O grupo camponês ou «trudovique» e o POSDR

Vladimir Ilitch Lênin

11 de maio de 1906


Primeira edição: Volná, nº 14, 11 de maio de 1906. V. I. Lênin, Obras, 4ª ed. em russo, t. 10, págs. 378/381

Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 263-265

Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz

HTML: Fernando Araújo.

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Ontem examinamos a atitude da social-democracia em relação ao grupo operário da Duma.(1) Examinemos agora a questão do grupo trudovique.

Por este nome são conhecidos os deputados camponeses na Duma, uns 130 ou 140, que começaram a separar-se dos democratas-constitucionalistas e a agrupar-se num partido independente. Esta separação não está terminada, longe disso, mas já se definiu plenamente. Goremikin expressou-o magnificamente com suas palavras proverbiais: um terço dos membros da Duma (isto é, exatamente os grupos trudovique e operário juntos, aproximadamente) se opõe à força.

Esta frase proverbial definiu com clareza a diferença existente entre a democracia burguesa revolucionária e a não revolucionária (os democratas-constitucionalistas). Em que consiste o revolucionarismo do grupo camponês? Não tanto em suas reivindicações políticas, que estão muito longe de ter sido expressas por completo, como em suas reivindicações sobre a terra. Os camponeses exigem a terra, exatamente toda a terra. Os camponeses exigem a terra em condições que melhorem de verdade sua situação, isto é, sem nenhum resgate, ou com o resgate mais módico possível. Em outras palavras, os camponeses exigem em essência, não a reforma agrária, e sim a revolução agrária. Exigem uma revolução que não toque em nada do poder do dinheiro, que não toque nas bases da sociedade burguesa, mas que mine com a maior decisão as bases econômicas do velho regime da servidão, de toda a Rússia da servidão: a latifundiária e a burocrática. Eis por que o proletariado socialista ajudará com toda a alma, com toda a energia, os camponeses a conseguir a plena satisfação de todas as suas reivindicações. Sem a vitória completa do campesinato sobre todos os seus opressores, herdeiros do velho regime, é impossível o triunfo completo da revolução democrático-burguesa. E, este triunfo é necessário a todo o povo e ao proletariado no interesse de sua grande luta pelo socialismo.

Mas, ao apoiar o campesinato revolucionário, o proletariado não deve esquecer um momento sequer sua independência de classe, suas próprias tarefas especiais de classe. O movimento do campesinato é um movimento de outra classe; não é uma luta proletária, e sim dos pequenos proprietários; não é tuna luta contra os fundamentos do capitalismo, e sim para depurá-los de todos os restos da servidão. As massas camponesas sentem-se seduzidas por sua grande luta: parece-lhes, inevitavelmente, que tomar toda a terra significa resolver o problema agrário. Sonham com a repartição igualitária da terra, com sua entrega a todos os trabalhadores, esquecendo o poder do capital, a força do dinheiro e a economia mercantil, que, mesmo com a repartição mais «equitativa», volta a criar, inelutavelmente, a desigualdade e a exploração. Seduzidas pela luta contra o regime da servidão, não vêem a luta posterior, maior e ainda mais difícil, contra toda a sociedade capitalista pela realização plena do socialismo. A classe operária travará sempre esta luta e se organizará para isto num partido político independente. E as cruéis lições do capitalismo esclarecerão, necessariamente, com crescente rapidez, os pequenos proprietários, obrigando-os a convencer-se de como são justas as opiniões da social-democracia e a aderir ao partido social-democrata proletário.

O proletariado escuta agora com frequência da burguesia: é preciso marchar com a democracia burguesa. Sem ela, o proletariado carece de forças para fazer a revolução. Isto é certo. Mas a questão reside em saber com que democracia pode e deve marchar agora o proletariado: com a democracia-constitucionalista, ou com a camponesa, com a democracia revolucionária. Não pode haver senão uma resposta: não com a democracia democrata-constitucionalista, e sim com a revolucionária, não com os liberais, e sim com a massa camponesa.

Ao levar em conta esta resposta, não devemos perder de vista que quanto mais rapidamente se esclarecem os camponeses, quanto mais abertamente atuam na política, com maior clareza se observa a inclinação de todos os elementos revolucionários da democracia burguesa no sentido do campesinato e, ao mesmo tempo, como é natural, no sentido da pequena burguesia urbana. Perdem importância as pequenas diferenças e passa a ocupar o primeiro plano a questão cardial: a de saber quais os partidos, grupos e organizações marcharão até o fim com o campesinato revolucionário. Mostra-se com crescente clareza a fusão política dos socialistas revolucionários (esserristas), de alguns socialistas independentes, dos radicais mais esquerdistas e de diversas organizações camponesas numa só democracia revolucionária.

Por isso, os social-democratas da ala direita no congresso cometeram um profundo erro ao exclamar (Martinov e Plekhanov): «os democratas constitucionalistas têm mais importância como partido do que os esserristas». Estes últimos não representam nada por si mesmos. Mas, como porta-vozes das aspirações espontâneas do campesinato, são uma parte justamente desta vasta e poderosa democracia revolucionária, sem a qual o proletariado não pode nem pensar na vitória completa de nossa revolução. Nada tem de casual a aproximação do grupo camponês ou trudovique na Duma com os esserristas. É claro que uma parte dos camponeses saberá compreender o ponto-de-vista consequente do proletariado social-democrata, mas outra parte verá, sem dúvida, no usufruto «igualitário» do solo a solução do problema agrário.

O grupo trudovique desempenhará, seguramente, um papel notável na Duma e — o que é mais importante — fora da Duma. Os operários conscientes devem empenhar-se com todas as suas forças em intensificar a agitação entre os camponeses, em separar dos democratas constitucionalistas o grupo trudovique, e em que este grupo apresente reivindicações políticas completas e acabadas. Que o grupo trudovique se organize mais estreitamente e com maior independência, que amplie seus laços fora da Duma, que recorde que não é na Duma que se resolverá o grande problema agrário. Este problema será resolvido pela luta popular contra o velho poder e não por uma votação na Duma.

Para o êxito da revolução não há nada agora mais importante do que esta coesão, esclarecimento e preparação política da democracia burguesa revolucionária. O proletariado socialista, desmascarando sem piedade as vacilações dos democratas constitucionalistas, apoiará por todos os meios esta grande obra. Ao proceder assim, não cairá em nenhuma ilusão pequeno-burguesa. Manter-se-á no terreno estrito da luta de classes e da luta proletária pelo socialismo.

Viva a vitória completa dos camponeses sobre todos os seus opressores! dirá o proletariado. Nesta vitória reside a mais segura garantia dos êxitos de nossa luta proletária pelo socialismo.


Notas de rodapé:

(1) V. I. Lênin, O Grupo Operário da Duma de Estado. (Obras, 4ª ed. em russo, t. 10, págs. 370/373 — Nota da Compilação) (retornar ao texto)

Inclusão: 03/02/2022