Novo foco de incêndio na Europa de leste

Robert Kurz

27 de fevereiro de 2009


Primeira Edição: OSTEUROPA ALS NEUER BRANDHERD In www.exit-online.org . Publicado em Neues Deutschland de 27.02.2009.

Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


Com cada novo impulso da crise financeira e económica global deslocam-se os palcos. O incêndio incontrolável salta inesperadamente dos bancos para diversas indústrias e dos centros para diferentes regiões mundiais periféricas, regressando daí ao ponto de partida com tanto mais violência. Tal como após os mercados financeiros foi subitamente atingida a indústria automóvel e os seus fornecedores, também a Islândia e a Irlanda foram inesperadamente atingidas após os E.U.A. e a Europa Ocidental. A razão para esta peculiar evolução da crise é um encadeamento estrutural e global, que nunca antes tinha acontecido nesta dimensão. O profundo entrosamento da economia das bolhas financeiras com a chamada economia real a todos os níveis também está simultaneamente integrado nos sistemas transnacionais, nas mais diversas áreas e com os mais variados prazos. A faúlha da crise atinge estes contextos complexos com velocidade crescente e acende cada vez mais novos fogos. Agora é a vez da Europa Oriental.

Ainda há relativamente pouco tempo o processo local de transição do capitalismo de Estado para a integração no mercado mundial era considerado um modelo de sucesso. Mas as altas taxas de crescimento de 7 ou 8 por cento deviam-se apenas ao nível de partida extremamente baixo, após o anterior colapso e consequente desindustrialização. Além disso, este crescimento veio junto com uma clivagem social particularmente brutal. Acima de tudo, porém, o que se chamava com optimismo “reconstrução” era apenas uma fachada de cartão. Na realidade não houve transição absolutamente nenhuma para uma verdadeira participação no mercado mundial, mas apenas para uma economia de endividamento totalmente dependente. Enquanto a fraca reindustrialização se limitava a postos de trabalho de baixos salários deslocalizados pelos conglomerados empresariais ocidentais, os bancos ocidentais deitaram a mão ao sistema financeiro, que em todo o Leste da Europa é constituído quase exclusivamente por filiais suas.

Deste modo se inflou uma bolha de crédito especial na forma de afluxos maciços de capital monetário. Isto diz respeito não em último lugar aos países membros da U.E. ou candidatos ainda não integrados na zona euro. Aqui os Estados, as empresas e as famílias endividaram-se cada vez mais em moedas estrangeiras, principalmente euros e francos suíços. Com estes empréstimos se consumiu, importou e investiu em sectores não produtivos despreocupadamente. Agora esgota-se o fluxo de dinheiro, as moedas locais são desvalorizadas e os juros dos empréstimos em euros e francos suíços explodem. Estão iminentes bancarrotas estatais em série, da Lituânia à Ucrânia.

O crash iminente dos devedores do Leste Europeu tem, evidentemente, sérias consequências para os próprios credores, também eles já debilitados. Instituições monetárias alemãs como o Commerzbank, e mais ainda o francês Société Générale assentam numa massa de créditos malparados do Leste Europeu. Pior é a situação de bancos austríacos como o Raiffeisen International. Só os austríacos têm na zona de influência no antigo império de Habsburgo créditos concedidos no montante de 230 mil milhões em dívida que, note-se, representam tanto como 75 por cento do produto interno bruto do país. Enquanto nos próximos meses serão necessários novos pacotes nacionais e internacionais de salvamento para o Leste e seus credores, quebram as exportações que nesta área há muito vinham crescendo de ano para ano. E já se anuncia o próximo crash regional mundial, nomeadamente na Ásia. A tempestade de fogo que varre a economia por todo o globo em ziguezagues selvagens ainda está longe de ter atingido o ponto culminante.


Inclusão: 31/03/2020