A Educação Política dos Quadros e das Massas

Discurso pronunciado na reunião do Birô Político do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA)

Enver Hoxha

13 de Janeiro de 1968


Original: Edukimi Ideologjik i Kuadrove dhe i Masave – Fjala në mbledhjen e Byrosë Politike të KQ të PPSH.
Fonte: Enver Hoxha: Obras Completas, volume 37 (Novembro de 1967 – Abril de 1968); 1982, págs. 230-263; Tirana, Casa de Publicações “8 Nëntori”.
Tradução: Manuel Quirós – Partido Comunista de Portugal (Reconstruído).
Recuperação e edição: Thales Caramante(*)
HTML: Lucas Schweppenstette.

A origem do conservadorismo na política de promoção dos novos quadros

A atenção que é preciso prestar na educação dos novos quadros (e quando falo dos novos quadros não digo respeito somente aos dirigentes de todos os níveis e de todos os setores, mas também ao conjunto das massas, aquelas que notamos com potencial entre as pessoas com talentos e que são promovidas aos postos de responsabilidade) é uma das preocupações constantes, um cuidado permanente do partido. Essa atenção deve impor-se na educação moral, política, ideológica e técnica dos quadros. É na base desta educação sólida que se revelam capacidades e são promovidos quadros a postos de responsabilidade, segundo os critérios justos que o partido adota, entre eles: a confiança política, a formação político-ideológica e técnico-profissional, a origem e a conduta moral proletárias etc.

A formação dos quadros não deve ser separada da preparação e da educação das massas, o contrário disso seria a degeneração do nosso conceito filosófico de primazia das massas sobre os indivíduos; esses últimos nada podem sem o desenvolvimento das massas. Iniciados nas justas categorias do partido, eles põem à serviço das massas, no interesse comum, o seu saber, a sua capacidade e o seu talento. Uma concepção clara do importante problema dos quadros, da sua origem, da sua educação e sua promoção nos permitem combater e rejeitar numerosos conceitos estranhos ao marxismo-leninismo, conceitos burgueses, capitalistas, idealistas e, por consequência, contrários ao socialismo.

Nosso partido está muito longe de ter eliminado, para não dizer desenraizado, esses conceitos estranhos à nossa doutrina e a construção do homem novo, de tipo comunista. Para chegar lá será preciso que apareçam, sucessivamente, gerações de comunistas que o partido deverá temperar de forma intensiva e revolucionária.

O trabalho do partido para preparar os quadros deve ter uma concepção filosófica marxista. Assim como em todos os campos da vida, não deve estender-se só a uma elite, mas sim às massas, a todo o povo(1). A têmpera dos comunistas, em particular, também não devem ser a de uma elite para si(2), mas um meio, uma arma, uma educação da vanguarda da classe operária que se coloca na direção a serviço da revolução, pela têmpera das massas e pela sua educação marxista-leninista. Assim, concebida e aplicada, essa questão evita que os quadros se afastem das massas e assegura que ela lute nessa direção; estabelece, para o indivíduo, justas funções em relação à sociedade, inicia os homens e mulheres, em conjunto, na compreensão do significado do socialismo e do comunismo, na teoria e na prática, do patrimônio individual e do patrimônio social socialista; no papel das massas que fazem a história; ela explica como a nossa filosofia marxista concebe o papel das massas e o papel do indivíduo na sociedade.

Isso nos permite a peneirar e aniquilar os conceitos filosóficos idealistas e burgueses que se tenham se impregnado sorrateiramente na consciência das massas. Digo peneirar porque todas as coisas na concepção de mundo das massas não são e não poderão ser burguesas ou idealistas. A superestrutura dos regimes passados, com a sua filosofia, o seu modo de vida, as suas leis, a sua cultura e a opressão deixaram profundos vestígios entre o povo; é por isto que o partido julgou ser seu dever separar o verdadeiro do falso e descartar este último.

O partido, através de seu trabalho e sua linha política, obteve durante décadas inteiras grandes sucessos no que diz respeito ao despertar das massas, em relação a sua educação política, escolar e técnica, à sua revolucionarização. Sob a direção do nosso partido, as massas fizeram a revolução e passaram a construir o socialismo com sucesso. Durante este desenvolvimento, as massas se colocaram na tarefa de cumprir uma série de processos revolucionários, tantos visíveis como invisíveis. Estes últimos processos, sob a influência direta e como consequência dos primeiros, seguiram todos pelo caminho da dialética marxista das transformações quantitativas e qualitativas, sempre em movimento, em evolução e progresso.

No decurso desses processos, o povo lutou conta o velho e abriu o caminho para o novo, foi capaz de neutralizar tudo que era retrógrado, mas não totalmente. O processo de dissolução do velho, nomeadamente no campo ideológico, é longo, uma dura luta contra as concepções do velho mundo, contra os conceitos retrógrados e suas sobrevivências, contra as possibilidades de reaparecimento destes conceitos nas consciências dos indivíduos e contra o perigo do retorno massivo das concepções idealistas.

É por isso que o desenvolvimento das massas, do que é revolucionário, entra em conflito com obstáculos e dificuldades de toda ordem, tanto objetivos quanto subjetivos, seja com a imaturidade política dos indivíduos e de alguns grupos, com a ignorância, o andar para trás, a resistência obstinada das concepções caducas, prejudiciais e perigosas que tinham se transformado em um modo de vida com muitos hábitos, e cujos perigos, anacronismos, contradições e antagonismos com o progresso da nova sociedade não chegavam para ser abarcados por todo o povo.

Não quero insistir aqui também sobre as dificuldades materiais contra as quais nos chocamos, durante todo o processo de desenvolvimento do nosso país, mas em geral, tanto nos primeiros quanto nos segundos, o partido obteve grandes sucessos, superou numerosas dificuldades, e por meio da revolução, através de uma profunda revolução política-ideológica, econômica e material, lançou sólidos alicerces para a edificação do socialismo, da qual conduzimos hoje com sucesso.

A revolução socialista é inevitável, mas deve ser aprofundada em cada campo, nomeadamente nos campos políticos e ideológicos. Essa deve ser uma preocupação constante. Inevitavelmente, é o que exigem as vitórias alcançadas e a construção de novas vitórias. A isso, nos ensina o partido, devemos operar seguindo a linha de massas. Tiremos algumas conclusões dessa brilhante linha revolucionária de massas que o partido aplica.

Se nós tivermos em conta o desenvolvimento revolucionário das massas na edificação do socialismo, na têmpera da sua consciência socialista, aí veremos também os saltos quantitativos e qualitativos. O partido apoiou-se continuamente nas massas, as mobilizou na luta e no trabalho, mas essa mobilização não foi sempre uniforme. Neste crescente entusiasmo revolucionário, um papel decisivo foi desempenhado pela justa e consequente linha do partido em todos os campos da vida política, social, cultural e econômica. O partido sempre aplicou, na teoria e na prática, a vital linha de massas, assim como o papel decisivo das massas na transformação da sociedade e dos indivíduos que a constituem. É a este importante papel das massas, guiadas pela linha do partido, que são as fundações das grandiosas transformações, das assentes bases sólidas, das ricas perspectivas que conquistamos. Se a linha do partido não tivesse se constituído dessa forma, se não fosse compreendida e aplicada, a edificação do socialismo estaria em perigo, e se não continuarmos a compreendê-la dessa forma, se a nossa linha não for revolucionarizada ulteriormente, a edificação completa do socialismo corre o risco de se encontrar em grande perigo.

Viremos rapidamente nossos olhos para o desenvolvimento de nossa indústria. Quantas dificuldades encontramos e superamos, dificuldades tanto materiais e profissionais, quanto políticas. Não devemos esquecer que as velhas concepções sobre o trabalho, que existiram e que era preciso também superar, as dificuldades que encontramos na criação da classe operária e no trabalho socialmente coletivo, as dificuldades devidas ao espírito conservador e artesanal, à brandura e a negligência, assim como a falta de disciplina e de consciência socialista do trabalho.

As medidas adotadas foram um todo complexo que contribuiu para ultrapassar essas dificuldades; mas não devemos nunca esquecer que, nessa viragem, foi desempenhado um papel decisivo pelas massas que, compreendendo gradualmente a linha do partido e a sua perspectiva, se educaram no trabalho e no combate, adquiriram uma grande consciência e exaltaram a confiança na sua própria capacidade, foram educadas e encorajadas pelo seu exemplo e pelas suas realizações. As escolas, os cursos etc., realizaram cumpriram seu papel, contribuíram para todas essas coisas que descrevi, foram um dos meios desse grande salto para o futuro que se tornou impossível ignorar. Ninguém quer, no momento atual, ficar sem trabalho, todos querem trabalhar, aprender novas profissões, ir para onde seja necessário ir diante das necessidades. Assim, dessa forma, todo obstáculo, todo prejuízo foram quebrados nesse sentido.

E vemos no presente aquilo com que podemos contar: o entusiasmo revolucionário das massas sob a direção do partido, este que se transformou em uma alavanca formidável, em um brilhante educador, em um grande regulador que estimula a respiração da nossa sociedade socialista.

Qualquer tarefa, o reforço ulterior da nossa indústria, o aperfeiçoamento e a qualificação massiva dos quadros empregados nesse ou naquele setor, irá para frente, para o futuro, com um entusiasmo extraordinário.

Falemos da agricultura ou até mesmo de um processo ainda mais complicado, quantos não foram os resultados grandiosos obtidos! Superamos a propriedade individual, dividida, reforma agrária, as concepções individualistas da propriedade privada, os conceitos patriarcais da família, os processos atrasados de trabalho, o livre mercado e a especulação; passamos a um combate glorioso a tudo isso, mesmo que complicado e difícil, para a coletivização do campo. Uma completa epopeia da linha vitoriosa do partido. Daí atingimos a coletivização completa, a melhoria das planícies, o arroteamento das novas terras, um sistema de irrigação sem precedentes, a coletivização do gado; a belíssima concepção socialista da propriedade comum, da solidariedade e da cooperação, da ajuda organizada à escala nacional às poderosas cooperativas agrícolas, às cooperativas nas zonas montanhosas; à concepção científica e avançada dos meios e dos métodos de trabalho, um modo de vida totalmente novo, a uma nova concepção de costumes, de luta contra os preconceitos, a religião e tradições atrasadas.

Só o nosso partido, só as amplas massas orientadas na linha do partido poderiam realizar essas profundas transformações revolucionárias. É o que precisamente sustento e acho que temos que pôr isso mais em evidência. Nós sabemos que uma luta incessante se desenvolve e continuará a se desenvolver na consciência das pessoas contra as sobrevivências da antiga ideologia burguesa-capitalista. Remanescentes similares às que são combatidas, que reaparecem e são novamente combatidas, existem mais ou menos em um amplo número de operários, camponeses e intelectuais, velhos e novos, homens e mulheres, comunistas ou membros da Frente Democrática. Porém, sem uma linha justa, sem uma enorme bigorna, como a que o partido coloca em marcha, não se poderia chegar a esses resultados. A linha de massas, as massas em revolução, o partido com sua linha marxista-leninista, esses são os verdadeiros educadores dos indivíduos que devem fundir-se às massas, prepara-las junto com elas na luta, libertar sua consciência através da luta.

O heroísmo revolucionário massivo é o maior exemplo educador para o nosso povo. O heroísmo individual tem também um valor educativo, mas somente quando se cumpre no quadro do interesse coletivo, quando ele é parte constituinte e integrante da obra coletiva.

É por isso que a subestimação da linha de massas e do papel decisivo delas, do seu elã, do entusiasmo, do forte heroísmo revolucionário é uma atitude perigosa. Essa subestimação nos leva a pontos de vista individualistas, junto de todos os seus males morais, políticos e ideológicos, antissocialistas e antimarxistas. O individuo tem o seu papel a desempenhar em nossa sociedade, pois são os indivíduos que constituem as massas. O marxismo-leninismo não tem por objetivo subestimar o papel do individuo na sociedade, mas de o iniciar na ideologia proletária, nas justas concepções sociais e filosóficas, nas concepções socialistas da vida, do trabalho, da propriedade, da família, da produção, da política, das relações entre as pessoas, entre os povos, entre Estados. Trata-se aqui de uma questão de luta, de concepções de mundo diametralmente opostas. O partido visa libertar o ser humano; a burguesia visa mantê-lo numa escravidão secular.

A educação ideológica e política dos seres humanos tem uma grande importância. É por isso que o partido presta grande atenção a essa questão e empregou diferentes formas para atingir resultados evidentes e bem fundamentados.

Os remanescentes do passado que ficam na consciência dos homens: eis o que devemos substituir e combater sem cessar, sem a menor hesitação, porém com muita paciência. Podemos eliminar esses remanescentes, mas elas podem reaparecer sob formas e em circunstâncias novas. É uma tarefa, uma luta escalonada de décadas, mas esforços para que elas sejam totalmente eliminadas cada ano e em cada década, não farão senão consolidar a obra do partido. Tal é o nosso caminho que assegura a passagem ao comunismo. Porém, para chegarmos lá com segurança, é preciso entender corretamente como conduzir uma luta incessante com olhar para a realidade de hoje como ela é, com tudo que ela se comporta bem ou mal, entre seus sucessos e derrotas; é preciso consolidar os sucessos e reparar, ou ao menos prevenir, as derrotas.

Os remanescentes da ideologia burguesa e pequeno-burguesa se manifestam de forma individual, em diferentes gêneros, na intensidade e nos prejuízos que causam. Porem manifestar-se de diferentes maneiras, ter intensidade e formas variadas em cada caso. Porém, todas elas têm uma origem comum: a filosofia idealista, burguesa e capitalista. Entretanto, a revolução, o trabalho e a luta do partido buscam combate-las. Se manifestam por localidades, tal qual são combatidas localmente; algumas vezes resistem, reaparecem e prejudicam a sociedade e os indivíduos, outras vezes ainda ficam latentes, porém renascem em circunstâncias diversas. Numerosas formas desses remanescentes se tornam hábitos para certas camadas e entravam a sua marcha ao progresso. É por isso que o partido conduz, frontalmente e de forma minuciosa, essa grande educação das massas.

Consideramos alguns grandes exemplos, como a consolidação do cooperativismo do ponto de vista ideológico, para não abordarmos, agora, o seu aspecto econômico. Demos um importante passo à frente, mas seria um grande erro, uma enorme miopia, se pensássemos que o nosso camponês se libertou totalmente do maior número das suas concepções antigas e retrogradas. Que luta nos fica ainda para manter, para acabar a sua educação! Neste sentido, um grande programa de trabalho e de luta nos encontra de frente.

Analisemos a questão da religião. Demos um grande passo qualitativo na luta contra ela. Porém, fizemos desaparecer a fé na religião, seus preconceitos e costumes? Não, ainda estamos muito longe disso; não devemos ter ilusões, não podemos de maneira nenhuma nadar no prazer e adormecermos. A religião atiça incêndios nefastos.

Analisemos a questão da emancipação da mulher. Demos um grande passo qualitativo nesse sentido, mas a luta do partido está longe de ter atingido seu objetivo. Chegou a mim uma carta anônima de Shkodër, cujo autor, afirmando ser um patriota, mesmo na verdade sendo um pseudopatriota, me acusou de “não agir bem ao elevar o papel da mulher, pois isso rebaixa a honra do marido”. Camaradas, são só cem ou mil pessoas que pensam como ele? Não, são certamente mais numerosos os que falam, os que ficam só calados e que ainda agem negativamente ou resistem sob diversas formas.

Podemos dizer a mesma coisa quando falamos do problema da nova família em geral, quanto a questão da defesa da propriedade comum socialista etc.

Consideremos alguns problemas levantados no relatório do comitê do partido do distrito de Shkodër. Estou de acordo com os camaradas do partido em Shkodër, eles estão no caminho certo, agem viva e corretamente, devem ser saudados pela maneira como analisam as coisas, pela ajuda que levam aos povos das montanhas, enviando para lá quadros e técnicos.

Os remanescentes da pequena-burguesia na consciência das pessoas, como já falei anteriormente, podem ser combatidas através de uma luta consequente da qual só o partido pode conduzir através da educação ideológica e política e do trabalho prático revolucionário. A educação organizada, do mesmo modo quer a educação das massas, a educação individual ou a educação estruturada em grupos, produzem todas um efeito positivo sobre a têmpera das pessoas, já temos sinais de bons resultados. Muitos desses resultados nos parecem naturais, disseram que surgia deles próprios, mas as coisas não são assim.

Falemos, por exemplo, da questão da introdução dos operários em diferentes profissões, ou a dos camponeses na agrotécnica, ou ainda a de todos os trabalhadores em conjunto. Muitas das barreiras foram superadas nesses domínios; antigos conceitos pequeno-burgueses e retrógrados, como o conservadorismo, o egoísmo profissional, os conceitos atrasados sobre o trabalho e as normas de trabalho, sobre ganhos etc., foram rejeitos formalmente, porém alguns desses preconceitos ainda subsistem, mais ou menos, nos indivíduos, o que acabam por contaminar, também, os pequenos grupos e as massas. Existe, então, um duplo perigo; é por isso que a educação deve se processar também sob o plano individual e no plano de massas.

Podemos relembrar que o partido, em seu incansável trabalho, obteve grandes resultados nesses campos, pois os antigos preconceitos em relação à introdução do povo em novas profissões, nos campos do saber etc., foram, em geral, derrotados. Isso não quer dizer que não surjam numerosas dificuldades no nosso caminho, dificuldades objetivas e subjetivas, mas é verdade que estamos bem longe da época em que mil obstáculos entravam no caminho da solução daqueles problemas. Esse é um dos aspectos do problema, sendo o outro a promoção de novos quadros aos postos de responsabilidade. Quando a questão é, ao notar as grandes massas de pessoas que estão progredindo, que estão estudando ou se fazendo notar, fazer a sua promoção para dirigentes. Com isso, nos defrontamos com numerosos obstáculos. Obstáculos que são causados, em grande parte, aos remanescentes e sobrevivências de uma consciência pequeno-burguesa estranhas a nossa ideologia marxista-leninista, e o que é mais perigoso, é que eles se manifestam também nos quadros do partido e do Estado, que acumulam uma grande experiência, que são temperados ou melhor preparados política e ideologicamente do que as largas massas trabalhadoras.

A necessidade de educar os novos quadros, de os promover aos postos de responsabilidade, segundo os seus méritos, o problema da rotatividade(3) dos quadros, e muitos outros problemas que com eles se relacionam, são, em geral, bem compreendidos pelos quadros do partido e do Estado e resolvidos com acerto. Porém, numerosos casos provam que esses princípios não são compreendidos e aplicados de maneira acertada em todos os lados e por todos os camaradas. Notam-se evidentes violações da política do partido em relação a promoção dos novos quadros, que na maior parte dos casos, são reparadas imediatamente quando são assinaladas, o que as tornam em uma lição e um método de reeducação. Esses casos flagrantes são melhor observados pelo partido e anulam-se os motivos que conduziram ao erro, quer dizer, faltam ressaltar e analisar os remanescentes antimarxistas na consciência e no trabalho do individuo que errou, seja o egoísmo, a vaidade, a arrogância, a vingança, o favoritismo, a vantagem individual, a glória pessoal etc.

Isso é algo positivo e, se aprofundarmos esse aspecto, será ainda melhor. Esse trabalho é, de fato, frutuoso na aplicação correta da linha do partido, no controle rigoroso da sua aplicação. Serve para corrigir os indivíduos e contribui para a educação das massas.

Entretanto, os erros cometidos na política dos quadros não são sempre flagrantes ou isolados. Muitas vezes eles são enredados ou obscurecidos, voluntaria ou involuntariamente, por diversas justificativas objetivas ou subjetivas, fundadas ou infundadas. Tais erros não-flagrantes podem ser casos particulares, mas podem se transformar em uma linha incorreta, o que é mais perigoso, da qual também é velada e justificada por uma enormidade de dados pseudo-objetivos e subjetivos.

No informe do comitê do partido do distrito de Shkodër do qual analisamos (do qual se faz notar problemas que não dizem respeito apenas a Shkodër) vimos que, na política dos quadros, existem conceitos conservadores, patriarcais, familiares e de outras manifestações do mesmo gênero. São, de certo, conceitos condenáveis e perniciosos. O partido aplica-se a combate-los, porém, na minha opinião, não se luta suficientemente para exorcizar o partido de sua nocividade, pois que, de indivíduo a indivíduo, podem acabar se tornando em concepções formais e correntes estranhas a nossa política marxista-leninista.

O indivíduo que não estiver bem preparado política e ideologicamente contribui para este estado de coisas, exerce a sua influência entre os remanescentes da consciência pequeno-burguesa que subsistem em si e que as justifica através de uma pretensa preocupação e atenção “positiva e justa”, da qual o partido deve ter na educação e promoção dos quadros no seu conjunto. Um tal indivíduo encobre e contamina a linha do partido com todos os males que acima mencionei, como o egoísmo, a superestimação das suas capacidades pessoais, o sentimento de manter o posto que ocupa, o das vantagens econômicas e do prestígio pessoal etc.

Reconhecendo o caráter perigoso desses males, corrigindo-os apenas nos indivíduos, acabamos no fundo não dirigindo uma luta ideológica contra essas manifestações, para que elas não degenerem em tendências e correntes.

O que é isso senão ser conservador na política de promoção dos novos quadros? É não caminhar com o ritmo impetuoso da nossa revolução, não compreender a evolução, ter falta de espírito de continuidade, não seguir a corrente e demorar as coisas travando essa mesma evolução. Significa, na verdade, não representar claramente os princípios do partido, por reservas, não acreditar no desenvolvimento criador e subestimar o papel das massas, as suas capacidades políticas e organizativas, superestimar o que já se fez e se contentar com isso, temer tudo o que é novo, inovador, prometedor, acatar que não se cometem erros e preferir travar o desenvolvimento, crendo que assim serão cometidos menos. Isso atrai a desconfiança dos novos quadros, uma afeição e uma amizade mórbidas pelos antigos camaradas e amigos que se distinguiram, por assim dizer, no trabalho, que têm experiência, que são insubstituíveis devido aos seus méritos etc. Certamente que o indivíduo procura outros companheiros que partilhem os seus pontos de vista, que pensem mais ou menos como ele, e então temos de nos contentar, não com um só, mas com vários indivíduos, temos que nos contentar com uma tendência, com uma linha que, se não for combatida pelo partido, se relaciona com “justificações” supostamente corretas de “preocupação, da atuação, da falta de experiência, do que deve ser provado”, que são justificáveis, mas que não são consideradas por essas pessoas sob uma verdadeira luz, como nos ensina o partido.

O que é a familiaridade no trabalho, na política de quadros e em cada setor do partido? “familiaridade” vem da palavra família. O partido não reprova a família, pelo contrário, a defende e a reforça ao faze-la superar velhas concepções burguesas e pequeno-burguesas que a orientavam e a dirigiam. Essas velhas concepções antimarxistas estavam, e em alguns casos ainda estão, mais ou menos fixas no espírito dos membros da família, existem dessa forma, na qualidade de costumes e leis dessa célula da sociedade.

Quais são os remanescentes que se manifestam nesses dois planos? Entre elas há “o espírito da família, do descendente, da linhagem”, “a defesa do interesse da família como uma entidade que ultrapassa a sociedade e a maior parte das vezes em detrimento dessa última”, a defesa e o apoio, com razão ou sem ela, de cada membro da família“,”no seio da família, não hão nada secreto, sendo todas as coisas julgadas e apreciadas na base dessa entidade e no seu interesse; as leis da família prevalecem sobre as da sociedade". Em algumas famílias persistem o regime do patriarcado, ou seja, o poder do pai, do homem. Imaginemos, pois, que ervas daninhas e venenosas venham a germinar e crescer em um terreno infectado de tais conceitos antimarxistas e antissocialistas. O egoísmo, esse sentimento repulsivo que liga cada coisa a si próprio, ao indivíduo, se torna um defeito compacto, a propriedade privada envolve um sentido cruel, o interesse pessoal preside a todas as coisas. Se este problema for superficial e resumidamente tratado, imaginemos que prejuízo será causado ao trabalho do partido e do estado desde que o tolerem na política.

Nós falamos contra a familiaridade no trabalho, mas não vemos como deve ser o perigo que este mal constitui para o partido e para o socialismo, pois se continua daí passam a tratar o partido com “amiguismo”(4) que se enganam visto que, veja, “somos amigos, lutamos e trabalhamos juntos”. Esse espírito mórbido passa do estágio do “camarada” para o da instituição, da fábrica, do comitê, e aí vemos aparecer o espírito de capelinha que recordamos, porém, mais frequentemente, rimos dessas situações e dizemos: “não há mal nenhum”, quando na verdade isso comporta graves perigos. Qualquer coisa que não aguenta a prova do infalível termômetro marxista-leninista é mórbido, mostra que se sofre de febre e que outras doenças mais graves podem atingir o homem, o partido, toda a sociedade e o socialismo.

Talvez eu tenha insistido um pouco em excesso nessas questões, ainda assim vim dar numerosas opiniões sobre coisas que o partido tem constantemente levantado e resolvido com sucesso, porém escolhi essa ocasião para reforçar, ainda mais, o problema de um trabalho político e ideológico mais vasto nesse campo.

É necessário ir até a raiz dos problemas, analisa-los claramente e de formas a serem compreendidos pelos quadros e pelas massas. Odiamos fórmulas e citações disparatadas. Penso que cada coisa deve ser utilizada de forma inteligente, simples e popular, com objetivo de tirar alguma lição delas, com um profundo conteúdo de princípio, ideológico e político, que possa servir aos quadros e às massas no trabalho, na vida.

Penso que a introdução à moral comunista deve consistir em armar bem o povo com os ensinamentos do marxismo-leninismo, em inculcar-lhes no espírito, ao longo de toda a vida, desde a infância até a velhice, os conceitos e as concepções da sociedade socialista e comunista. O partido tem cumprido muitas tarefas nesse sentido, e não deixará de continuar cumprindo essas tarefas, mas nos falta fazer ainda mais. Passamos de uma etapa a outra, de um estágio a outro, ainda assim as necessidades multiplicam-se, as exigências também, as pessoas progridem, desenvolvem-se, novas condições são criadas; é por isso que a conjuntura e as condições que estamos requerem novos métodos de trabalho, de luta e de educação. Só o partido está à altura de fazer uma análise justa, de definir as orientações apropriadas, de fazer generalizações, de criar as formas e os métodos mais apropriados e mais eficazes. Todas essas coisas, todo o trabalho inteligente, dinâmico e de princípio do partido confirmará a sua linha, fortificará os quadros e as massas e, assim, alcançaremos vitórias que não poderíamos prever anteriormente.

O nosso partido tem que cumprir uma grande missão e uma tarefa complicada de elevar bem alto e firme a bandeira do marxismo-leninismo, o que significa dar o exemplo, no plano interno, edificando o socialismo e o comunismo, e ser, no plano internacional, uma chama da aplicação correta da ideologia marxista-leninista e do internacionalismo proletário, sobretudo nesse período em que o revisionismo moderno, com os renegados soviéticos à frente, atacam a teoria revolucionária e acabam por restaurar o capitalismo na União Soviética e nos países em que os revisionistas estão no poder.

Sendo uma vanguarda organizada da classe operária e obedecendo, acima de tudo, a esses princípios, o partido nunca deve esquecer que tem de cumprir uma alta missão que consiste não apenas em preservar, mas também em preparar cada dia a sua unidade com o povo, porque essa unidade é, mais do que nunca, vital nas circunstâncias desse cerco capitalista-revisionista no qual a Albânia socialista se encontra. É só seguindo essa via, essa linha do nosso partido, que essa unidade pode ser salvaguardada e temperada. Todo o abandono desse princípio seria catastrófico.

A linha marxista-leninista do nosso partido é a síntese da luta, das aspirações, das realizações, das obras revolucionárias das massas sob o signo da dialética materialista marxista. Essa correta linha do partido enriquece-se a cada dia pela experiência das massas e se materializa em novos bens materiais e morais.

Assim, as massas criam, o partido dirige, sintetiza, educa e recria. Nesse processo contínuo, são o partido e as massas que criam e analisam e, através dessa grande e frutuosa criação, que eles educam, adquirem experiência, saber, destreza, tenacidade etc.

Nesses grandes movimentos revolucionários, nesses largos movimentos de massas que o partido inspira e guia, nasce e tempera-se a nossa ética marxista, que repousa no materialismo histórico e que subordina a evolução social e a evolução econômica.

Dessa forma, na grande obra criadora das massas e do partido, e no processo de desenvolvimento econômico do nosso país sob a via do socialismo, nascem e consolidam-se as verdadeiras normas da nova moral socialista. Foi justamente partindo dessa via revolucionária que nós nos tornamos marxistas e que nos consolidamos na vida das massas e da revolução proletária. Não fomos formados pelos princípios sociais aristocráticos, nem pelos de Spencer, nem pela ética de Espinoza, nem pelas teorias de Jean-Jacques Rousseau. Fizemos isso mesmo sem o nosso povo conhecer suas teorias filosóficas, melhor ainda, porque essas teorias teriam nos confundido. Entretanto, não poderíamos ter vida, não poderíamos dar um único passo adiante, seríamos cegos e escravos por séculos, sem Marx, Engels, Lênin e Stálin, sem nossa gloriosa teoria marxista-leninista. Alguns podem dizer que, para entender e aplicar Marx, é preciso estudar correntes filosóficas anteriores do pensamento humano, assim como Marx o fez. Isso é um exagero, as vezes isso é até dispensável. A genialidade de Marx e Lênin cumpriu muito com essa tarefa, eles, inclusive, iluminaram o caminho, colocaram todas as coisas em seu lugar e nos deram uma poderosa arma para abrir qualquer caminho. Os sábios e os filósofos devem estudar as velhas correntes filosóficas, sociais e éticas idealistas se tiverem esses como objeto de estudo, mas nunca devem esquecer que devem evitar enredar-se e, assim, enredar em seguida aos demais com sofismas e toda a sorte de teorias e de interpretações falaciosas, idealistas, revisionistas, como é o caso de numerosos pretensos filósofos e ideólogos revisionistas que se fazem passar por marxistas, que podem dizer o que for, jamais serão marxistas.

Isso não quer dizer que não é necessário estudar o desenvolvimento do pensamento humano e as suas evoluções, tal qual estudar o desenvolvimento econômico e social da humanidade. Seria um erro pensar dessa forma, contudo, nesses estudos em específico, é sempre necessário deixar-se guiar e iluminar, em toda e qualquer pesquisa, pela nossa teoria marxista-leninista. Entretanto, essa erudição não chegará se o pesquisador não participar ativamente, não se empenhar por inteiro, no turbilhão da revolução onde reside a origem de nossa teoria, que enriqueceu e confirma os princípios da nossa filosofia materialista e marxista-leninista.

Tenho na minha biblioteca em casa as obras de Rousseau em francês, entre as quais há, também, o Emílio. Porém, devo admitir que não senti falta de um Emílio traduzido para o albanês. As vezes eu fico me perguntando a utilidade e a quem serviria a publicação em massa de um livro de um filosofo burguês do século 18 do qual já está mais do que superado pelo tempo, não só para nós que construímos o socialismo e que elevamos e educamos uma furiosa juventude revolucionária que está em luta aberta contra os princípios sociais de Rousseau. Até mesmo a burguesia passou a deixar as obras de Rousseau mofando em suas prateleiras nas bibliotecas, pois é hoje anacrônico até mesmo para a educação da juventude burguesa. Os que perdem seu tempo traduzindo tais obras têm merda na cabeça e nós os encorajamos sendo condescendentes com a publicação de tais livros unicamente pela “fama de Rousseau”.

Camaradas, nós vivemos tempos históricos e decisivos em que o partido dirige brilhantemente a revolução. Ninguém deve ficar de fora dessa grande revolução. Todo o povo deve fazer sua contribuição, isto é, pensar e trabalhar para a revolução em todos os campos, em todas as especialidades, com todas as suas capacidades. As ideias e as obras de cada um devem estar ligadas por laços indestrutíveis à nossa revolução. A criação de cada indivíduo deve se inspirar na revolução das massas que o partido guia e junta-se à sua força. Os professores primários, os que ensinam geral, os escritores, os poetas, os compositores, os cantores, os artistas, os intelectuais devem ser levados a se inspirar na revolução; é pela revolução proletária e pela obra massiva do povo, para a edificação do socialismo e a criação de novos bens materiais que devem dirigir-se e inspirar-se todos os seres humanos, cada qual em seu posto de trabalho, e é nome da revolução e do socialismo que eles devem consagrar todo o seu trabalho e todo o seu ser.

Só seguindo esse caminho desembaraçaremos o terreno das ervas daninhas do passado, só assim será fincado e temperado a ética marxista-leninista e só assim será desenvolvido a nossa ciência social marxista-leninista. É nessa via, nesse caminho, e não pela imaginação mórbida ou estudos livrescos que construiremos o homem novo, comunista, que edifica o socialismo e cuja formação política-ideológica e técnica enriqueceu este progresso revolucionário do país; o homem que não está atrasado em relação a esse desenvolvimento do ponto de vista intelectual e moral, visto que, nesse caso, seria um entrave.

O partido, o povo, os quadros, unidos como um só corpo, caminham resolutamente por esse caminho. Analisando apenas o período que passou desde o 5º Congresso do partido, notamos o grande elo revolucionário criou o partido, que energias foram empregues na batalha, que grandes reservas surgiram e quantas outras continuam borbulhando para avançar ainda mais.

Que heroísmo massivo e com que ardor as ações das massas se sucedem uma atrás da outra! Se criou por toda parte um grande otimismo, uma grande alegria no trabalho, fadiga que não é sem razão; se nota uma enorme sede de estudar, de se autocriticar, de se desembaraçar dos males do passado. É sacudir os males na totalidade, e essa depuração é mais radical, melhor cimenta, visto que passa da consciência individual à coletiva. É por isso que cada um deve responder a esse entusiasmo com todas as forças da sua alma e de seu corpo.

Obras simples e ricas de sentimentos populares levantaram bem alto a humildade do nosso povo. Que devem fazer nesse caso os escritores de todos gêneros? Escrever romances, peças de teatro e poesias em seus gabinetes de trabalho, espremer e detalhar fatos banais e servir-nos alguns traços “psicológicos” inexistentes e rebuscados? Ou então juntar-se às massas e assim reproduzir esse entusiasmo, essa filosofia própria das massas e relatar os traços exatos da verdade psicologia proletária? Nos resta ainda muito para fazer, seja dentro das escolas e por toda a parte, mas para terminar pretendo apenas dizer algumas palavras sobre os nossos filósofos e intelectuais, nomeadamente sobre os historiadores e cientistas sociais.

Penso, e eu posso estar enganado, que eles devem reexaminar seriamente o seu trabalho do ponto de vista da forma, sobretudo, da temática e de seu conteúdo.

A forma tem a sua própria importância, evidentemente que é necessário saber como apresentar o trabalho, porém é importante também saber a quem esse trabalho é destinado. Aos pouco numerosos intelectuais ou às massas? Se vocês destinam sua obra a uma minoria, podem ter feito o trabalho mais “científico” possível, mas a verdade é que sua obra não pode ser lida ou compreendida por aqueles que devem lê-la e compreendê-la, ou seja, a maioria.

Se cumprirem a regra de destinar a obra a maioria, então estão sobre o caminho certo; é a tarefa de vocês procurar formas simples e apropriadas pelas quais se podem exprimir ideais profundas e realizar grandes atos. Essas formas só podem se encontrar entre as massas e não nos livros acadêmicos que devem ser consultados sem jamais esquecer o objetivo central.

Eu vejo constantemente a temática das publicações e boletins de história e de ciências sociais que são publicadas a nossa Universidade. Abundam neles temas que envolvem a história antiga do nosso país, de qualquer natureza, e das nossas figuras históricas do Renascimento. Isso é algo ruim? De maneira nenhuma, é ótimo na verdade, mas isso deve ter o seu lugar tanto em quantidade como em qualidade. Por outro lado, vemos muito pouco nessas publicações e boletins as questões, debates e problemas da nossa época socialista, como por exemplo, pesquisas sobre a Guerra de Libertação Nacional, problemas econômicos, históricos, problemas da luta de classes e contradições na sociedade. Isso não é justo, isso significa de certo modo, ficar estagnado e não contribuir para o progresso social com a riqueza e grande experiência material e espiritual de que o homem novo na Albânia socialista tem tanta necessidade. Certamente que o homem novo pode ler o que dizem de nós os Cônsul de Veneza do século 16, mas esquecer os importantes problemas atuais, entre os quais o nosso trabalho todos os dias se debate — essa não é a via correta e equilibrada dos nossos intelectuais.

É por isso que, como em todas as coisas, nesse campo também, é necessário dar uma recalibrada positiva, dando a prioridade ao que é mais indispensável, sem esquecer jamais as outras coisas que podem ser necessárias.

Criticando justamente os nossos cientistas a propósito dessa questão, não escaparia os camaradas do Ministério da Educação Pública e da Cultura, do Instituto de História e Linguística da Universidade e dos diferentes institutos. Por outro lado, os setores de propaganda do nosso Comitê Central, a Escola do partido, o Instituto de Estudos Marxista-Leninistas deve também dar um grande contributo.

Penso que é necessário compreender a fundo e considerar como um trabalho de uma grande importância o reexame das orientações e da prática concreta estabelecida no estudo de numerosos problemas atuais. Nós não podemos dizer que não agimos nesses campos, mas não agimos como seria necessário numerosas razões, e penso que o principal motivo é que, para esses problemas complicadíssimos, não se estudam a fundo as diretrizes e orientações do Comitê Central, essas não são analisadas até o fim e em toda a sua amplitude. Isso tem uma grande importância pelo fato de que é necessário corrigir numerosas práticas e métodos estabelecidos há muito tempo e que não se podem ultrapassar facilmente, visto que nessas questões vemos interpõem-se formas e métodos antigos, reproduzidos nas diferentes escolas onde numerosas pessoas foram educadas. Eles causam prejuízos por entrarem em desuso e insistirem em determinadas formas a que estão habituados e praticam há anos.

Há no conjunto dos intelectuais (inclusive nos nossos) o sentimento de conservadorismo e de egoísmo intelectual, essa vaidade altiva no seu intelecto e nas formas que empregam, para não falar das suas ideias e pensamentos já formados que constituem o ponto essencial do problema. Eis o motivo de ser indispensável que as diretrizes e as orientações do Comitê Central sejam estudados a fundo para esclarecer ideias e depois depurar formas, os textos, estabelecer critérios novos e corretos no trabalho, agir de uma forma organizada e adotar medidas concretas. Quando o partido diz para depurar os textos dos excessos, das coisas inúteis e por vezes erradas, aí está um problema muito importante e que não é fácil do ponto de vista ideológico, pedagógico e técnico. O que fazer em relação a isso? Eu não sei se o Ministério da Educação Pública e da Cultura se agarrou o suficiente a essa questão, mas vejo apenas uma ou outra rubrica no jornal da juventude, e em Mesuesi, alguma ideia ocasional, não aprofundada, expressa por algum professor primário. Não se pode resolver problemas dessa magnitude dessa forma.

Levanto essas questões porque elas não devem ser consideradas como assuntos limitados a um só setor, ou questões que podem ser resolvidas apenas mobilizando algumas pessoas do setor de educação; é um problema-chave que tem por grande objetivo educar, através do marxismo-leninismo, gerações inteiras, segundo a nova moral, introduzir nelas as novas concepções de mundo, nos novos métodos e meios que podemos adotar, não dizendo que elas são convenientes a essa ou àquela pessoa, mas considerando-as com o objetivo de determinar como elas devem ser para nós, se nos convêm e em que medida nos servem e como nos devem servir o melhor possível na nossa realidade concreta, favorecendo a nossa situação. Essas questões pertencem, portanto, em primeiro lugar ao partido, visto que é ao partido que cabe a pesada tarefa e o grande dever de educar os quadros e as massas.

E quando digo que é o partido que deve agarrar-se seriamente a essa questão, é necessário estar muito convencido disso, visto que todos não estão necessariamente convencidos dessa tarefa o quando é preciso. O partido, em cada distrito, ao orientar as organizações de base até o seu comitê, só pensa em por as tarefas em prática, o que causa imperfeições na aplicação em demasia, sem pensar em criar, em sugerir, em criticar, em suma, em dar uma maior ajuda ideológica de edificar e reedificar mais rapidamente o homem novo do socialismo e do comunismo.

Quando dizemos que os escritores se devem dirigir à base, porque lá encontrarão uma fonte fresca e pura, o que poderíamos dizer dos camaradas que já se encontram por dezenas de milhares e que vivem e trabalham na base com o povo? Não são eles os construtores das almas novas, muito mais qualificados do que este ou aquele escritor e poeta? Mas para que este trabalho possa ser bem conduzido pelos comunistas, é necessário que as pessoas, os problemas, as realizações, as decisões, as orientações e diretrizes sejam encarnadas sob todos os seus aspectos, desde os fundamentos, e não superficialmente; é preciso tirar sempre disso conclusões corretas, ponderadas, fazer generalizações(5) numerosas e justas em que o partido se apoiará, a propósito do que disse a cima, para poder edificar e orientar sobre a base da nossa realidade e servir a essa realidade.

Vejamos, por exemplo, um problema importante e agudo que se colocou ao partido: o despertar e o progresso das nossas zonas montanhosas, nomeadamente das nossas montanhas do norte. Esse grande problema econômico e social não pode ser resolvido pensando igual como fizemos em outras ocasiões, mas como nós mesmos vamos encontrar uma saída baseando-se na nossa situação concreta, nas nossas possibilidades reais, fazendo uso da nossa experiência e agindo para adquirir novas experiências. Qualquer coisa útil adquirida da experiência de outro nunca é nocivo, desde que seja uma ajuda e não uma desajuda.

Nós devemos enraizar e preparar, no espírito dos montanheses do norte, as nossas novas concepções de mundo, a nossa moral nova, as nossas formas e métodos novos, socialistas, da edificação e da produção, em uma economia socialista diversificada. Para chegar lá e superar esse atraso o mais rápido possível, o partido emprega e deve empregar todos os meios necessários, todas as formas e métodos de que dispõe, deve criar outros meios novo a partir da experiência anteriormente adquirida.

Nós seguimos numerosos caminhos e devemos trilhar muitos outros com o foco na educação das massas e dos montanheses segundo os princípios da economia nova, da moral nova, do ensino e da cultura socialistas. Nessas zonas, primeiro é o partido que preciso educar, ao mesmo tempo que os quadros e as massas, empregando formas variadas, particulares, massivas de todas as espécies.

Para que essas formas de educação deem os resultados esperados, é preciso que o partido conheça e represente claramente o espírito e a situação das zonas da montanha, e é sobre essa base que é preciso organizar o trabalho e criar para isso formas particulares, variadas e massivas de todas as espécies.

Os nossos montanheses são dotados de grandes e nobres qualidades morais que o partido deve proteger, depurando-as dos remanescentes atrasados que assombram a sua vida. Essa é a nossa primeira tarefa. A outra tarefa, também importante, é mesmo ainda mais importante, é que o partido lhes inculque novas qualidades morais junto com as primeiras, e que eles não puderam adquirir e desenvolver por causa das condições econômicas e sociais de todas as formas.

Os nossos montanheses e nossas montanhesas são pessoas profundamente inteligentes, perspicazes, valentes; são pessoas focadas, determinadas, leais, ponderadas e silenciosas. São pessoas robustas, embrutecidas e endurecidas pelas dificuldades econômicas devidas ao passado e a opressão feudal-clerical. Eis problemas de importância social cujo estudo o partido deve aprofundar, visto que esses traços dos nossos montanheses encontram sua raiz precisamente nas condições econômicas e de ordem particular que geraram uma tal situação, que deixou os seus traços no caráter das pessoas, nas suas concepções, no seu modo de produção, o seu modo de vida etc.

Observando o embrutecimento dos montanheses encontraremos também a influência do bajraktarismo(6), do patriarcado tribal, são fortemente baseados na superstição, nas tradições e nos costumes; encontraremos remanescentes da presunção, vaidade altiva, da “linhagem de sangue”. Na natureza “calma e silenciosa dos camponeses” devemos ver o sentimento de isolamento, causados por uma vida solitária da montanha, dobrada sobre si própria, de um desenvolvimento social e familiar restrito, de uma luta difícil para sobreviver e se defender sob o regime social feudal-burguês. Tudo isso e ainda muitas outras coisas deixaram profundos traços que devemos eliminar da concepção de mundo dos montanheses, visto que só assim que nos desembaraçaremos o caminho para o progresso socialista.

É nosso dever reeducar com cuidados os antigos comunistas montanheses, visto que o trabalho aquém efetuado no tempo em que as zonas da montanha não estavam ainda coletivizadas não os desembaraçou das numerosas insuficiências e concepções estranhas ao socialismo, como o patriarcalismo em relação ao próprio partido, o fato de ser membro do partido mesmo tendo ideias burguesas sobre a propriedade, a ideia de autoridade, de exploração no interesse pessoal e do machismo. Assinalando essa grande tarefa do partido, devemos ficar encarregados da educação em massas dos montanheses através da escola e da educação radical política e ideológica, que devem visar combater e abolir o conservadorismo, o arcaísmo, o patriarcalismo e o bajraktarismo da ideologia e da vida prática da família, de conduzir uma luta sistemática contra a religião, o misticismo, a letargia e a rotina das práticas religiosas, sob as suas formas dissimuladas ou não dissimuladas.

O partido estabeleceu e prática uma série de formas e de métodos para o êxito dessa luta e dessa educação, como o ensino geral sobre a natureza, o desenvolvimento da cultura usando numerosos meios que devemos multiplicar e aperfeiçoar a todos os respeitos. Os cursos de todos os gêneros são igualmente um meio de educação muito bom para as pessoas.

Tudo isso está encaminhado e é preciso perseverar sobre esse caminho; mas devemos encontras as formas mais criativas que todas as massas sejam englobadas nesse grande despertar nacional. A educação geral é um exemplo de uma sólida educação da juventude. O ponto de partida da juventude em geral, da juventude montanhesa em particular, para as grandes ações nacionais é também uma das melhores formas de educação de massas, que devemos continuar e praticar e a desenvolver, nomeadamente entre a juventude montanhesa.

Nós vimos que grande efeito teve a vinda das jovens mulheres montanhistas pela ferrovia(7), teve um grande efeito sobre elas próprias, e também sobre as suas aldeias e famílias. É por isso que nós devemos continuar nesse caminho e organizar as coisas ainda melhor. Porém, não devemos imaginar que tudo acabou e que a gente nova, as meninas das montanhas principalmente, foram capazes de romper no fundo de sua consciência as concepções atrasadas acerca da pressão familiar, aberta ou dissimulada, com os preconceitos que subsistem acerca da mulher nos povos das aldeias e das suas famílias. A resistência de tudo que é velho se faz sentir profundamente nas montanhas. É preciso quebra-la. A resistência mais forte vem dos idosos. Então pratiquemos nossa política com eles pelas vias e as formas que nós praticamos para com a juventude: as ações de massas, não no plano nacional, mas no plano das cooperativas agrícolas. A cooperação estará no centro de suas vidas, servirá a sua educação das massas. Nós organizamos para isso seminários de quadros, os enviamos para as zonas montanhosas (e ainda não enviamos para lá senão um pequeno número), os enviamos para adquirirem experiência nas cooperativas avançadas. Essas formas devem ser sempre consecutivas, jamais suficientes. É preciso, pois, tentar a experiência indicada a seguir e fazer dela uma forma de educação de massas, múltipla e multiforme, sobretudo para apoiar as sozinhas montanhosas.

Organizaremos equipes de homens e mulheres de terceira idade, em cada cooperativa da montanha, e os enviaremos para apoiar e aprender no trabalho, por um ou dois meses, nas cooperativas mais desenvolvidas das zonas de planície ou montanhosas na região central ou no sul da Albânia. Que outras equipes de homens e de mulheres, formados por um número igual de pessoas das melhores cooperativas, se dirijam para as cooperativas da montanha. Assim, não temos nada a perder do ponto de vista econômico, porque os dias de trabalho e as refeições são compensadas, porque cada uma das duas partes residirá e tomará as suas refeições na família da outra parte.

Mas qual é a vantagem da proposta que eu apresento? Primeiro, a permuta e a vantagem recíprocas que se terá da experiência agrícola. Os montanheses tomam consciência do sul, e o sul conhece o norte e seu povo; confraternizam, ligam-se com uma amizade maior. O montanhês, que tem mais necessidades, vê e vive uma vida completamente diferente da sua, aprende a pensar como os irmãos do sul, sobre numerosos problemas da vida; ele conseguirá, assim, raciocinar e pensar diferentemente sobre numerosas coisas. Os do sul, que se dirijam às zonas da montanha e aproveitarão não só com o contato com os montanheses, como ensinarão aos montanheses muitas coisas a respeito da vida, das tradições, da agrotécnica. Para os montanheses, essa forma de educação se faz de duas maneiras: por aqueles que se dirijam para o sul e pelos que recebem em sua casa. Os povos do sul e do norte receberão uma educação ideológica mais profunda, terão um conhecimento melhor das formas de desenvolvimento e das vantagens da coletivização à escala nacional.

Dessa forma, romperemos com muitas coisas: quebraremos a resistência que poderia se opor ao que é progressista nas montanhas, quebraremos o sentimento de isolamento e de solidão, cimentamos a afeição recíproca, abrimos novos horizontes ao montanhês, porque essas deslocações lhes permitem, não só ensinar e despertar os seus talentos, como também conhecera grandeza e a força do partido e da pátria, deixar o seu pequeno mundo para mergulhar do vasto mundo, sentir e se emprenhar na força criadora da linha do partido, a força e a capacidade da classe operária que o dirige, que está aliada com ele. Se o partido compreender corretamente essa questão e a de organizar pormenorizadamente, no plano político e familiar, o trabalho entre as famílias onde serão acolhidos os nossos montanheses e montanhesas, a fim de que esse período se torne uma verdadeira escola de educação para eles, os benefícios que daí virão serão incalculáveis.

O partido deve colocar todas as suas forças e capacidades, iluminadas pelo marxismo-leninismo, a fim de elevar o nível político e ideológico do povo e permitir-lhe conduzir com sucesso a edificação do socialismo e do comunismo. Não devemos nunca esquecer que somos como se fossemos uma pequena ilha, mas uma ilha de granito, no meio de um grande oceano de vagas ruidosas que devemos quebrar e vencer. Não esqueçamos do que aconteceu com a União Soviética e com os outros países onde os revisionistas subiram ao poder. Depois de meio século, a União Soviética, o país dos sovietes, foi submergido pela contrarrevolução. Dezenas e centenas de milhares de quadros da revolução (falo aqui dos melhores) foram desviados e sofreram com o domínio dos contrarrevolucionários revisionistas modernos. Outros traíram a revolução. O povo soviético, que fez a revolução, que edificou o socialismo, que ganhou a Grande Guerra Patriótica contra o nazismo, está hoje subjugado, dominado, reduzida ao mutismo. Isso não pode acontecer conosco! E, para isso, o partido deve fazer a sua têmpera sem cessar, deve preparar os seus militantes, os seus quadros, todo o povo, conduzi-los constantemente e sempre, na luta, na revolução, conservá-los em constante alerta, agudizar neles o espírito, a coragem, a confiança, a iniciativa, o sentido de responsabilidade coletiva, torna-los duros contra qualquer inimigo, contra qualquer ato hostil que possa ser cometido contra o partido e o socialismo. Não podemos jamais deixar os povos a dormir ao relento, vegetarem, pelo contrário, devemos torná-los hábeis, inculcar-lhes uma consciência pura, proletária, fazer com que eles adquiram os conhecimentos mais modernos da técnica moderna do trabalho e da cultura. Essa é a maior garantia da marcha em frente que nos está aberta e iluminada pelo partido.

 


Notas de rodapé:

(1) O conceito de povo para Enver Hoxha, como para todos os marxistas, é variável segundo a etapa da revolução e o processo de abolição das classes sociais. Na revolução democrática e nacional, o conceito de povo é mais vasto, pois compreende, também, setores da burguesia (pequena e média); na revolução democrática popular, ao contrário, diz respeito apenas ao proletariado, aos camponeses pobres e médios, às camadas semiproletárias rurais e urbanas e as camadas inferiores da pequena-burguesia (o que não exclui alianças específicas para a solução de problemas concretos, mas como alianças táticas e não estratégicas) — Nota da Tradução. (retornar ao texto)

(2) Aqui Enver faz uma crítica implícita aos conceitos de Liu Shaoqi — Nota da Tradução. (retornar ao texto)

(3) Não podemos esquecer que Enver Hoxha se refere à rotatividade de um partido no poder. Em caso diferente, a defesa de semelhante atitude seria total liberalismo – Nota da Tradução. (retornar ao texto)

(4) Aqui, o camarada Enver Hoxha faz menção ao “coleguismo”, ou “amiguismo” no sentido que conhecemos no Brasil como “fisiologismo”, ou seja, conduta ou prática de certos representantes do partido e do Estado que visa à satisfação de interesses ou vantagens pessoais em detrimento do bem comum — Nota do Editor. (retornar ao texto)

(5) Aqui, o comentário do camarada Enver sobre as “generalizações” está na capacidade do partido, ao nível local, conseguir ultrapassar o limite da sua experiência local através da teoria marxista-leninista, universalizar seja através de relatos, analises, formulações, iniciativas, e registrar, generalizar, todo acontecimento e experiência nova através da imprensa do partido, Zëri i Popullit. Em nosso caso, através do jornal A Verdade — Nota do Editor. (retornar ao texto)

(6) Muharrem Bajraktari foi um oficial militar monarquista do norte da Albânia apoiador do regime corrupto de Zog I. Durante a Guerra de Libertação Nacional Antifascista, Bajraktari apoiou as forças monarquistas dos Lëvizja e Legalitetit e mais tarde trabalhou com os colaboracionistas fascistas do Balli Kombëtar. Fugiu do socialismo junto com o Primeiro-Ministro fantoche dos alemães na Albânia, Fiqri Dine, e construiu com ele o Comitê Nacional “Albânia Livre” (KKShL) financiada pela CIA como apontam documentos vazados em 2013. Morreu em Bruxelas (Bélgica) em 1989, tinha 92 anos e jamais pagou pelos crimes que cometeu com os fascistas e nazistas na Albânia, foi até o fim protegido pelos imperialistas anglo-americanos — Nota do Editor. (retornar ao texto)

(7) Na Albânia socialista, a possibilidade de as mulheres andarem de trem, a trabalhar na ferrovia e na construção dos caminhos de ferro teve um grande efeito psicológico acerca da luta pela emancipação das mulheres, principalmente no norte (Gegërishtja) do país, região mais atrasada econômica e socialmente — Nota do Editor. (retornar ao texto)

 

Nota da tradução:

Tradução de Manuel Quirós recuperada do livro A Educação Política dos Quadros e das Massas publicado pela editora portuguesa “Biblioteca Povo e Cultura” em 1974. Foram feitas adaptações para as normas linguísticas utilizadas no Brasil. Mantemos as notas originais da edição portuguesa apenas com alterações gramaticais. (retornar ao texto)

 

Inclusão: 28/05/2023
Última modificação: 30/05/2023