Acerca dos problemas do período de transição do capitalismo ao socialismo e da ditadura do proletariado

Kim Il Sung

25 de Maio de 1967


Origem: discurso pronunciado diante dos trabalhadores da esfera ideológica do Partido.

Fonte: Teoria da Construção Económica do Socialismo, Edições Maria da Fonte, 1976. Colecção «DOCUMENTOS».

Transcrição: João Victor Bastos Batalha

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Nestes últimos tempos, no decurso do estudo dos documentos da Conferência do Partido, surgiram diferentes opiniões, sobre os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado, entre um certo número de peritos e de quadros encarregados do trabalho ideológico. Sobretudo depois da publicação de um artigo relativo a tais problemas, multiplicaram-se as opiniões a respeito. Também eu dei uma opinião simples depois de ter estudado os materiais relativos a estes problemas e trocado opiniões com peritos. Ora os camaradas que a escutaram transmitiram-na, interpretando-a cada um à sua maneira. Daí resultou que muitos pontos foram deformados. Como as questões em discussão são questões de grande importância, ligadas aos documentos da Conferência do Partido, não podemos de forma nenhuma desprezá-las. Eis a razão porque tenho de falar hoje delas duma forma um pouco mais detalhada.

Como todos os outros problemas científicos e teóricos, os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado deveriam ser resolvidos partindo sempre das ideias de Juche do nosso Partido. Nunca devemos pretender resolver dogmaticamente estes problemas, ligando-nos estritamente às teses dos clássicos. Também não se deve querer interpretá-los à maneira de outrem, deixando-nos cativar pelas ideias de servilismo às grandes potências. Ora, tal como ressalta não só do exame das exposições de numerosos peritos como da leitura das memórias de certos camaradas, a verdade é que quase todos interpretam de uma forma dogmática as teses dos clássicos, se não querem interpretá-las conforme o que pensam as pessoas doutros países e deixar-se arrastar para os desvios de servilismo às grandes potências. Esta é a razão porque, no fim de contas, formulam os problemas num sentido completamente diferente daquele que lhe dá o nosso Partido. Procedendo assim, nunca se poderá estudar e resolver corretamente os problemas. Só se poderá chegar a uma conclusão justa resolvendo os problemas do próprio chefe, sem servilismo às grandes potências nem dogmatismo.

Falemos primeiro do problema do período de transição.

Para esclarecer corretamente o problema do período de transição é necessário examinar em primeiro lugar as circunstâncias históricas e as premissas de que partiram os clássicos, e em particular Marx, ao equacionarem este problema.

Na nossa opinião, desde já, quando Marx dava a definição de socialismo e formulava o problema do período de transição do capitalismo ao comunismo, tinha decerto no espírito um país capitalista desenvolvido. Creio que é preciso, antes de mais, compreender claramente este fato para se poder resolver corretamente o problema do período de transição.

Como se apresenta então o país capitalista desenvolvido cuja questão se levanta aqui? É um país capitalista onde existe o operário agrícola ao lado do operário industrial, o camponês já não se encontra no campo, uma vez que tendo sofrido, tal como a cidade, uma transformação capitalista completa, as relações capitalistas dominam em toda a sociedade. O país capitalista avançado em que pensava Marx, no desenvolvimento da sua doutrina, era um país capitalista desse tipo, e era precisamente um país como a Grã-Bretanha que ele tinha sempre na mente, e onde vivia e orientava as suas atividades. Eis a razão porque na exposição do problema do período de transição do capitalismo ao socialismo, Marx teve, em primeiro lugar, como premissa a condição da ausência das diferenças de classe entre a classe operária e o campesinato.

Se examinarmos agora os países capitalistas mais desenvolvidos do nosso tempo, verificamos que, tendo as forças produtivas sofrido um alto desenvolvimento nesses países, também o campo sofreu uma completa transformação capitalista e que, por este motivo, a classe operária constitui a única classe trabalhadora tanto no campo como na cidade. Num país capitalista existem várias dezenas de milhares de quintas que são altamente mecanizadas. Pois bem, a eletrificação, a irrigação e o progressivo emprego da química, também atingiram no campo um alto nível de desenvolvimento. Por isso se diz nesse país que um operário agrícola cultiva 30 hectares de terra. Que significa isso? De fato, isso significa que não só não existem diferenças de classe entre a classe operária e o campesinato, mas também que as forças produtivas da agricultura atingiram quase o mesmo nível das da indústria. Se é verdade que existe uma diferença, não é mais do que a diferença de condições de trabalho: o operário industrial trabalha na fábrica, o operário agrícola trabalha no campo.

Marx considerava também como um período relativamente curto a etapa de transição ao socialismo, após a tomada do poder pelo proletariado nesses países capitalistas desenvolvidos. Por outras palavras, considerava que uma vez que só existem duas classes na sociedade, a classe capitalista e a classe operária, será possível cumprir as tarefas do período de transição, num prazo relativamente curto e passar rapidamente à fase superior do comunismo, uma vez a classe dos capitalistas esmagada e as suas propriedades tomadas e convertidas em propriedade de todo o povo no decorrer da revolução socialista. Portanto, Marx nunca afirmou que era possível passar diretamente do capitalismo ao comunismo, sem atravessar a fase do socialismo. Seja qual for o grau de desenvolvimento das forças produtivas, mesmo que não existam diferenças entre a classe operária e o campesinato, é preciso cumprir obrigatoriamente, antes de passar ao comunismo, as tarefas do período de transição que consistem na liquidação dos restos das forças da classe exploradora e na supressão das ideias caducas na consciência dos homens. É o primeiro ponto que temos de ter em conta sem falta.

O segundo ponto que devemos tomar em consideração para estudar a doutrina de Marx sobre o período de transição e para esclarecer este problema como deve ser é a visão de Marx sobre a revolução ininterrupta.

Como toda a gente sabe, Marx não podia ver claramente o desenvolvimento político e econômico irregular do capitalismo, visto ter vivido numa época do capitalismo pré-monopolista e, por consequência, considerava que a revolução proletária estalaria quase simultaneamente, de uma forma sucessiva nos principais países capitalistas da Europa, pensando que a revolução mundial triunfaria relativamente depressa. Partindo destas premissas, Marx não só considerou o período de transição do capitalismo ao socialismo como um período histórico relativamente curto, como também definiu que a ditadura do proletariado corresponderia, em tempo, ao período de transição, isto é, definiu o período de transição e a ditadura do proletariado como coisas inseparáveis uma da outra. Devemos também ter em conta este ponto. Pode-se considerar também que Lênin continuou no essencial a posição de Marx quando expôs os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado. Por certo, ainda que capitalista, a Rússia onde Lênin viveu e dirigiu as suas atividades era, não um país capitalista desenvolvido, mas um país capitalista atrasado, ao contrário da Grã-Bretanha e da Alemanha onde Marx viveu e orientou suas atividades. Por isso, Lênin considerava a fase socialista, fase transitória, como um período relativamente longo, e não curto como dizia Marx.

No entanto, segundo o ponto de vista de Marx, Lênin afirmou também que a sociedade onde subsistem as diferenças de classe entre o operário e o camponês é, ainda que a classe operária tenha derrubado o regime capitalista e tomado o poder, uma sociedade transitória e não, decerto, uma sociedade comunista nem uma socialista completa. Também disse que não basta derrubar os capitalistas enquanto classe, mas que é preciso eliminar as diferenças entre o operário e o camponês, para que o socialismo seja completamente realizado. Desta maneira, Lênin considerava, em última análise, como período de transição do capitalismo ao socialismo ou ao comunismo, o período definido entre o derrube da classe capitalista pela operária e a realização da sociedade sem classes, em que desaparecem as diferenças entre a classe operária e o campesinato. Considero que esta definição do período de transição é profundamente correta.

Ora, a questão está no fato dos nossos camaradas interpretarem dogmaticamente as teses de Marx e de Lênin sem tomarem em consideração a época e as circunstâncias históricas de onde elas surgiram e, em particular, no fato de estabelecerem que o período de transição e a ditadura do proletariado são a mesma coisa e inseparáveis.

Sem dúvida, é verdade que o período de transição do capitalismo ao socialismo ou ao comunismo só se consumará quando, após o derrube da classe dos capitalistas, for realizada a sociedade sem classes onde já não existirão diferenças entre a classe operária e o campesinato. Além disso, podemos acreditar que, no caso da deflagração sucessiva da revolução socialista em todos os países e do triunfo da revolução à escala mundial, o período de transição e a ditadura do proletariado corresponder-se-iam e que com o fim do período de transição, a ditadura do proletariado desapareceria, extinguindo-se então o Estado.

Mas é preciso considerar que quando o socialismo for construído e a sociedade sem classes for realizada num único país ou numa certa região, o período de transição chegará ao fim, mesmo que a revolução não tenha triunfado à escala mundial. Contudo, a ditadura do proletariado não poderá desaparecer, e menos ainda se poderá falar da extinção do Estado, enquanto o capitalismo subsistir no mundo. Por isso, para elucidar como deve ser os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado, não devemos agarrar-nos de uma forma dogmática às teses de Marx e de Lênin, mas interpretar estes problemas partindo da experiência prática da edificação do socialismo no nosso país.

Presentemente, algumas pessoas usam a noção do período de transição do capitalismo ao socialismo, mas não se servem em sentido nenhum da noção de período de transição do capitalismo ao comunismo, isto é, à fase superior do comunismo. Apesar de tudo, empregam o termo “passagem gradual do socialismo ao comunismo”.

O desvio oportunista de direita consiste em considerar que o período de transição vai da conquista do poder pela classe operária à vitória do regime socialista e em julgar, fazendo coincidir o período de transição com o período de ditadura do proletariado, que a ditadura do proletariado acaba a sua missão histórica logo que o período de transição chegue ao fim. Esta é a razão porque, os que defendem esta posição afirmam que, a partir do momento em que a vitória tão completa como definitiva do socialismo, primeira fase do comunismo, tenha sido alcançada e que se passou à edificação generalizada do comunismo, a ditadura do proletariado cumpriu a sua missão histórica deixando de ser necessária. É uma visão oportunista de direita que vem inteiramente contra o marxismo-leninismo.

Qual será então a visão oportunista de “esquerda”? Recentemente, os que têm pontos de vista de “esquerda” consideravam o problema do período de transição exatamente da mesma maneira que os que têm pontos de vista oportunista de direita. Mas nestes últimos tempos, partindo da sua posição segundo a qual o comunismo só poderá ser realizado após algumas gerações, pensam que é necessário considerar o período de transição como um período de transição do capitalismo à fase superior do comunismo. O caminho que seguem para isso é, segundo creio, criticar o oportunismo de direita. Criticar os desvios de direita é bom, mas tal ponto de vista sobre o problema do período de transição, não o podemos considerar correto.

Como acabamos de ver acima, podemos aperceber-nos de que essas pessoas cometem todas, tanto umas como outras, desvios quando abordam os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado.

Somos da opinião de que pouco importa que se chame período de transição ao período de transição do capitalismo ao socialismo, ou ainda período de transição do capitalismo ao comunismo, uma vez que o socialismo é a primeira fase do comunismo. Contudo o que acontece aqui, é que um certo número dos nossos camaradas, arraigados de servilismo às grandes potências, consideram, segundo o ponto de vista oportunista de “esquerda”, que o período de transição se situa entre o capitalismo e a fase superior do comunismo, ou, segundo o ponto de vista oportunista de direita, que vai até à vitória do socialismo.

O ponto crucial da polêmica sobre o período de transição não está pois nos termos “transição ao socialismo” e “transição ao comunismo”, mas reporta-se à questão de saber onde traçar a linha de demarcação do período de transição. Atualmente, muita gente, que traçou incorretamente esta linha de demarcação, caiu na confusão, o que dá lugar a diversas questões. Tanto a linha de demarcação traçada pelos que têm pontos de vista oportunistas de direita como a traçada pelos que têm pontos de vista de “esquerda”, causam problemas.

A fase superior do comunismo, não é apenas uma sociedade sem classes, onde não existem diferenças entre o operário e o camponês, mas também uma sociedade altamente desenvolvida onde também não existem diferenças entre o trabalho intelectual e o trabalho manual e onde todos os seus membros trabalham segundo a sua capacidade e recebem segundo as suas necessidades. Eis a razão porque, se considerarmos que o período de transição vai até esta fase superior do comunismo, isso equivale, de fato, a não traçar a linha de demarcação. Algumas pessoas não só consideram que o período de transição vai até à fase superior do comunismo, como também afirmam que é impossível realizar o comunismo num só país. Dizem que só se poderá entrar no comunismo quando se realizar a revolução mundial. Segundo esta opinião, o período de transição não pode terminar antes da completa concretização da revolução mundial. Enquanto os que defendem uma posição de direita fazem coincidir o período de transição com a ditadura do proletariado considerando que o período de transição vai até ao triunfo do socialismo, os que consideram que ele dura até à fase superior do comunismo, explicam que o período de transição e a ditadura do proletariado se correspondem mutuamente. Ao que pensamos, foram bastante longe na sua opinião.

Por outro lado, levanta-se também um problema no fato de os que têm pontos de vista de direita considerarem que o período de transição vai até ao triunfo da revolução socialista. A ideia de que o período de transição vai até à vitória do regime socialista provém do ponto de vista ideológico que consiste em abandonar, no plano nacional, a luta de classes contra os restantes elementos da classe exploradora derrubada e em renunciar, no plano internacional, à revolução mundial, querendo viver em paz com o imperialismo. Pior ainda, defendem que a ditadura do proletariado desaparece com o fim do período de transição. Como poderia ser isto? É profundamente errado!

Não se deve, pois, seguir mecanicamente o que foi estabelecido pelas pessoas que têm pontos de vista de direita nem tomar como critério o que foi estabelecido pelos que têm pontos de vista de “esquerda”.

Devemos estabelecer sempre firmemente o Juche e basear-nos na experiência prática da revolução e da edificação no nosso país para ponderar o problema.

Como já mencionei mais acima, as definições que os clássicos deram aos problemas do período de transição e da ditadura do proletariado são, de fato, corretas do ponto de vista das condições históricas do seu tempo e das premissas de que partiram.

Mas, hoje, a nossa realidade exige que se desenvolvam estas definições de uma forma criadora e não que as apliquemos mecanicamente. Realizamos a revolução socialista nas condições que herdamos das forças produtivas muito atrasadas de um país agrícola, e edificamos o socialismo nas circunstâncias em que o capitalismo continua ainda como uma força considerável no mundo.

Para esclarecer como deve ser os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado, é absolutamente necessário ter em conta esta realidade concreta em que nos encontramos. Tendo em conta este ponto, penso que é ir demasiado longe considerar que o período de transição, no nosso país, vai até à fase superior do comunismo, e que é correto considerar que o período de transição vai até ao socialismo. Mas é errôneo considerar que o período de transição termina logo que a revolução socialista triunfe e que seja estabelecido o regime socialista. Tanto à luz do que disseram os fundadores do marxismo-leninismo, como à luz da nossa experiência prática, é correto encarar o problema da seguinte forma: o derrube da classe dos capitalistas e a concretização da revolução socialista pela classe operária, depois da tomada de poder, não marcam de modo nenhum a edificação completa da sociedade socialista. Esta é a razão porque nunca afirmamos que o estabelecimento do regime socialista é a vitória completa do socialismo.

Quando estará então realizada a sociedade socialista completa? A vitória completa do socialismo só será atingida quando as diferenças de classe entre a classe operária e o campesinato forem eliminadas e as camadas sociais médias, em particular as massas camponesas, nos apoiem ativamente. Enquanto os camponeses não forem transformados em classe operária, o seu apoio, mesmo que se verifique, não poderá ser firme e estará inevitavelmente sujeito a uma certa oscilação.

A tomada do poder pela classe operária é apenas o princípio da revolução socialista. Para edificar completamente a sociedade socialista, é preciso consolidar as bases materiais do socialismo, prosseguindo continuamente a revolução. Já insisti muitas vezes sobre este ponto nos meus informes e discursos. Ora, um certo número dos nossos camaradas, impregnados das ideias do servilismo às grandes potências, tiveram sempre um grande interesse pelo que diziam os outros, sem mesmo terem o cuidado de estudar seriamente os documentos do nosso Partido. Isso é um erro grave.

Devemos apoiar-nos firmemente na nossa realidade para vermos corretamente todos os problemas. Como o nosso país não passou pela revolução capitalista, as forças produtivas estão muito atrasadas e as diferenças entre a classe operária e o campesinato subsistirão por muito tempo, mesmo após a concretização da revolução socialista. Na realidade, hoje são muitos poucos, no mundo, os países capitalistas altamente desenvolvidos, uma vez que a maior parte dos países são países atrasados que, tal como o nosso país e seus semelhantes, eram outrora colônias ou semicolônias, ou então países que ainda se encontram subjugados. Tais países só poderão edificar uma sociedade sem classes e consolidar o socialismo, desenvolvendo as forças produtivas durante um período relativamente longo mesmo depois da realização da revolução socialista.

Pelo fato de não termos atravessado normalmente a etapa de desenvolvimento capitalista, devemos forçosamente realizar hoje, na nossa etapa socialista, a tarefa de desenvolver as forças produtivas, que deveria ter sido cumprida necessariamente sob o capitalismo. Não é absolutamente necessária proceder a uma transformação capitalista da sociedade, formar conscientemente capitalistas e depois abatê-los para, a seguir, reedificar o socialismo, pelo fato de não termos realizado esta tarefa na etapa capitalista. A classe operária que tomou o poder não deve fazer renascer a sociedade capitalista, mas, com vista a edificar a sociedade sem classes, deve realizar sob o regime socialista essa tarefa que deveria ter sido realizada na etapa da revolução capitalista.

Não devemos deixar de consolidar sem cessar as bases materiais do socialismo para conduzir as forças produtivas, pelo menos, ao nível dos países capitalistas desenvolvidos e para eliminar completamente as diferenças entre a classe operária e o campesinato. Com efeito, é preciso mecanizar os trabalhos agrícolas, empreender o avanço do emprego da química, desenvolver a irrigação e pôr em vigor a jornada de trabalho de 8 horas, impulsionando a revolução técnica até ao ponto onde os países capitalistas desenvolvidos operaram as transformações capitalistas nos seus campos.

Foi precisamente com esse fim que publicamos as Teses sobre a questão rural socialista. Ora, os nossos camaradas não estudam mesmo como deve ser estas Teses. Devemos usar o cérebro para ponderar todo o problema do nosso próprio chefe, baseando-nos sempre nos documentos do nosso Partido. Quais são então as ideias principais das Teses sobre a questão rural socialista no nosso país? As ideias fundamentais das Teses consistem em realizar a revolução técnica no campo, para desenvolver fortemente as forças produtivas da agricultura e, ao mesmo tempo, empreender aí a revolução ideológica e cultural a fim de eliminar progressivamente as diferenças entre a classe operária e o campesinato nos domínios técnico, ideológico e cultural, e em levar a propriedade cooperativa ao nível da propriedade de todo o povo.

Ora, estas tarefas não podem ser realizadas sem a direção e a ajuda da classe operária ao campesinato. A linha de conduta do nosso Partido consiste em realizar a revolução técnica no campo assistindo material e tecnicamente os camponeses, através do apoio de sólidas bases industriais. Com efeito, é preciso enviar muitos tratores para o campo e fornecer-lhes grandes quantidades do adubo e de outros produtos químicos agrícolas para fazer avançar o emprego da química e também é necessário efetuar a irrigação. Ao mesmo tempo, a classe operária deve ajudar os camponeses a reforçar a sua ideologia e exercer sobre eles a sua influência cultural. Só deste modo é que os camponeses podem ser completamente transformados em classe operária.

Na realidade, a transformação dos camponeses em classe operária é uma das questões mais importantes da edificação do socialismo e do comunismo. É precisamente por estes meios que nos propomos transformar os camponeses em classe operária e eliminar as diferenças entre a classe operária e o campesinato.

Não precisamos de servilismo às grandes potências mas sim de resolver a questão da transformação dos camponeses em classe operária, mantendo-nos firmemente na posição de Juche do nosso Partido. Devemos aplicar o espírito das Teses e consolidar as bases materiais do socialismo para levar as forças produtivas a um nível elevado, eliminar as diferenças entre a cidade e o campo e tornar fácil a vida do povo.

Só desta maneira é que podemos ganhar completamente as antigas camadas sociais médias. Enquanto as camadas médias não deixarem de oscilar e não nos apoiarem inteiramente, não poderemos dizer que o socialismo foi consolidado, nem considerar que ele tenha triunfado completamente. Apenas poderemos dizer que realizamos completamente o socialismo quando as camadas sociais médias nos apoiarem ativamente. Poderemos dizer que as tarefas do período de transição do capitalismo ao socialismo foram cumpridas, quando, pelo impulso da edificação do socialismo, tivermos ganho completamente para o nosso lado as camadas sociais médias e tivermos suprimido as diferenças entre a classe operária e o campesinato e construído a sociedade sem classes.

Assim, penso que é correto traçar a linha de demarcação do período de transição no ponto em que se realiza a sociedade sem classes, ao contrário do que defendem os que têm desvios de direita ou de “esquerda”.

Como se deve então chamar esta sociedade que corresponde ao período que vai da vitória da revolução socialista e da concretização da transformação socialista até à supressão das diferenças de classe entre a classe operária e o campesinato? Esta sociedade pertence sem dúvida ao período de transição, mas é uma sociedade sem exploração. É, portanto, impossível chamar-lhe outra coisa que não seja sociedade socialista.

Certamente, não se passará à fase superior do comunismo, logo que o período de transição tenha chegado ao fim. Para atingir a fase superior do comunismo, é preciso, mesmo depois do fim do período de transição, prosseguir a revolução e a construção, e desenvolver assim as forças produtivas até ao nível em que cada um trabalhe segundo as suas capacidades e receba segundo as suas necessidades.

Penso que este ponto de vista sobre o problema do período de transição está de acordo com as definições de Marx e de Lênin e que sai das novas condições históricas e da experiência prática da revolução e da edificação no nosso país. Esta não é a nossa conclusão definitiva, mas sim uma conclusão preliminar. É conveniente que aprofundeis os vossos estudos neste sentido.

Se se deve definir assim o problema da transição, como se deverá encarar o problema da ditadura do proletariado? Como já disse mais acima, os clássicos pensaram que o período de transição e a ditadura do proletariado se correspondem reciprocamente. Pois bem, se for realizada no nosso país a sociedade sem classes e for atingida a vitória completa do socialismo, ou melhor, se as tarefas do período de transição forem cumpridas, deixará de ser necessária a ditadura do proletariado? Nunca se poderá dizê-lo. Sem falar da necessidade de sua experiência para todo o percurso do período de transição, a ditadura do proletariado deve prolongar-se absolutamente até à fase superior do comunismo, mesmo depois do fim do período de transição.

Mesmo que consolidássemos as bases materiais e técnicas do socialismo e que, por aplicação das Teses sobre a questão rural socialista, concretizássemos a revolução técnica no campo, levássemos a propriedade cooperativa ao nível da propriedade de todo o povo, transformássemos o campesinato em classe operária e eliminássemos as diferenças entre a classe operária e o campesinato, as forças produtivas não teriam chegado ainda a um nível que permitisse aplicar o princípio do comunismo: cada um trabalha segundo as suas capacidades e recebe segundo as suas necessidades. É por isso que mesmo nessa altura será preciso continuar a edificar o socialismo e a lutar pela realização do comunismo. É evidente que não se poderão cumprir estas tarefas sem a ditadura do proletariado. Ou melhor, mesmo depois do fim do período de transição, a ditadura do proletariado deve prolongar-se até à fase superior do comunismo.

Mas, aqui levanta-se uma outra questão: logo que se realize o comunismo num país ou numa região, quando o capitalismo ainda subsiste no mundo, que acontecerá à ditadura do proletariado? Enquanto a revolução mundial ainda não estiver acabada e o capitalismo e o imperialismo subsistirem, mesmo que o comunismo esteja realizado num país ou numa região, esta sociedade não poderá evitar a ameaça do imperialismo, nem a resistência dos inimigos do interior ligados aos inimigos do exterior. Em tais condições, o Estado não poderá extinguir-se e a ditadura do proletariado deverá permanecer sempre, mesmo na fase superior do comunismo. No caso da revolução estalar sucessivamente em todos os países do mundo e no caso do capitalismo se arruinar, triunfando a revolução socialista à escala mundial, o período de transição e a ditadura do proletariado coincidirão e, quando o período de transição chegar ao fim, a ditadura do proletariado já não será necessária e extinguir-se-ão as funções do Estado. Contudo, a partir do momento em que admitimos a teoria da possibilidade da edificação do comunismo num só país ou numa certa região, é de fato correto encarar assim separadamente o período de transição e a ditadura do proletariado.

Se encaramos deste modo o problema do período de transição e da ditadura do proletariado, não é de forma nenhuma para rever o marxismo-leninismo. A nossa posição consiste em aplicar de uma forma criadora as teses enunciadas por Marx e por Lênin, às condições históricas novas, bem como à prática concreta do nosso país. Considero que este modo de agir constitui a via que permite combater o dogmatismo e o servilismo às grandes potências e salvaguardar a pureza do marxismo-leninismo.

Em relação à ditadura do proletariado, gostaria de fazer brevemente algumas referências sobre o problema da luta de classes. Haverá a ditadura do proletariado enquanto existir a luta de classes; a ditadura do proletariado é necessária para conduzir a luta de classes. Mas, há várias formas de luta de classes. Uma coisa é a forma de luta de classes no derrube do capitalismo, outra coisa é a luta de classes depois do derrube do capitalismo. Isso já foi claramente indicado nos documentos do nosso Partido. Contudo, muitas pessoas cometem erros de “esquerda” ou de direita, porque não compreendem isto devidamente.

A luta de classes durante a revolução socialista é uma luta que visa liquidar os capitalistas enquanto classe; a luta de classes na sociedade socialista, é uma luta que tem por objetivo a unidade e a coesão, e não é de forma nenhuma uma luta de classes destinada a semear a discórdia e a inimizade entre os membros da sociedade. Na sociedade socialista conduz-se a luta de classes, mas segue-se o método da cooperação com vista à unidade e à coesão. A revolução ideológica que prosseguimos atualmente é, diga-se de passagem, uma luta de classes, e a ajuda que damos ao campo com o objetivo de transformar os camponeses em classe operária também é uma forma de luta de classes. Pois o objetivo que move o Estado da classe operária, ao fornecer máquinas e adubos químicos aos camponeses e ao desenvolver a irrigação, consiste, no fim de contas, em suprimir os camponeses enquanto classe e em transformá-los completamente em classe operária. O objetivo da nossa luta de classes é não só transformar os camponeses em classe operária, suprimindo-os assim enquanto classe, mas também revolucionarizar as antigas camadas sociais médias, os intelectuais da antiga escola e a velha classe pequeno-burguesa urbana em primeiro lugar, remodelando-as assim à imagem da classe operária. Esta é a forma de luta de classes que seguimos.

E depois, sob o nosso regime, dado que as forças contrarrevolucionárias do exterior exercem a sua influência subversiva e que os restantes elementos da classe exploradora derrubada agem no interior, existe uma luta de classes que visa esmagar as suas manobras contrarrevolucionárias.

Como se vê, na sociedade socialista há uma forma da luta de classes que consiste em exercer a ditadura sobre os inimigos do exterior e do interior, ao lado da forma principal da luta de classes que consiste em revolucionarizar e remodelar, pelo método da cooperação, os operários, os camponeses e os intelectuais trabalhadores com vista à sua unidade e à sua coesão.

Por isso, na sociedade socialista a luta de classes não desaparece, mas continua sempre; apenas muda de forma. Este modo de considerar o problema da luta de classes na sociedade socialista é inteiramente justo.

Em relação ao problema da luta de classes, queria dizer ainda algumas palavras para sublinhar o problema da revolucionarização dos intelectuais. Ainda não podemos afirmar que encontramos os meios perfeitos de revolucionarização dos intelectuais. Experimentamos pôr os intelectuais a trabalhar na fábrica com os operários para revolucionarizá-los, mas duvidamos que esse seja um método verdadeiramente perfeito. Se formamos os intelectuais, foi com o objetivo de os ensinar a escrever, de os pôr a estudar as ciências e a técnica ou de os tornar professores. Se queríamos pô-los a trabalhar na fábrica, porque gastamos tanto para os formar, em vez de fazermos deles operários desde o início? Por isso este método também não é conveniente.

Decerto é bom que se aproximem os intelectuais dos operários para que aprendam, com estes últimos, o seu espírito de organização, a sua firmeza e o seu espírito de abnegação, que consiste em servir o povo pelo trabalho manual. Contudo, isso poderia resolver completamente o problema da revolucionarização dos intelectuais? Não. Não são raros os nossos escritores que foram para a fábrica. Mas alguns escritores não fizeram assim tão grandes progressos, mesmo depois do seu trabalho na fábrica. Por consequência, é impossível revolucionarizar os intelectuais unicamente por este método que consiste em mandá-los trabalhar para a fábrica.

O importante é reforçar a sua participação ativa nas diferentes organizações, a começar pela sua participação ativa no Partido. Presentemente, alguns dos nossos intelectuais não gostam de reforçar a sua participação ativa no Partido e nas diversas organizações e não participam corretamente na vida delas. Pensam que o reforço da vida do Partido e a participação na vida das organizações arrastarão à privação de liberdades.

Mesmo entre os quadros, os que se insurgem contra a política do Partido são também os que não participam ativamente no Partido e que não fazem como deve ser o estudo do Partido. Atualmente, como a Escola Central do Partido, também já não reforça a vida do Partido para os seus alunos, estes não sabem, mesmo após a sua saída da escola, nem aplicar o que aprenderam, nem trabalhar e nem viver de uma maneira revolucionária.

É esta a razão porque o mais importante para a revolucionarização dos intelectuais é fazê-los participar ativamente na vida da organização revolucionária. Antes de tudo, é preciso que eles reforcem a sua participação ativa na célula do Partido e que se armem de ideias revolucionárias, fazendo bem o estudo do Partido, sem se vangloriarem da sua sabedoria. Depois, não devem temer nem a crítica que lhes possa ser feita, nem a crítica que tenham de fazer aos outros, devem praticar severamente a crítica e a autocrítica e observar estritamente a disciplina na organização. Só esta forma de agir poderá ajudá-los a autorrevolucionarizarem-se. Toda a gente deve formar em si a ideia do coletivismo na sua vida no seio do Partido ou nas organizações de massa, e assimilar o espírito revolucionário que consiste em aceitar infalivelmente as tarefas revolucionárias distribuídas pela organização e em cumpri-las fielmente. Os membros do Partido e os membros das organizações de massa devem armar-se firmemente da política do Partido e propagá-la, e devem transformar-se em revolucionários executando sem falta as tarefas revolucionárias em conformidade com a política do Partido. O revolucionário é um comunista autêntico. O comunista não tem nada a ver com o egoísmo que consiste em reduzir tudo a si mesmo. Os revolucionários devem ter o espírito comunista de trabalhar e de viver “um por todos e todos por um”, devem temperar-se no espírito do Partido, no espírito de classe e no espírito popular, que consiste em trabalhar para a classe operária e para todo o povo.

No fim de contas, quando os intelectuais não participam ativamente na organização do Partido e em todas as outras organizações, acabam por se corromper. São numerosos os exemplos deste tipo. Sublinho uma vez mais que todos os intelectuais, sejam eles velhos ou novos, devem reforçar a sua participação ativa na organização do Partido e nas outras organizações, a fim de desembaraçarem-se do liberalismo e das ideias pequeno-burguesas e temperarem-se em revolucionários.

Hoje, falei-vos muito detalhadamente os problemas do período de transição e da ditadura do proletariado.

Penso que isto será suficiente para compreenderem, em linhas gerais, os problemas postos em discussão no decurso do estudo dos documentos da Conferência do Partido.