O crescimento duvidoso da indústria automóvel

Robert Kurz

4 de junho de 2012


Primeira Edição: Faule Autokonjunktur in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 04.06.2012.

Fonte: http://obeco-online.org/robertkurz.htm

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


A crise da dívida da União Europeia e dos EUA prossegue animadamente, mas isso pouco parece conseguir prejudicar a conjuntura económica mundial. Em particular, a indústria de exportação alemã imagina-se numa Primavera duradoura. Sobretudo as empresas automobilísticas, que registam sucessivamente novos recordes. Isto prova que a produção de automóveis continua a ser um sector-chave do capitalismo. Neste ramo pode ver-se exemplarmente para onde vai o percurso económico. Estarão então certas as previsões optimistas que pretendem ver para a próxima década uma retoma económica sem fim da economia real?

Vale a pena observar mais de perto a estrutura do boomda indústria automóvel. As vendas na Europa parecem continuar a cair. Em compensação está explodindo a exportação para os países emergentes, especialmente a China, e para os EUA. Se essa situação fosse sustentável a prazo ela estimularia o consumo das grandes massas populares com carros pequenos e médios, enquanto o segmento de luxo poderia formar apenas o cume de uma base ampla. Mas passa-se exactamente o contrário. A carga propulsora do suposto milagre da indústria automóvel são os ostentosos carros de luxo da Daimler, BMW e Audi e os desportivos da Porsche.

Na China, tal como nos EUA, continua a aumentar o fosso entre ricos e pobres. Este é um problema social e económico: Se o consumo de automóveis em massa quase não se verifica no segmento de menor renda, isso é um sinal da natureza febril do crescimento baseado no segmento de luxo. Trata-se de uma prosperidade fictícia baseada no crédito e nas bolhas financeiras.

A nova classe média com capacidade de pagamento na China, cuja dimensão é ilusória em virtude da massa oculta da população, não tem fundamento sólido. Ela está associada ao aumento especulativo de edifícios residenciais e de escritórios em grande parte vagos, estádios e outros investimentos ruinosos, que foi orquestrado por quadros partidários corruptos a nível local e regional. O seu consumo de luxo é financiado a crédito ou com rendimentos irregulares. Muito semelhante é o caso dos EUA, onde as injeções financeiras constantes do governo e da Reserva Federal só chegam a uma minoria.

Realmente não é preciso esperar pelo próximo colapso financeiro para ver que os consumidores de luxo globais se excederam — mesmo no muito aclamado país das maravilhas alemão: Os grandes carros quase não são vendidos a pronto, mas sim em leasing. É possível comprá-los com uma prestação mensal relativamente modesta. É que o fôlego do financiamento já é curto porque para muitos o limite do rendimento já foi atingido.

Mas os carros de prestígio de alta potência são tão artilhados que as reparações se tornam necessárias rapidamente. O que ainda era relativamente barato num carro pequeno antes da electrónica atinge logo 800 ou 1000 euros nos carros mais caros. Na Alemanha e não só as maravilhas adquiridas em leasing acumulam-se nos stands e nas oficinas porque os seus orgulhosos utilizadores não conseguem pagar a reparação (ou a próxima renda). Um pequeno indício de que o boom dos automóveis de gama alta poderá ser tão duvidoso como o boom imobiliário.


Inclusão: 31/03/2020