Psique e Cérebro

Evald Vasilyevich Ilyenkov

1968


Primeira Edição: ILIENKOV, E. V. Psikhika i mozg. In: Voprosy filosofii, no 11, 1968, pp. 145-155. Agradecimentos à Miguel Borrajo e Victor Carrión da Ediciones Edithor pela disponibilização da tradução em espanhol para cotejamento.

Fonte:https://medium.com/katharsis/e-v-ilienkov-psique-e-cérebro-1968-bf81aad0bcea

Tradução: Bruno Bianchi

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


O artigo de D. I. Dubrovski, Cérebro e psique — publicado no número 8 da revista Voprosy filosofii [Questões de Filosofia] — suscitou em mim não só o desejo de argumentar, mas também de manter o tom que ele mesmo propôs no decorrer de sua argumentação. Por esta razão, me parece necessário enumerar aqueles pontos sobre os quais nem eu nem — tanto quanto entendo — F. T. Mikhailov discutiremos com o autor de Cérebro e psique, uma vez que nestes estamos completamente de acordo. É necessário fazê-lo não por cortesia acadêmica, mas precisamente para evidenciar os verdadeiros pontos de divergência entre nossas posições e, assim, deixar que o leitor decida qual caminho lhe parece preferível.

“A informação armazenada por uma personalidade, aquela que expressa a sua experiência vital, seus traços peculiares de resposta emocional e intelectual, enfim, todos os seus registros psicológicos superiores, estão de alguma forma fixados em seu cérebro, encarnados na organização específica dos sistemas, subsistemas e elementos cerebrais”, escreve D. I. Dubrovski.(1)

Aqui temos o prazer de registrar a total semelhança entre nossos pontos de vista. Nós também pensamos assim, e reconhecemos em D. I. Dubrovski o mérito de uma tradução bastante precisa do velho e sábio pensamento de Spinoza para a linguagem da ciência moderna. Um pensamento correto, indiscutível para qualquer materialista. Além disso, tomaremos a liberdade de supor que Hegel também não discutiria conosco nesse ponto. Ele pensava — embora se expressando de forma um tanto antiquada — que a “arquitetura neurodinâmica” presente no cérebro do indivíduo é uma “uma espécie de derivação” em parte “das características cerebrais geneticamente predefinidas de um dado indivíduo” e em parte, se se pode expressar assim, “de sua trajetória sociobiográfica”. Pode-se ler acerca desse tema em sua Fenomenologia do Espírito, onde faz referência ao mesmo tema: “que as circunstâncias e relações em que se encontra o indivíduo dão ao seu destino esta direção e não outra, reside não apenas nessas circunstâncias e relações, em sua originalidade, e não só na natureza geral do indivíduo, mas ao mesmo tempo também em sua particularidade”.(2) Caso contrário, o indivíduo se converteria em Espírito Absoluto.

Certamente que Hegel (talvez por que era um idealista?) acrescentou que as “características” destes se determinam não só pela “estrutura da cabeça” como órgão primário do pensamento, mas também pelos traços da estrutura de muitos outros órgãos. A história demonstrou que neste parágrafo Hegel não estava inteiramente errado e que esse papel dos “traços” da morfologia do corpo na definição da “trajetória sociobiográfica” do indivíduo pode ser enorme, se não decisivo. O papel de tais particularidades se manifesta com maior clareza nas encruzilhadas do destino, nas abrutas rupturas de sua “trajetória”. Nas conhecidas — e, talvez, demasiado conhecidas para serem explicadas — condições que determinam o percurso da vida, que tiveram (e em alguns lugares ainda têm) um papel decisivo, características como a forma do crânio ou a do nariz, a cor do cabelo ou da pele. Os fatores mais inesperados podem desempenhar um papel na configuração do “destino individual”, até mesmo um tijolo caindo sobre sua cabeça.

Cabe supor eu as sutis peculiaridades do tecido neural herdado por uma pessoa, as variações individuais da “arquitetura neurodinâmica”, podem desempenhar um papel semelhante na vida humana. Pode-se supor ainda que estas variações têm algo a ver com as diferenças de “predisposição”, por que pensar de outra forma?

O problema é que em relação à conexão destas diferenças microestruturais com as “predisposições” (e não aquelas referentes às “capacidades” com as quais não devem ser confundidas em nenhum caso!), D. I. Dubrovski e eu, assim como a comunidade científica a nível mundial, não podemos dizer absolutamente nada que possa ser estabelecido com certeza. Aqui estamos com os dois pés no terreno instável de puras hipóteses, suposições e até conjecturas. E sobre esta base, não gostaríamos realmente de iniciar uma disputa pública.

No fim, está claro que podemos debater durante milhares de anos sobre até que ponto a presença de uma determinada predisposição se deve a características geneticamente inatas da microestrutura do cérebro (assim como de alguns outros órgãos como o ouvido ou as cordas vocais, etc.). A questão de qual delas é determinada pelo entrelaçamento tanto individual quanto único das macro ou micro circunstâncias que influenciaram esse cérebro nos primeiros anos, meses ou mesmo semanas de sua vida (isto é, o período em que esse cérebro adquire uma forma especificamente humana dos próprios estereótipos neurodinâmicos responsáveis pelos registros superiores “especiais-humanos”, da personalidade emergente) não pode ser resolvido de forma alguma.(3) Para resolver este debate, mesmo em um só caso, um número tão grande de relações causais teria que ser traçado — tanto dentro quanto fora do crânio desse indivíduo — que nenhum tempo finito seria suficiente para fazê-lo. Tentar esgotar a individualidade leva inevitavelmente à busca do infinito, qualificando-a consequentemente como “errada”. Isto é muito óbvio para ser demonstrado.

Por isso, quando D. I. Dubrovski nos pergunta: “A que Mozart deve sua genialidade musical? À um acidente genético? Às condições do meio social e o trabalho duro sobre si mesmo? Ou talvez a feliz coincidência das circunstâncias da vida junto com um mentor atencioso?”, neste ponto, por mais triste que seja, não podemos satisfazer sua curiosidade. O único consolo é que é pouco improvável que toda a ciência do mundo a satisfaça.

Portanto, que não foquemos aqui nossa discussão. Estamos até dispostos a eliminar esse ponto polêmico em favor de nosso oponente e aceitar a suposição de que o “acidente genético” desempenhou algum tipo de papel aqui, embora não se saiba qual. Apenas teríamos o cuidado de colocá-lo em primeiro lugar, entre os fatores que dão origem à personalidade histórico-mundial.

De acordo. Suponhamos que esse “X” esteja entre as condições do problema e vejamos o que se deduz disso. Que novas perspectivas implicará essa suposição para a ciência, e exatamente que significado específico obteremos sob as condições mais favoráveis (“ideais”) de sua descoberta?

Dado que os arquivos científicos não preservaram as características genéticas individuais do cérebro do autor da Flauta Mágica, o papel desse fator terá que ser calculado indiretamente. Isto é, teremos que descartar todos aqueles traços da personalidade de Mozart que, em princípio, não podem ser explicados de outra forma, o que permitirá uma constatação e verificação científicas objetivamente rigorosas. Evidentemente, quanto mais tivermos a sorte de investigar por essa outra via, menos provas e motivos teremos para especular sobre o “azar”, seja genético ou de outro tipo. Quanto mais conhecemos cientificamente as condições universais (tanto anatômicas e fisiológicas quanto sócio-históricas) que tornam possível o nascimento de uma individualidade brilhante e o possível desenvolvimento de uma personalidade na escala de Mozart, menor será a incógnita, aquela que D. I. Dubrovski considerava colocar em primeira instância. E como também, provavelmente, nunca se tornará em um zero puro, D. I. Dubrovski sempre terá a oportunidade de dizer que a ciência não refutou sua hipótese. Neste terreno que tende a zero, D. I. Dubrovski continuará com sua defesa contra o progresso da Ciência, a mesma Ciência que um dia descobrirá, sem dúvidas, as condições gerais (tanto morfológicas quanto socioculturais) sob as quais um bebê tem a oportunidade e a possibilidade de se converter em uma personalidade, em uma individualidade brilhante, um “talento”.

E é impossível e desnecessário exigir mais da Ciência — o escrevemos com letra maiúscula para sublinhar que estamos nos referindo a todo o complexo das ciências pertinentes ao caso.

Em todo caso, é melhor não perguntar à neurofisiologia científica a resposta para a questão de saber se esse recém-nascido normal se tornará um Mozart ou Rafael, Pushkin ou Einstein em condições culturais e sociais normais.

Seria um erro colocar nas mãos da neurofisiologia a determinação (baseada no código genético!) da “trajetória social e biográfica” que deve guiar um bebê desde o berço: músico ou matemático, astronauta ou dançarino, talvez costureiro.

Francamente, somos muito céticos diante da própria ideia de fazer horóscopos, de adivinhar o futuro com base na espessura ainda não fermentada do tecido nervoso. Nem os mais perfeitos métodos “matemáticos”, nem as mais perfeitas tipologias e classificações das peculiaridades cerebrais, nem qualquer outra maravilha da ciência do futuro ajudarão a alcançar aqui o “caráter científico”. E estamos inclinados a desconfiar da esperança de que tais horóscopos contribuam para o progresso da raça humana.

Provavelmente, D. I. Dubrovski nos dirá que não quer fazer nada disso, e que levamos ao absurdo sua ideia sensata para facilitar o descrédito aos olhos do leitor. Bem, nós agradecemos. Mas, se é assim, o que mais pode ser usado para a classificação exata e rigorosa das características genéticas cerebrais dos bebês correlacionadas com diferenças mentais, com diferenças “predisposicionais” e até “capacitivas”? A que outra boa causa poderia ser aplicada?

É claro, devem ser levados em conta o “tipo” do sistema nervoso e sua “peculiaridade” ao medir os esforços realizados sobre a psique — e, por meio dela, o cérebro — ao definir o regime de trabalho, etc. Certamente, muitas vezes nos esquecemos disso e, como resultado, teremos frustrações e transtornos, tanto mentais (funcionais) como nervosos (morfológicos).

No entanto, em termos de “funções especificamente humanas”, os sistemas nervosos dos diferentes tipos são completamente idênticos. Quando o sanguíneo perde rápido, o fleumático compensa com sua meticulosidade, evitando a necessidade de corrigir erros precipitados, etc., de modo que o resultado é geralmente o mesmo para ambos.(4) Cada tipo tem suas “vantagens” e suas “desvantagens” que são inseparáveis deles. E essas “vantagens” e “desvantagens” se anulam e se neutralizam mutuamente. É por isso que um cérebro sadio de qualquer tipo é capaz de assimilar qualquer habilidade especificamente humana e, em todo caso, a vida das pessoas “capazes” é composta por indivíduos de todos os tipos de sistema nervoso. Neste sentido, as “características da arquitetura cerebral” — tanto as genéticas como em sua totalidade — são tão indiferentes (neutras) quanto as variações individuais dentro dessas “características” arquitetônicas.

(Entre parênteses, note que aqui só podemos falar de recém-nascidos porque as características “congênitas” do cérebro só podem ser observadas neles. Em poucos meses serão substituídas ou, ao menos, “distorcidas” por outras adquiridas, até o ponto em que não será possível distinguir umas das outras por nenhum método exato. Visualmente, sob um microscópio, terão o mesmo aspecto que as “variações únicas individuais”, dentro da mesma norma. E se estas variações não superam os limites da norma, qualquer médico neurofisiologista razoável lhe dirá que não vê a razão de sua intervenção. Ele dirá que seu negócio é tratar o cérebro doente, e não intervir com um bisturi em um cérebro comum. Um cérebro normal se desenvolverá por conta própria se todas as outras condições externas ao cérebro forem igualmente normais).

Em geral, é legítimo — inclusive na fantasia — converter a neurofisiologia em um instrumento de formação e seleção de bebês unicamente em um meio construído segundo o modelo de Aldous Huxley em Admirável Novo Mundo. Deus não permita que meus netos e os de D. I. Dubrovski nasçam em um mundo assim!

Em um mundo construído de acordo com o modelo de Marx e Lenin, em um mundo organizado de maneira comunista, é provável que não se designe esse papel aos neurofisiologistas. Esperamos que D. I. Dubrovski não discuta isso, e assim encontraremos um ponto mais de pleno acordo.

Porém, independentemente disso, teremos um motivo sério — e, sobretudo, científico — para acreditar que a “tipologia e classificação dos traços cerebrais” — a partir da qual D. I. Dubrovski esperam algum dia tirar conclusões científicas sobre a idoneidade profissional dos bebês — nunca sairá da etapa de “vagas insinuações” em que, segundo seu testemunho oficial, se encontra hoje. E não apenas pelas razões indicadas, mas também por uma espécie de “adição” do exame patológico do cérebro e das observações da atividade vital posterior de seu dono. Afinal, qualquer imagem completa da “estrutura cerebral” íntima só pode ser obtida com a condição de que sejam excluídas as observações sobre seu funcionamento vivo. Em poucas palavras, para elaborar o horóscopo de um bebê, você será obrigado a mata-lo.

Claro, D. I. Dubrovski pode dizer que a ciência e a tecnologia superarão algum dia esta fatal “adição”, e que os futuros especialistas em humanidades poderão estudar a misteriosa profundidade da estrutura do cérebro humano sem perturbar absolutamente sua atividade vital normal mediante sua “análise estrutural e funcional”. Bem, é possível sonhar com a criação de tal aparato com a ajuda do qual será viável monitorar o cérebro do indivíduo experimental para que ele nem sequer suspeite do que está sendo feito com ele. Porém, os sonhos são sonhos e os fatos são fatos. Então, deixemos essa conversa para um futuro mais feliz. Enquanto isso, teremos de contar com esta “adição”.

Passemos agora dos bebês aos adultos, dos quais D. I. Dubrovski diz que “todas as relações neurodinâmicas (isto é, fisiológicas) responsáveis pelos fenômenos mentais especificamente humanos são mediadas por fatores sociais, se formam e se realizam apenas com base neles”.(5)

Temos o prazer de registrar aqui mais um ponto de convergência entre nossas abordagens. E, isto é, que nenhuma das funções psicológicas especificamente humanas pode ser compreendida nem a partir de estruturas cerebrais geneticamente inatas, nem daquelas estruturas das quais elas são “fornecidas”. Isso significa, pelo contrário, que todas as funções especificamente humanas e as estruturas que as proporcionam são determinadas completamente — e não em 90% ou mesmo 99% — e, portanto, são explicadas unicamente pelas formas de atividade humana como ser social, e não em sua forma natural. Neste ponto, a distinção entre o “social” (histórico) e o “natural” no homem do ponto de vista científico deve ser feita com absoluto rigor. O “bisturi analítico” deve fazer aqui sua incisão com a mesma confiança e precisão com a qual realiza um corte o bisturi do cirurgião sobre o coração pulsante. O menos erro custará muito caro em ambos os casos, e o “corte” será impossível de costurar com qualquer linha ou raciocínio. E quanto mais afiado o bisturi, maior a chance de restaurar depois a concretude real.

D. I. Dubrovski escreve que hoje “se produz um deslocamento e uma indefinição das fronteiras antes rígidas entre os diferentes sistemas conceituais, o número de transições lógicas entre eles se multiplica, gradualmente transformando esses sistemas em seu conjunto e preparando a formação de um novo”.(6) Efetivamente, essa “indefinição” é observado frequentemente. Especialmente nos limites que separam o “social” do “natural”. E como resultado, no lugar de uma designação cada vez mais clara do limite — o ponto de transição de um para o outro — obtemos uma inimaginável difusão de representações aproximadas que se produzem com maior rapidez e facilidade quanto mais vagas se tornam estas representações. Consequentemente, tudo se torna uma desordem de ambos os lados da fronteira. É difícil chamar esse mingau de “síntese teórica em grande escala”.

Nesta caso, no raciocínio de D. I. Dubrovski, é possível rastrear de forma clara esta mesma difusão de representações sobre o social e o natural no homem. Essa pessoa afirmou algo absolutamente certo, algo com o qual tanto F. T. Mikhailov como E. V. Ilienkov estão completamente de acordo (que todas, em vez de apenas algumas funções “especificamente humanas” do cérebro e as estruturas que o sustentam são determinadas, isto é, formadas, prela atividade humana socialmente condicionada, e nada mais), e imediatamente depois começou a reprovar F. T. Mikhailov que esse ponto de vista torna o indivíduo em um produto passivo do meio ambiente, o conduz à perda do princípio da atividade e consequências terríveis semelhantes.

Até aqui, a “multiplicidade do número de transições lógicas”. Tentemos compreender essas “transições” com mais detalhes. Se lemos uma vez mais o artigo de D. I. Dubrovski, veremos que seu temor em perder “o princípio da atividade psíquica” se deve a uma circunstância muito clara. Isto é, D. I. Dubrovski vincula, por alguma razão, o fenômeno da atividade apenas com formas geneticamente congênitas (ou na antiga terminologia, dada a priori) da função cerebral.

O fato de que a atividade do psiquismo também pode ser proporcionada por formas de atividades adquiridas, isto é, especificamente humanas, de sua cabeça (por exemplo, as categorias lógicas, as normas da moral e mesmo as regras da gramática-sintática), está totalmente ausente do seu ponto de vista teórico. Se isso for verdade, então implicaria que a formiga é muito “mais ativa” que o macaco, e que o macaco é muito “mais ativo” que o homem, e toda a evolução biológica começaria a parecer um processo de crescente passividade dos organismos vivos. Não acreditamos que essa ideia seja muito frutífera no sentido da compreensão teórica da evolução.

Até agora, assumimos que quanto mais alto um organismo sobe na escala da evolução, menos fixas (predeterminadas) eram as formas de sua atividade vital pela estrutura das unidades nervosas, e mais “graus de liberdade” ganhava o organismo em termos de “atividade” adaptativa individual durante a vida. Na qualidade de ser biológico natural, o ser humano possui essa dignidade ao nível máximo, enquanto que a formiga a possui no mínimo. Este é um fato cientificamente comprovado, e é estranho que D. I. Dubrovski, que censura seus oponentes pela desatenção aos dados da ciência, tenha se esquecido disso.

Mas se a evolução puramente biológica está ligada ao crescimento da universalidade da “atividade” (isto é, com a perda da anatomia previamente limitada, “privada” de seu caráter), então nos parece mais razoável a suposição de que o cérebro humano proporciona a psique humana precisamente porque as formas de seu funcionamento em relação com as tarefas humanas específicas já estão completamente livres da influência determinante de relações neurodinâmicas puramente biológicas, geneticamente inatas, e sua ligação com elas se limita ao mínimo.

A partir desse ponto de vista, vejamos o problema da diferença entre o “cérebro de um gênio” e o “cérebro de um idiota” colocada por D. I. Dubrovski.

D. I. Dubrovski escreve que “as características estruturais genéticas do cérebro de um indivíduo dado deveriam determinar em grande medida as características estruturais ontogenéticas de seu cérebro, que ainda escapam à análise direta e que são diretamente responsáveis pelas características psicológicas deste”.(7)

Acreditamos que isso é muito preciso se se referir ao “cérebro de um idiota”. Sim, este cérebro está “substancialmente” conectado em sua atividade; seu funcionamento é fixado de antemão, anatomicamente. Portanto, tal cérebro é muito lento no aprendizado e na assimilação das funções psíquicas especificamente humanas. E disso decorre que o “cérebro de um gênio” é, em primeiro lugar, um cérebro normal, biologicamente normal, um órgão “sadio” do ponto de vista médico.

Do ponto de vista de D. I. Dubrovski o “cérebro de um gênio” constitui a mesma anomalia biológica que o “cérebro de um idiota”. E a maioria de nós, pecadores, somos dotados de cérebros medianos; sendo todos um ponto intermediário entre imbecis e gênios. Alguns estão mais perto daqui, outros de lá. Os extremos são pouco frequentes, enquanto a área cinzenta média é a mais povoada. Um cidadão comum de qualquer país está na média; meio imbecil, meio gênio, sem chegar a ser nem um nem outro. Os gênios se elevam como picos solitários acima dessa massa cinzenta por uma razão puramente biológica, devido a um desenvolvimento anormal do cérebro. Enquanto que no “fundo” — e de novo, pela mesma razão — estão os idiotas totais, idiotas absolutos. Este é o alegre “modelo” de sociedade que obtemos se olharmos as coisas da perspectiva hipotética de D. I. Dubrovski.

O termo “gênio”, utilizado com tanta frequência e sem cuidado por Dubrovski, exige uma explicação. O “gênio” não é uma característica individual de uma pessoa, aquilo que se chama “talento”, mas uma determinação, por assim dizer, do peso específico de um determinado individuo em um determinado meio social. Por isso, se concedeu o posto de “gênios” a pessoas que superavam outras por sua grosseria, retidão, crueldade e primitivismo da psique, e não por sua genuína sabedoria, humanidade e benevolência. O “meio” é a medida do “gênio”. Então vamos deixar de lado os “gênios” e falemos dos “talentos”.

Do nosso ponto de vista, todas as pessoas que nascem com um cérebro biologicamente normal (e “normal” inclui e pressupõe a “variabilidade” muito individual e única de que tanto fala D. I. Dubrovski) são potencialmente talentosas, capazes e dotadas. E se até agora o “talento” e a “capacidade” parecem ser escassos, uma exceção à regra, não há de se culpar a mãe natureza, mas outras circunstâncias.

Acreditamos que qualquer pessoa com um cérebro biologicamente normal chegará a ter talento se conta com a sorte de desenvolver-se em condições humanas normais. D. I. Dubrovski pode nos perguntar o que entendemos por “condições humanas normais”. Diremos a ele que não é isso que está sendo discutido e, portanto, não explicaremos em detalhes, para que não desviemos do ponto de nossa discussão com ele. Diremos apenas que é possível e necessário falar do desenvolvimento humano normal assim como é possível e necessário falar da “norma” na medicina e neurofisiologia. E embora não seja fácil estabelecer essa “normalidade” aqui e ali, embora seja difícil traçar a fronteira entre a “norma” e sua violação com o mesmo rigor que é possível traçar entre o “gênio” e o “idiota”, ainda assim, ela existe. Caso contrário, a medicina e as ciências sociais também seriam inúteis. E não é necessário, como sonham fazer os cientistas que amam a saída fácil, fugir dessa circunstância falando da “relatividade” de qualquer norma. A relatividade é a relatividade, não obstante, uma pessoa saudável ainda é diferente de uma doente, e temos um critério muito preciso para distingui-las. Desde que seu coração esteja saudável, isto é, dentro da média médica, não se pensa nele. De forma idêntica acontece com sua cabeça, com seu cérebro.

O mesmo ocorre com a “norma” no âmbito das condições sociais do desenvolvimento mental humano. É de todo aceitável chamar de “normal” estas condições dentro das quais se proporciona e assegura ao indivíduo (tanto material quanto espiritualmente) todas as possibilidades de acesso aos tesouros da cultura humana. Aqueles em cujo domínio ativo a psique surge primeiro, onde ela se forma, se aperfeiçoa, e o cérebro se converte em um órgão dela.

O comunismo é um programa para a criação de tais condições para todos, isto é, para cada indivíduo com um cérebro clinicamente normal. Estas condições são criadas em uma luta contra as condições anormais da existência humana e seus defensores. Nessa luta, é crucial ter uma compreensão teórica rigorosa da “norma”, tanto em seu significado médico como social, para não confundir um com o outro e não tentar tratar doenças sociais com ferramentas neurofisiológicas e, inversamente, não tentar curar as disfunções orgânicas do cérebro individual com a proteção social de suas consequências psíquicas. Esta confusão é mais frequente do que pode parecer à primeira vista. A presença desta confusão coloca, de fato, o problema teórico da relação do cérebro com a psique. E nos parece que a posição de Dubrovski é de pouca ajuda para resolver a situação teoricamente.

Parece a D. I. Dubrovski que sua posição tem como nobre propósito proteger a “individualidade” contra a ameaça da influência niveladora que exerce a civilização moderna sobre a psique das pessoas. Em F. T. Mikhailov e E. V. Ilienkov viu os fundadores teóricos desta tendência, suspeitando que eles tinham um perverso desejo de fazer com que todas as pessoas fossem ordinariamente idênticas. Também viu a possibilidade de garantir a conservação das diferenças individuais nas diferenças puramente biológicas dos indivíduos, nas diferenças de seus “traços genéticos cerebrais”. Sua preocupação é compreensível: a ameaça da padronização da psique existe em nossa difícil época, das correias transportadoras e dos moldes de produção em massa. Mas precisamente por isso não podemos colocar a questão de forma tão abstrata, como a coloca Dubrovski, isto é, sem especificar, em primeiro lugar, que tipo de “individualidade” se busca salvar e, em segundo, a partir de que tipo de meio social.

Depois de tudo, a principal armadilha da tendência niveladora em nosso século consiste precisamente em que tem como complemento, ainda mais, como forma externa de sua manifestação, justamente o fomento da máxima diversidade nas ninharias, em traços puramente pessoais, que ninguém, exceto seu dono, se interessam. Além do mais, eles realmente não lhe dizem respeito e tem aproximadamente o mesmo significado que a singularidade da caligrafia ou das impressões digitais. Ninguém ataca tal “individualidade” ou tal “diversidade”. Pelo contrário. Na indústria capitalista moderna abunda a engenhosidade destinada a disfarçar a monotonia que supõem os bens de consumo produzidos em massa e cortados nas linhas de montagem em milhões de exemplares com pequenos detalhes totalmente desnecessários (mas que saltam aos olhos) e que criam a ilusão de “ser inconfundível”. O mesmo ocorre com a psique. Apenas um conformista muito estúpido, que não entendeu seu próprio benefício, erradicará essa “inconfundibilidade”. Um conformista de maior sofisticação e cultura, por outro lado, a fomentará, a bajulará, a fim de atrair aquele indivíduo ao reino da cadeia de produção e da padronização. Quanto mais padronizada, estampada e impessoal for sua psique nas principais manifestações e registros socialmente significativos, mais vantajosa é aquela “individualidade inconfundível” que se orgulha de sua dessemelhança com os outros nos mínimos detalhes. Esta espèce sempre floresce em tempos de crise cultural terrível, da qual já foi testemunha brilhante Diderot em seu Sobrinho de Rameau.

Uma verdadeira cultura na plenitude de sua capacidade desenvolve uma individualidade de um tipo e de uma qualidade muito diferentes. E o porquê é evidente. A cultura em geral — como se disse com razão há algum tempo — não consiste na ostentação, nem em ressaltar a própria “peculiaridade” ou a dessemelhança com os outros, mas o contrário: na capacidade de fazer tudo o que os outros fazem, mas se possível, de uma maneira melhor. “Quanto mais culta é uma pessoa, menos aparece em seu comportamento algo que lhe é unicamente peculiar e, por tanto, acidental” (Hegel).

Só neste terreno, no da cultura, floresce a verdadeira originalidade, uma individualidade genuína, isto é, especificamente humana. Aquilo que, na linguagem da ciência, se denomina personalidade.

Ademais, seria lamentável para a personalidade se a única garantia de sua preservação fosse uma peculiaridade biológica inata. Com o nível atual da tecnologia, o valor dessa característica se reduz facilmente a zero. Deixemos que este zero desfrute de uma agradável consciência de “unicidade” de suas substâncias desoxirribonucleicas. Tal consciência não incomoda a ninguém. E, se incomoda, sempre se pode colocá-la para dormir com fármacos.

Dubrovski não promete outra garantia. Do contrário, porque teria perguntado aos partidários do papel determinante do meio ambiente, pensando prejudica-los com esta pergunta: “não está claro por que aproximadamente o mesmo ambiente gera uma variedade tão assombrosa de personalidades, personagens e inclinações diametralmente opostas, propriedades psicológicas incompatíveis”.(8)

E, em nossa opinião, é absolutamente claro porque é “incompreensível” para ele. A razão é simples, tudo é colocado no mesmo saco: as particularidades do gosto, que na realidade estão relacionadas com as mais sutis diferenças da bioquímica individual (um gosta o sabor de azeitonas ou o cheiro do requeijão, enquanto outro sente nojo); junto com os traços psicológicos tão incompatíveis como, por exemplo, a genialidade e a vileza; e personagens tão diametralmente opostos, como Mozart e Salieri.

Neste caso, se pensa o meio — não importa qual — como uma certa marca idêntica que, se decidisse fazê-lo, imprimiria a mesma imagem em todos os cérebros, enquanto se pensa nas pessoas com seus cérebros como material biologicamente passivo de sua atividade monótona de impressão. Somente devido à natureza deficiente do material biológico padrão essas impressões seriam diferentes. Aqui é onde Dubrovski vê a salvação diante do pesadelo da identidade absoluta.

É claro, se o “meio ambiente” e as “pessoas” são entendidas dessa maneira, então o argumento de Dubrovski pode parecer realmente perigoso.

Mas se o meio ambiente é algo concreto-histórico, então como é possível? E se, apesar de ser “aproximadamente igual”, representa uma “unidade na diversidade” que se divide multilateralmente em si mesma em esferas e momentos diferentes e até mesmo opostos? Dubrovski parece ter esquecido completamente essa importante circunstância. Assim como o fato de que as pessoas não são “objetos passivos” diante das influências que recebe deste “entorno” misticamente monótono, mas antes de tudo atuam ativamente no marco das circunstâncias histórico-concretas que lhes oferece e que estas são sempre só “aproximadamente as mesmas”, mas dentro do marco desse “aproximadamente” são muitas e marcadamente diferentes, até mesmo opostas.

Sejamos lógicos. Se dizemos que o meio ambiente é “aproximadamente o mesmo”, devemos dizer que as pessoas também são “aproximadamente as mesmas”. Assim teremos uma verdade. Se se diz que as pessoas são diferentes, tem que ser justo com o entorno. Do contrário, vê-se o entorno como “o mesmo” e as pessoas como diferentes. Desta forma, não fica claro que “correlação” pode haver aqui.

Assim, as coisas se tornarão “incompreensíveis”; não só as diferenças entre as pessoas, mas também o fato de que essas pessoas, apesar de suas evidentes diferenças, seguem unidas em uma mesma classe, em uma mesma família. E literalmente não é o mesmo que “aproximadamente”. A partir das diferenças biológicas apenas se pode compreender a família. E mesmo assim não até o fim, e nem em seus principais “parâmetros”.

A responsabilidade pelas diferenças sociais não deve ser deixada nas mãos da natureza. Essa não é em absoluto um erro das diferenças psíquicas, nem da identidade psíquica das pessoas. Os fenômenos psíquicos possuem uma “substância” bastante diferente do cérebro: o trabalho humano, a atividade coletiva das pessoas, transformadora da natureza, inclusive da natureza do corpo orgânico do próprio homem. A natureza, ao criar o cérebro de Cro-Magnon, fez tudo o que pôde e o fez bem: criou um órgão maravilhoso capaz de tudo precisamente porque, de antemão, anatomicamente, não serve para nada, exceto pela capacidade única de assimilar qualquer habilidade, qualquer forma de trabalho. O uso que fazemos dessa maravilhosa dádiva da natureza depende apenas de nós mesmos, do nível alcançado por nossa cultura. Assim, que façamos com que esta cultura — a musical, a filosófica, a médica ou qualquer outra — seja a mais rica e elevada possível.(9)

Seguindo a lógica que nos propõe D. I. Dubrovski, temos de concluir que, uma vez que no entorno em que se formaram pares de personagens psicologicamente tão incompatíveis como Mozart e Salieri, como Demócrito e Platão, etc., etc., foi “aproximadamente o mesmo”, então a verdadeira e “mais profunda causa” dos conflitos psicológicos e filosóficos entre eles deveria ser buscado nas diferenças das células germinais em que foram criados os personagens mencionados. Deve ser encontrado nas “peculiaridades” de suas estruturas bioquímicas, nas mudanças mutacionais dentro das moléculas desoxirribonucleicas e, finalmente, no “livre arbítrio dos elétrons” controlado apenas pelo “princípio da incerteza”. Essa lógica nos levará às profundezas da matéria.

Não é necessário fazer isso, não é necessário buscar uma “conexão” aqui. No entanto, é claro, esta “conexão” existe. Nisto estamos de acordo com D. I. Dubrovski, removendo assim mais um ponto de disputa a seu favor. Porém, como troca, pedimos também que ele considere que a conexão aqui é mais ou menos a mesma que a que existe entre a terra e a renda da terra ou, se se busca uma analogia ainda mais compreensível, entre a beterraba vermelha e a música.

Por isso volto a repetir, sob o risco de levantar novas perguntas do tipo “como você sabe disso?” — que buscar “correlações” entre a estrutura cerebral de Platão ou Demócrito e a conformação teórica de suas ideias filosóficas é se ocupar em um exercício absolutamente inútil. E que a inutilidade de tal exercício não provém em nada do triste fato de que D. I. Dubrovski (e não só eu) desconhece — e nunca jamais chegou a conhecer — os “estudos comparativos da estrutura cerebral destes grandes pensadores”, mas por outras razões muito mais poderosas.

“As peculiaridades” e sobretudo “a genética” dos cérebros de Demócrito e Platão, assim como as de seus leitores e admiradores, de seus amigos e opositores, tanto falecidos como vivos atualmente, não tiveram, não tem e não terão nenhuma relação com as peculiaridades dos sistemas filosóficos designados por esses nomes. Essas “peculiaridades” são precisamente aqueles detalhes que variam individualmente e que — e talvez precisamente por sua “variabilidade” — são totalmente indiferentes à composição dos sistemas filosóficos e de outro tipo. Estes podem facilmente “proporcionar” os processos mentais associados à assimilação dos sistemas, conceitos, concepções e hipóteses mais diferentes e até mesmo diretamente opostas.

Lamentavelmente, não podemos demonstrar esse fato definitivamente de forma empírica, isto é, apresentando diagnósticos patológicos comparativos, assim como D. I. Dubrovski não pode demonstrar o contrário. No entanto, parece-nos possível eleger uma das duas posições, por razões suficientes e convincentes para uma pessoa teoricamente pensante.

Preferiria não entrar nesta discussão em absoluto, se as opiniões desenvolvidas pelo meu oponente pertencesse apenas a ele. No entanto, ao ler a literatura atual, que de uma maneira ou outra se refere ao delicado problema da relação do cérebro com a psique, pode-se constatar mais de uma vez que nossa divergência com D. I. Dubrovski constitui só um episódio particular, e que a mesma desunião de pontos de vista pode ser vista não apenas nas páginas das revistas especializadas, mas também nas da imprensa mais lida. Por exemplo, na Literaturnaia Gazeta acontece o mesmo tipo de debate há um ano. Uma das partes ali representadas certamente aceitaria em nossa disputa com D. I. Dubrovski sua posição no lugar da nossa. O conteúdo desta declaração é aproximadamente o mesmo que o do artigo de D. I. Dubrovski. Se o expressamos brevemente, eliminando o desnecessário e apenas disfarçando a essência da terminologia científica moderna, se resume ao seguinte: Lombroso, é claro, exagerou, mas há algo aqui: “não se pode, por um lado, superestimar” (o poder das causas sociais da delinquência), “e por outro lado, não se pode subestimar” (a propensão biologicamente inata de alguns indivíduos para cometer delitos). Assim é como entendi, espero que corretamente, os discursos de N. Struchkovi e B. Utevski (Literaturnaya gazeta, nº 48, 1967), J. Jorisch (o mesmo órgão de imprensa, nº 10, 1968) e alguns outros artigos em publicações não menos lidas. Esta campanha contra o “dogma antiquado” sobre a onipotência dos fatores sociais da formação da personalidade foi apoiada muito recentemente, para minha grande surpresa e desgosto, pelo professor L. Platonov, um honrado trabalhador científico da RSFSR, que conheço bem e tenho grande respeito por sua mente clara e sensata. À margem de qualquer relação com o que este afirmou anteriormente, o professor K. Platonov escreveu de repente: “A personalidade inclui traços condicionados tanto socialmente como biologicamente”, e portanto, “a punição aplicada corretamente do ponto de vista da psicologia corretiva-laboral deveria formar traços positivos da personalidade socialmente condicionados e reduzir a influência negativa dos traços biologicamente condicionados da personalidade”. Isto é o que li junto ao alegre chamamento: “Punições mais estritas, isso é o que falta! (este chamamento não pertence a Platonov, só foi impresso junto com ele na mesma página. Veja-se Literaturnaya gazeta, nº 38 de 1968).

Aqui, nos sentimos ofendidos em nome da magnífica natureza, pela maravilhosa morfologia do corpo e do cérebro humano, a que se atribuíram todas as “qualidades negativas da personalidade” para credenciar todas as “positivas” com medidas sociais de proteção frente às intrigas malévolas da carne pecadora. De uma maneira estranha, também aqui, a posição se justifica por uma preocupação pelo indivíduo que foi precisamente “esquecido”.

Isso é tudo? Por acaso não são baseadas no mesmo fundamento teórico as demandas interminavelmente repetidas de separar os alunos em “superdotados” e “sem talento”, em “capazes” e “incapazes”? Uma educação politécnica comum, universal e igual para todos é a maior conquista do nosso sistema e, ao mesmo tempo, do ponto de vista do cérebro e da psique que discutimos, também começou a parecer uma ideia arcaica e até mesmo “prejudicial” a algumas pessoas. A neurofisiologia é convidada a demonstrar esta posição, especialmente mediante os “métodos matemáticos exatos”. Trata-se de um assunto digno de reflexão.

É melhor terminar aqui por enquanto e deixar que o leitor decida por si mesmo qual das duas posições teoricamente excludentes ele prefere, em qual delas ele pode esperar encontrar a base para seu trabalho de criação das condições para o florescimento pessoal e quais delas se baseia nos fatos reais da ciência e qual se baseia, na “linguagem da ciência”, no fatos que podem ser verificados se necessário (isto é, em princípio, reprodutíveis sob condições experimentais semelhantes), quais se baseiam em “vagas alusões”, em “relações”, “que ainda escaparam da análise direta”, isto é, em “relações” inventadas por ninguém e nunca observadas, em conjecturas sobre as peculiaridades genéticas dos cérebros de músicos e filósofos mortos há muito tempo, e em argumentos mortais ad hominem, como se podemos nos tornar um novo Mozart ou Platão, por mais que nos castiguem.


Notas de rodapé:

(1) DUBROVSKI, D. I. Mozg i psikhika. In: Voprosy filosofi, nº 8, 1968, p. 130. (retornar ao texto)

(2) Hegel G.W.F. Obras, Vol. III, p. 139. (retornar ao texto)

(3) Essa disputa foi travada há 200 anos por Diderot e Helvetius, mas, apesar da sagacidade mostrada por ambos os lados, cada um permanece em sua própria… [texto inacabado no original]. (retornar ao texto)

(4) N. T. Aqui, Ilienkov se reporta aos quatro temperamentos clássicos da filosofia grega: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático. Apesar de adquirir contornos próprios, muitas teorias psicológicas de alguma forma se reportam a esses quatro temperamentos como tipos psicológicos específicos. (retornar ao texto)

(5) DUBROVSKI, D. I. Mozg i psikhika, p. 132. (retornar ao texto)

(6) Ibid., p. 133. (retornar ao texto)

(7) Ibid., p. 129. (retornar ao texto)

(8) Ibid., p. 134. (retornar ao texto)

(9) Como fundamentação científica e experimental desta afirmação, pode-se apontar o artigo de A. I. Meshcheriakov (Voprosy filosofi, nº 9, 1968). (retornar ao texto)

Inclusão: 14/02/2022