Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro sexto: O capital emprestado e o crédito. Moeda e crédito e papel moeda
Capítulo XI - Capital emprestado e juros do empréstimo
53. Notas preliminares


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Passamos agora ao estudo de como se destaca, da massa da mais-valia, a parte desta que não vai mais ao capitalista-comerciante ou industrial e sim a capitalista banqueiro, e que é chamada juros do empréstimo.

As duas formas de lucro, as duas partes da mais-valia que estudamos — lucro industrial e lucro comercial — parecem corresponder às fases industrial e comercial do movimento circulatório do capital. A forma que vamos estudar é a do capital dinheiro, uma terceira fase deste movimento. Também devemos recordar o que dizíamos no livro precedente sobre o movimento circulatório do capital em geral, e deter-nos mais particularmente no papel do capital dinheiro neste movimento.

Sem dinheiro, o capitalista não poderia começar o processo da produção, sendo-lhe o dinheiro necessário para a compra da força de trabalho e de meios de produção. Mas, uma vez produzidas as novas mercadorias, que materializam a mais-valia criada pelos operários, o objetivo do capitalista não é atingido enquanto a mais-valia não for realizada. Na economia capitalista, a mais-valia não pode ser realizada senão sob a forma de dinheiro. O dinheiro é, portanto, a condição necessária para o começo e fim do processo da produção. Para que o movimento circulatório do capital continue sem interrupção, é preciso que outras formas de capital se transformem sem cessar em forma dinheiro, e vice-versa.

Ter dinheiro, na sociedade capitalista, é não somente ter a possibilidade de receber, em lugar de dinheiro, algum equivalente precioso, mas é ainda ter o direito ao lucro, direito à mais-valia. O dinheiro torna-se, nesta sociedade, mais do que a forma geral do valor, a forma geral do capital; às funções que preenchia na simples economia mercantil se ajunta uma função nova - a do capital dinheiro.

Sendo a caça ao lucro o estimulante essencial da economia capitalista, esta deve naturalmente ligar-se à caça ao dinheiro, isto é, ao capital na sua forma mais geral.

Para receber a mais-valia é suficiente, às vezes, o capitalista dispor de um capital dinheiro por um tempo limitado. Ele pode, então, transformá-lo em capital de produção, pois, uma vez acabado o processo de produção, os fundos recuperados pela venda das mercadorias, a mais-valia realizada, restituem ao seu proprietário o dinheiro emprestado.

A operação em que um possuidor de dinheiro o põe à disposição de um outro, chama-se empréstimo ou operação de crédito.

Estudando a economia capitalista, nós nos ocuparemos, em primeiro lugar, das operações de crédito que melhor a caracterizam, a saber, aquelas em que o dinheiro emprestado desempenha o papel de capital dinheiro, isto é, de meios de obtenção da mais-valia.


Inclusão 24/09/2018