Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXV - A luta pelos mercados estrangeiros e o militarismo
127. A luta pelas colônias - A partilha do mundo


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A exportação de capitais para os países atrasados, do ponto de vista técnico, é particularmente vantajosa e consequentemente muito difundida.

A baixa composição orgânica do capital nestes países torna aí a taxa de lucro sensivelmente mais elevada que nos países capitalistas desenvolvidos.(1)

A mão-de-obra é paga aí a preços vis. Enfim, estes países são, as mais das vezes, ricos em matérias primas necessárias à indústria; e o trabalho destas matérias no lugar de origem custa evidentemente mais barato.

Esta última circunstância tem uma importância particular.

Sabe-se que a agricultura fornece à indústria diversas matérias primas. A sociedade capitalista caracteriza-se, precisamente, pelo atraso do desenvolvimento da agricultura em relação ao da indústria.

Enquanto a renda territorial (e outros inúmeros fatores)(2) entorpecem o desenvolvimento da agricultura, o crescimento da procura de matérias primas necessárias à indústria determina a alta dos preços.

A procura de matérias primas baratas chama a atenção dos capitalistas para os países atrasados, mesmo quando eles não estão dispostos a criar neles empresas industriais.

Tendo o desenvolvimento histórico destinado aos países capitalistas altamente desenvolvidos as regiões do globo de clima temperado e provindo a maioria das matérias primas das zonas tropicais e sub-tropicais, certas matérias primas não podem ser produzidas senão nos paises atrasados. O algodão indispensável à indústria têxtil é cultivado principalmente nos países coloniais atrasados, tais como Egito, Índia, Ásia Menor, China, Turquestão, etc. Compreende-se, então, a atração que estes países exercem nos capitalistas. A borracha não pode ser obtida senão em certos países da América do Sul, onde existem determinadas plantas.

O ferro, a hulha e o petróleo desempenham na indústria moderna um papel de primeira grandeza. Estas riquezas naturais existem também em certos países avançados, e qualquer Estado capitalista de bom grado se apoderaria das jazidas de petróleo ou de carvão situadas no território de um outro país capitalista altamente desenvolvido.

A França apoderou-se, assim, das ricas jazidas hulheiras que outrora pertenciam à Alemanha. A conquista, porém, das riquezas de um país igual em força e poderio não é sempre fácil ou simplesmente possível. Quase todas as riquezas do sub-solo dos países de técnica desenvolvida já estão, aliás desde há muito, sendo exploradas.

Nos países atrasados, pelo contrário, abundam as terras inexploradas e é relativamente fácil apoderar-se de um pedaço cobiçado. Nos mapas, pode-se verificar a existência de imensas riquezas que seriam fáceis de explorar com poucas despesas. Vastos lençóis de petróleo, vastas jazidas de hulha e de outros minerais estão quase sempre inexploradas. Não tendo estes países capitais, a exploração destas riquezas não é possível senão pelos grandes piratas capitalistas, que não são poucos e que só pensam em seus interesses:

A conquista e a exploração rapace das colônias enchem as páginas mais vergonhosas da história da economia capitalista.

Os capitalistas encontram nas colônias a economia primitiva natural. “Pouco inclinados ao comércio, os povos das colônias não negociam os meios de produção mais importantes para o capital, estando excluído este negócio mesmo pelas formas da propriedade e por toda a estrutura da sociedade. O solo e suas riquezas minerais, as pastagens, as florestas, as águas, as tropas não são objeto de comércio dos povos primitivos. Esperar que as organizações sociais baseadas na economia natural se desagreguem por si mesmas no curso dos seculos, esperar que os meios de produção mais importantes se tornem objeto de trocas, equivaleria para o capital a renunciar à conquista das forças produtivas destas regiões. O capitalismo considera também como uma necessidade vital a conquista pela força dos meios de produção dos mais importantes países coloniais”.(3)

Apressados em apoderarem-se destas riquezas, os capitalistas arrebatam as melhores terras dos indígenas destinados desde então à fome e à morte — ou reduzidos a escravos. A escravatura oficialmente abolida é mantida sob as máscaras mais hipócritas. Os “operários” indígenas estão destinados à miséria. Recebem salários ínfimos, enquanto os preços dos víveres, dos cereais em primeiro lugar, aumentam pelo fato de que os capitalistas civilizados se apoderam das melhores terras, das terras mais férteis, para aí cultivarem o que necessitam (borracha, café, algodão). Os conquistadores capitalistas fazem por fim os indígenas pagarem impostos destinados a cobrir as despesas com a manutenção de exércitos que assolam o país. Somente a descrição destas atrocidades da colonização exigiriam alguns volumes. O mais curioso é que, quando as colônias são submetidas em nome da civilização, chegam os missionários ao mesmo tempo que os capitalistas e soldados. Os capitalistas dos países relativamente civilizados não hesitam, entretanto, nas suas invasões, em destruir os monumentos preciosos da cultura indígena.

Rossa Luxemburgo, descrevendo a guerra que os europeus fizeram à China, no século passado, para lhe impor “a liberdade de comércio” (tratava-se sobretudo do comércio do ópio que os europeus impunham aos celestes), escreveu:

“A cada campanha, seguia-se, numa vasta escala, assaltos e pilhagens dos monumentos de cultura antiga... As ruínas fumegantes das maiores e mais antigas cidades, a devastação das culturas de imensas regiões, a imposição de pesadas contribuições de guerra, caracterizaram todas as invasões europeias e coroaram os progressos do comércio”.(4)

Vimos que as conquistas coloniais exigem a manutenção de uma força militar e mais veremos, então, o grande papel desempenhado por esta, na última fase do desenvolvimento capitalista.


Notas de rodapé:

(1) Vide livro IV desta obra. (retornar ao texto)

(2) Vide subcap 86. (retornar ao texto)

(3) ROSA LUXEMBURGO: A acumulação do capital. (retornar ao texto)

(4) R. LUXEMBURGO: Obra citada. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023