Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXIII - As sociedades por ações e seu papel na centralização do capital
114. O capitalismo e o desenvolvimento das forças produtivas


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Em pouco tempo — comparando-se às épocas precapitalistas — o regime capitalista viu crescer magicamente a técnica e as forças produtivas da sociedade.(1) A passagem da lâmpada a óleo e da charrua, do cavalo e do camelo para o trator moderno, para os motores elétricos, para os aeroplanos, demonstra que o capitalismo abriga, ao mesmo tempo que suas contradições tremendas, grandes forças de progresso que contribuem para o desenvolvimento da produção. Quais são elas?

Já mostramos que o capitalismo esteve, desde o início, baseado na concorrência. E a concorrência é, precisamente, apesar de seus inúmeros defeitos, o principal fator do progresso capitalista. Todo capitalista se esforça por baixar seus preços —- começando pelos preços de custo — afim de derrotar os concorrentes. Não pode atingir esse fim senão por meio de melhorias técnicas. Utilizando-se de máquinas aperfeiçoadas, éle diminue o preço de suas mercadorias, adquire vantagens na concorrência e recebe o lucro diferencial, enquanto o emprego das novas máquinas não se generaliza.

Mas, antes mesmo que esse momento chegue, o capitalista começa a pensar em novos aperfeiçoamentos, tanto mais que seus rivais não dormem. A despeito do fracasso de empresas individuais e de inúmeros pequenos produtores, a concorrência determina também um desenvolvimento espontâneo da técnica e das forças produtivas.

Até mesmo em períodos de crise, durante os quais o espírito destruidor da anarquia capitalista se manifesta com maior violência, não deixa de haver um certo desenvolvimento da produção. No regime capitalista, os períodos de prosperidade são condicionados por crises prévias. Nos períodos de “desenvolvimento calmo” (sem crises), os capitalistas nem sempre introduzem de bom grado aperfeiçoamentos técnicos, pois a procura de compra é tão grande que as mercadorias se esgotam facilmente. Só depois do rugido da crise, quando o capitalista se sente ameaçado de ruína, é que ele toma medidas decisivas para diminuir o preço de suas mercadorias. A maioria das inovações técnicas coincide com o fim das crises.

A própria crise arruína centenas de pequenas empresas providas de uma técnica relativamente atrasada e cria, portanto, uma base para o crescimento — com prejuízo das primeiras — das grandes empresas aparelhadas de uma técnica mais desenvolvida.

A crise, destruindo parte das forças produtivas, pode criar, assim, por outro lado, as condições de seu desenvolvimento ulterior mais poderoso.

A crise é, nesses casos, uma espécie de doença do crescimento, que traz um prejuízo momentâneo ao organismo, mas lhe assegura o desenvolvimento.

Os aspectos mais negativos do capitalismo e da exploração sabre a qual se baseia, podem, aliás, ter também uma certa significação favorável ao progresso. Arruinando milhões de pequenos proprietários, banindo-os dos vilarejos remotos para as grandes cidades, o capitalismo os arranca à rotina atrasada da vida rural, tão característica da sociedade pre-capitalista. Os canponeses retardados, ignorantes e supersticiosos de ontem, formam pouco a pouco, na fábrica capitalista, no trabalho coletivo, uma massa poderosa; a luta contra o capitalismo e a atmosfera da grande cidade despertam lhe a consciência e as aspirações para a vida culta. A própria mulher, para quem a fábrica capitalista é uma prisão cem vezes mais dura que para o homem, também desperta para a vida consciente e, de serva do lar, se transforma em combatente igual do grande exercito do trabalho.

Tais são os fatores de pregresso do regime capitalista, tais são suas possibilidades criadoras. Esses fatores asseguraram o desenvolvimento do capitalismo desde o nascimento à maturidade.

Mas o desenvolvimento do capitalismo não pára na maturidade. Adquire novos caracteres, nascidos das tendências que já lhe conhecemos, mas que o tornam profundamente diferente do que era antes. Entra numa nova era, que se chama a era do capital financeiro um do imperialismo. Perde sua capacidade de progredir, entra numa fase em que o crescimento das forças produtivas se torna difícil, senão impossível, em suas fronteiras, onde o peso total de suas contradições não é mais coberto por seus resultados positivos.

O modo capitalista de produção entra em sua fase de declínio. Entrevê-se, cada vez mais nitidamente, a inelutável queda do capitalismo, sua inevitável substituição por um novo sistema social.

Que há de novo nessa época? Em que difere do capitalismo anterior? Por que perde, então, o capitalismo seu caráter progressista para se tornar um obstáculo ao desenvolvimento social?

Vamos examinar essas questões.


Nota de rodapé:

(1) Entendemos por “forças produtivas” a soma das forças de que a sociedade dispõe em cada fase de seu desenvolvimento na luta contra a natureza. As forças produtivas dividem-se em: 1.º utensílios e meios de produção; e 2.º mão-de-obra. O estado das forças produtivas da sociedade determina as relações de trabalho (de produção) dos homens entre si e, consequentemente, todos os outros aspectos da vida social. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023