Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro segundo: A produção de mais valia
Capítulo III - A mais-valia na economia capitalista
22. Crescimento da exploração. O sistema de Taylor


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Até agora falámos da exploração do operário supondo que lhe pagavam a sua força de trabalho pelo seu valor integral. Vamos ver que nem sempre é assim e que a abundância da mão-de-obra permite aos capitalistas não se preocuparem com a recuperação das forças do operário; substitui-se o operário enfraquecido pelo seu irmão sem trabalho.

Portanto, frequentemente, a exploração do operário é muito mais grave do que dissemos. O desenvolvimento do capitalismo agrava esta situação, ainda que o preço da força de trabalho suba por vezes. Se o capitalista paga mais ao operário, obriga-o a trabalhar mais ainda.

A introdução de novas máquinas, que deveria, segundo parece, melhorar as condições de trabalho do homem, vem na realidade agravá-las. Primeiro, acontece que a nova máquina é para muitos operários causa de despedimento; depois, à medida que a técnica se desenvolve, o operário transforma-se cada vez mais em auxiliar da máquina. O ritmo (velocidade e tensão) do seu trabalho deve adaptar-se ao ritmo da máquina; o operário está muito tenso e o menor descuido no esforço mantido pode ter consequências desastrosas, uma vez que a acção de todas as máquinas está coordenada.

O sistema chamado de trabalho em cadeia é muito utilizado nas fábricas Ford: uma «cadeia» sem fim passa de uma oficina a outra, trazendo aos operários os materiais (o ferro, por exemplo); a matéria desbastada (a peça cilíndrica, por exemplo) é colocada na cadeia que a leva à oficina seguinte, onde o trabalho continua (nesta oficina, por exemplo, ajusta-se uma roda, etc.).

A cadeia em movimento traz, sem parar, materiais que carecem de um tempo determinado para uma série específica de movimentos, e isto torna-se mais imperioso que qualquer ordem verbal.

Aqui o homem transforma-se realmente num autómato, num auxiliar sem alma da máquina.

O sistema de Taylor intensifica o trabalho. Sob o nome de organização científica do trabalho ou de racionalização da produção, espalha-se cada vez mais não só no seu país de origem, os Estados Unidos, mas também na Europa.

É necessário dizer que este sistema compreende vários métodos que permitem aumentar a intensidade do trabalho e também o seu rendimento.

Ao evitar vários defeitos das máquinas e das ferramentas, ao tentar colocar as ferramentas de modo que o operário não tenha que se afastar do seu posto para as ir buscar ou inclinar-se para alcançar os materiais, ao assegurar uma boa iluminação e uma boa ventilação, este sistema permite aumentar o rendimento do trabalho sem aumentar a sua intensidade.

Mas o capitalista quer gastar o menos possível para aumentar o rendimento do trabalho. Não lhe basta o rendimento do trabalho, e esta é a razão pela qual recorre a diversos estratagemas para estimular o operário e aumentar a intensidade do seu trabalho. Voltaremos a referir estas medidas no capítulo do salário.

Os dados recolhidos sobre a duração da vida e sobre a capacidade de trabalho do operário confirmam o agravamento das condições de existência da classe operária como consequência do progresso técnico e do aumento da intensidade do trabalho. Estes dados revelam o desgaste excepcional que o organismo do operário contemporâneo experimenta.

A excessiva tensão nervosa do operário provoca com frequência doenças nervosas. Para manter as suas forças, os operários, sobretudo nos países capitalistas avançados, recorrem a estimulantes: queimam o seu organismo ao serviço do capitalismo(1). A capacidade de trabalho da maioria dos operários da sociedade capitalista começa a baixar pelos 35-40 anos; o operário com o cabelo branco não encontra trabalho facilmente nos Estados Unidos, pois sabe-se que não está em condições de cumprir a sua tarefa(2). Em contrapartida, nas classes sociais acomodadas o homem de 35-40 anos quase começa a sua carreira, sendo por esta idade que a maioria dos sábios e dos homens políticos burgueses dão os primeiros passos significativos.

Apesar de todas as conquistas da classe operária nos países capitalistas avançados, a vida dos operários é tão pouco invejável que um escritor alemão escreveu:

Para a sua felicidade o operário norte-americano morre jovem. Para sua felicidade, dizemos, porque o destino que o espera é o de mendigo, suicida ou criminoso de direito comum por necessidade. Os que querem ver o espectáculo desesperante da morte lenta dos homens dêem uma olhadela aos hóteis populares de Kansas City ou da Rua Clark no Sul de Chicago, que vejam as bichas de miseráveis que esperam pela sua ração nas portas dos refeitórios do Exército de Salvação e de outras missões que distribuem um pouco de pão e açúcar, que vejam estas bichas intermináveis nas quais, às vezes, dois ou três mil homens esperam pacientemente e em silêncio a sua vez.

Estas linhas datam do ano de 1919, antes da guerra.

Mas as recordações de antes da guerra não são nada em comparação com a situação da classe operária depois da guerra.

A racionalização da produção, que foi proclamada e aplicada, primeiro na Argentina, depois em Itália, França e Inglaterra, significa a transplantação para a Europa de todas as vantagens do taylorismo e do fordismo.

Um aumento extraordinário da intensidade do trabalho é o primeiro resultado. Mas isto não basta para definir a racionalização capitalista.

Pareceria natural que se encurte a jornada de trabalho e se aumentem os salários depois de se produzir um forte aumento da intensidade do trabalho. Mas, pelo contrário, vemos que a jornada se prolonga o máximo.

Em diversos países, Itália, Inglaterra, Alemanha e outros, vemos a burguesia sustentar uma vigorosa ofensiva contra a jornada de oito horas. Esta ofensiva tem por resultado a liquidação quase completa, em certos países, da conquista mais valiosa do movimento operário europeu, conquista que lhe custou uma longa e difícil luta e muitos sacrifícios. Em vários países a jornada de trabalho atinge dez, doze e até quinze horas.

Veremos mais adiante, no capítulo do salário, que a racionalização capitalista ocorre juntamente com uma diminuição repentina dos salários.

Estes factos demonstram de forma cada vez mais dura que a única saída para a classe operaria se encontra na abolição do modo de produção capitalista e, por conseguinte, de qualquer tipo de exploração.


Notas de rodapé:

(1) Hollitscher, citado por O. Ermansky em A Organização Científica do Trabalho do Sistema Taylor (ed. russa), conta que um grande número de operários norte-americanos gastam dez dólares por mês em excitantes à base de arsénico. Valia bem a pena conquistar estes dez dólares de salário para se envenenarem! (retornar ao texto)

(2) Os operários norte-americanos pintam o cabelo para dissimular a idade. Os que não têm dinheiro para a tinta usam betume. (ob. cit.) (retornar ao texto)

Inclusão 26/06/2018