A liderança chinesa está no caminho revisionista

Carta ao camarada Hysni Kapo

Enver Hoxha

30 de Julho de 1978


Fonte: Enver Hoxha: Obras Completas, Volume 67 (Junho 1978 – Agosto 1978), 1989, págs. 331-341, Tirana, Casa de Publicações “8 Nëntori”.
Original: www.enverhoxha.ruVeprimi i Udhëheqjes Kineze Është Në Vijën e Logjikës Revizioniste.
Tradução e adaptação: Thales Caramante – Jornal A Verdade e Edições Manoel Lisboa.
HTML: Lucas Schweppenstette

Prefácio das Edições Der Weg Der Partei

O camarada Hysni Kapo estava, na época, se recuperando de um ataque cardíaco. Ele não pôde participar da conferência do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), onde foi aceita sua proposta de resposta do PTA e do governo da República Popular Socialista da Albânia (RPSA) ao Partido Comunista da China (PCCh) e ao governo da China, em relação ao fim dos créditos a RPSA e de todas as relações econômicas com a Albânia.

Esta carta do camarada Enver Hoxha foi a resposta a um documento que Hysni Kapo havia enviado ao Comitê Central do PTA. Nesta carta, ele condenou as ações antimarxistas e anti-albanesas da liderança chinesa e expressou sua total solidariedade com a posição correta do Partido do Trabalho e do governo albanês. Na carta do camarada Enver Hoxha, as políticas da liderança chinesa, bem como os acontecimentos daquela época na China, são cuidadosamente examinadas. Zëri i Popullit decidiu publicar esta carta para apontar os reais antecedentes políticos e ideológicos dos julgamentos de fachada que ocorreram a partir da segunda quinzena de novembro e duraram até os primeiros dias de janeiro de 1981. Aqueles que foram direcionados contra a chamada “Quadrilha dos Quatro” e um grupo de líderes militares de alto escalão da época da Revolução Cultural.

O camarada Hysni Kapo morreu em dezembro de 1979, após uma grave doença. A carta do camarada Enver Hoxha, publicada pela primeira vez em 4 de dezembro de 1980, foi exposta no Museu Hysni Kapo no vilarejo do nascimento do camarada Hysni Kapo, Tërbaç (distrito de Vlorë).

 

 

Prezado camarada Hysni,

A carta que você me escreveu, dizendo que se sente melhor, que já está andando no jardim de sua casa, assim como fazendo passeios em parques e que você já está indo visitar a praia de Durrës amanhã, me deixou muito feliz.

Está claro que tudo é possível, tudo pode ser alcançado com paciência e força de vontade. Agora estamos livres da preocupação que a sua doença causou, seus camaradas e o partido inteiro estavam preocupados com você. Que o camarada volte com total saúde e vitalidade ao partido e sua liderança, que sempre precisam dos seus belíssimos pensamentos e das suas orientações.

Os chineses tiveram a resposta que mereciam. Nosso partido e sua liderança agiram de forma correta, agiram da maneira marxista-leninista. Com base nos fatos, expomos outro grande inimigo que se escondia há tanto tempo atrás da máscara do marxismo-leninismo: o revisionismo chinês.

O Partido Comunista da China (PCCh) e especialmente Mao Tsé-Tung — um sonhador idealista utópico sem educação leninista geral (além daquela sobre a China antiga) — trataram o desenvolvimento histórico da humanidade como verdadeiros diletantes xenófobos. Seus princípios ideológicos, políticos e organizativos, especialmente desde a fundação do PCCh, são profundamente pragmáticos e focados unicamente nos interesses da China, em torná-la uma “eterna” superpotência que controlará o mundo, que ditará as leis, que irá impor sua própria cultura e sua vontade aos outros.

Durante a análise que fizemos da ação prática de Mao e dos demais líderes chineses, encontramos esta ideologia nacionalista, vimos e ainda podemos ver que sua forma de organização e seus métodos operativos estão concentrados nesta ideologia, cujo objetivo é fazê-la “universal”.

A figura de Mao Tsé-Tung explodiu até atingir as dimensões de um imperador chinês. E, de fato, este imperador moderno opera onipotentemente sobre seus cortesãos, que criaram uma extensa e terrível burocracia, na qual as “ideias brilhantes do Grande Timoneiro” são aplicadas cegamente. Ele usou o PCCh como um trampolim, e tem feito isso sempre que lhe apetece, todas as vezes quando acha que é “razoável”; todas as vezes que é necessário de acordo com o “desenvolvimento dialético das contradições”. Vendo sob a perspectiva do taoísmo, ele expurgou pessoas do poder, atacou o partido e o liquidou, iniciou uma “revolução” que recalibrou o poder e seus cortesãos. Ele justifica tudo isso com supostas frases revolucionárias, tão “revolucionárias e cultas” quanto as do Imperador Bokassa, do Xá do Irã ou o Rei do Nepal — dos quais Mao admira, que os acolheu e acompanhou, tanto por interesses materiais, como na esperança de obter vantagens políticas e de transformá-las em satélites chinesas, algo que foi realizado tão somente pelo fato da ideologia de Mao se coincidir com as suas.

Nessas condições e seguindo essas concepções, o Partido Comunista da China não poderia ser um partido marxista-leninista. A filosofia que ele segue é idealista, burguesa, reacionária. Isso porque a própria China permaneceu, apesar da revolução democrática-burguesa, uma sociedade fechada em sua fé antiga, com concepções atrasadas, dominada pelo misticismo, na fé a um núcleo arcaico, aderindo apenas a princípios filosóficos e organizativos desenvolvidos pelo Estado. Isso pode ser visto na construção e na estrutura do Estado, isso pode ser visto no desenvolvimento econômico, na construção do sistema educacional e cultural, na estrutura do exército etc., tudo isso tem o selo chinês, desde a ideologia e a literatura, até mesmo nas palavras de ordem.

As palavras de ordem têm uma fonte central e cada homem e mulher na China, sejam grandes ou pequenos, devem repeti-los, jamais sem se desviar deles apenas por um milímetro. Esta foi uma luta ideológica para suprimir o pensamento criativo, algo que atingiu o centro da democracia proletária, mostrou que tudo não foi nada além de um culto ao “timoneiro” e ao seu reinado. Aberrações ideológicas como essa têm que sofrer certas derrotas em certos momentos, como de fato aconteceu. Mao Tsé-Tung apreciou esses acontecimentos, taxando-os de “revoluções e contrarrevoluções”, tendências que acontecem ciclicamente a cada sete anos.

Não devemos rotular Mao Tsé-Tung como “profeta da revolução”, mas sim como um “profeta da contrarrevolução”. Ele representa um tipo de anarquista cujo sangue corre a confusão, o caos, o enfraquecimento da ditadura do proletariado e do socialismo, ainda assim, esta anarquia permanente deve ser liderada por ele ou por sua típica ideologia anarquista. Mao Tsé-Tung se converte em um “Bakunin chinês” — a revolução cultural foi uma expressão das ideias e da ação desse “Bakunin chinês”.

O caos que resultou na China (mesmo que ela tenha se originado nesta ideologia antimarxista traidora de Mao Tsé-Tung e seus cortesãos), acumulado nas derrotas políticas, ideológicas e econômicas, foi “combatida pelo grande timoneiro” através da anarquia e da revolução cultural.

Essa “revolução” anarquista salvou a força motriz fundamental do maoísmo, mas continha o risco de miná-la também. O “prestígio do timoneiro” teve de ser salvo, a esta anarquia ainda não foi autorizada a destruição dos mitos, portanto, foram tomadas medidas militares. O caráter da burocracia organizada pelo confucionista Zhou Enlai foi salvo pelos elementos supostamente da “juventude revolucionária”, interligados às ações de agitação e propaganda — a esses, o “timoneiro” guardava o papel urgente de pintar essa anarquia como uma “revolução dentro da revolução”, pela qual a suposta burguesia (que havia se infiltrado no partido) deveria ser eliminada. Mas, na verdade, não havia nem mesmo partido, mas somente burguesia, haviam clãs e frações que estavam disputando o poder. Essa era a “revolução permanente” trotskista, liderada por Mao Tsé-Tung-Trotsky.

A chamada “Quadrilha dos Quatro” agiu de acordo com as políticas de Mao. Nele eles encontraram uma base, portanto viveram tanto quanto uma flor de verão. Porém, essa “flor” cheirava mal e era venenosa, assim como todas as demais “flores e escolas” que floresceram na China e ainda estão florescendo.

A “Quadrilha dos Quatro” era um verdadeiro grupo de megalomaníacos, ambiciosos e tagarelas fofoqueiros sem princípios, assim como as demais frações da burguesia que estavam nadando naquele pântano. Porém, estes últimos eram “proprietários do pântano”, enquanto que a “Quadrilha dos Quatro” eram apenas sócios da “entrada do lamaçal”, eles não realizavam a menor ação organizacional, governamental ou econômica. Eram escritores de artigos e organizadores de apresentações de balé. Eles eram pessoas suspeitas como todas as demais. Estavam nadando à margem assim como os pensamentos de Mao, enquanto a fração de Zhou Enlai, Deng Xiaoping e Ye Jianying estavam sistematicamente dando o seu melhor para tomar o poder. A “Quadrilha dos Quatro” pensou que iria atrair milhões sob a “bandeira do camarada Mao Tsé-Tung” através de declarações polêmicas. Mas a “queda” de Deng foi temporária, e assim ele foi capaz de reunir um milhão na Praça de Tiananmen que deu um golpe na “Quadrilha dos Quatro”. Mais tarde, essa quadrilha mobilizou um milhão contra Deng, eram as mesmas pessoas que golpeavam por um e por outro. Deng chegou ao poder, um milhão apareceu e gritou por Xiaoping, eram os mesmos que haviam o golpeado anteriormente. Este é o amargo e escuro reflexo do Pensamento Mao Tsé-Tung.

A burguesia internacional chama a “Quadrilha dos Quatro” de radical. Se quiserem, podem acrescentar o termo “socialista” e assim ficam como “radical-socialistas”. De fato, esses quatro não eram nem radicais e nem socialistas. Antigamente havia um forte partido burguês na França que se chamava “Partido Radical-Socialista” e era liderado pela burguesia, por políticos extraordinários e literatos como Herriot, Deladier etc., mesmo este partido sofrendo uma profunda derrota, ele não saiu sem deixar marcas; a “Quadrilha dos Quatro”, ao contrário, desapareceu sem deixar nenhum rastro, assim como o Pensamento Mao Tsé-Tung que morreu e respectivamente continuará a morrer.

A reação furiosa de Hua Guofeng e Deng Xiaoping (que tomaram o poder) conduzirá a uma nova luta pelo poder a fim de construir uma ditadura fascista. Haverá uma luta pela hegemonia mundial. A estratégia que eles buscam é apenas “lógica”. As alianças com o imperialismo americano e a reação mundial, para eles, são “lógicas e normais”. Igualmente normais são os antagonismos e a deflagração das guerras predatórias que resultarão desta nova irmandade de bandidos.

As análises que conduzimos em relação ao revisionismo chinês estão geralmente corretas, objetivas e seguindo os ensinamentos do marxismo-leninismo. Assim, o maoísmo enquanto teoria antimarxista está morrendo. Ele enfrentará o mesmo destino que as outras teorias inventadas pelo capitalismo internacional e pelo imperialismo decadente.

Deve-se ter em mente que a “pequena” Albânia e o PTA, um verdadeiro partido marxista-leninista, sobrepõe, supera e denuncia essa “grande” China e o PCCh, por causa das grandes, imortais e triunfantes ideias do marxismo-leninismo. É isso o que a realidade nos aponta precisamente: a China quer nos atacar tolamente e, precisamente, será neste campo de batalha que está sofrendo e sofrerá a sua maior derrota. Impedimos a China e seus planos de expansão hegemônica social-fascista em nosso país, por isso ela nos atacou.

A guerra foi declarada e vamos torná-la dura, sem conciliações e venceremos! Para o nosso partido, estes são momentos históricos de importância internacional, porque nós carregamos o fardo histórico de liderar essa luta complicada, mas igualmente gloriosa para proteger a Albânia socialista e o partido marxista-leninista das distorções, desvios e sofismas, para fortalecer a revolução proletária mundial e as guerras de libertação nacional dos povos contra o imperialismo americano, o social-imperialismo soviético e o maoísmo chinês.

A atual fração no poder na China e as demais frações que lutam pelo poder seguirão definitivamente usando o maoísmo em suas lutas internas, porém o utilizarão como um cadáver anti-histórico para construir impiedosamente, sem nenhuma vergonha, um poderoso Estado imperialista. Em unidade respectivamente e em divergência com os demais Estados imperialistas, seguirão oprimindo outros povos que anseiam pela liberdade, independência e o socialismo.

Cada degenerado imundo é bom o suficiente para os revisionistas chineses, assim como é para os americanos, soviéticos e demais imperialistas. Nossa luta será prolongada e difícil, ao mesmo tempo que temos que manter o partido forte, em unidade revolucionária e militante, temos que depurá-lo de hora em hora, diariamente nas constantes lutas políticas, ideológicas e econômicas, afiar ao máximo sua vigilância a fim de torná-lo amado pelo povo e ligado a ele como carne e osso, através de uma democracia proletária que está longe de toda forma de oportunismo, sectarismo e burocracia nociva e fatal. A correta linha marxista-leninista de nosso partido não só hoje, mas também no futuro, será apoiada pelos revolucionários marxista-leninistas de todo o mundo, será apoiada pelo proletariado mundial e pelos povos. A rotina diária e cheia de luta do nosso partido confirma isso.

As quadrilhas chinesas fascistas-revisionistas não cessarão em antagonizar o povo chinês, ao mesmo tempo que tentará enganar a opinião pública mundial com sua propaganda, mas eles jamais serão capazes de enganar a todos de uma só vez.

Ondas terríveis caíram sobre o povo chinês e continuarão a cair, mas chegará o dia em que a teoria de Marx, Engels, Lênin e Stálin triunfará. As gerações atuais e futuras na China um dia dirão: “O Partido do Trabalho da Albânia abriu nossos olhos, agiu corretamente e desmascarou o Pensamento Mao Tsé-Tung. O PTA sempre defendeu a revolução proletária na China, eles queriam decepar esses mitos devastadores que foram criados e que impediram a felicidade de nosso grande povo que sempre sonhou em viver no verdadeiro socialismo”.

Nossa luta vitoriosa continua, caro camarada Hysni, portanto, melhore logo! Passe um tempo de férias em um local calmo, e então você ficará mais e mais forte para as batalhas que teremos pela frente, fique forte como aço!

Um abraço e um beijo com muito anseio pela sua melhora. Nexhmije mandou um abraço a você e a Vito. Dê a Vito minhas saudações!

Enver Hoxha,
Pogradec,
30 de julho de 1978.


Jornal A Verdade
Inclusão: 21/08/2022