Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro quinto: O capital comercial e o lucro comercial
Capítulo IX - O capital comercial e o lucro comercial na economia capitalista
42. O movimento circulatório do capital


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Estudamos a criação da mais-valia, sua transformação em lucro, e vimos como este lucro é embolsado pelo capitalista industrial. Mas a sociedade capitalista não é composta somente de capitalistas industriais. Veem-se, ao lado destes, os comerciantes, os banqueiros, os proprietários territoriais, aos quais se pode aplicar, do mesmo modo que aos industriais, as palavras do Evangelho, sobre aqueles que não tecem nem fiam, mas que estão vestidos “mais ricamente do que Salomão em sua glória”.

Estes diversos grupos da burguesia encarnam as relações correspondentes da produção capitalista. Quais são, portanto, as funções que preenche na sociedade capitalista o capital representado por estes grupos e qual é a origem do lucro que recebe?

Comecemos pelo estudo do capital comercial e do lucro comercial.

Dissemos, ao tratar do lucro e do preço de produção, que o capital atravessa diversas fases em seu movimento circulatório. Detenhamo-nos um pouco mais longamente neste ponto. Para começar o processo de produção, o capitalista deve ter fundos e comprar no mercado os elementos necessários ao processo da produção (isto é, de um lado os meios de produção: máquinas, ferramentas, matérias primas, e do outro a força de trabalho). Nesta fase de seu movimento circulatório, o capital apresenta-se sob a forma dinheiro e sua função se resume em transformar-se em mercadorias: meios de produção e força de trabalho. Esta fase pode ser representada pela seguinte fórmula: D – M (transformação do dinheiro em mercadoria), M (a mercadoria em que se transformou o dinheiro) consistente em MP (meio de produção) e FT (força de trabalho), em outros termos: M = MP + FT.

Tendo o capitalista adquirido no mercado os meios de produção e força de trabalho, inicia o consumo produtivo destas mercadorias. O processo da produção começa, o capital entra na sua segunda fase chamada do capital produtivo. Pode-se representá-la pela fórmula M — P (processo de produção) — M.

Do que precede, resulta claramente que esta fase não teria nenhum sentido para o capitalista se, no fim do processo da produção, ele recobrasse somente, sob uma nova forma mercadoria, o valor dos meios de produção, da força de trabalho, nos quais, ainda há pouco, ele transformara seu dinheiro. É evidente que no fim do processo da produção, a massa das mercadorias produzidas deve, além da recuperação dos meios de produção e da força de trabalho dispendida, incluir a mais-valia, isto é, ser designada pela fórmula M...P...M1, indicando os pontos de suspensão, as interrupções no processo de circulação, P o processo de produção e M1 a massa das mercadorias acrescida da mais-valia

No fim da fase produtiva, o capital industrial já toma forma de capital mercadoria e é acrescido de toda a soma de mais-valia. O capital produz esta massa de mercadorias, não para o seu consumo, mas para a venda. Agora ele deve reaparecer no mercado na qualidade de vendedor de mercadorias produzidas. Abre-se o período da venda ou da realização das mercadorias; terminada esta, o capital deve abandonar novamente o seu invólucro mercantil e revestir a brilhante forma de dinheiro para se transformar, em seguida, uma vez mais, em meio de produção e força de trabalho, e recomeçar seu incessante movimento circulatório.

A massa de mercadorias que representa o capital no fim do processo da produção, contendo a mais-valia (diferença entre o valor M e o valor M1) deverá contê-la também depois de ser transformada em dinheiro. Esta terceira fase do movimento circulatório do capital deve, portanto, ser formulada assim: M1 — D1.

O capital passa, portanto, em seu movimento circulatório, por três fases: fase dinheiro, fase produtiva, fase mercadoria. O conjunto destas três fases constitui o movimento circulatório do capital.

O movimento circulatório do capital em seu conjunto pode ser expresso pela seguinte fórmula: D — M ... T ...M1 — D1.

As três fases do movimento circulatório do capital são todas três rigorosamente indispensáveis, e o movimento circulatório não pode, em sua totalidade, efetuar-se normalmente senão quando na passagem de uma fase para outra, da fase dinheiro à fase produtiva, e da fase produtiva à mercadoria, não encontra obstáculo. (Observando mais atentamente, constatamos que quando o capital se apresenta sob a forma dinheiro (D — M), é que o capitalista industrial aparece no mercado na qualidade de comprador de meio de produção e de força de trabalho). A forma produtiva do capital significa que o industrial passa ao consumo produtivo das mercadorias adquiridas, meios de produção e força de trabalho, e quando o capital, abandonando sua forma produtiva, apresenta-se sob a forma mercadoria, é que o industrial chegou ao período da venda das mercadorias produzidas. Não se trata, portanto, senão de diferentes funções da atividade do capitalista industrial, tendentes a finalizar esta atividade: a produção da mais-valia; são estas, em outros termos, as diversas formas do movimento do capital industrial.


Inclusão: 21/09/2018