontra dificuldades, luta até que elas sejam superadas. E qual a razão para o escritor e os camaradas artistas não trabalharem assim também? E porque devemos apontar isso tantas vezes?

Felizmente, não precisamos apontar isso para todos, mas sempre há aquele tagarela que devemos orientar, porque esses indivíduos não têm um conceito correto de trabalho com as massas e entre as massas, “mas são os únicos e são os primeiros a fazerem reivindicações sobre si mesmos”.

Muitas pessoas têm inclinação de ser escritor ou poeta, mas nem todos podem se tornar um deles. Para ser um escritor ou poeta não basta apenas ter uma inclinação, para conectar frases imaginárias ou para criar versos rítmicos ou não-rítmicos, não é suficiente apenas ir para uma escola especial, onde se aprende a técnica artística de sua inclinação específica. Não, eu não acho que isso seja suficiente!

Você não pode se tornar um verdadeiro artista ou escritor porque você possui um talento, se você não desenvolver esse talento, se não aprender e aperfeiçoar, se não trabalhar nisso, testá-lo, se não testar o martelo na grande e exigente bigorna do povo e se não estudar com dedicação o básico das ciências econômicas e sociais, sem esforço individual e coletivo não há como atingir este feito. Apenas passando por todos esses passos, os escritores vão fornecer à classe operária e ao campesinato obras valiosas e bem desenvolvidas.

Eu disse que os escritores e artistas devem estudar ciência, mas eles devem perguntar: “Onde vamos achar esses trabalhos científicos para estudar?” — Em nosso país nem tudo está preparado e pronto para estudo. Muitos materiais e brochuras já estão preparados, podem ser velhos e até mesmo com alguns leves erros, outros devem ser estudados e reescritos para preparar uma nova obra. Existem muitos fatos e documentos, não apenas sobre nossa Guerra de Libertação Nacional ou sobre a construção do socialismo, mas também dos tempos da pré-libertação. No entanto, estes devem ser procurados, estudados e explorados por todos como de fato eles eram, ou seja, não estudado pelo método fantasioso ou romântico, mas sim estudados cientificamente. Não se pode dizer “Eu vivi esse momento, tenho vivência, então eu não preciso de documentos”, ou “minha avó me disse tais coisas enquanto estávamos sentados na lareira e eu posso escrever sobre a vida do nosso povo no passado a partir desses fatos e com minha imaginação”.

Essas obras não devem ser consideradas sérias. Uma obra séria é aquela que lida, cientificamente falando, com todos os aspectos do problema particular, que carrega o problema para o fim, que analisa os processos corretamente e de forma realista, a faz completamente compreensível, e traz propriamente, junto com os aspectos positivos e negativos, as circunstâncias que trouxeram o problema inicialmente, o todo dos fatores e atores desse ou daquele processo. Então o trabalho se torna vivificante, educacional, desperta o entusiasmo e abre perspectivas; os heróis também se tornam pessoas vivas e lutam, não com um objeto irracional, mas com a realidade, com as dificuldades da vida.

A gama de temas, gêneros é incrivelmente ampla, extremamente inspiradora para aqueles que querem saber escrever e criar trabalhos valiosos. Os temas são tão numerosos, com uma variedade tão grande quanto nossa vida, como as lutas e os esforços do nosso povo e do nosso partido.

Eu não quero repetir nada do que já foi dito no relatório proferido pelo camarada Ramiz Alia em relação à gama de temas e em nosso objetivo de moldar o Homem Novo Soviético na Nova Albânia, de inspirar com heroísmo da Guerra de Libertação Nacional, com o heroísmo e sacrifício do povo e do partido, com as ideias dos partisans, com suas aspirações e sonhos, com o objetivo de inspirar e educar o povo com uma realidade rica, que exalta a realidade viva da construção do socialismo em nosso país, este período que é o mais brilhante da história do nosso povo.

As mais belas obras foram escritas sobre esses períodos, e uma série interminável de centenas de outros serão escritas, o que perpetuará e eternizará na nossa história o majestoso trabalho do partido e do poder popular, essa é a principal característica e que deve ser colocada aqui.

Os homens da nova Albânia, que, sob a liderança do partido, no decorrer de seu trabalho e luta estão realizando milagres antes inimagináveis e devem experimentar esta realidade de forma intensiva, devem compreendê-la corretamente, para se meterem nas próximas batalhas com entusiasmo e espírito de luta, o que sem dúvida será difícil e que certamente será conquistado pelo nosso povo. Estes dois períodos são uma fonte de inspiração inesgotável para nossos escritores e artistas, e não falarei mais sobre isso. No entanto, quero reafirmar a importância que as épocas passadas do nosso povo têm para a nossa literatura e artes. Penso, especialmente, na época romântica do Renascimento, sem voltar à história antiga.

A história do nosso povo é um todo indivisível. Para fins de estudo, podemos dividi-lo em períodos, épocas, com base no desenvolvimento econômico-social, com base em guerras e revoluções armadas com fuzis e canetas, mas, essencialmente, a história do nosso povo é um todo único e, por isso, deve ser objeto de um processo científico, literário, um estudo artístico de todas as influências artísticas e culturais em todos os campos de estudos históricos, literários e criativos, e todos eles devem, inevitavelmente, se complementar.

A história do nosso povo deve ser objeto de estudo não apenas por historiadores, mas também por economistas, advogados, filósofos, sociólogos, etnógrafos, linguistas, compositores, escritores, pintores, escultores, arquitetos, críticos em vários campos etc. Sem um trabalho completo, detalhado e cuidadoso, desenterrando todos os documentos, todas as lendas, todos os costumes e ao estudá-los e interpretá-los corretamente em seu desenvolvimento materialista dialético, não teremos obras literárias de que precisamos. Esses amplos campos da história do nosso povo não são separados por muros, o que exige que o jurista, um crítico para avaliar esse ou aquele momento histórico, para que esse faça o primeiro trabalho de determinar os acontecimentos daquele tempo para que o escritor e artista possa assumir e se basear naquele momento.

Tomemos um exemplo, suponhamos que eu seja um escritor e tenha na minha cabeça um tema sobre o período pré-libertação da Albânia. Há duas maneiras de escolher, seja para me dedicar à fantasia, simplesmente confiando no que ouvi de minha mãe ou avó sobre os sofrimentos, as lutas e os esforços do nosso povo, ou o de levar essas menções em consideração ao fazer estudos profundos daquele momento.

Onde devo realizar esses estudos? Primeiro, entre o povo; o povo é o maior livro, ainda maior do que a avó, a mãe etc.; depois, nos documentos e arquivos do regime dessa época. Eles existem? Sim, eles existem, mas estão cobertos de poeira. Esses documentos são a vergonha do regime tirânico de Zog, porém são nesses documentos onde se acham as lutas, as queixas, os registros de tribunais, você reflete ali a situação política, econômica e social, as medidas opressivas, a usura, o saque, a brutalidade do regime, etc.

Como um escritor pode falhar ao fazer uso desses documentos? O escritor deve pôr as mãos na massa, caso contrário ele escolherá o caminho mais fácil, mas menos fecundo. Com isso, quero chamar a atenção de nossos escritores de que existe uma lacuna em nossa literatura pré-libertação pelos motivos que todos nós conhecemos. Cabe a nós preencher essa lacuna, cobri-la com obras realistas, que trarão a continuidade da vida, da luta, do trabalho e do pensamento dos albaneses, mesmo nesses períodos sombrios de sua existência. Se não conseguimos fazer isso, vamos cometer um erro e as gerações vindouras, que não viveram naquele período, não conhecerão o passado do nosso país e do povo de forma adequada e não reconhecerão os esforços do nosso povo e do partido para superar uma a uma as nossas antigas dificuldades, como deveriam.

Mas há uma questão importante que sempre devemos ter em mente. Que a ênfase colocada nos valores do passado de nosso povo não deve criar a menor confusão nas mentes das massas que vivem no socialismo. É nosso dever limpar os tesouros de nossa cultura nacional das velhas concepções, dos maus aspectos, e esses tesouros devem servir a ordem socialista que estamos construindo. Devemos destacar claramente as coisas que ajudam e não aquelas que dificultam o desenvolvimento de nossa sociedade hoje. O objetivo do partido é criar novos valores. Nossa revolução exige novos heróis adequados ao tempo, aos esforços e aos objetivos do nosso período. Nem todos os atos e atitudes dos heróis do passado do nosso povo estão em conformidade com os requisitos e ideais da nossa época atual.

Há também outra razão. Realizamos a revolução, agora estamos construindo o socialismo, porém o passado, em várias formas, é um fardo nas nossas costas. Para combater as consequências negativas do passado, temos que explicar à geração mais nova a origem, os motivos que causaram o desenvolvimento dessas coisas. Nossos pais e nossa geração experimentaram essas situações, mas os outros não. No entanto, nessa direção, a página não está totalmente em branco. Algumas novelas valiosas foram escritas sobre os tempos pré-libertação. Os romances da época do socialismo, também, podem falar sobre o passado. Não devemos negligenciar esses períodos e devemos enriquecer nossa literatura e arte e superar o passado.

A literatura e as artes refletem as relações sociais existentes. Isso é verdade para todos os períodos, desde Homero e a sociedade grega até o capitalismo, desde os Iluministas até Maxim Gorki, Mayakovsky e a Grande Revolução de Outubro.

Nossa nova literatura e arte são, em geral, nacionais em forma e socialistas em conteúdo e, por consequência, também seguem o curso de refletir as relações sociais existentes na nossa sociedade. Nosso povo tem produzido diversas obras belíssimas e realistas. Quando lemos, ouvimos ou assistimos, nós estamos vendo e sentindo o pulso da vida e da luta de nosso povo. O talento de nossos escritores e artistas está se desenvolvendo com sucesso e avançando com seus esforços para aprender, estudar e se relacionar com as massas.

Devemos encorajar novos talentos, não os encorajar seria um erro. Precisamos verificar o seu ímpeto, devemos educar os novos talentos de forma correta. Devemos ensinar-lhes a não se tornarem presunçosos em alguns poemas ou romances que escrevem.

Deixe-me dizer-lhe algo que aconteceu alguns anos atrás, em uma obra oriunda de um centro cultural, eu li alguns poemas simples de uma jovem professora. Eu disse a mim mesmo: seus versos não têm uma ideia. Perdi ela de vista, mas alguns meses atrás recebi uma carta dela e, pelo tom, ela parecia-me muito impetuosa e arrogante em relação à editora e aos editores, que não publicavam suas obras por inveja e assim por diante. Bem, pensei, a jovens são jovens, e podemos perdoar sua impetuosidade, e aconselhei os camaradas a se aproximarem dela, para deixar a situação clara e ajudá-la. Mais tarde, recebi outra carta dela, cheia de raiva e arrogância em relação aos nossos órgãos editoriais. Em uma palavra, ela é apenas uma jovem exigente que quer “que construam uma estátua dela”. Tais comportamentos não são bons, mas ela é jovem e nós devemos ser compreensivos; mas eu quero contar um outro caso, desta vez sobre um professor, homem idoso, que combateu junto aos partisans na Guerra de Libertação Nacional e escreveu alguns versos sobre o seu rifle. São alguns dos poemas separados sem grande valor, mas a Editora os publicou em um folheto de 8 ou 10 páginas. Alguém fez uma crítica séria a esses versos. Aparentemente, este camarada considerou a crítica ao seu poético “rifle” um insulto e escreveu ao Comitê Central do Partido que as medidas deveriam ser tomadas contra o crítico, quem, afirmou o idoso, criou essa crítica por ressentimento, porque — escutem — “quando ele era meu aluno, eu lhe dei uma nota ruim por causa de seu comportamento!”

A partir desses e outros exemplos, deve ser entendido que escrever para o povo e publicar para o povo é uma das coisas mais graves e delicadas. Aqueles que escrevem devem ter em mente a ideia de Marx quando disse a Engels: “Nada foi, ou nunca será publicado da minha mão que não esteja perfeito”, mas só existe, infelizmente, apenas um Karl Marx.

No entanto, devemos sentir que, quando nos dedicamos a escrever para as massas, estamos fazendo um ótimo serviço, mas as massas querem que sejamos modestos. Também devemos entender que o partido e o Estado criaram as gráficas e a imprensa, não para publicar qualquer lixo que alguém opte por escrever, independente de quem seja, mesmo que ele possa ser um famoso escritor antigo que tenha produzido coisas boas no passado, mas agora ficar sem ideias e produz obras sem valor para nosso povo e para a sociedade que estamos construindo. Tudo deve ser examinado com olhos críticos pelos críticos, pelas editoras e outras gráficas sem tendências (porque, infelizmente, há casos dessa natureza). O partido e os órgãos do poder do Estado devem estar sempre vigilantes. Eu sou da opinião que não devemos esperar apenas que as obras-primas sejam produzidas e, em seguida, imprimidas; de jeito nenhum, porque logo acabaria com a variedade; mas tampouco a imprensa e a gráfica devem ser usadas por algumas pessoas, e felizmente não há muitas delas, para seu próprio lucro, ou para espalhar confusão ideológica ou obras sem valor. Há elementos tão pequeno-burgueses, que se empolgam e querem se tornar o centro das atenções, que com sua má bagagem ideológica e política, ou de tendência burguesa, acabam distorcendo as ideias do proletariado.

Friedrich Engels criticou severamente Karl Liebknecht por ter permitido que tais elementos penetrassem no partido e na imprensa proletária. Não devemos pensar que nós escapamos de tais elementos tão podres. Esses indivíduos devem tratar dessa doença de forma correta e não apenas “batendo nas costas”. Karl Marx disse: “É claro, o escritor deve ganhar dinheiro para viver e escrever, mas em nenhuma instância ele deve viver e escrever para ganhar dinheiro”(3).

E nós não devemos pensar que nós escapamos desses elementos doentes. Esses, também, nós devemos curar e ensinar onde e como avançar.

A política do partido no campo da propaganda e da literatura tem sido clara para todos. Ele sempre dará um poderoso suporte para as obras de qualidade, as obras corretamente inspiradas, aquelas que educam, mobilizam e abrem perspectivas. Erros são e serão feitos, como acontece com todos os trabalhos. Eles devem ser corrigidos; a crítica deve ser construtiva e não difamadora, e quem é criticado deve responder, não com o orgulho pequeno burguês, que mantém todos os seus pecados para si mesmo, mas com um coração aberto e pronto para aprender mais.

Aqueles que estão confusos em suas obras do ponto de vista ideológico, político e artístico, em conteúdo ou em forma, é dever do partido corrigi-los com paciência. Eu concordo com críticas, que são feitas com espírito correto e com bons objetivos, cerca de duas ou três peças e algumas obras de prosa ou poesia. Eu sei que seus autores admitiram honestamente seus erros e estou certo de que não os repetirão. Estou convencido disso porque são filhos do partido, em quem o partido tem confiança, porque são escritores talentosos, determinados a servir o seu povo seguem o caminho da construção da sociedade socialista e da cultura socialista, e seus erros podem ser considerados momentâneos. O partido olhará à frente deles, o partido vai estender sua mão para nossos amados escritores, como sempre.

Porém, quando acontece de existir pessoas cuja felicidade é produzir coisas erradas, com mau gosto, que ninguém precisa, ele não tem motivos para reclamar sobre o partido; o estado não tem a obrigação publicar nem de os vender. Quem quer que deseje ser podre assim, continue produzindo para a sua própria estante de livros, e não iremos incomodá-lo, desde que esse elemento não se torne socialmente perigoso.

Em relação a literatura e as artes que estão se desenvolvendo em nosso país, como em relação a outras questões, devemos deixar claro que não há duas ou mais moralidades, mas apenas uma, a moral proletária da classe trabalhadora. As ideias expressas nas obras devem estar de acordo com essa moralidade. Um trabalho desprovido dessas ideias e dessa moral pode, ocasionalmente, parecer boa do ponto de vista de sua habilidade artística, mas do ponto de vista ideológico social não pode ter nenhum valor. Portanto, sempre devemos ter em mente que a manutenção na literatura e nas artes faz parte da luta política travada pelo nosso partido marxista-leninista, em completa unidade de pensamento e ação com seu povo.

No relatório e na discussão sobre isso, houveram muitas opiniões corretas sobre música folclórica e folclore. Não quero e nem vou ampliar ainda mais esses problemas e os princípios que nos orientam no nosso trabalho, mas devo sublinhar algumas ideias.

O folclore não deve ser identificado de forma restrita somente com a música folclórica: o folclore não é apenas música folclórica; A música é apenas uma das expressões ou manifestações do folclore. O folclore abrange diversos ramos da vida, o folclore é tão amplo como a vida do povo e emana dele. O folclore é a música, a Lahuta, dois cachimbos, o tambor, as canções folclóricas de Labëria, Myzeqe, Devoll, Dibër, Shkoder, etc. Por outro lado, nem as sátiras, os versos ou as fábulas populares, nem os casamentos, alegrias ou tristezas, nem os trajes multicoloridos com todas as suas variações de corte e estilo, o artesanato popular com seu sabor nacional, podem ser separados do folclore, as coisas que são mais do que as tradições populares, as leis escritas e não escritas, etc. podem ser separados dela. Na minha opinião, se não conseguimos entender o problema dessa maneira, se destruirmos suas bases, mover montanhas e o que possamos para preservar nossa música folclórica, não devemos alcançar isso. Para preservar a nossa música folclórica, a base dela e as partes principais desta base devem ser preservadas. A melhoria da música folclórica deve prosseguir paralelamente à melhoria da base principal para isso.

Para colocá-lo mais concretamente. Sabemos como todo nosso excelente folclore foi desenvolvido e enriquecido. Todos os livros devem começar a ser escritos baseando-se nisso, pois este é um bem nacional imensurável. Criamos um Instituto do Folclore e pensamos que tudo foi feito. O Instituto está trabalhando, mas raramente alguém vai lá para fazer um estudo completo sobre os fatos valiosos que coletamos, para não mencionar as escolas de música e arte, cujos programas, se não me engano, lidam muito pouco com o nosso folclore, mas quase inteiramente com música clássica e moderna.

O que ocorre na maioria dos casos? Os versos banais de alguns poetas, a quem um artigo do Zëri i Popullit deu uma sova bem merecida, são preferidos pelos nossos músicos e esses mesmos músicos compõem suas músicas ao redor desses versos horríveis. Se alguém dissesse a esses músicos para dar uma olhada nos versos populares do Tio Selim de Brataj, eles poderiam sorrir ironicamente e até mesmo ridicularizá-lo, dizendo: “Ele não deve estar falando sério”. Mas foi o próprio povo que colocou os versos do Tio Selim sem diversas músicas que cantamos há séculos, os versos sobre os quais você “se vangloria” em princípio na realidade você despreza. Há inconsistência aqui, podemos dizer ao poeta: “você diz uma coisa e faz outra”. É bom deixar claro que com isso, não quero dizer que não devemos escrever novos versos bonitos e configurá-los para a música.

Vamos tomar a questão dos instrumentos musicais. Por um lado, fala-se sobre a beleza, a variedade de música folclórica, por outro lado nossos centros culturais estão cheios de acordeões, guitarras, mandolinas, onde encontramos clarinetes, tambores, baterias, lahutas, bagpipes, etc., com os quais as pessoas cantaram e que são uma excelente base para desenvolver a nossa música folclórica nos centros culturais e especialmente entre o povo. Eu não sou, no mínimo, contra novos instrumentos e o melhor da música nova. Pelo contrário, mas eu também sou para os instrumentos antigos, para produzir e espalhá-los entre o povo, porque ao longo dos séculos as pessoas cantaram com eles sobre suas alegrias e tristezas, a luta que eles travaram, e eles querem cantar com eles e continuará a fazê-lo enquanto o povo albanês ser povo albanês.

Essa ação incorreta trouxe consequências. Os novos instrumentos espalharam as músicas modernas, às quais não me oponho, mas sim, há um perigo de que eles gradualmente tomem o lugar das músicas folclóricas, e isso seria um grande erro. Eles levaram à propagação de danças cosmopolitas europeias, às quais não me oponho também se forem mantidas em proporção, mas não devemos eliminar as danças folclóricas, porque isso também seria um grande erro. Nós ensinamos ao povo que se formam nas escolas a irem às ruas para os centros culturais, para organizar coros modernos e uma série de atividades culturais, mas não são ensinados a inspirar os trabalhadores a cantar músicas folclóricas, seja quando forem sozinhos, ou quando estão no trabalho, juntar suas cabeças e cantar em pares, como é costume com nosso povo. Na verdade, eles esquecem que nosso povo adora cantar, que nós cantamos porque nossa vida, nossas tradições e costumes exigem isso.

As canções folclóricas e as danças são amplas, fazem união com as piadas, com o nosso humor maravilhoso e com as fantasias. Mas, pouco a pouco, estamos eliminando-os, esquecendo-se das piadas e do humor popular, exibindo nossas roupas nacionais nos museus, como se nossa nacionalidade fosse algo do passado e não do presente e do futuro, e o que é pior, estamos fazendo isso de forma burocrática, por meio de decretos e campanhas (não me refiro nem a calças turcas largas, que não são nacionais e que essas sim devem ser guardadas em museus ou na parte inferior dos cofres de roupas, ou as feias calças de lã usadas por mulheres em alguns distritos).

O partido tem razão em dizer que o dinheiro não deve ser gasto inutilmente em extravagantes roupas tradicionais, que as pessoas deveriam trabalhar com roupas simples. Mas que dano isso nos faz se uma garota deseja se vestir com um lindo traje nacional quando se casa, ou um homem de Dibra quer usar um par de calças tradicionais? Isso não faz mal, pelo contrário, isso nos faz um bem imenso, porque ajuda a preservar nossas tradições. Não nos envergonhamos dos nossos trajes nacionais. Pelo contrário, estamos orgulhosos deles e eles são lindos. “Mas essas roupas vão custar muito dinheiro”, dizem eles. Esse é o seu negócio. Deixe-o calcular seu próprio orçamento. Afinal, por que devemos interferir?

O conselho do partido é que não deve haver grandes despesas inúteis em funerais, casamentos, dotes e outras manifestações da vida cotidiana. Esta instrução é correta, porém em muitos casos é entendida e aplicada erroneamente. Um camarada pode-se perguntar: “Que conexão isso tem com o nosso folclore?” — O folclore tem uma grande relação com tal atividade, porque nosso folclore e nossos costumes foram desenvolvidos e enriquecidos durante esses importantes eventos na vida do povo. Há também alguns maus costumes que estão relacionados com esta orientação do partido, e o partido emitiu instruções que devem ser eliminadas, mas não para proibir os bons costumes das pessoas. Aconselhar alguém a não se envolver em despesas pesadas quando seu filho está para se casar é correto, mas instruir-lhe quantas pessoas convidar, ou aconselhá-lo a não convidar alguns amigos e parentes para cantar, dançar e se divertir é um erro. Para combater a ideia de um dote para uma filha, como foi praticado no passado, está absolutamente certo, e essa luta deve ser continuada até que o dote seja eliminado, mas é errado proibir um pai de garantir que sua filha tenha roupas, uma cama e outros objetos. Mas, neste último caso, a ideia de que todas as garotas devem ter seu dote ou então ninguém se casará com elas, como realmente ocorreu em um incidente feio em Korçë, isso deve ser combatido em todos os casos.

Mas como podemos combater esses males entre os muitos bons costumes de nosso povo? Com decretos? Não! Eles devem ser combatidos através do trabalho educativo, bons exemplos e boas ações que são consideradas e compreendidas nas diversas manifestações da vida. Esses males podem ser combatidos através do próprio folclore. As massas elevam muito o humor em suas músicas, eles fazem muitas piadas afiadas e espirituosas que fazem você rir, mas também se educar. Os shows de variedades podem ter um grande papel nessa em relação a esses comportamentos.

As instituições e as obras que os trabalhadores realizam devem seguir a palavra de ordem: “feito do povo para o povo”, devem expressar a luta das massas para a construção do socialismo, seus melhores sentimentos e aspirações mais puras, devem seguir passo a passo os esforços do povo, inspirá-los corretamente, abra novas perspectivas e esteja na vanguarda.

Se nossas instituições quiserem alcançar esse objetivo, os escritores, os atores e os pintores devem viver no conjunto do povo e devem, também, seguir as orientações do partido, devem conhecer e sentir os problemas das massas, suas alegrias e tristezas, suas vitórias e derrotas. Esta realidade não pode ser escrita nem expressada no palco com base somente em aulas formais e métodos mecânicos. A escola ensina atores, músicos etc. isso é muito bom, mas a vida, com seu trabalho e luta, ensina-lhes outras coisas, muito valiosas e inspiradoras. A peça, o autor, o diretor dão aos atores suas instruções, mas nem o autor nem o melhor diretor podem ensinar-lhes o que a vida do povo, seus sentimentos e experiências os ensinam. A vida e a luta revolucionária cheia do vigor e de entusiasmo tanto pelas massas e pelo partido são os autores e diretores mais talentosos que podem existir.

Por mais talentosos que sejam os artistas e os escritores, eu nunca usaria o termo burguês “estrelas”. Não em comparação com o talento e a habilidade criativa do nosso povo, quando comparamos os dois vemos que eles nunca podem existir tais “estrelas”. Porque se essas “estrelas” perdem contato com a base, com o povo, elas perdem todo o seu brilho.

Os repertórios de nossos teatros de ópera e balé devem ser simples e compreensíveis para as massas. Isso não significa que eles deveriam ser “banais e desprovidos de ideias”.

Em uma apresentação simples, as ideias são expressas de forma mais clara e fluem melhor na nossa cabeça, como as águas claras que fluem nas montanhas.

Uma apresentação complicada, confusa e exagerada, na maioria dos casos, esconde ideias pouco claras e equivocadas.

O proletariado precisa de ideias claras, não obscuras, portanto, o partido apoiará o primeiro e não o último.

Em nossas obras musicais e teatrais, o povo deve ser apresentado em suas lutas e no trabalho, tal como estão atualmente, com seus sentimentos nobres, seu caráter heroico, sua modéstia, suas excelentes qualidades e suas falhas, e essas falhas devem ser apontadas porque devem ser corrigidas, mas esses problemas não devem ser apresentados para fins de denegrir ou desprezar o nosso povo como fazem algumas teorias decadentes e revisionistas, separando as “estrelas” pequeno-burguesas do povo e esses acabam por se gabar e bater no ar contra a massa, utilizando a si mesmo de exemplo, a fim de mostrar o quão “letrados”, “profundos” e “talentosos” são, onde são guiados supostamente por um espírito independente livre e que essa é a única forma de se fazer um trabalho criativo.

Para imaginar, inventar e para planejar, mesmo com a maior habilidade, situações inexistentes, personagens irreais de uma imaginação possivelmente fértil, inspirada, embora não saudável, quer que seja pela leitura excessiva de dramaturgos estrangeiros, sem qualquer tipo de atitude crítica ou método dialético marxista-leninista, ou por tendências filosóficas pseudo-progressistas ou freudianas, são coisas que nosso povo não gosta, que o partido não permitirá e combaterá, pois são prejudiciais à cultura popular.

A visão errônea de alguns autores de que “tudo o que escrevemos deve ser posto nas grandes livrarias e bibliotecas sem atrasos”, deve ser amplamente rejeitada. Os bons certamente serão colocados nas bibliotecas e livrarias, enquanto os podres serão jogados na lata de lixo. O alimento espiritual é muito mais delicado do que o alimento físico; por exemplo, a carne fresca é aquela que nós nos alimentamos, enquanto que a carne podre é jogada fora.

O teatro, o balé, a ópera e os mais variados shows não podem estar ao serviço daqueles que estão doentes ideologicamente, isso seria armá-los com mais confusão, portanto as apresentações devem estar a serviço daquelas cujas mentes estão em ordem e cujo coração bate em unidade com o coração do povo.

A maioria esmagadora dos repertórios deve incluir assuntos albaneses, marxista-leninistas e outros temas populares-revolucionários. As peças estrangeiras devem ser minoria e ser submetidas a uma seleção mais cuidadosa, não por causa de xenofobia da nossa parte, porque sabemos que a xenofobia, sem dúvida, levará ao isolamento, à arrogância e ao fascismo.

De modo algum, devemos separar os albaneses do melhor repertório mundial, porém, por melhor que seja, o contexto pode não ser entendido por todos, exceto por uma seção limitada de estudiosos da cultura internacional. As massas não entendem isso de forma adequada e não o apreciam corretamente, ou então os fazemos sonhar fora de sua realidade objetiva, se durante a performance, uma atitude dialética crítica não é mantida, então não podemos apreciar essa ou aquela obra corretamente.

Alguns podem dizer: “mas devemos tornar nosso povo familiarizado com a realidade estrangeira e as melhores obras criativas estrangeiras também”. Isso é indispensável. Estou de acordo e não rejeito essa ideia. Por isso, eu digo que nosso povo deve sentir o gosto do prato estrangeiro saudável, mas deve, antes, sentir ainda mais os gostos dos muitos pratos saudáveis e deliciosos da cozinha albanesa. Alguns podem dizer: “mas não temos repertórios internacionais”. Que raciocínio! Devemos criá-los! Em primeira instância, eles não serão perfeitos, mas esse é um processo que nós lidamos aos poucos, com trabalho persistente e paciência. Se procedemos a ideia de encenação de balé estrangeiro em nosso país, porque não temos nosso próprio balé nacional e porque por vezes não são tão adequados, nunca iremos resolver nenhuma questão nacional, mas criamos uma situação grave. Tal ideia é incorreta, não é realista, porque nossos compositores produzem óperas nacionais verdadeiramente lindas e dignas de louvor, nossos mestres de balé organizaram trabalhos coreográficos com temas populares sobre os quais nos enche de entusiasmo, nossos solistas cantam canções populares e músicas de guerra que nos enchem de alegria e inspiração e nós temos excelentes autores de romances, peças ou roteiros de filmes que sempre produzem obras de grande valor nacional.

Portanto, para se criar um material de qualidade, que servirá ao povo e ao partido nesta grande batalha pelo socialismo, não devemos escolher o caminho mais fácil, mas o mais árduo, cheio de trabalho e luta.

Já disse que também podemos realizar trabalhos estrangeiros; possivelmente nossos autores, também, serão inspirados por questões e realidades estrangeiras, mas apenas em seus aspectos positivos e revolucionários. Sempre, antes de começar o trabalho em qualquer manifestação artística, eles devem perguntar-se: “Isso que estou produzindo servirá a grande causa do povo?” A fantasia, a imaginação devem funcionar, mas não para criar coisas fantásticas e irreais.

Vou dar dois exemplos de duas diferentes composições:

Algumas semanas atrás meu amigo, o conhecido compositor Kristo Kono, me enviou sua nova composição Prometeu. Estávamos conversando sobre músicas e composições e ele mencionou esse trabalho que ele estava compondo. Eu o desejei sucesso com essa ópera, embora fosse um assunto que muitos compositores conhecidos abordaram. Desde que ele começou a trabalhar nesse projeto, eu, em minha opinião, considerei Prometeu um bom tema, como eu explicarei mais a frente, até fiz algumas sugestões para ele. A composição de Kono pode ser bonita, é isso o que esperamos dessa composição, e então devemos dizer que seus esforços não foram em vão, porque, como sabemos, Ésquilo fez Prometeu, o herói da mitologia, um símbolo do guerreiro que luta pela felicidade de todos. Quem lê Prometeu lembrará as palavras do Herói para Hermes, o servo dos deuses:

“Tenha certeza, eu nunca trocaria meu miserável destino pela servidão, eu prefiro estar preso a correntes nessa rocha do que ser o obediente a Zeus.”(4)

Em outras palavras, eu odeio todos os deuses. Karl Marx nos disse: “Prometeu é nobre e santo mártir no calendário filosófico(5).

No entanto, eu disse a Kristo Kono que, na história do nosso povo, há muita tradição heroica que devem inspirá-lo, portanto, em vez de voltar para a mitologia, ele deve compor algo bonito e puramente albanês, bonito, socialista e inspirador não só para o nosso próprio povo, mas também para pessoas fora das fronteiras da Albânia. Ele me deu sua palavra de que ia compor dessa forma e eu acredito que ele irá mantê-la.

Por outro lado, alguns dias atrás, eu li no artigo que nosso conjunto de balé, na preparação de algumas performances, não havia encontrado nenhum assunto além das Valsas de Johann Strauss, organizado em uma composição especial, supostamente com um tema da nossa moral proletária, que não tem nada a ver com a época dessas valsas malucas. O que são as valsas de Strauss? Uma excitante expressão de uma época, um sintoma da transformação da sociedade existente no final do século 19. A valsa se concilia com o declínio de um regime de aristocrático desenfreado para a burguesia, uma época de busca pelos prazeres, que sempre se manifestam em uma época perturbada — o Danúbio Azul não é azul, mas turvo se analisarmos a situação social e política do tempo em que essa Valsa foi composta. A música é linda. Este é um fato inegável, e não estou contra a colocação desta e outras valsas nas rádios, mas para os nossos produtores, juntamente com o conjunto de balé, os trabalhos mensais que fazemos durante para elaborar uma performance com estas valsas acaba não se tornando benéfico politicamente na educação das massas, portanto, é esforço inútil.

Por que nosso povo precisa deste balé? Que inspiração nos traz? Nenhuma, eu diria.

Nesta ocasião, devemos entender a questão de como devemos utilizar a experiência do mundo estrangeiro nos campos da literatura e da música, das belas artes, do teatro e da cinematografia em nosso país.

Devemos aproveitar a experiência mundial e apropriar-se desses estudos? Evidente que sim, não seria marxista se disséssemos não, mas também seria antimarxista se nos tornássemos escravos de tudo que os estrangeiros produziram no passado e produzem agora sem uma análise crítica minuciosa e uma classificação adequada.

Toda obra artística, de todos os gêneros e de todos os períodos, tem seus aspectos positivos e negativos. Devemos escolher o que é bom. Cada um desses aspectos positivos varia desde a técnica original, ideias, expressão artística, som, etc. Mas devemos adotá-los, com paixão e sentimentos, sem relacionarmos com a época, a situação social, ideias por trás de tal apresentação, gostos e inclinações dos apresentadores? Isso, é claro, seria um grande absurdo e uma atitude muito perigosa.

Todo trabalho criativo, em qualquer época, tem sido tendencialmente inspirado pelas ideias do tempo, pela situação social dessa ou daquela época. Muitas obras resistiram ao passar do tempo, previram o futuro, prepararam-no, mas não podem ser consideradas perfeitas na totalidade e modelos para cada período, como se fossem obras para todas as épocas. Há pessoas apaixonadas por certos ídolos e, com o juízo antimarxista, procuram introduzir esses ídolos em todos os lugares, adotá-los por todos os períodos, começam a copiá-los em todos os lugares e começam a vesti-los como símbolos do socialismo ou de uma sociedade futura.

Escritores, poetas, compositores, pintores e escultores devem ler. Devem estudar e aprender com os outros. Nunca foi dito que os artistas não deveriam ser apaixonadamente apaixonados pelas ideias de outros artistas, mas devem aprender e estudar os estrangeiros sempre tomado com um espírito crítico e com um objetivo definido, e o que é primordial é o sentimento de servir o seu próprio povo, os estudos devem servir para criar uma nova literatura novas artes que vivam com seu povo, com suas lutas. Objetivos, aspirações e costumes, a fim de criar o que é adequado e compreensível para o seu povo, adequado ao tempo e à luta que estão travando. Desta forma, eles escreverão trabalhos realmente originais.

Assim, o estudo das obras estrangeiras deve servir a aquisição do conhecimento da vida do povo albanês e do desenvolvimento da luta desses povos. Isso não significa que a luta política e o desenvolvimento do seu próprio povo são idênticos aos deles, apesar de haver algumas semelhanças ou conexões uma com as outras. Esta lição, essa experiência das obras estrangeiras devem ajudá-lo a abrir horizontes para estudar melhor a história de seu próprio povo, mas a história do seu povo tem suas próprias peculiaridades, as ideias da sua nação têm seu desenvolvimento particular em situações sociais particulares. Isso nos interessa, e também interessou o escritor estrangeiro, o mestre Balzac, quando escreveu a sua excelente obra The Human Comedy.

Devemos aprender sua arte de escrever, seu estilo, seu método de trabalho, ritmos e medidores, mas devemos aprender a não se tornarem escravos, porque nosso povo tem seu próprio estilo e ritmos, estamos criando nosso estilo socialista que é nossa base, sobre a qual devemos trabalhar, construir e criar nossa própria originalidade, pois somente assim nossa gente nos entenderá e as inspiraremos.

Eu acho que não devemos ultrapassar esses limites objetivos, porque, não obstante o fato de que esse ou aquele artista possa ser muito experiente e sábio, a sabedoria e a aprendizagem de nada valem sem que nós não saibamos como canalizá-los no interesse do povo, se o nosso propósito seja o de enriquecer o maravilhoso baú de tesouros de criatividade do povo; agora, se nosso propósito não é esse, então os conhecimentos serão apenas um colar pendurado em seu pescoço para se exibir aos outros, um colar sem valor nenhum para as massas.

Algumas das minhas conclusões neste discurso de encerramento podem parecer bastante contraditórias. Isso não é intencional, em primeiro lugar, porque as conclusões do relatório estão completas e as contribuições para a discussão foram complementadas e, em segundo lugar, porque quero enfatizar que, em todas as nossas atividades, não devemos esquecer a situação atual do cerco imperialista-revisionista da nossa pátria e que este cerco é um ferro e não apenas um discurso figurado. A ideologia burguesa e revisionista está nos atacando de todos os lados. Nossos inimigos, os inimigos do marxismo-leninismo, gostariam que nos ocupássemos de ponderar detalhes irrelevantes e entrar em discussões acadêmicas enquanto deixamos o lobo caçar das ovelhas. Devemos cercar o lobo e matá-lo. Deixem os podres imperialistas e revisionistas nos chamar de selvagens, porque tocamos flautas, porque amamos a batida do tambor e o clarinete cantam livremente nos nossos palcos, ou porque damos o lugar de honra às danças em nossos trajes nacionais. Para nós, a única importância é defender a pátria, o povo, o marxismo-leninismo e o socialismo. E estes são defendidos quando se defende toda a arte nacional em forma e socialista em conteúdo, quando a linha do partido é sempre levada em consideração e aplicada corretamente.

Para os artistas do povo, os escritores, compositores e poetas, os mais dignos filhos e filhas do partido e do povo, gritemos como o comitê central chamou no tempo da guerra: Mantenha bem alta a bandeira do partido e sempre marche para o combate e para as vitórias com o fogo do partido e do povo em seus corações!


Notas da edição:

(1) Essa plenária debateu a situação da literatura e das artes na República Popular Socialista da Albânia (RPSA) e deu orientações para o aprofundamento de seu desenvolvimento. (retornar ao texto)

(2) Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Completas, Volume 1, página 381 – Segunda Edição Russa. (retornar ao texto)

(3) Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Completas, Volume 1, página 76 – Segunda Edição Russa. (retornar ao texto)

(4) Ésquilo: Tragédias — Prometeu Acorrentado, página 71 — Edição Albanesa; 1950, Tirana. (retornar ao texto)

(5) Karl Marx e Friedrich Engels: Sobre a Religião, página 12 – Edição Albanesa; 1970, Tirana. (retornar ao texto)

 

Jornal A Verdade
Inclusão: 21/08/2022