Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro oitavo: A acumulação do capital e a reprodução das relações capitalistas
Capítulo XVIII - Noção geral da reprodução
101. A reprodução capitalista ampliada


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Em que a reprodução capitalista ampliada difere especificamente da reprodução ampliada das formas pré-capitalistas da economia? O caráter específico da reprodução ampliada das formas pré-capitalistas de economia, é que esta, antes do mais, tem por objetivo o consumo. Para o pequeno produtor de mercadorias (artesanato, por exemplo), o ideal e a finalidade última é assegurar determinadas condições de existência.

O objetivo da sociedade baseada na escravatura e o da sociedade feudal é de apossar-se do produto suplementar do trabalho dos escravos e dos servos, a fim de assegurar ao escravagista ou ao senhor uma existência tão rica e tão luxuosa quanto possível. É, em outras palavras, o de assegurar o consumo dos escravagistas e dos feudos.

A reprodução ampliada da sociedade capitalista tem outro fim. Ela busca constantemente a mais-valia que só pode ser conseguida pela produção. A caça ao lucro leva ao aumento indefinido da produção.

Além disso, a concorrência arrasta também o capitalista individual.

Está aí porque a reprodução capitalista simples não existe, na realidade, senão em casos excepcionais.

A reprodução capitalista ampliada só é possível quando o capitalista não emprega toda a mais-valia em satisfazer suas necessidades individuais, não a consumindo totalmente, como na reprodução simples, mas empregando uma parte no aumento da produção, isto é, na compra de instrumentos de trabalho, de matérias primas, de materiais auxiliares, de força de trabalho, transformando-a por isto mesmo num capital complementar que lhe trará uma nova mais-valia.

O processo de produção capitalista ampliada foi chamada por esta razão a acumulação do capital: “A aplicação da mais-valia em qualidade de capital, ou a transformação inversa da mais-valia em capital, é chamada acumulação do capital”. (C. Marx: O Capital, vol. I). Não se pode, portanto, chamar de acumulação do capital todo o ampliamento da produção; estas expressões são aplicáveis somente às relações capitalistas de produção. Torna-se evidente, desde então, que a acumulação capitalista não pode ser confundida com a acumulação que tem por objetivo simplesmente a conservação dos valores em espécie ou em contado. Observar-se-á que o capitalista que renuncia ao consumo de uma parte da mais-valia, empregando esta parte no aumento da produção, não faz nenhum sacrifício particular. A mais-valia não aumenta em proporção da continência pessoal do capitalista, mas em proporção da quantidade de força de trabalho explorado e da intensidade da exploração. A exploração da classe operária agrava-se de ano a ano, crescendo a massa da mais-valia ao ponto de que o capitalista, elevando seus negócios progressivamente, pode ver seus lucros aumentarem mais depressa do que as despesas e somente consumir, por consequência, uma parte decrescente dos seus lucros. O desenvolvimento capitalista tranquiliza, portanto, o capitalista vacilante entre o desejo de consumir as riquezas e o desejo de conservá-las e aumentá-las.

Chegamos, pois, a duas conclusões:

  1. Há reprodução capitalista ampliada ou acumulação do capital quando o capitalista, não consumindo toda a mais-valia de que se apropria, consagra parte da mesma à produção e a transforma em capital complementar.
  2. O crescimento do capital e o aumento da produção da mais-valia são os resultados da acumulação do capital.

O capital não está interessado em todo ampliamento da produção; ele só interessa por aquele que lhe assegura um aumento de mais-valia. Este é também um dos caracteres da acumulação capitalista. Deste ponto de vista, a reprodução ampliada dos valores de consumo, se não é acompanhado de um aumento da mais-valia, não será uma reprodução ampliada no sentido capitalista da palavra.

continua>>>


Inclusão 06/06/2019